domingo, 6 de setembro de 2020

China – Riscos e desafios


SUMÁRIO

   GENERALIDADES

   A CHINA DE MAO TSE TUNG

   A CHINA, A AMÉRICA LATINA E O BRASIL

   A CHINA DE DENG XIAO PING

   INVESTIMENTOS CHINESES NO BRASIL

   INDAGAÇÕES ESSENCIAIS

   CONCLUSÃO



GENERALIDADES

Nesta coletânea, são apresentados aspectos da evolução chinesa durante os períodos de Mao Tse Tung, de Deng Xiao Ping e dos dirigentes subsequentes, buscando fundamentos para uma melhor análise, compreensão e inferência atinentes aos investimentos chineses no Brasil, durante a última década deste século.

O texto é uma mera compilação de informações com o objetivo de amparar a eventual elaboração de um ou mais artigos sobre tema tão relevante. Portanto, qualquer mérito ou demérito está subordinado a esta restrição.

Em artigo anterior, mencionei que os chineses riem muito mas não brincam. Lembrei que eles levaram uma enorme vantagem sobre os americanos e soviéticos quando ainda faziam parte do universo de países do Terceiro Mundo. Para fundamentar essa assertiva, citei dois fatos históricos. 

Em relação aos americanos, os chineses tem algumas centenas de mísseis intercontinentais apontados para os Estados Unidos. O pai dos programas de desenvolvimento espacial e de mísseis de longo alcance chineses fez doutorado nos Estados Unidos, e foi um dos cientistas fundadores do primeiro laboratório de jato propulsão do mundo (o Jet Propulsion Laboratory, JPL) e se tornou coronel do Exército americano, com o objetivo de interrogar cientistas alemães no final da Segunda Guerra Mundial. Esse cientista foi apanhado passando segredos para a China, perdeu o posto de coronel, foi preso e, em meados da década de 1950, retornou para sua pátria, na troca de prisioneiros de guerra, após o conflito com a Coreia.

 

No âmbito do Programa de Superpotência abraçado por Mao Tse Tung, a partir de 1953 — com recursos de alimentos desviados dos mais de 30 milhões de chineses que morreram de fome —, aspectos essenciais do acordo de desenvolvimento nuclear sino-soviético foram descumpridos, em 1959, por determinação do Primeiro-Ministro da União Soviética. Os chineses tiveram prejuízo apenas parcial porque eles montaram um programa de desenvolvimento nuclear paralelo e secreto, cujas atividades permitiram que a China explodisse, em 1964, a bomba atômica de fissão (plutônio ou urânio) e três anos após, a bomba atônica de fusão (hidrogênio). Deve ser ressaltado que, dentre os cinco países que possuem os dois tipos de bomba atômica, a China foi — de forma assustadora e surpreendente — o que levou menos tempo para, a partir da explosão da bomba de plutônio, conquistar o objetivo da explosão da poderosa bomba de hidrogênio.

 

A CHINA DE MAO TSE TUNG

Pois bem, os chineses não brincam, agem com insuperável eficácia e, não raro, logram sucesso em suas investidas internacionais. Os anais da História registram que Mao Tse Tung implantou e conduziu o socialismo real (ou marxismo-leninismo ou simplesmente comunismo) na China, ao custo da morte de mais 60 milhões de chineses, sendo que cerca de 30 milhões de mortes foram decorrentes da fome, para que os alimentos produzidos fossem exportados para a União Soviética e Europa Oriental em pagamento dos acordos que permitiriam ao ditador Mao satisfazer seus sonhos delirantes e criminosos de grandeza. 

É imperioso relembrar que ocidentais ingênuos, acólitos de má fé ou portadores de doença infectocontagiosa ideológica apoiaram e até defenderam os chineses, negando que tenha havido as mortes, em especial pela fome. 

O presente texto se alicerça nas citações da obra prima biográfica denominada ‘Mao’, elaborada por Jung Chang e Jon Halliday, cuja confiabilidade resulta de inexcedível consagração mundial; e também da confirmação — por este aprendiz de escriba — de uma robusta amostras de assertivas, temas ou eventos, em cerca de dez fontes distintas, entre as quais se incluem os livros ‘Nuclear Express', de Thomas C. Reed e Danny B. Stillman, ‘O Livro Negro do Comunismo', de Stéphanie Courtois et al, ‘Os Sete Chefes do Império Soviético’, de Dmitri Volkogonov, ‘The Spy Who Changed History', de Svetlana Lokhova, ‘When China Rules the World', de Martin Jacques e outros).

Nesse contexto, conforme se depreende da citada obra de Chang e Halliday (e doravante, se não mencionado em contrário, as assertivas destacadas são retiradas do livro da dupla), 

“a escritora francesa Simone de Beauvoir visitou a China, em 1955, ... Após sua curta visita, De Beauvoir pontificou que ‘o poder que ele [Mao] exerce não é mais ditatorial do que o de, por exemplo, Roosevelt. A nova Constituição da China torna impossível a concentração da autoridade nas mãos de um único homem’. Ela escreveu um alentado livro sobre a viagem intitulado ‘A Longa Marcha’ ”, no qual apresenta a apologia do ditador e do regime chineses.

Constata-se também que outros franceses, canadenses e britânicos foram enganados pela astúcia criminosa dos chineses, na questão da fome e dos consequentes assassinatos ocorridos na China. Nesse sentido,

“quando Mao contou mentiras deslavadas ao líder socialista francês (e futuro presidente) François Miterrand, durante a fome de 1961 (‘Repito, a fim de ser ouvido: não há fome na China’, recebeu amplo crédito.”

Já o futuro primeiro-ministro canadense Pierre Trudeau 

“visitou a China em 1960 e co-escreveu um livro deslumbrado, ‘Dois Inocentes na China Vermelha’, que rejeitava informações sobre a fome. 

No atinente aos britânicos, a narrativa da citada obra dá conta de que

“Até o ex-diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação, lorde Boyd-Orr, foi enganado. Em maio de 1959, após uma viagem à China, ele opinou que a produção de alimentos aumentara de 50% a 100% no período de 1955-58 e que a China ‘parece capaz de alimentar bem [sua população]’. O marechal de campo britânico Montgomery, uma figura muito mais crédula, afirmou após suas visitas em 1960 e 1961 que não houvera ‘fome em larga escala, apenas escassez em certas áreas’, e ele certamente não considerava Mao culpado pela ‘escassez’, pois instou-o a permanecer no poder: ‘A China [...] precisa do presidente. Você não deve abandonar este navio’ ”. 

Quando se menciona os assassinatos causadas pelo regime marxista-leninista-maoísta, não se deve pensar apenas nos oponentes ao regime. A rigor, um expressivo percentual daqueles que foram sacrificados é constituído de aliados do regime, isto é, de comunistas que desagradaram de alguma forma o nefasto ditador; ou o que é mais horripilante, de comunistas que precisavam ser aniquilados para que determinado objetivo fosse atingido. Sem mergulhar nessa questão por estar fora dos objetivos colimados, basta citar altas autoridades — comunistas, enfatize-se —  que foram sacrificadas em nome da causa. Dentre os atingidos pela tragédia,

“o Marechal Ho Lung e um grande número de seus antigos subordinados foram presos e interrogados. O próprio Ho Lung morreu no cárcere, em condições estarrecedoras. O mesmo aconteceu com o vice-ministro da Defesa, general Xu Guang-da que foi brutalmente torturado por um período de 18 meses, tendo sido interrogado 416 vezes.”

Liu Shao-chi, o segundo na hierarquia — presidente da China até 1966, quando foi destituído por Mao Tse Tung — opôs-se à política de Mao, no chamado Grande Salto Para a Frente, em 1958, em face das dezenas de milhões de mortes que estava causando. Liu formalizou sua discordância na Conferência dos Sete Mil, em 1962, em Pequim, quando apresentou um plano diferente daquele acertado com Mao, o que este jamais esquecera e tudo fizera para que a vingança fosse terrível e fatal. Em 1965, a catástrofe humana que grassava no País se agravou enormemente com a Revolução Cultural recém iniciada. A partir daí o ditador iniciou um longo processo de fritura do presidente Liu, a tal ponto que este tentara deixar a presidência. Assim, em 1967, em reunião com Mao, Liu repetiu a

“oferta que fizera várias vezes: renunciar e ir trabalhar como camponês. Pediu a Mao para acabar com a Revolução Cultural e punir somente a ele, sem causar danos a ninguém mais. Mas fez-se de desentendido e apenas pediu a Liu que cuidasse de sua saúde. Com isso, levou Liu, seu companheiro mais próximo durante quase três décadas, até a porta pela última vez — e para a morte lenta e dolorosa.”

“Dias depois, os telefones de Liu foram cortados. A prisão domiciliar tornou-se total. [...]. No tribunal fajuto de 5 de agosto de 1967, [...] o casal Liu foi socado, chutado e teve os cabelos puxados ferozmente para trás, a fim de expor seus rostos para os fotógrafos e cinegrafistas. Em certo momento, a reunião foi suspensa e um ponta de lança de Mao deu ordem para que ficasse mais violenta para as câmaras. [...] Num supremo ato de sadismo, a filha de seis anos do casal e seus outros filhos foram trazidos para assistir à agressão aos seus pais. [...] Os parentes dela [de Guang-mei, esposa de Liu Shao-chi] foram encarcerados, assim como sua mãe septuagenária, que morreu na prisão alguns anos depois. Os filhos do casal ficaram sem lar e foram submetidos a espancamentos e prisão.”

“Liu estava com quase setenta anos e sua saúde deteriorou-se depressa. Um perna ficou paralisada e ele vivia num estado de permanente privação do sono, pois lhe tiraram os comprimidos para dormir dos quais era dependente.”

“Numa noite fria de outubro, seminu sob uma colcha, Liu foi posto num avião e levado para a cidade de Kaifeng. Ali, os pedidos dos médicos locais de raio X e hospitalização foram negados. A morte chegou dentro de poucas semanas, em 12 de novembro de 1969. No total, Liu suportou três anos de sofrimento físico e angústia mental. [...] Com efeito, a difamação de Liu [Liu Shao-chi, ex-presidente da China e portanto segunda autoridade do País] continuou pelo resto da vida de Mao, sem nenhuma indicação para o público de que ele morrera. Mao obteve sua vingança [concretizada por causa da ação de Liu na Conferência dos Sete Mil] submetendo-o a uma morte dolorosa e demorada.”  

Dentre os membros do Politburo chinês, apenas o marechal Peng De-huai, Ministro da Defesa, teve coragem de discordar do Grande Salto Para a Frente, que conforme já mencionado potencializava a tragédia humana de dezenas de milhões mortes pela fome.  

“Além da integridade oriunda de sua origem camponesa pobre, Peng expressava opiniões independentes e heterodoxas. [...] Durante três décadas, Peng foi espinho e esteio apoiador na vida de Mao, tendo colaborado com o ditador em momentos decisivos, como durante a guerra da Coreia em 1950. Assim, em 1954, o marechal Peng foi elevado à condição de ministro da Defesa. [...] Quando lançou o Salto, em 1958, Mao mergulhou Peng e cerca de 1500 oficiais de alto escalão do Exército em reuniões diárias de ‘crítica e autocrítica’. [...] Em face de contatos mantidos na Europa Oriental com o Primeiro-Ministro soviético Khruschev e por outras ações internas nas Forças Armadas, Peng foi retirado do cargo de Ministro da Defesa, submetido a denúncia degradante, posto em prisão domiciliar e sua família tornou-se pária.”

A trajetória do Marechal Lin Biao foi emblemática, de comandante do Exército — nomeado oficialmente sucessor de Mao na direção do Partido Comunista Chinês; e com a esposa incluída no Politburo —, ele ascendeu à condição de ministro da Defesa em lugar do expurgado Peng De-Huai. Lin contribuiu decisivamente para o Grande Expurgo por ocasião da Revolução Cultural, ao constituir com Chou En-lai, a dupla de dirigentes mais poderosos da China, depois do próprio Mao. O poder de Lin conferiu-lhe condições para ameaçar a liderança do ditador, que precisou reagir.

“Mao pediu que Lin fizesse autocrítica diante do alto escalão [procedimento habitual de enquadramento comunista] e dissesse que havia sido ‘enganado’ por um subordinado. Lin recusou-se. Até então, graças a sua relação especial com Mao, sempre havia evitado se submeter a esse ritual humilhante. Embora Mao tenha insistido, ele não arredou pé. Estava armado o impasse. Após quatro décadas, a relação Mao-Lin começou a se desfazer. [...]”.

“Lin Biao continuava a se recusar a fazer a auto-humilhação que Mao exigia. [...] Lin ditou uma carta para Mao em que deixava claro, que caso fosse expurgado, ele teria de mudar todo o pessoal da máquina partidária que [ele próprio, Lin] havia instalado, [...] e isso significaria repudiar a Revolução Cultural. [...]”.

“Uma opção mais realista para Lin seria fugir, como adversários anteriores de Mao haviam feito: Chang Kuo-tao para os nacionalistas, na década de 1930, e Wang Ming para Moscou, nos anos 1950. Com seu controle sobre a Força Aérea, Lin poderia fugir para o exterior. [...]”.

[Em face de rusgas insuperáveis com Mao, a decisão pela fuga tornou-se imperiosa]. “[Em 1971]Lin Biao, madame Lin, o filho e um amigo partiram para o aeroporto. [...] A aeronave Trident decolou às pressas às 0h32’. Da tripulação, de nove homens, somente quatro — o capitão e três mecânicos — tiveram tempo de embarcar. [O reabastecimento não foi completo ...]. Eles tiveram de voar baixo na maior parte do tempo para evitar os radares e isso gastou mais combustível. [...] Às 2h30 do dia 13 de setembro de 1971, o avião caiu numa bacia plana e explodiu ao bater no chão, matando todas as pessoas a bordo.” 

Talvez o caso mais representativo da brutalidade do regime maoísta seja o do premier Chou En-lai, à exceção de Mao, o mais poderoso dentre os integrantes da cúpula comunista da China.

“Em meados de maio de 1972, pouco depois da visita de Nixon [Presidente americano], descobriu-se que Chou En-lai estava com câncer na bexiga. No regime de Mao, até uma doença que punha em risco a vida não era uma simples questão médica. Mao controlava quando e como os membros do seu Politburo poderiam receber tratamento. Os médicos tinham de informar primeiro Mao. [...]. Em 31 de maio, Mao decretou: ‘Primeiro: mantenham a notícia em segredo e não contem ao premiê ou sua esposa. Segundo: nada de exames. Terceiro: nada de cirurgia’. [No início do ano seguinte ...]. “Mao concordou por fim em deixar Chou receber tratamento, depois de humilde solicitação dele. Mas estabeleceu condições: ordenou que fosse feito ‘em dois estágios’, autorizando apenas um exame e especificando que os cirurgiões deveriam deixar a remoção de qualquer tumor para um ‘segundo estágio’. [...] O cirurgião-chefe percebeu que ‘não haveria um segundo estágio’ e decidiu correr o risco de desagradar Mao e remover o câncer durante o exame, o que aconteceu em 10 de março. [...]”.

“Em 8 de janeiro de 1976, aos 78 anos, morreu Chou En-lai.

Foi-se o mais importante colaborador de Mao Tse Tung. Através do controle da doença de Chou, o ditador conseguiu controlar e neutralizar, por meio da morte, a eventual ameaça que alguém mais jovem pudesse lhe representar.

As negociações com os Estados Unidos que resultaram na visita de do presidente americano Richard Nixon à China é um excelente comprovante do modus operandi em relações internacionais e na conquista dos objetivos estratégicos pelos chineses.

“Em 1969, o presidente Nixon manifestou publicamente interesse em melhorar as relações com a China. Mao não respondeu. Estabelecer uma relação com Washington prejudicaria sua identidade e imagem de líder revolucionário. [...]”. 

“Foi somente em junho de 1970, depois que seu manifesto antiamericano de 20 de maio fracassou e quando estava absolutamente claro que o maoísmo não avançava no mundo, que Mao decidiu convidar Nixon a visitar a China. O motivo não era reconciliar-se com os Estados Unidos, mas relançar-se no palco internacional. [...]”.

Mao conseguiu criar um ambiente onde o interesse pela visita era de Nixon, que estava de olho nos dividendos para a eleição presidencial de 1972. Então, Nixon orientou seus negociadores para declarar que os Estados Unidos abandonariam Taiwan, o antigo aliado, e concederia o reconhecimento diplomático à China — naturalmente, desde que ele se reelegesse presidente dos Estados Unidos. Além disso, os americanos fizeram outra oferta de interesse dos chineses: a retirada completa das forças americanas da Indochina e a entrega do regime sul-vietnamita à sua própria sorte. As negociações para a ida de Nixon à China tiveram seu curso mediante duas visitas de Henri Kissinger a Pequim (sendo a primeira secreta).

“Sua segunda viagem [de Kissinger] coincidiu com a votação anual da ONU sobre o assento da China, que Taiwan ocupava, e a presença pública em Pequim do mais alto assessor de Nixon para assuntos estrangeiros inverteu a maré. Em 25 de outubro, Pequim substituiu Taipé na ONU, dando a Mao um assento — e o poder de veto — no Conselho de Segurança. [...]”.

“Diante do voto na ONU, [Mao] declarou que ‘Grã-Bretanha, França, Holanda, Bélgica, Canadá, Itália — todos se tornaram Guardas Vermelhos’ ”.

“Antes que os delegados da China partissem para a ONU, Mao fez questão de lembrá-los que deviam continuar tratando os Estados Unidos como inimigo publico nº 1 e denunciá-los violentamente ‘pelo nome, uma necessidade absoluta’. Ele queria fazer sua estreia no palco mundial como o campeão do antiamericanismo, usando a ONU como seu novo palanque. [...]”.

“Os verdadeiros beneficiários da visita de Nixon foram o próprio Mao e seu regime. Para atender a seus fins eleitorais, Nixon desdemonizou Mao para a opinião pública do Ocidente. [...]”.

“Mao tornou-se uma figura internacional não apenas com credibilidade, mas com incomparável fascínio. Estadistas do mundo inteiro bateram à sua porta. [Mexicano, australiano, canadense e francês, para citar alguns]. [...]”.

“A visita de Nixon também abriu-lhe a possibilidade de pôr as mãos em tecnologia e equipamentos militares ocidentais avançados. [...] Mao disse que ‘o único objetivo dessas relações é obter tecnologia desenvolvida.’ 

Nesta análise, há a conveniência de agregar alguns dados sobre a tentativa de Mao Tse Tung projetar o poder no mundo. Em 1956, ocorreu o XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, onde os crimes do Stalin foram denunciados por Nikita Khruschev. O momento histórico oferecia a singular oportunidade para que Mao tentasse ocupar o palco do circo dos horrores mundial.

Assim, o maoísmo se projeta para — em complemento ao marxismo e ao leninismo — oferecer uma panaceia obscura, amparada em doença ideológica infectocontagiosa e hedionda; e disputar com o nacional socialismo a primazia das ações hediondas e terrivelmente impactantes para a tranquilidade do ser humano.

 “Para promover o ‘maoísmo’ no mundo, Mao escolheu o aniversário de noventa anos do nascimento de Lênin, em abril de 1960, e lançou um manifesto intitulado ‘Viva o leninismo!’, em que sustentava que defender uma via pacífica para o socialismo era inaceitável — ‘revisionismo’, no jargão de Pequim — e que, se os comunistas quisessem tomar o poder, teriam de recorrer à violência. [...]”.

Mao se valeu das comemorações do Dia Internacional do Trabalho, em 1960, transformando a cerimônia na fundação do campo maoísta, ao convidar mais setecentos simpatizantes de sua causa no Terceiro Mundo. Valeu-se também de uma reunião da Federação Mundial de Sindicatos, realizada em Pequim, em 5 de junho de 1960, com a presença de representantes de cerca de sessenta países, com delegados de partidos comunistas e sindicalistas dos cinco continentes.

“Mao mobilizou todos os altos dirigentes chineses para fazer um lobby pesado contra a União Soviética, com o argumento de que a coexistência pacífica era um engano e que ‘enquanto o capitalismo existir, não se pode evitar a guerra’. [...]”. 

Como espalhar o maoísmo pelo mundo? Os chineses instalaram campos secretos de treinamento, sendo um deles localizado na circunvizinhança de Pequim. Lá eram recebidos militantes comunistas do Terceiro Mundo para treinamento, ‘domesticagem’ e agravamento da moléstia ideológica, aí incluída a instrução para a guerra de guerrilha.

Conquanto Mao Tse Tung tenha atingido uma certa influência mundial, o desempenho não se confirmava da forma esperada. Em geral, os partidos maoístas tiveram pequena adesão. 

“Em junho de 1967, quando irrompeu a Guerra dos Seis Dias, entre Israel e os países árabes, Mao ofereceu a Nasser 10 milhões dólares e 150 mil toneladas de trigo, bem como ‘voluntários’ militares, se Nasser aceitasse seu conselho de ‘lutar até o fim’. Mandou ao líder egípcio um plano de batalha para uma ‘guerra popular’ de estilo maoísta, no qual dizia para ‘atrair o inimigo em profundidade’ retirando-se para o interior da península do Sinai, ou até mesmo para Cartum, a capital do Sudão. Nasser recusou o caminho maoísta, explicando ao seu distante assessor que o Sinai era ‘um deserto e não podemos travar uma guerra de libertação popular no Sinai porque não há povo lá [...]”.

No sudeste asiático, a China teve participação essencial na luta da Indochina contra a França. Em 1953, ao decidir acertar o encerramento da Guerra da Coreia, Mao enviou tropas diretamente da Coreia para o Vietnã. 

“Os chineses obtiveram cópia do Plano Navarre, plano estratégico francês que levava o nome do seu comandante, general Henri Navarre. O general Wei Guo-qing, principal assessor militar chinês no Vietnã, entregou o documento pessoalmente a Ho Chi Minh. Foi esse golpe decisivo de espionagem que levou à decisão do lado comunista de travar batalha em Dien Bien Phu, uma base francesa no noroeste do Vietnã, onde os vietnamitas, com maciça ajuda e assessoria chinesa, obtiveram uma vitória decisiva em maio de 1954.” 

Conquanto tenham influído de forma decisiva para a vitória comunista no Vietnã, a China não conseguiu ter o predomínio na influência do país comunista resultante e fortalecido na luta contra os franceses. A prevalência de Moscou foi mortificante para os chineses.

Na Tailândia, em 1965, os habitantes de origem chinesa, no âmbito do Partido Comunista local, financiados pela China, fracassaram em uma revolta armada contra o status quo.

Na Indonésia, o Partido Comunista (PKI) era o maior do mundo não comunista e contava com 3,5 milhões de afiliados. Então,

“Mao pôs o PKI em movimento para tomar o poder. O plano era decapitar o alto-comando anticomunista do Exército, sobre o qual o presidente Sukarno, pró-Pequim, tinha poder muito limitado. Pequim vinha pressionando o presidente para retificar o Exército radicalmente e, com seu apoio, o PKI vinha se infiltrando nas Forças Armadas com algum sucesso. [...]”.

“Em 30 de setembro de 1964, um grupo de oficiais prendeu e matou o chefe do Exército indonésio e cinco outros generais. [...] Mas o PKI foi atropelado por um imprevisto que pôs todo o complô a perder. Um informante havia avisado um general então pouco conhecido chamado Suharto, que não estava na lista dos que deviam ser mortos. Assim preparado, Suharto esperou as prisões e mortes dos outros generais para assumir imediatamente o controle do Exército e desencadear um massacre de centenas de milhares de comunistas e simpatizantes, bem como de inocentes. Quase toda a liderança do PKI foi capturada e executada. [...]”.

“O presidente Sukarno foi deposto e o general Suharto instalou uma ditadura militar que era ferozmente anti-Pequim e hostil à grande comunidade chinesa da Indonésia.”

 

A CHINA DE MAO, A AMÉRICA LATINA E O BRASIL

Dúvida não resta de que Mao fracassou no intuito de que radicais de outros países se lhe aliassem contra a União Soviética, sob a liderança de Khruschev. 

“Na América Latina, Pequim foi direto a Cuba depois que Fidel Castro tomou o poder, em janeiro de 1959. Quando Che Guevara esteve na China, em novembro de 1960, Mao concedeu um ‘empréstimo’ de 60 milhões de dólares que, segundo Chou En-lai disse ao visitante, não precisaria ser pago. [...]”.

 “Mao desembolsou dinheiro e alimentos para tentar jogar Cuba contra Moscou. Essa prodigalidade rendeu pouco [...]”.

“Mao tinha muitas esperanças no companheiro de Castro, Che Guevara. Na primeira visita dele à China, em 1960, demonstrou intimidade incomum com Che: segurou sua mão enquanto conversavam e elogiou muito um panfleto de sua autoria. Guevara havia retribuído, recomendado copiar os métodos maoístas em Cuba. Foi também o líder de Havana mais próximo da posição de Mao na crise dos mísseis de 1962.”

Evidentemente, que, em sua trajetória, Guevara adotou procedimentos semelhantes aos de Mao — alicerçados em autoritarismo, violência, crueldade e, sobretudo, inominável covardia —, porém em escala muito menor. Um aspecto adicional que os torna semelhantes é a falsidade de narrativas — de intelectuais e formadores de opinião canalhas e com deficiência de caráter —  que foram capazes de transformá-los em mito, em especial no seio da juventude.

O Brasil sofreu o impacto da ação chinesa. O Partido Comunista Brasileiro (PCB) era alinhado com Moscou de Nikita Khruschev e seu processo de ‘desestalinização’. Uma dissidência do PCB, liderada por Maurício Grabois, João Amazonas, Pedro Pomar e outros adotou a linha maoísta do Partido Comunista Chinês, fundou em 1962 o Partido Comunista do Brasil (PC do B) e desencadeou o movimento guerrilheiro chamado Guerrilha do Araguaia, no sul do Pará, a cavaleiro do rio homônimo.

Enfatize-se que esta insurgência foi neutralizada, sendo cerca de 100 terroristas aniquilados em ação heroica e exemplar de militares do Exército Brasileiro. Valho-me do imperioso e oportuno testemunho, que ouvi quando estava no Irã, em 1999, do embaixador da Colômbia em Teerã. O embaixador Ramiro, lúcido historiador, asseverou:   

“Se os militares colombianos tivessem agido como os brasileiros na região de Chambioá, na Amazônia brasileira, e tivessem, similarmente, eliminado o núcleo inicial de guerrilha desencadeada na Colômbia pelas FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), na Amazônia colombiana, a Colômbia não teria hoje um registro terrível e absurdo de mais de 50.000 mortos pelos marxistas-leninistas-maoístas de nosso País.” Cabe lembrar que alguns analistas computam mais de 100.000 mortos pelas FARC na Colômbia.

 

A CHINA DE DENG XIAO PING

Talvez poucos prestaram a atenção em Deng Xiao Ping. Era baixinho, com um pouco mais de 1,50 m, esteve entre as cinco maiores autoridades do regime de Mao Tse Tung. Foi afastado do poder por Mao, passou um tempo na prisão, trabalhou em uma fábrica e depois foi reabilitado.

Com a morte de Mao, em 1978, Deng assumiu a liderança da China e causou uma reviravolta no regime, que continuou comunista, porém abandonando a tentativa de implantação do comunismo pela via armada e migrando para uma espécie de capitalismo de Estado (por Deng chamada de “economia de mercado socialista”), com ênfase para a retirada de centenas de milhões que estavam na pobreza, sobretudo pela administração desastrosa do ditador Mao, que subtraiu os meios de sobrevivência da população para o seu projeto megalomaníaco de transformar a China em superpotência.

As transformações implantadas por Deng prosseguiram após seu afastamento da liderança do País, em 1990, e a China continuou — sob Jiang Zemin (até 2002), Hu Jintao (até 2012) e Xi Jiping (até a atualidade) — na busca da condição de potência global, com a adoção da conquista de influência no mundo, por intermédio do poder econômico. Os herdeiros de Mao não abandonaram o projeto estratégico, mas alteraram os meios para sua concretização. Talvez a frase síntese seja o aforismo de Deng: “não importa a cor do rato, o que conta é se ele caça rato!”.

A doença incurável é uma boa metáfora para o autoritarismo marxista, leninista, maoísta ou qualquer outra designação que se queira — em síntese, doentiamente comunista. Por imperioso e irrecusável, convém asseverar que o novo autoritarismo continuou com a supressão da liberdade, como bem comprova a ação repressora violenta contra milhares de cidadãos, a maioria estudantes, na Praça da Paz Celestial (ou Praça Tianamen), em Pequim, que se manifestavam pró-democracia — as estimativas dão conta de que mais de 400 foram mortos (400 a 800 pessoas segundo o New York Times, e cerca de 2.600, segundo a Cruz Vermelha chinesa) e de 7.000 a 10.000 pessoas foram feridas.

Graças às transformações desencadeadas por Deng, a China conquistou, por volta de 2011, a condição de segunda potência econômica do mundo, com investimentos nos cinco continentes, inclusive nos Estados Unidos (a potência econômica dominante) e na Europa Ocidental. 

INVESTIMENTOS CHINESES NO BRASIL

O Brasil, como país maior, mais rico e populoso da América Latina — e sobretudo como um dos maiores países produtores de alimento do mundo —, não ficou de fora dos tentáculos chineses.

Nesta coleta de informações, importa agora tentar ver o que, em termos econômicos, o chineses fizeram ou estão fazendo nas últimas duas décadas no mundo e no Brasil. 

Nesse contexto, há a conveniência de se apresentar dados da expansão econômica chinesa no mundo, no Brasil e na América Latina e Caribe, bem como as atividades e empresas envolvidas nessa expansão no Brasil.

O documento “Investimentos Chineses no Brasil 2018 — O Quadro Brasileiro em Perspectiva Global”, de Tulio Cariello, publicado pelo Conselho Empresarial Brasil-China, permite uma impressionante visão dessa extraordinária evolução. Foram destacados três gráficos e um relação de atividades e empresas.

No Gráfico 1, constata-se que a China aumentou sequencialmente os investimentos no mundo, alcançando cerca de 1,0 trilhão de dólares no período de 2009-2018.

 



Gráfico 1. Investimentos chineses no exterior, 2009-2018.

 

 

No Gráfico 2, há inequívoca percepção da relevância do Brasil para os chineses. O País recebeu entre 2007 e 2018, a metade dos investimentos direcionados para a América Latina e Caribe. Esse montante corresponde às dimensões territoriais, populacionais, de riquezas naturais e agropecuárias do Brasil. Obviamente, há inferências em duas vertentes: por um lado, o Brasil recebeu recursos essenciais para fazer face às necessidades básicas de sua população; por outro, o País tem se colocado na dependência dos chineses, cuja história e evolução indicam extremo rigor com seus próprios interesses, bem como habitual descaso em relação aos interesses de seus parceiros.



Gráfico 2. Investimentos chineses na América Latina e Caribe, 2007-2018.

 

 

No Gráfico 3, fica evidenciado que, no Brasil, no período de 2007-2018, os investimentos chineses tiveram uma evolução oscilante, entretanto, chegaram ao extraordinário patamar de R$ 288,5 bilhões (US$ 57,7 bilhões).


Gráfico 3. Investimentos chineses no Brasil, 2007-2018.

 

 

Para que se possa ter uma noção mais abrangente dos investimentos chineses no Brasil, o Quadro 1 apresenta uma relação das principais áreas e respectivas empresas que realizaram ou cogitaram de realizar investimentos em nosso País no ano de 2018. 

Conquanto abrangente, a resenha do Quadro 1 não inclui as mais recentes investidas chinesas na Amazônia, no Nordeste e em São Paulo — o que tem sido efetivado com a cumplicidade irresponsável de altas instâncias governamentais, notadamente na esfera estadual.

Quadro 1. Investimentos chineses (áreas de atuação, empresas e respectivos projetos)

(i)   Agricultura, pecuária e serviços relacionados

     Empresa Pingle 

·     Máquinas para moinhos de trigo – R$ 3,6 milhões

     CCCC (China Communications Construction Company)

·     Terminal Graneleiro de Babitonga – SC – R$ 1 bilhão

·     Porto de São Luís – MA – 51% de R$ 800 milhões.

     CNPC (PetroChina)

·     Participação de 30% na TT Work (empresa brasileira de distribuição de produtos petrolíferos).

(ii) Armazenamento e atividades auxiliares dos transportes

     CCCC (China Communications Construction Company)

·     Terminal Graneleiro de Babitonga – SC – R$ 1 bilhão

·     Porto de São Luís – MA – 51% de R$ 800 milhões

     CNPC (PetroChina)

·     Participação de 30% na TT Work (empresa brasileira de distribuição de produtos petrolíferos)

(iii)        Atividades de serviços financeiros

     – Fosun International 

·     Aquisição de 69,14% da Guide Investimentos (empresa brasileira de corretagem e gestão de patrimônio) – R$ 287,9 milhões.

(iv)  Tecnologia da informaçãoo

     Didi Chuxing

·     Aquisição da 99 (plataforma móvel de transporte e mobilidade urbana) – ≈ R$ 3 bilhões (US$ 600 milhões).

     Huobi

·     Instalou-se no Brasil com o objetivo de comercialização de criptomoedas das corretoras e bancos de investimento tradicionais (150 tipos de criptomoedas, incluindo bitcoin, ethereum, litecoin, iota, decred e tron).

     Tencent

·     Participação na ‘fintech’ de cartões de crédito Nubank – ≈ R$ 450 milhões (≈ US$ 90 milhões).

·     Negociações com Dotz (companhia brasileira de programas de fidelidade).

(v)   Comércio varejista

     Aihuishou

·     Participação na Trocafone (portal brasileiro de venda de eletrônicos usados) – ≈ R$ 15 milhões (≈ US$ 3 milhões).

     Midea

·     Lançamento no Brasil de plataforma de comércio eletrônico de eletrodomésticos – ≈ R$ 4,5 milhões (≈ US$ 900 mil).

(vi)  Captação, tratamento e distribuição de água

     CGGC (China Gezhouba Group Company)

·     Aquisição de 100% do Sistema Produtor São Lourenço (operado pela SABESP, empresa de abastecimento hídrico de São Paulo).

     CNOOC

·     Aquisição do bloco de Pau Brasil no pré-sal da Bacia de Santos – Consórcio: CNOOC – 30%; BP Energy (britânica) – 50%; e Ecopetrol (‘Petrobras’ colombiana) – 20%.

(vii)      Extração de petróleo e gás natural

     CNOOC

·     Aquisição do bloco de Pau Brasil no pré-sal da Bacia de Santos – Consórcio: CNOOC – 30%; BP Energy (britânica) – 50%; e Ecopetrol (‘Petrobras’ colombiana) – 20%.

(viii)    Fabricação de celulose, papel e produtos de papel

     GSPak

       Instalação de fábrica (alta tecnologia para produtos de envasamento assépticos) em Castro-PR – R$ 400 milhões.

       Instalação de fábrica em Rio Largo-AL – R$ 117 milhões.

(ix) Fabricação de veículos automotores

     Anhui Zhongding Holding

       Conclusão da fábrica de borracha veicular (voltada para 9 modelos de carros de passeio e veículos utilitários da General Motors).

     TAILG

·     Instalação de fábrica de motos elétricas (bicicletas elétricas, scooters elétricos, triciclos elétricos e outros) em Uberada-MG.

(x)  Fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos

     CEE Power

·     Projeto [salvo esclarecimento contrário, ‘projeto’, doravante referido neste texto, caracteriza empreendimento planejado, ainda a ocorrer] de instalação de fábrica (equipamentos elétricos de média tensão) em Santa Catarina – R$ 20 milhões.

     Corona Energy Technology

·     Projeto de instalação de fábrica de placas solares em Cuiabá-MT – ≈ R$ 150 a 200 milhões (≈ US$ 30 a 40 milhões).

     Gree

·     Projeto de duplicação da produção da filial já instalada na Zona Franca de Manaus, com acréscimo de mais um laboratório (este de eficiência energética).

     Hanergy

·     Projeto de investimento na fabricação de módulos fotovoltaicos de filmes finos – ≈ R$ 2 bilhões (≈ US$ 400 bilhões).

     Sanxing Electric

·     Aquisição de 100% da empresa brasileira Nansen (fabricante de medidores elétricos) – em 2015, a Sanxing já tinha adquirido 51% da Nansen, com investimento de cerca de R$ 30 milhões.

(xi)Fabricação de máquinas e equipamentos

     Skystone

·     Aquisição de 100% da indústria de fio diamantado da Skytone do Brasil, em São Domingos do Norte-ES – até então a empresa pertencia a uma sociedade entre a brasileira Guidoni e a chinesa Fuzhou.

     YDF Valves

·     Fusão com a empresa brasileira IPPG Brazil (fabricante de tubos, vávulas e conexões).

     Zhuhai Yuren Agricultural Aviation Co

·     Instalação de uma fábrica de drones agrícolas no estado de Mato Grosso – Investimento inicial: ≈ R$ 110 milhões (≈ US$ 22 milhões).

(xii)      Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

     CED Prometheus

       Acordo com o governo de Mato Grosso para o desencadeamento de um projeto de produção de energia para abastecimento de indústrias locais – ≈ R$ 1,65 bilhões (≈ US$ 330 milhões).

     CTG (China Three Gorges)

·     Modernização das usinas hidrelétricas Ilha Solteira e Jupiá (atualização tecnológica de 34 unidades geradoras das usinas); e outras geradoras do estado de São Paulo – R$ 345 milhões.

     CCETC (Jiangsu Communication Clean Energy Technology)

·     Construção de duas termoelétricas na Bahia: Camaçari Muricy II e Pecém Energia; mediante o controle de duas SPEs (Sociedades de Propósito Específico), com 50% de participação chinesa  – R$ 400 milhões.

     Jingiang Environment

·     Participação de 51% em um projeto para a construção da primeira usina termelétrica geradora de energia através de resíduos do Brasil (processamento de 800 toneladas diárias), em Barueri-SP – ≈ R$ 75 milhões (≈ US$ 15 milhões).

     State Grid

·     Investimento por esta gigante chinesa do setor de energia elétrica em 8 projetos de linha de transmissão – ≈ 29 bilhões (≈ US$ 5,8 bilhões).

ü 2.500 Km de Linhas de Transmissão (LT), por meio da subsidiária Xingu Rio Transmissora de Energia, nos estados do PA, TO, GO, MG e RJ;

ü Km de LT no estado de MT;

ü 2.000 Km de LT, no âmbito do projeto Belo Monte Transmissora de Energia, nos estados do PA, TO, GO e MG

ü 275 Km de LT no estado de MT;

ü Reforço da LT no estado de MG;

ü Reforço da LT no estado do PA;

ü Reforço da LT no estado do PI;

ü Reforço da LT no estado de SP.

(xiii)    Transporte terrestre

     BYD

       Construção de um sistemas de monotrilho em Salvador-BA (20 km de extensão e 22 estações, para transporte de 150 mil usuários por dia – R$ 1,5 bilhão.

(xiv)     Produção e distribuição de combustíveis gasosos por redes urbanas

     Shandong Kerui Petroleum

       Implementação de uma UPGN (Unidade de Processamento de Gás Natural) em Itaboraí-RJ – ≈ R$ 3 bilhões (≈ 600 milhões).  

Fonte: “Investimentos Chineses no Brasil 2018”, de Tulio Cariello, publicado pelo Conselho Empresarial Brasil-China.

 

INDAGAÇÕES ESSENCIAIS

Por imperioso, convém uma sequência de questionamentos essenciais de cunho estratégico e político. Eles são alinhavados a seguir.

(1) O assessoramento aos tomadores de decisões governamentais brasileiros de alto nível é consentâneo com as lições de história da evolução política, científica e militar chinesa? 

(2) Supondo-se que estão conscientes do modus operandi chinês no que diz respeito às relações internacionais, as altas autoridades brasileiras estão tomando decisões submetidas aos elevados interesses do povo brasileiro?

(3) Internacionalizar setores estratégicos brasileiros, como infraestrutura, exploração agropecuária e comunicação social, atende aos interesses da nacionalidade?

(4) Os brasileiros que estão negociando com os chineses estão tomando decisões que refletem o equilíbrio entre os interesses brasileiros e os interesses de potência estrangeira? 

(5) Existem indicadores que alicerçam a solução destes questionamentos? Quais são?

 

CONCLUSÃO

Nesta coletânea de informações, buscou-se elencar dados e eventos com o objetivo de entender o perfil de pensar e agir dos chineses, em três períodos distintos: de 1949 a 1978, sob a liderança de Mao Tse Tung; de 1978 a 1990, sob a liderança de Deng Xiao Ping, com os reflexos resultantes até a atualidade, sob as lideranças subsequentes sucessivas de Jiang Zemin, Hu Jintao e Xi Jiping (este atual dirigente máximo); e de 2007 até 2018, com o foco específico na expansão econômica chinesa, especialmente para o Brasil.

No período de Mao Tse Tung, houve a prevalência do autoritarismo marxista-leninista-maoísta brutal, em que há evidências robustas de que mais de 60 milhões de chineses foram sacrificados, uma metade, por meio de execuções e assassinatos; e a outra metade, pela fome, dado que o ditador decidiu exportar alimentos para dar vazão ao projeto megalomaníaco e brutal de elevação da China à condição de superpotência. Houve também nesse período a tendência de exportar a revolução violenta para a conquista do poder em outros países, numa tentativa de oposição à União Soviética e ao ‘revisionismo’ praticado por Nikita Kruschev e a ‘desestalinização’ do poder. Mao Tse Tung faleceu depois de passar quase três décadas no poder. Seus objetivos de elevação da China à condição de superpotência e de prevalência mundial não foram concretizados.

No período de Deng Xiao Ping, o autoritarismo brutal foi substituído por uma versão ditatorial que atribuiu prevalência para a retirada de centenas de milhares de chineses da pobreza absoluta e do crescimento econômico e expansão na busca de influência mundial pela conquista de mercados que eram privilégio da Europa Ocidental e dos Estados Unidos. Não pode deixar sem menção que o novo autoritarismo continuou com a supressão da liberdade, como bem comprova a ação repressora violenta contra milhares de estudantes na Praça da Paz Celestial (ou Praça Tianamen) — as estimativas dão conta de que mais de 400 foram mortas (400 a 800 pessoas segundo o New York Times, e cerca de 2.600, segundo a Cruz Vermelha chinesa) e de 7.000 a 10.000 pessoas feridas.

Com a saída de Deng Xiao Ping da liderança da China em 1990, houve a continuidade da tendência que ele implantou, de tal sorte que, em 2011, a China atingiu a condição de segunda potência econômica do mundo e, ao final da década atual, ingressa na condição de concorrente paritário dos Estados Unidos na maioria nos países não desenvolvidos ou emergentes.

A análise dos últimos 70 anos demonstra que os chineses podem ser brutais ou não, porém jamais abrem mão de seus interesses e objetivos estratégicos; e são parceiros contra os quais dificilmente alguém ou algum estado consegue vantagens em um interação que idealmente deveria ser equilibrada e igualmente benéfica. Os chineses agem de tal sorte que a balança pende inexoravelmente para o benefício da China.

No Brasil, o montante de investimentos chineses ultrapassou os montantes de todos os parceiros tradicionais — da ordem de quase US$ 60 bilhões no período de 2007 a 2018. Assim, nos campos da agricultura, infraestrutura, indústria, sistema financeiro e comunicação social, os chineses estão conquistando a prevalência — enfatizando-se que na coletânea de que resultou esta conclusão não foram computadas as mais recentes investidas chinesas em atividades na Amazônia, no Nordeste e em São Paulo, amparadas na cumplicidade irresponsável de altas autoridades da esfera estadual. É pois imperioso apontar os riscos de os brasileiros saírem da dependência do mundo Ocidental para ficar sob a dependência dos chineses, para os quais as crenças associadas com liberdade, verdade e ética possuem pouca ou nenhuma valorização quando confrontados com os ideários judaico-cristãos que são a vertente ligada às origens de nossa nacionalidade.

É razoável e imperioso que os investimentos chineses no Brasil trazem risco para: (i) os interesses do povo brasileiro; (ii) os objetivos estratégicos do Brasil de transformação de suas riquezas naturais em bens e em qualidade de vida da população; (iii) os objetivos estratégicos de transformação do reconhecido potencial de um país de dimensões continentais em poder nacional; (iv) e, por último e igualmente importante, a consolidação do regime democrático, com a busca da paz e da harmonia, fundamentada nos valores primaciais da liberdade, verdade, coragem e ética.

As autoridades brasileiras estão diante de um extraordinário desafio: receber os requeridos investimentos estrangeiros, aí incluídos os chineses, sem descurar do desafio de fazer face aos riscos colocados para a soberania nacional e para a grandeza do País a ser deixado para as futuras gerações.


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