quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Trump & Biden e a Amazônia

As narrativas tortuosas sobre a questão amazônica tiveram repercussão mundial, em face de declaração de um dos candidatos à presidência dos Estados Unidos, no primeiro debate visando ao pleito de novembro de 2020, em terras ianques.

Mostrei minha discordância em comentários postados no Estadão, Folha de São Paulo, Globo, Correio Braziliense, New York Times, The Guardian, Le Monde e El País — a nata da oposição mundial e brasileira ao atual governo brasileiro.


No debate presidencial transmitido ontem pela CNN, entre o Sr. Donald Trump e o Sr. Joe Büden (sic), este declarou que “a floresta tropical do Brasil está sendo derrubada. [...] Se não fizerem nada, haverá consequências significativas”. 

Como todos sabemos, centenas de milhares de americanos morreram lutando pela liberdade no mundo, porém nem todos os presidentes americanos estiveram sempre à altura de seus heróis. O Sr. Richard Helms, diretor da CIA, afirmou que “Truman perdeu a China. Kennedy perdeu Cuba. [...]”. Acrescento que o Sr. Obama deixou a Ucrânia perder a Crimeia para a Rússia; e deixou a Síria à sua própria sorte. 

Então, se eleito, o Sr. Büden deve abandonar a estultice e a iniquidade, deve cuidar de agir adequadamente nas relações internacionais; e sobretudo, deve impedir que americanos brancos matem negros e brancos, e negros matem brancos e negros. E deixe a Amazônia em paz! A Amazônia é do Brasil, é brasileira (e dos demais países sul-americanos, naturalmente). Dela, cuidamos nós!


O leitor do New York Times que se autodenomina Felong Democrat” fez um reparo a meu comentário asseverando que Cuba foi perdida pelo capitalismo americano durante os anos Eisenhower e não no governo Kennedy. Respondi mencionando a fonte de minha assertiva.

 

<Felong Democrat> Lamento Ribeiro, Cuba foi “perdida” (pelo capitalismo americano, eu imagino que você queira dizer) durante os anos de Eisenhower. Fidel se estabeleceu no poder antes da vitória de Kennedy na eleição de 1960. I duvido que Helms tenha dito o que você atribuiu a ele.

 

<ARS> Eu sinto muito. Você deve entrar em contato com o Sr. Richard Helms (ex-Diretor da CIA, [falecido em 2002]), que mencionou o fato em suas memórias, ou dar uma olhada no livro "The Spy Master – How The CIA Directors Shape History and The Future" (página 44), de Chris Whipple, lançado em 15 de setembro de 2020 (comprei-o em um pré-lançamento da Amazon). 

Em realidade, o Sr. Helms deve ter considerado o fato de que os Kennedys tentaram matar o Sr. Castro. Não pode ser ignorado de que quando Bobby Kennedy recebeu a notícia de que seu irmão tinha sido alvejado, sua primeira pergunta ao agente da CIA foi: “Isso foi uma ação dos cubanos?”.

 

Outro leitor americano que se atribui o nome de “Nellsnake” interpretou a ameaça do Sr. Biden não ao Brasil mas às mudanças climáticas. Apenas para contextualizar: o Sr. Biden falou de ‘consequências significativas’, no caso de o Brasil não adotar as medidas requeridas para preservação da Amazônia. Penso de forma diversa e, respondendo àquele interpelador, mantive meu posicionamento.

 

<Nellsnake> Quando eu ouvi a assertiva sobre consequências significativas, eu pensei que ele se referiu a mudanças climáticas. Pior que qualquer consequência militar.

 

<ARS> Eu sinto muito. É inequívoco que o Sr. Biden fez uma ameaça desnecessária a um país parceiro. O Sr. Biden ignorou a verdade. Enquanto se constata incêndios na Amazônia, há incêndios maiores na África e na Sibéria. Existem incêndios em vários outros países. E também há incêndios em alguns estados americanos. Minhas crenças e valores incluem: liberdade, verdade, coragem e ética — aprendidos com minha família, de brasileiros notáveis e também de americanos ilustres.

 

A leitora do Le Monde Cargoet Dany postou no Facebook daquele jornal uma resposta a meu comentário. Respondi suavemente ...

  

<Cargoet Dany> Não admira que vindo de um fã do Bolsonaro estúpido e perigoso! E pensar que você estudou para chegar lá ...

 

<ARS> Pierre Clostermann aprendeu pilotagem no Rio de Janeiro quando tinha 16 anos; uniu-se a De Gaulle em Londres quando tinha 21 anos; e se tornou, em 1945, o maior ás da aviação francesa de todos os tempos, ainda aos 25 anos. Eu sou fã do legendário e saudoso Clostermann, nascido no Brasil. 

Brasileiros lutaram e morreram na Itália, na Segunda Guerra Mundial, contribuindo para que a suástica nazista não continuasse na avenida Champs Elysées e a senhora não tivesse sido obrigada, ainda hoje, a falar alemão. Eu sou fã daqueles brasileiros. 

A senhora não me conhece; eu sou fã da liberdade, da verdade, da coragem e da ética.

Eu sei quem a senhora é. Sabe por que? A razão: A senhora agride e ofende gratuitamente quem não conhece.

  

A senhora Dany continuou argumentando e eu me aferrei ao debate, com resiliência ...


<Cargoet Dany> Mas você nos falou de Bolsonaro ... autoritarismo, predominância do Estado sobre os indivíduos, ausência de liberdade, sacrifício da verdade ... 


<ARS> A senhora considera autoritário quem leva uma facada dos opositores, quase morre e continua lutando nos limites impostos pela Constituição, pelo Parlamento e pelo Poder Judiciário? 

A senhora considera autoritário, mesmo quando mais de 58 milhões de eleitores (representando cerca de 110 milhões de cidadãos brasileiros) discordam da senhora? 

A senhora considera autoritário quem  combate intensamente a corrupção que colocou o Brasil na maior crise social, política e econômica da história? 

A senhora considera autoritário quem está fazendo o melhor trabalho da evolução do país para a região Nordeste, aquela que tem os maiores níveis de pobreza do continente?

A senhora considera autoritário quem age com oportunidade e eficácia para satisfazer as necessidades de 60 milhões de brasileiros afetados pela fome por causa da pandemia do Covid-19? 

A senhora considera autoritário quem praticamente já garantiu a reeleição em 2022, por falta de alguém qualificado e submetido aos ditames democráticos? 

Por favor, com todo o respeito, a senhora acredita em liberdade, verdade, coragem e ética? Por favor, sem ofensas, com elegância, apresentei argumentos lógicos, racionais e submetidos ao bom senso.

 

Outro leitor francês corrigiu a grafia do nome do vice-presiente Joe Büden. Expliquei que a troca do nome foi proposital.


<Cédric Spagnolli> Escreve-se: Biden

 

<ARS> Por que eu escrevi Büden (sic)?

O político americano Bernie Sanders é socialista. 

Os exemplos mais impactantes de socialistas são os adeptos do socialismo real bem como do nacional socialismo.

Ora, o Sr. Büden acolheu com satisfação o apoio do Sr. Sanders; e por essa razão, ele tem um viés socialista. Qual? Isso não importa. Afinal de contas, o socialismo real e o nacional socialismo tem muitas facetas comuns (autoritarismo, prevalência do Estado em contraposição ao ser humano, ausência de liberdade, sacrifício da verdade, idolatria dos mandatários, milhões de assassinatos e tortura e outras). 

Então, por uma questão de coerência, germanizar (ou mesmo "sovietizar") o nome dele é algo razoável.

 

  

 [New York Times and The Guardian]

In the presidential debate broadcast yesterday by CNN, Mr. Joe Büden (sic) declared that “Brazil's rainforest is being cut down. [...] If they do nothing, there will be significant consequences ”. As we all know, hundreds of thousands of Americans died fighting for freedom around the world, but not all American presidents have always acted accordingly their heroes. Mr. Richard Helms, director of the CIA, stated that “Truman lost China. Kennedy lost Cuba. [...] ”. And Mr. Obama let Ukraine lose Crimea to Russia; and left Syria to its own devices. So, if elected, Mr. Büden must abandon the nonsense, he must take care to act appropriately in international relations; and above all, it must prevent white Americans from killing blacks and whites, and blacks from killing whites and blacks. And leave the Amazon alone! The Amazon belongs to Brazil. The Amazon is Brazilian (and of the other South American countries, of course). We take care of it!

 

[New York Times]

<Felong Democrat> Cuba was "lost" (to U.S. capitalism, I guess you mean) during the Eisenhower years. Fidel was well-established in power before the 1960 election of Kennedy. I doubt that Helms ever said what you claim to quote him as saying.

 

<ARS> I'm sorry. You should get in touch with Mr. Richard Helms (former Director of CIA  [dead in 2002]) or have a look on the book "The Spy Master – How The CIA Directors Shape History and The Future" (page 44), by Chris Whipple, released on September 15, 2020 (I bought it in an Amazon pre-release). 

As a matter of fact, I think that Mr. Helms considered the fact the Kennedys tried to kill Mr. Castro and failed. Never forget that when Bobby Kennedy received the news his brother was shot, his first question for the guy of CIA was: "Was it a cuban action?"

 

[New York Times]

<Nellsnake> When I heard that remark about significant consequences I thought he meant climate change. Worse than any army.

 

<ARS> I'm so sorry. Didn't you notice that Mr. Biden made an unnecessary threat to a partner country? Mr. Biden ignored the truth. While Amazon is on fire, there are bigger fires in Africa and Siberia. There are fires in several other countries. And, there are fires in some American states as well. My beliefs and values include: freedom, truth, courage and ethics — learned from my family, from notable Brazilians and also from distinguished Americans.

  

  

 [Le Monde]

Lors du débat présidentiel diffusé hier par CNN, M. Joe Büden (sic) a déclaré que «la forêt tropicale du Brésil est en train d'être abattue. [...] Si vous ne faites rien, il y aura des conséquences importantes ». Comme nous le savons tous, des centaines de milliers d'Américains sont morts en combattant pour la liberté dans le monde, mais tous les présidents américains n'ont pas toujours été à la hauteur de leurs héros. M. Richard Helms, directeur de la CIA, a déclaré que «Truman a perdu la Chine. Kennedy a perdu Cuba. [...] ». Et M. Obama a laissé l'Ukraine perdre la Crimée au profit de la Russie; et a laissé la Syrie à elle-même. Donc, s'il est élu, M. Büden doit abandonner la bêtise et l'iniquité, il doit veiller à agir de manière appropriée dans les relations internationales; et surtout, il doit empêcher les Américains blancs de tuer des noirs et des blancs, et des noirs de tuer des blancs et des noirs. Et laissez l'Amazone tranquille! L'Amazonie appartient au Brésil. L'Amazonie est brésilienne (et des autres pays d'Amérique du Sud, bien sûr). Nous nous en occupons!

 

[Le Monde]

<Cargoet Dany> Rien d'étonnant venant de la part d'un fan de l'idiot et dangereux Bolsonaro ! Et dire que vous avez fait des études pour en arriver là ...


<ARS> Pierre Clostermann a appris à voler au Brésil à l'âge de 16 ans et a rejoint De Gaulle à Londres à 21 ans, pour devenir le plus grand as de l'aviation française de tous les temps à 25 ans. Je suis fan du légendaire et nostalgique Clostermann, né au Brésil. 

Les Brésiliens se sont battus et sont morts en Italie pour que la croix gammée nazie ne continue pas sur l'avenue des Champs Elysées et que vous n'auriez pas été obligé de parler allemand. Je suis fan de ces Brésiliens. 

Vous ne me connaissez pas; Je suis fan de liberté, de vérité, de courage et d'éthique. 

Je sais qui vous êtes. Est-ce que vous savez pourquoi? La raison: vous attaquez et offensez ceux que vous ne connaissez pas.

 

[Le Monde]

<Cargoet Dany> Mais vous nous parlez de Bolsonaro là ... autoritarisme, prédominance de l'État en opposition aux êtres humains, absence de liberté, sacrifice de la vérité ...


<ARS> Considérez-vous un autoritaire qui est poignardé par des opposants, meurt presque et continue de se battre dans les limites imposées par la Constitution, le Parlement et le pouvoir judiciaire? Vous considérez-vous autoritaire, même lorsque plus de 58 millions d'électeurs (représentant environ 110 millions de citoyens brésiliens) ne sont pas d'accord avec vous? Considérez-vous un autoritaire qui lutte intensément contre la corruption qui a plongé le Brésil dans la plus grande crise sociale, politique et économique de l'histoire? Considérez-vous autoritaire qui fait le meilleur travail de l'évolution du pays vers la région du Nord-Est, celle avec les niveaux de pauvreté les plus élevés du continent? Considérez-vous comme autoritaires ceux qui agissent avec opportunité et efficacité pour satisfaire les besoins de 60 millions de Brésiliens touchés par la faim à cause de la pandémie Covid-19? Considérez-vous autoritaire qui a pratiquement garanti la réélection en 2022, faute de personne qualifiée et soumise aux diktats démocratiques? S'il vous plaît, avec tout le respect que je vous dois, croyez-vous en la liberté, la vérité, le courage et l'éthique? Je vous en prie, sans offenser, avec élégance, j'ai présenté des arguments logiques, rationnels et soumis au bon sens.

 

 [Le Monde]

<Cédric Spagnolli> On écrit : Biden.


<ARS> Pourquoi ai-je écrit Büden (sic)?

Le politicien américain Bernie Sanders est un socialiste.

Les exemples les plus frappants de socialistes sont les partisans du socialisme réel ainsi que du national-socialisme. M. Büden a salué le soutien de M. Sanders; et pour cette raison, il a un parti pris socialiste. Quoi? N'a pas d'importance. Après tout, le socialisme réel et le national-socialisme ont de nombreuses facettes communes (autoritarisme, prédominance de l'État en opposition aux êtres humains, absence de liberté, sacrifice de la vérité, idolâtrie des agents, millions de meurtres et de torture et autres). Donc, par souci de cohérence, germaniser (ou même "souvietizer") son nom est quelque chose de raisonnable.

 

  

 [El País]

En el debate presidencial transmitido ayer por CNN, el Sr. Joe Büden (sic) declaró que “la selva tropical de Brasil está siendo talada. [...] Si no hacen nada, habrá consecuencias importantes ”. Como todos sabemos, cientos de miles de estadounidenses murieron luchando por la libertad en todo el mundo, pero no todos los presidentes estadounidenses siempre han actuado de acuerdo con sus héroes. El Sr. Richard Helms, director de la CIA, declaró que “Truman perdió China. Kennedy perdió Cuba. [...] ”. Y Obama permitió que Ucrania perdiera Crimea ante Rusia; y dejó a Siria a su suerte. Por lo tanto, si es elegido, el Sr. Büden debe abandonar la estupidez y la iniquidad, debe tener cuidado de actuar apropiadamente en las relaciones internacionales; y, sobre todo, debe evitar que los estadounidenses blancos maten a negros y blancos, y que los negros maten a blancos y negros. ¡Y deja en paz al Amazonas! El Amazonas es de Brasil. La Amazonía es brasileña (y de los demás países sudamericanos, por supuesto). ¡Nosotros nos encargamos de eso!

 

 

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[Divulgado no Estadão online de 30/Set/2020]

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[Divulgado na Folha de São Paulo online de 30/Set/2020]

 

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[Divulgado no Globo online de 30/Set/2020]

 

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[Divulgado no Correio Braziliense online de 30/Set/2020]

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[Divulgado no New York Times online de 30/Set/2020. Passados alguns minutos o comentário inicial desapareceu. Curiosamente, ao fazer ligeiras alterações no texto, ele foi acolhido e divulgado]

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[Divulgado no Facebook do The Guardian em 30/Set/2020]

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[Divulgado no Facebook do Le Monde em 30/Set/2020. Deve ser notado que o comentário postado no Le Monde ocasionou réplicas e tréplicas. Vale a pena? Agrada-me e acho que é válido]

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[Divulgado no Facebook do El País em 30/Set/2020]

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terça-feira, 29 de setembro de 2020

O Exército e a preservação ambiental


Em Santa Catarina — da mesma forma que na Amazônia —, o Exército Brasileiro, "Braço Forte, Mão Amiga", age de acordo com sua missão constitucional e em consonância com as expectativas, aspirações e crenças dos cidadãos brasileiros.
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Na Amazônia, o Exército está onde poucos costumam ir. E nas áreas de responsabilidade de cada Organização Militar — em consonância com as atribuições atinentes aos recursos nacionais — o meio ambiente, um recurso primacial, é inequivocamente mantido, defendido e preservado.


Notas. 

[1] Neste mapa, assinalei apenas as localidades da fronteira com a Venezuela, Colômbia e Peru, nas quais, ao longo de 4 anos (de 1981 a 1984), estive gerenciando obras de construção ou manutenção de quartéis e residências, na modalidade de administração direta, na condição presencial, durante cerca de 150 dias não consecutivos. Naquela época, com as dificuldades de transporte, a contratação de empresa era descartada pelo orçamento proibitivo.

[2] Ressalte-se que os meios de transporte disponíveis eram aeronave anfíbia Catalina para pouso nas águas do rio Içá (que cruza a fronteira com a Colômbia em Ipiranga) e do rio Javari (que delimita a fronteira com o Peru); ou barco, ao longo do rio Solimões na direção oeste e do rio Negro na direção noroeste.

[3] Enfatize-se também que os meios de comunicação eram insatisfatórios. Não havia telefone, televisão ou Internet. Os rádios militares de ondas curtas funcionavam apenas quando se sentiam confortáveis e a situação meteorológica desejava. O animismo reforça a exiguidade e limitações do meio.

[4] A alimentação estava condicionada ao cumprimento da agenda aérea — os velhos Catalina estavam previstos uma vez por mês; e as probabilidades de falha eram proporcionais à longevidade, à condição piscosa dos rios e da respectiva alternativa, o jacaré, e à qualificação dos soldados (a maioria era indígena) para a caça, que em algumas localidades era escassa.

[5] Naquela época, sempre que alguma dificuldade ou desânimo se fazia presente, a solução era confortar-se com as jornadas do coronel engenheiro português Ricardo Franco de Almeida Serra, que no século XVIII, foi designado para demarcar as terras brasileiras, como resultado do Tratado de Santo Ildefonso. Em suas extraordinárias andanças, ele cumpriu, na Amazônia, algumas missões equivalentes à do personagem do filme Dersu Uzala, na demarcação de terras na Sibéria. O filme foi tão extraordinariamente concebido e dirigido que Akira Kurozawa, seu condutor, venceu a depressão com que iniciou a obra e desistiu de acabar com a própria vida. Se brasileiro, ele poderia dirigir uns três ou quatro filmes baseados nas épicas expedições de exploração e demarcação de Ricardo Franco.

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Em Santa Catarina, a extraordinária atuação de manutenção, preservação e defesa do meio ambiente pode ser constatada no vídeo.


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sábado, 26 de setembro de 2020

Como se livrar de um presidente

Em sua sanha para derrubar o presidente Bolsonaro, em artigo na Folha de São Paulo, o jornalista Hélio Schwartsman levanta a possibilidade de solução eleitoral — em oposição à repetida estupidez de que o detentor do poder cogita de outra alternativa para não ser impedido de prosseguir. 

 

Com os atuais oponentes, formadores de opinião, juízes e adeptos da corrupção, dúvida não resta: as eleições de 2022, 2026 e 2030 estão resolvidas. Só resta saber quem vai ganhar. Notem a incoerência deste comentário. Mas ajuda a entender os rumos que o País resolveu adotar. Quem dúvida tiver, veja o filme 'The Social Dilemma'.

 

A propósito, nessa emblemática obra cinematográfica, ficam evidenciadas as transformações dos tempos atuais, em que as formas de avaliação, de atuação e de decisão social e política estão condicionadas ao enorme impacto dos novos instrumentos tecnológicos de informação — as redes sociais.

 

Por essa razão, o cidadão passa a exercer sua liberdade em detrimento da mencionada turma braba que antes determinava o curso da história. Ou então pela influência nefasta de algum personagem ou organização; e, nesse caso, em detrimento da busca da paz e da harmonia, o que é terrivelmente lamentável.

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[Divulgado na Folha de São online de 26/09/2020]
 

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sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Juiz de 'boa sorte'


O ministro Celso de Mello antecipou sua aposentadoria no STF. Este texto se propõe a oferecer aos poucos leitores que têm acesso a meus garranchos, uma percepção da atuação dessa figura controversa, admirada por alguns e repudiada por outros.

Inicialmente, cumpre destacar que ele não ascendeu na carreira do Poder Judiciário na condição de juiz, por intermédio do respectivo concurso que normalmente seleciona os melhores de sua geração. 

Em sua trajetória como ministro da mais alta Corte, alguns eventos merecem destaque. Em uma ação movida contra o então candidato José Sarney, como ministro, ele votou a favor dos impetrantes e, portanto, contra o político maranhense. Depois, telefonou para o mais destacado assessor do ex-presidente, o jurista Saulo Ramos, para afirmar que o Sr. Sarney tinha razão e ele votou contra porque a causa já estava decidida e anteriormente, a imprensa antecipara o voto dele, contra os impetrantes. O Sr. Ramos disse-lhe que ele era um “juiz de ‘boa sorte’ (m ...)” e desligou o telefone. O Sr. Saulo Ramos registrou o fato em livro disponível ao público.

Na condição de decano da Suprema Corte, o ministro Mello fez um duro discurso contra a atitude do então Comandante do Exército, Gen Villas Bôas, que divulgara declaração em que afirmava que o Exército cumpriria sua missão institucional. Essa declaração fora interpretada como pressão para que o poder Judiciário adotasse decisão favorável aos interesses do povo brasileiro. O discurso do ministro foi uma espécie de desagravo contra uma atitude legítima e só possível de ser considerada não republicana por aqueles que eventualmente possam estar agindo em prejuízo dos interesses da sociedade.

Na atual conjuntura, o decano do STF adotou posicionamentos e decisões controversas e com o potencial de prejudicar a harmonia entre os Poderes conforme estatui a Magna Carta. 

Em diálogo com interlocutor de suas relações pessoais, ele comparou aqueles que militam a favor do atual governo federal com os integrantes do sistema nazista. Não teve o cuidado de evitar que sua afirmação se tornasse pública — ou teve deliberada intenção de fazê-la chegar ao conhecimento de seus contemporâneos.

Em processo em curso no STF, ele determinou que ministros de origem militar, da mais alta respeitabilidade, fossem conduzidos sob vara em testemunho a ser prestado à instância inquiridoras. Enfatize-se que essa expressão, com conotação jurídica, consta do Código de Processo Penal. Porém seu uso em questões envolvendo altas autoridades da República leva a ambiguidade desnecessária, provocativa e inadequada. 

E por último, para citar apenas os casos mais polêmicos, ele decidiu que, em processo que demanda o testemunho do presidente Bolsonaro, que ele fosse ouvido de forma presencial quando a tradição indica que o presidente pode testemunhar por escrito, determinando ele próprio o local e hora em que dará seu testemunho.

Em relação às questões alinhavadas, opinei de forma pública, em comentário sobre artigo divulgado pelo jornal Estadão, onde o articulista caracteriza o ministro Mello como altamente respeitado em sua condição de decano da egrégia Suprema Corte. 

O comentário — apresentado a seguir — está submetido ao limite imposto aos leitores, isto é, não pode ultrapassar 600 caracteres.

 

O sujeito que compara seus conterrâneos com os nazistas é respeitado por quem? 

O caboclo que decide que cidadãos respeitáveis devam ser conduzidos com vara (mesmo em face de lei esdrúxula) é respeitado por quem? 

O cabra que determina que autoridade seja interrogada fora da práxis de exercer [essa autoridade] o direito de escolher o local e data — como o determina a jurisprudência (ou o costume) da egrégia corte — é respeitado por quem? 

Quem é chamado de "juiz de 'boa sorte' (m...)" por jurista consagrado é respeitado por quem? 

Quem escreve tamanha estultice é respeitado por quem cara pálida?

 

Nota. No momento que antecede a entrada em cena os atores de uma peça de teatro dirigem-se para os colegas e declaram: “Merda!”. Nem susto nem grosseria. Conforme a tradição, com essa expressão, o declarante está desejando ‘boa sorte’ para os colegas.

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[Comentário divulgado no Estadão online de 25/Set/2020]

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