A propósito do lançamento no Brasil e nos Estados Unidos da biografia do mato-grossense Cândido Mariano da Silva Rondon, pelo escritor Larry Rohter, convém relembrar e prantear a figura do insigne cidadão, soldado e herói brasileiro.
Rondon integra o imprescindível e reduzido universo daqueles que colocaram sua vida em prol da construção da nacionalidade e da valorização do ser humano — universo em que se destacam, dentre outros, Caxias, Ricardo Franco, Rio Branco, Rui Barbosa, Castelo Branco e Nestor Silva (este, especialmente, por honrar o supremo juramento de colocar a própria vida em risco, para o cumprimento da missão; e por via de consequência, conquistar a difícil e rara promoção ao oficialato por bravura, no campo de batalha, quando integrante da FEB, na Segunda Guerra Mundial, na Itália.)
Rondon tem sido homenageado de forma ampla e merecedora. Ele é considerado o Pai das Telecomunicações Brasileiras e o dia 5 de maio, em que se celebra seu nascimento, é o Dia Nacional das Telecomunicações.
Ele teve seu nome escrito em letras de ouro no maciço Livro da Sociedade Geográfica de Nova Iorque. Em 1918, recebeu a Medalha Centenário de David Livingstone da Sociedade Geográfica Americana. Em 1957, o The Explorer Club, de Nova Iorque, o indicou para o prêmio Nobel da Paz.
Em 1918, o povoado de Rio Vermelho, do estado de Mato Grosso, foi renomeado para Rondonópolis em sua homenagem. Em 1956, o Território Federal do Guaporé passou a se chamar Território Federal de Rondônia. Em 1981, esse território foi transformado em estado com o nome de Rondônia.
Em 5 de maio de 1955, ao completar 90 anos, recebeu o título de Marechal Honorário do Exército Brasileiro, concedido pelo Congresso Nacional. Em 1963, o Exército Brasileiro o designou Patrono da Arma de Comunicações.
Em 1968, foi iniciado o Projeto Rondon, com o objetivo de proporcionar aos alunos de universidades o conhecimento da realidade brasileira e a participação no processo de desenvolvimento.
Em 2015, o Governo Federal determinou a inscrição de Rondon no Livro de Heróis da Pátria, depositado no Panteão da Pátria, em Brasília.
Em 2019, o escritor Larry Rohter, correspondente do jornal New York Times no Brasil, lançou o livro “Rondon – Uma Biografia”, a mais completa obra escrita sobre esse insigne brasileiro.
Em 2023, com o título “A Biography Sheds Light on na Unknown Brazilian Hero” (“Uma Biografia Lança Luzes em um Herói Brasileiro Desconhecido”), o jornal New York Times noticiou o lançamento, nos Estados Unidos, da versão em inglês da biografia escrita por Rohter, com o título “Into the Amazon – The Life of Candido Rondon”.
Como sugestão motivadora, destaco dois parágrafos do livro de Rohter. O primeiro, constante da apresentação da obra na orelha da capa:
“Seja qual for o parâmetro — quantidade de expedições, distâncias vencidas, grau de dificuldade, informações coletadas —, Cândido Mariano da Silva Rondon é um dos maiores exploradores da história mundial, com uma lista de realizações que iguala ou supera a de figuras como Ernest Shackleton, David Livingstone, Robert Peary e Sir Richard Francis Burton.” [1] [2] [3] [4]
O outro parágrafo, atinente à expedição de 1908, na qual Rondon teve febre alta intermitente — resultante de malária — ao longo de mais de um mês:
“E assim foram eles. Mas Tanajura [o médico da comitiva], que provinha de uma tradicional família da Bahia e viria a ser um político de sucesso no Amazonas e um dos melhores amigos de Rondon, percebeu que o colega continuava doente. Ele insistiu que Rondon viajasse montado em um boi, em vez de caminhar, de modo a poupar energia e dar uma chance à recuperação. No início, relutante, Rondon aquiesceu, mas como todos seguiam a pé — ‘a cada metro, meu amor-próprio diminuía mais’ [registrou o herói em seu diário] —, após alguns quilômetros, Rondon apeou, ignorando as objeções do médico e dizendo que ‘é meu dever dar o exemplo’ mesmo que, reconhecia ele, ‘eu fique doente como o inferno’.”
Do artigo do New York Times, atinente ao lançamento do livro nos Estados Unidos, convém destacar:
“Quando Rondon tinha 91 anos, formou-se uma coalizão para indicá-lo ao Prêmio Nobel da Paz de 1957. Um argumento poderia facilmente ser feito: a defesa incansável de Rondon lhe renderia o apelido de ‘o Gandhi do Brasil’. Décadas antes, ninguém menos que Albert Einstein o havia recomendado ao comitê do Nobel. Porém, o comitê de indicação priorizou o trabalho exploratório de Rondon em detrimento de seus esforços humanitários, ocasionando dessa forma a concessão do prêmio para o estadista canadense Lester Bowles Pearson.”
A obra de Rohter traz para a atual conjuntura mundial o monumental e épico trabalho de Rondon, podendo-se inferir que se trata de lembrança e alerta no sentido de que um país com as dimensões do Brasil jamais pode prescindir de personagens com vocação para empreendimento, dimensão de estadista e estatura moral que o conduzam para a vanguarda, sob a égide dos objetivos fundamentais do ser humano, que são atingíveis por intermédio da democracia, alicerçada na liberdade, na verdade, na coragem e na ética e condutora da conquista da paz e da harmonia.
Testemunho do Coronel SAINT-CLAIR (Neto)
Incluo, a posteriori, o valioso testemunho do Coronel SAINT-CLAIR Peixoto Paes Leme Neto, atinente a seu avô, o bravo Coronel SAINT-CLAIR Peixoto Paes Leme, expedicionário da FEB, na Segunda Guerra Mundial, e integrante de equipe do Rondon, no lançamento de rede telegráfica.
De forma espontânea e despretensiosa, o fraterno amigo SAINT-CLAIR (integrante da Turma Marechal Mascarenhas de Moraes, AMAN, 1972) enviou-me um áudio com a seguinte mensagem:
Meu caro amigo!
Apesar de ser artilheiro, o meu avô teve a oportunidade de participar, durante três anos, de um dos grupos de construção de linhas telegráficas com o Marechal Rondon. Para ele, Rondon sempre foi uma pessoa acima de tudo, de tal sorte que ele se referia à trindade “Deus, Pátria e o Marechal Rondon”, como forma de expressar a admiração e o respeito por esse valoroso cidadão do mundo.
Por conta disso, passado o tempo — não me lembro se meu avô era Tenente-Coronel ou Coronel; é certo que ele já tinha voltado da Itália, onde integrara a FEB, na Segunda Guerra Mundial —, ocorreu um enorme problema envolvendo o insigne Rondon.
O meu avô estava servindo no Palácio Duque de Caxias — ele serviu lá por pouco tempo — e num daqueles dias, ele passou pela Seção de Inativos e Pensionistas (SIP), que ficava no interior do Palácio. Aí, ele viu o Marechal Rondon sentado lá no fundo, esperando.
Por causa da desconsideração com Rondon — o Marechal lá sentado, esperando e o pessoal conversando, ‘batendo papo’ e pouco ligando para o velhinho —, ele quase pirou, armou uma confusão e jogou areia no ventilador, o que teve grave consequência, pois resultou na prisão do Chefe da SIP. Assim, a inaceitável desconsideração com um herói no crepúsculo de sua exemplar existência foi remediada.
É rapaz, realmente, o Marechal Rondon foi uma figura absolutamente lendária. Ele devia ser realmente uma pessoa fora de todas as curvas. Apesar de não o ter conhecido, pelas declarações de meu avô — que teve a honra de trabalhar com ele — eu ratifico sua homenagem! Meus parabéns! Forte abraço!
Proposta para o Prêmio Nobel da Paz
Alertado pelo Dr. Anderson Correia, via WhatsApp, acrescento também cópia da carta de Albert Einstein propondo Rondon para o Prêmio Nobel da Paz.
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Livro lançado no Brasil, em 2019, por Larry Rohter, correspondente do jornal New York Times em nosso País. |
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Livro lançado nos Estados Unidos em 2023, por Larry Rohter, correspondente do New York Times no Brasil. |
Grandes exploradores da história, com os quais Rondon foi comparado pelo escritor Larry Rohter
[1] Ernest Henry Shackleton (Kilkea, condado de Kildare, 15/02/1874 — Geórgia do Sul, 15/01/1922) foi um explorador polar que liderou três expedições britânicas à Antártida, e uma das principais figuras do período conhecido como Idade Heroica da Exploração da Antártida.
[2] David Livingstone (Blantyre, Escócia,19/03/1813 – Aldeia do Chefe Chitambo, Rodésia do Nordeste, 01/03/1873) foi um missionário e explorador britânico que se tornou famoso por ter sido um dos primeiros europeus a terem explorado o interior da África. Ao longo de sua vida, David Livingstone empreendeu diversas expedições missionárias pelo interior do continente africano, sendo que em muitas delas, Livingstone foi o primeiro homem branco a ter visitado determinadas regiões da África.
[3] Robert Edwin Peary (Cresson, 06/05/1856 – Washington, DC, 20/02/1920) foi um explorador polar norte-americano conhecido pela alegação de ter sido o primeiro homem a atingir o Polo Norte geográfico em 1909.
[4] Richard Francis Burton foi escritor, geógrafo, antropólogo, explorador, agente secreto e diplomata britânico. Participou de explorações e aventuras como agente e estudioso na Ásia e África. É uma das personalidades mais extraordinárias e fascinantes do século XIX. Falava 29 idiomas e vários dialetos e estudou os usos e costumes de povos asiáticos e africanos, sendo pioneiro em estudos etnológicos.
Fontes
-> Rondon – Uma Biografia – De Larry Rohter, Rio de Janeiro, 2019.
-> A Biography Sheds Light on an Unknown Brazilian Hero – By Rachel Slade – New Yok Times – June 2nd, 2023.
-* https://pt.wikipedia.org/wiki/Cândido_Rondon, consulta em 18/06/2023, às 11:00 h.
-* https://pt.wikipedia.org/wiki/Ernest_Henry_Shackleton, consulta em 19/06/2023, às 15:03 h.
-* https://pt.wikipedia.org/wiki/África, consulta em 19/03/2023, às 15:40 h.
-* https://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_Peary, consulta em 19/03/2023, às 15:43 h.
-* https://pt.wikipedia.org/wiki/Richard_Francis_Burton, consulta em 19/03/2023, às 15:50 h.