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JF1. Como o Exército Brasileiro se posiciona ideologicamente?
ARS1. Primeiramente, devo dizer que sou militar da reserva mas não falo em nome do Exército Brasileiro. E também não falo em nome do Governo brasileiro. Definitivamente, não tenho atribuição nem ordem para me pronunciar em nome do Exército ou do Governo. A publicação de minhas palavras e de minhas opiniões está autorizada, porém com a restrição de que tudo que afirmar agora diz respeito a minha condição de cidadão, eleitor e contribuinte brasileiro, com liberdade para pensar, falar e agir, no limite que as leis vigentes me impõem.
Na década de 1940, quando a França sofreu um dos maiores flagelos de sua história — a invasão da Alemanha nazista, que resultou na morte de cerca de mais de 200.000 soldados e mais de 300.000 civis franceses — o Brasil associou-se aos Aliados, combateu e contribuiu para a derrota do nazismo na Segunda Guerra Mundial, enviando 25.000 soldados para a Europa, com a perda de 467 militares nos campos de batalha na Itália. Deve pois ser enfatizado que os militares brasileiros contribuíram para eliminar o sistema nazista, que assassinou mais de 6 milhões de cidadãos na Alemanha.
A partir da década de 1960, o Brasil impediu a tentativa do comunismo de se implantar no País, com a morte de cerca de 120 cidadãos, em ação contra os brasileiros que queriam implantar o sistema comunista em nosso País. Não custa ressaltar que os militares brasileiros obtiveram êxito contra o sistema comunista, que assassinou cerca de 100 milhões de cidadãos no mundo.
Dito isto, como cidadão, minha percepção e interpretação é que a ideologia dos brasileiros — e quando refiro-me a brasileiros, não importa a cor da pele, a condição social, o gênero a que pertence, a condição profissional nem o uniforme ou vestimenta que usa — [a ideologia dos brasileiros] se chama BRASIL, cuja meta essencial é a busca da paz e da harmonia, por intermédio da democracia. E esta por sua vez se alicerça na Liberdade, na Verdade, na Coragem e na Ética.
JF2. Como o senhor vê o desmatamento da Amazônia?
ARS2. A questão do desmatamento da Amazônia tem se prestado à satisfação de interesses internacionais que vão além do problema de gestão pública dessa região brasileira.
Inicialmente, convém fazer uma digressão histórica. No século XVI, os franceses invadiram o Brasil e implantaram a França Antártica no Rio de Janeiro e posteriormente, a França Equinocial no Maranhão. Nos dois casos, os franceses foram expulsos do território brasileiro. No século XVII, após a fundação por colonos da cidade de Caiena, os franceses se estabeleceram na Guiana Francesa e até hoje mantêm aquele território como um Departamento Ultramarino — vale dizer, valendo-se de atitude e abordagem colonialista e imperialista, os franceses mantêm até os dias atuais um protetorado na América do Sul, na fímbria da Amazônia. No século XVIII, mais algumas vezes, os franceses tentaram invadir o Brasil. Talvez convenha citar as invasões, primeiro de Duclerc, e depois de Duguay-Trouin, no Rio de Janeiro, sendo ambas rechaçadas.
Amparados nesses eventos históricos, os franceses mantêm sua vocação intervencionista, agora tentando interferir na soberania brasileira na questão amazônica. A Amazônia brasileira pertence aos brasileiros. Aos brasileiros cabe determinar os desígnios da região. É objetivo inarredável dos brasileiros manter, proteger, sustentar, preservar e desenvolver a Amazônia, para que os seres humanos que lá vivem tenham a sua evolução baseada na dignidade, na decência e nos valores essenciais e virtuosos da humanidade.
Durante quatro anos, trabalhei na Amazônia, inclusive fazendo obras presencialmente nas fronteiras da Venezuela (Marco BV-8, Surucucu e Cucuí), da Colômbia (Querari, Iauaretê, São Joaquim, Japurá, Ipiranga e Tabatinga) e do Peru (Estirão do Equador e Palmeira). Nesse sentido, tenho preferência pelo projeto Amazônia 4.0, que cientistas talentosos e responsáveis conceberam para o desenvolvimento da região, com base na exploração de produtos animais e vegetais locais, de forma sustentável, equilibrada e com a manutenção da floresta, de tal sorte a impedir a desertificação e neutralizar o impacto negativo no fluxo das águas, sob a forma de chuva e sob a forma dos chamados Rios Voadores que, sabemos, influem no regime de chuva da maior parte do território brasileiro.
JF3. As severas críticas à evolução histórica francesa naquilo que diz respeito ao Brasil significam que os brasileiros têm uma opinião majoritária contra os franceses?
ARS3. Absolutamente, não. Assim como mencionei fatos históricos que depõem contra algumas atitudes dos franceses, há uma sequência de eventos culturais, educacionais, políticos, econômicos e militares que amparam a admiração dos brasileiros pela cultura, pela história, pela realidade atual e pelo povo francês. Passo a enumerá-los.
A influência da França no Brasil pode ser identificada nas revoltas pela independência do século XVIII, com a influência da civilização francesa sobre Tiradentes e seus adeptos; na própria independência do País e na formação do Império do Brasil, com a contribuição de José Bonifácio, que fora aluno na França de discípulos de Robespierre; na proclamação da República, com a participação de Benjamim Constant, adepto do positivismo de Comte; na criação da Academia Brasileira de Letras, por Machado de Assis e seus parceiros, que se inspiraram na congênere Academia Francesa; com a Missão Militar Francesa e consequente modernização do Exército Brasileiro; com a criação da primeira universidade brasileira, a USP, segundo a modelagem acadêmica francesa; e por último e fundamental, com a presença na atualidade no Brasil, de cerca de 850 empresas francesas, empregando mais de 500.000 pessoas.
Por via de consequência, há que se reconhecer a influência histórica benéfica e estimuladora resultante dos avanços culturais da sociedade e da Nação francesas. Espera-se dos franceses atitude, abordagem e ação consentâneas com a inegável qualificação civilizacional que os tornaram merecedores de admiração, respeito e gratidão.
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No período colonial, a primeira e mais celebrada tentativa (não concretizada) de independência do Brasil ocorreu no século XVIII, com a chamada Inconfidência Mineira. Essa revolta foi liderada por pensadores e políticos brasileiros que tiveram enorme influência e inspiração dos Iluministas franceses. Esses brasileiros são considerados heróis nacionais.
Dentre os brasileiros com importância no processo de independência, pode-se citar José Bonifácio de Andrada e Silva, que recebeu a alcunha de Patriarca da Independência, por sua atuação decisiva na formação do Império do Brasil. Ele foi influenciado politicamente pelos franceses, pois foi aluno e admirador de dois cientistas franceses amigos de Robespierre: Fourcroy e Chaptal. Embora não tivesse compromisso com a Revolução Francesa, teve contato direto com ela, o que foi de grande importância em sua formação de estadista.
No processo que culminou com a Proclamação da República, em 1889, é inegável a influência francesa, seja pelo exemplo e ideias da Revolução Francesa, seja pelo positivismo de Augusto Comte, que estava subjacente no pensamento dos brasileiros que levaram a cabo a transformação de Monarquia para República.
A criação da Academia Brasileira de Letras, em 1897, pelos intelectuais liderados por Machado de Assis, representa relevante influência cultural já que a casa dos escritores brasileiros foi modelada à semelhança da congênere Academia Francesa.
No século XX, o Exército Brasileiro recebeu influência e apoio, durante cerca de 20 anos (1920 a 1940) do que se convencionou chamar Missão Militar Francesa. Como herança desse evento histórico, as Forças Armadas brasileiras contabilizam a profissionalização e modernização do Exército, o aperfeiçoamento do ensino e da instrução militar, a elaboração de novos regulamentos militares, a reorientação da doutrina, a reformulação das missões do Estado-Maior do Exército e a criação da Escola de Aviação Brasileira.
No campo da educação, a primeira universidade brasileira, a Universidade de São Paulo (USP), foi fundada em 1936, seguindo o modelo de universidades públicas francesas. Vários professores franceses lecionaram no departamento de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Trata-se de uma das melhores universidades da América Latina. Ademais, tem uma produção acadêmica classificada entre as 20 primeiras do mundo (em favor da verdade, deve ser ressalvado que, do ponto de vista do impacto causado na realidade brasileira, isto é, do ponto de vista qualitativo, muito há para ser feito na USP e nas demais universidades públicas modeladas de acordo com a inspiração francesa).
No campo econômico, a influência francesa no Brasil reforça a dinâmica das relações franco-brasileiras. No total, 850 empresas francesas têm filiais ou sedes no Brasil, empregando mais de 500.000 pessoas. E vale ressaltar que 15 empresas francesas estão entre os 200 grupos com maior faturamento no Brasil.
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JF4. Como o senhor vê a presença de militares no atual governo, sendo que todos os atuais ocupantes de primeiro escalão, no Palácio do Planalto, são de origem militar?
ARS4. Como cidadão brasileiro, vejo com absoluta tranquilidade e normalidade. Senão vejamos.
O senhor Pierre Clostermann — cidadão francês, nascido no Brasil (e piloto formado no aeroclube do Rio de Janeiro, aos 16 anos de idade) — foi militar, tornando-se aos 25 anos de idade, o maior dentre os aviadores de caça da Força Aérea francesa, na Segunda Guerra Mundial. Sua condição de soldado contribuiu para o excelente desempenho como deputado da Assembleia Nacional francesa em seis mandatos consecutivos; como empresário extraordinário da aviação francesa; e também como autor de 11 livros.
O senhor Charles De Gaulle foi militar, e por mais que alguém discorde, foi um dos grandes estadistas da história. A propósito, foi ouvindo o discurso de De Gaulle, pela BBC, em 1940, que Pierre Clostermann, que estava na Califórnia, veio para o Brasil, trabalhou no jornal carioca, Correio da Manhã, durante três meses, e depois foi para Londres encontrar aquele líder para opor-se ao Marechal Pétain e impedir que os franceses se tornassem alemães e ainda por cima nazistas.
O senhor Winston Churchill — cujo pai disse-lhe quando adolescente que não serviria para nada, tão ruins eram seus resultados escolares — afora formar-se oficial de Cavalaria em Academia militar britânica, tornou-se Primeiro Lorde do Almirantado e depois, na condição de Primeiro Ministro, deu uma pequena contribuição para varrer do território francês os invasores alemães.
Os senhores Roosevelt, Trumann, Eisenhower, Kennedy, Reagan, Nixon e Bush (Assistente da Marinha, Capitão, General, Tenente, Capitão, Tenente e Tenente, respectivamente) foram militares. É bem provável que os americanos não reclamem muito disso.
O senhor Humberto de Alencar Castelo Branco, que nos campos de batalha da Itália, como militar, contribuiu para que os alemães nazistas retornassem da Itália e da França para a Alemanha e para os capítulos viciosos da História, foi um dos presidentes que concretizaram a elevação do Brasil da condição de 43ª para 8ª economia do mundo. Há dezenas de concretizações de Castelo Branco que até hoje impactam positivamente o Brasil e os brasileiros. Claro, alguns portadores de moléstia ideológica incurável não gostam disso.
Mas retornemos ao contexto de sua pergunta provocativa. O Brasil já teve no Palácio do Planalto ministros ex-terroristas, com as mãos sujas de sangue; e ministros corruptos, com as mentes e os bolsos contaminados pela participação em organizações criminosas. Isso para ficar apenas em dois tipos básicos de escroques da política, seja ela nacional ou estrangeira. Então, porque não ter militares, que deixam suas carreiras para emprestar para o cenário de gestão pública civil suas extraordinárias qualificações pessoais e profissionais, amplamente testadas e provadas em condições de normalidade e em condições excepcionais (estas particularmente no exterior, seja no Haiti, na África e em outras situações)?
Repito e enfatizo: vejo com absoluta tranquilidade e normalidade, e entendo que há militares ocupando cargos e funções de natureza civil na condição de exemplares cidadãos. Tenho a virtuosa ousadia de acrescentar que os brasileiros de boa fé concordam comigo.
JF5. Declarações do Ministro Chefe do GSI ocasionaram efusiva resposta do Presidente da Câmara e de outros parlamentares. O senhor não acha que isso prejudica a interação entre dois poderes da República no Brasil?
ARS5. Eu me permito não tratar de assuntos que envolvam as autoridades citadas em sua pergunta. Entretanto, posso mencionar a opinião corrente da maioria dos brasileiros.
Na eleição presidencial de 2018, os eleitores votaram contra os procedimentos políticos vigentes, em que o apoio do Poder Legislativo à Presidência da República era conseguido mediante a troca de interesses, envolvendo, de parte do Poder Executivo, a nomeação de integrantes de cargos, a concessão de verbas e outras ações; e de parte dos parlamentares, a concordância com as propostas recebidas, caracterizando o nefasto “toma-lá-dá-cá” (expressão popular que não tem equivalente nos demais idiomas, mas que poderia ser traduzida por "fais ce que je veux et ma réponse sera ce dont tu as besoin" — “do what I want and my answer will be what you need” — incluindo, às vezes, procedimentos ilegais, antiéticos e baseados na corrupção).
Conforme prometido na campanha eleitoral, o Governo Federal não usa procedimentos chamados de “toma-lá-dá-cá” e há uma reação dos integrantes do Parlamento que, não raro, declaram que não aprovarão as solicitações feitas pelo Poder Executivo por causa da mudança qualitativa adotada na atualidade.
Por outro lado, a maioria dos brasileiros tem consciência de que o Presidente da Câmara não tem um passado confiável para exercer o alto cargo para o qual seus pares o elegeram. Ele é acusado de estar envolvido no escândalo de corrupção liderado pelo ex-presidente Lula da Silva (condenado pela Justiça por ter cometido vários crimes de corrupção quando exerceu a presidência da República) em conluio com a empresa Odebrecht (uma das maiores do Brasil em construção civil e obras de infraestrutura). O Presidente da Câmara pertence à corrente política liberal mas tem apoio e interação próxima com os partidos de esquerda, especialmente os comunistas ou correligionários destes. Ora, conviver de forma civilizada é imperioso na democracia, mas atingir objetivos colimados, com o apoio, como regra geral, dos contrários é uma forma de excrescência democrática.
Pelo exposto, a maioria dos brasileiros percebe que o Poder Legislativo, por meio de seus integrantes e pelo próprio Presidente da Câmara, está agindo contra os interesses nacionais. Como ilustração, a mais recente atuação nesse sentido, foi a inclusão em lei da faculdade dos parlamentares determinarem a utilização, que seria atribuição específica do Poder Executivo, de um montante orçamentário de cerca de 30 bilhões de reais. Foi contra essa medida absurda, que reagiu um Ministro do Governo, asseverando que o Poder Executivo estava sendo “chantageado por integrantes do Parlamento”.
Parcelas majoritárias dos brasileiros têm se posicionado inequivocamente de forma favorável às declarações do Ministro Chefe do GSI em contraposição ao Presidente da Câmara.
JF6. Na dinâmica da relação entre o Presidente Jair Bolsonaro e o Exército no poder, qual é influência da “ala militar” sobre a gestão governamental?
ARS6. Serei recorrente. Há imperiosas razões que o seja. Winston Churchill, Charles De Gaulle Franklin Delano Roosevelt, Harry S. Truman, Dwight Eisenhower, John F. Kennedy, Richard Nixon, Ronald Reagan, George H. W. Bush e Humberto de Alencar Castelo Branco foram militares e tornaram-se Chefes de Estado e Governo, com desempenho extraordinário. Como via de regra, não se menciona a condição de militar de qualquer deles para questionamento de qualquer ordem.
Em relação ao Governo brasileiro da atualidade, há uma impropriedade na denominação “ala militar”. Existem militares que estão afastados da condição militar e estão desempenhando funções civis, da mesma forma que o fizeram Churchill, De Gaulle e os presidentes americanos. De qualquer sorte, se os militares da reserva — qualificados, testados e provados, em missões públicas nacionais e internacionais e com conduta inequivocamente ilibada — no exercício de cargo absolutamente civil, estão influenciando o governo, certamente é de forma positiva e construtiva. Estão atuando no nível de outros ministros com desempenho extraordinário — dado que estão contribuindo para que os brasileiros saiam da maior crise moral, social, política e econômica da História. Basta avaliar com isenção e boa fé, Paulo Guedes, na Economia, Sérgio Moro, na Justiça, Tarcisio Freitas, na Infraestrutura, e Teresa Cristina, na Agricultura, para citar apenas alguns dentre os mais notáveis.
Ademais, é preciso ser repetitivo. Não pode ser esquecido que o Brasil saiu de um período que teve no Palácio do Planalto, ministros ex-terroristas, com as mãos sujas de sangue; e ministros corruptos, com as mentes e os bolsos contaminados pela participação em organizações criminosas. Isso para ficar apenas em dois tipos básicos de escroques da política, seja ela nacional ou estrangeira.
A população brasileira mostra satisfação com a atuação dos militares da reserva que estão no governo.
JF7. O senhor não citou a Educação. Há brasileiros que avaliam como traumático o desempenho dos ministros da Educação do governo Bolsonaro?
ARS7. O Brasil tem mais de 43 milhões de estudantes e cerca de 2 milhões de professores no ensino médio. Tem mais de 8 milhões de estudantes e cerca 350 mil professores no ensino superior. Constata-se que o total de estudantes e professores brasileiros é da ordem de grandeza da população da França.
Se tomarmos o resultado do PISA da OCDE, em relação a aproximadamente 70 países em que alunos de ensino médio são avaliados, o Brasil se encontra entre os 10% piores desse universo.
No atinente ao ensino superior, a melhor universidade brasileira é a USP, cuja produção acadêmica está, quantitativamente, entre as 20 melhores universidades classificadas do mundo. Entretanto, se tomarmos a classificação baseada no impacto da produção acadêmica — avaliação qualitativa do pouco conhecido mas consagrado Leiden Ranking — a USP está classificada na 750ª posição (este entrevistado pode estar cometendo algum erro nessa classificação, porém a incorreção é menor do que 5%).
Os resultados do PISA e do Leiden Ranking são indicadores do descaso, da irresponsabilidade e da gestão indigente da educação brasileira nos últimos 20 anos. Em consequência, um dos trabalhos de gestão pública mais difíceis a serem executados no Brasil é a condução do Ministério da Educação (MEC). Há necessidade de um enorme e pertinaz esforço na área de Educação para superar os desmandos e irresponsabilidades evidenciados na Educação brasileira nas nefastas gestões socialistas e socializantes dos últimos 20 anos no Brasil.
JF8. E a questão da condução ideológica do atual governo o que o senhor tem a dizer?
ARS8. Ao longo dos 14 anos de governo do Partido dos Trabalhadores, a questão ideológica foi prevalente na gestão governamental federal brasileira. Essa prevalência foi potencializada no setor de Educação e nas relações internacionais.
Uma parcela expressiva das universidades públicas federais foram inaceitavelmente contaminadas pela ideologia comunista, que alguns negam e preferem caracterizar apenas como socialismo e outras formas de camuflagem.
No atinente às relações internacionais, Lula e Fidel Castro fundaram o Foro de São Paulo, um instrumento para difusão da ideologia comunista. O Brasil passou a apoiar política e diplomaticamente, entre outros, países como Cuba, Venezuela, Bolívia, Nicaragua e Coreia do Norte.
No que concerne à economia, centenas de bilhões de reais foram desviados dos interesses do povo brasileiro — deixando por esta razão de satisfazer a terríveis carências de saúde, educação, moradia e segurança — para conceder empréstimos para os países citados e para países simpatizantes da África, com prejuízos que os brasileiros levarão mais de 50 anos para recuperar o que se perdeu. Nesse sentido, para a satisfação dos interesses ideológicos e também os interesses pessoais dos dirigentes do Partido dos Trabalhadores, a fórmula mágica foi a corrupção que pode ser considerada uma das maiores do mundo de todos os tempos.
Há atuação ideológica do atual governo? A atuação governamental atual é contrária ao estado de coisas descrito. Vale dizer, não deve haver pregação política e ideológica em sala de aula — é chamada Escola Sem Partido, uma promessa de campanha eleitoral que deverá ser cumprida. Os países socialistas deixaram de ser apoiados nos fóruns internacionais. Os empréstimos econômicos para ditaduras hediondas cessaram completamente. A corrupção em geral e as demais formas de criminalidade estão sendo combatidas com pertinácia e os respectivos índices estão caindo de forma inequívoca.
Ser contra o proselitismo e a atuação ideológica é uma forma de práxis ideológica? Não há dúvida que no Brasil atual não há espaço para o comunismo e para o nazismo, não há espaço para convivência com países comunistas ou nazistas. Historicamente, o Brasil contribuiu para a derrota dos nazistas na Europa e para impedir que os comunistas ascendessem ao poder no Brasil. Valho-me da percepção de que a ideologia vigente tem um nome: BRASIL. O alicerce essencial dessa ideologia é o bem estar e o progresso dos brasileiros e a convivência pacífica e fraterna com os países e povos cujos interesses estejam distantes de ideologias hediondas.
JF9. Os brasileiros se sentem confortáveis com um líder de extrema direita na Presidência da República, que entre outras considerações é acusado de homofóbico, racista e machista?
ARS9. Essa é uma oportunidade para esclarecimentos de pontos fundamentais para seus leitores. Comecemos de trás para frente.
Um dos mais próximos assessores do candidato Bolsonaro na campanha eleitoral — e amigo pessoal da família — é um cidadão advogado negro de Brasília e que até hoje faz parte da equipe de governo, no Ministério da Educação. Um candidato a Deputado Federal eleito com uma das maiores votações do estado do Rio de Janeiro é um cidadão carioca negro de quase 1,90 m de altura e que frequentemente aparece em foto com o presidente, inclusive nas viagens internacionais. Ele é um dos maiores amigos do presidente, a tal ponto que adotou o sobre Bolsonaro. Senhor jornalista, diante do exposto, é possível caracterizar racismo do atual presidente do Brasil como o fizera seu jornal?
Em face do estupro e morte de uma garota no estado de São Paulo, por um criminoso menor, o então Deputado Federal Jair Bolsonaro apresentou um projeto de lei para agravar a pena de estupradores. Uma Deputada Federal passou a fazer campanha no Congresso Nacional em defesa do estuprador menor. Em uma discussão nos corredores da Câmara dos Deputados essa Deputada Federal chamou Bolsonaro de estuprador. Senhor jornalista, onde se encontra o machismo mencionado em seu jornal?
Dentre os cidadãos que prestam apoio público ao presidente Bolsonaro, existem alguns homossexuais declarados, que inclusive abraçaram publicamente o então candidato na eleição presidencial. Senhor jornalista, seu jornal considera os referidos cidadãos gays doentes, estúpidos ou loucos?
O cidadão Jair Bolsonaro tem quase 30 anos de militância política no Parlamento e na Presidência da República, seguindo as regras, normas e procedimentos vigentes no Estado Democrático de Direito. No cargo que ora ocupa, ele defende a liberdade de imprensa (sendo que, diariamente, ele é atacado com informações, não raro, falsas), defende a liberdade de ir e vir de forma incondicional, defende a coexistência dos Três Poderes da República, aspecto essencial da democracia. Entretanto, em todas as matérias que li em seu jornal, ele é referido com ênfase como um radical de extrema direita. Em Cuba, na Venezuela e na Nicarágua, onde não há liberdade de ir e vir (a não ser para, escondido por sendas tortuosas, fugir do País), não há liberdade de imprensa, não é permitido o funcionamento regular dos Três Poderes — funcionamento estimulado especialmente pelo Iluminismo oriundo da civilização francesa — e seu jornal jamais se refere aos Chefes de Estado daqueles países como radicais de extrema esquerda. Senhor jornalista, seu jornal omite a verdade neste caso e conspurca-a naquele, por vocação e aptidão ou por simples prazer de seus articulistas?
JF10. O presidente Bolsonaro divulgou um vídeo contendo conclamação para que seus apoiadores participem de manifestação no dia 15 de março, contra o Congresso Nacional. O que o senhor acha dessa atitude?
ARS10. Não tenho a intenção e não me agrada a grosseria e a presunção, mas não posso me omitir. Em sua profissão, é imperioso escrever com precisão e objetividade. A manifestação não é contra o Poder Legislativo, um sustentáculo da República e da democracia. A manifestação é contra os deputados e senadores que integram a escória das duas casas do Parlamento.
Queira notar que houve muitas reações contrárias ao estímulo para participação na manifestação. Quer saber quantos reagiram? Basta contar a quantidade de acusados e processados por corrupção ou já condenados por corrupção. Basta contar os que não têm coragem moral e ética para pegar um avião comercial no aeroporto. Basta contar os que usam avião da FAB para suas atividades pessoais e familiares. Basta contar os que defendem a criminalidade de políticos e empresários. Basta contar os que votam contra a prisão após julgamento em segunda instância. Basta contar os que estão interessados em defender os interesses próprios. Basta contar os que defendem 30 bilhões do orçamento para emprego indevido pelo Parlamento.
A divulgação do vídeo foi adequada ou foi uma ato falho? Quando se conta as quantidades sugeridas, infere-se que os inconformados estão incluídos em uma, alguma ou todas dentre as hipóteses sugeridas. O que os reclamantes não percebem é que a população votou em 2018 pela mudança; e qualquer coisa que atente contra o status quo anterior gera reclamação de toda ordem. Quem venham as mudanças! Os cidadãos clamam e exigem a transformação.
Nota. Este texto é a simulação preparatória de entrevista concedida ao correspondente no Brasil do jornal Le Monde. Na entrevista, utilizei expressiva parcela das informações e proposições contidas nesta preparação. Deixo de divulgar a entrevista por não dispor do texto e também para aguardar a possível, mas pouco provável publicação.
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