sexta-feira, 16 de maio de 2025

Diálogo psicométrico

No sertão agreste, dois caboclos que estavam grudados no cabo do guatambu, puxando a enxada, interromperam o trabalho, dirigiram-se para a sombra de uma árvore frondosa, para aliviar a fadiga do esforço físico, bem como para enxugar o suor da face e fumar um palheiro. Como de hábito, trocaram ideias sobre a conjuntura.

— Cumpadi, acho que a bibliografia da escolinha está muito desatualizada. Pois não é de ver que não encontrei explicação para a descontinuidade da evolução humana. Se houve antepassados como o australoptecus, o homo habilis, o homo erectus e o homo sapiens, e se a transformação fosse contínua, hoje existiriam exemplares desses ancestrais em sucessiva evolução.

— Cumpadi, é aí que você se engana! Na atualidade, existem indivíduos nesses estágios de mutações históricas.

— Como assim Cumpadi? Você está com o pensamento meio enviesado!

— Veja bem, existe uma espécie ancestral que a maior parte da literatura ignora.  Trata-se da espécie dos corruPTus. Os políticos petistas são australoPTecus corruPTus, os psolistas são australoPSOLtecus corruPTus e os pecebistas são australoPCBistas corruPTus.

— Que interessante! A gente sabe que existem corruptos, mas eu não imaginava que eles pertencessem ao universo da ancestralidade.

— Dúvidas não há, gente na espécie corruPTus há! Ocorre que cada ente humano tem cerca de 86 bilhões de neurônios no cérebro. Já o cérebro dos integrantes da espécie dos corruPTus evoluiu para 80 bilhões de neurônios — esse lapso, embora menor que 8%, é dramático e crítico. 

— O que é isso Cumpadi? Como é mesmo?

— Eh!... E com um agravante, no ente humano há 12.000 neurônios com especificidades cruciais: 6.000 são associados com a memória do passado e os outros 6.000 são associados com a concepção do futuro. Nos corruPTus, esses neurônios se conectaram às avessas, de tal sorte que eles se lembram de um passado conspurcado, agem no presente de forma pervertida e só são capazes de construir um futuro vilipendiado.

— Que coisa fantástica, Cumpadi. Sua identificação da realidade surpreende e seduz!

— Ah Cumpadi, isso não é tudo! Nenhum intelectual se apercebeu da existência de uma espécie ancestral anterior aos australoPTecus. A rigor, existiu a espécie dos estrumerius, integrada por 6 subespécies: a naziPTecus estrumerius, a fasciPTecus estrumerius, a komunoPTecus estrumerius, a lulantaPTecus estrumerius, a dilmantaPTecus estrumerius e a janjantaPTecus estrumerius. 

— Tudo bem Cumpadi, já deu para perceber que você ingressou de cabeça no mundo antropológico. Fiquemos em nossa conjuntura desastrosa. Como se explica que tem gente que vota em candidato integrante de subespécie ancestral?

— É simples! Basta comunicação social plena de mentiras, promessas fictícias, acusações falsas contra os oponentes e nefasta capacidade de se valer da boa vontade e demais virtudes dos cidadãos para enganá-los de forma inexcedível. Os integrantes da espécie corruPTus são incapazes, incompetentes e desonestos; ademais, houve uma transformação que lhes permite pensar e agir de forma hedionda e inexplicável.

— Será que isso é mesmo possível?

— Claro, Cumpadi! Porém, fica um alerta! Os três primeiros tipos de estrumerius são extremamente perigosos. Eles costumam prender quem se vale da liberdade de expressão para tratar da história, da verdade e da ética. Cuidado, portanto!

— Sim, Cumpadi, mas, pensando bem, nós não fizemos qualquer acusação nem mencionamos qualquer ser humano, não importando a qual subespécie pertença. Tratamos apenas de fatos ancestrais, bem como de teses e conceitos consentâneos.

— Você tem plena razão. Se alguém quiser nos acusar de qualquer delito, trata-se de estuPTdez inequívoca e plena. E, nesse caso, o estúPTdo se denunciará voluntariamente. É provável que o cabra tenha um átimo de lucidez e se negue à ‘autoincriminação’.

05/05/2025

Antropologus Convictus

 

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quarta-feira, 14 de maio de 2025

Vizinhança, gentileza e elegância

TESTEMUNHO DE BRASILEIRO QUE MOROU NOS ESTADOS UNIDOS

 

Fui morar nos Estados Unidos para fazer curso de doutorado.

Mudei-me com a família para a casa alugada.

Passada uma semana, seguindo a tradição, um americano, vizinho de frente, convidou-nos para um jantar de recepção para sábado, das 19:00 às 22:00 h. Quando chegou uns poucos minutos antes de 22:00 h, o anfitrião anunciou que a recepção estava concluída e, gentilmente, despediu-se de familiares, de outro vizinho e dos homenageados.

 

Depois de uns 40 dias, programamos um jantar e convidamos esse vizinho para um jantar em nossa casa, em reciprocidade pela gentileza com que fomos recebidos. 

De forma similar, marcamos a confraternização para o período de 19:00 às 22:00 h. 

 

Como convidamos também uma outra família de brasileiros, nosso evento durou até um pouco mais tarde, em relação ao que fora anunciado.

Durante a maior parte desse período, mantivemos o equipamento de som ligado para ouvirmos música a uma altura média.

 

O vizinho da frente, nosso convidado que saiu rigorosamente às 22:00 h, sentiu-se incomodado com o som que atingia sua residência e, por volta de 22:20 h, telefonou para a polícia e registrou reclamação. Logo depois, a polícia compareceu em nossa casa para determinar o desligamento do equipamento de som.

 

Há aprendizado nesse relato? 

Há polêmica. 

A cultura dos americanos é diferente. 

Somos brasileiros e devemos viver de acordo com nossa cultura! 

Devemos continuar com cem milhões de pessoas sem esgoto sanitário e igual número de pessoas na linha da pobreza (ou abaixo dela)?

 

 

TESTEMUNHO DE MORADOR DE CONDOMÍNIO NO BRASIL

 

Um certo dia, no Brasil, um morador de condomínio programou uma festa de celebração e manteve o som de música com volume elevado — durante a tarde e durante a primeira metade da noite — de tal sorte que vários condôminos das proximidades da casa foram obrigados a conviver com a música do festeiro.

Um dos vizinhos estava em recuperação cirúrgica, com dificuldade de toda ordem (falar, ouvir, caminhar, alimentar-se ...); um de seus filhos estava trabalhando online, em casa; e outro estava estudando para o vestibular. Os três integrantes dessa família se sentiram incomodados e foram inequivocamente prejudicados pelo som alto da celebração do vizinho.

 

Esse condômino reclamou e (ou) chamou a polícia? Não! 

Sua visão é que reclamar não adiantaria. Ele entende que indivíduos há que não tem a faculdade de pensar minimamente desenvolvida para refletir e imaginar que sua liberdade termina onde começa a de outrem.

E — em qualquer tempo, em qualquer lugar — não deve ser objeto de atitude que pode ser interpretada como tendência de ensinar boas maneiras e qualidade de vida para quem quer que seja.

 

Adicionalmente, sua percepção é de que há indivíduos — especialmente, alguns líderes de sistema de som — que associam a qualidade da música com a altura do volume produzido pelo equipamento; e jamais lhes passa pela cabeça que é possível vários vizinhos ouvirem músicas distintas, num volume que não prejudique o outro; vale dizer, música de qualidade inquestionável, em equipamento tal que, mesmo em altura reduzida, a qualidade não se perde.

Outra percepção desse condômino, que o leva a não reclamar, é que eventualmente sua própria família pode produzir ruído em altura tal que, de um jeito ou de outro, atinge algum vizinho.

 

Enfim, a preferência desse condômino é: 

“Se não gosta de alguma coisa, mude-a. Se não puder mudá-la, mude a sua atitude. Não reclame.”

 

 

A PENSAR, REFLETIR E CONSIDERAR

 

Todos devem ter a liberdade de pensar o que quiser!

De fazer o que quiser!

De respeitar os outros da maneira que lhe for mais conveniente!

Claro, de acordo com sua própria qualificação pessoal de cidadão, de ser humano e, sobretudo, de condômino!

 

Contudo, ninguém deve ignorar que essa liberdade termina onde começa a liberdade de outrem!

 

  

Brazil, United Stares and China – [New York Times, Estadão et al]


President Lula da Silva went to Russia to celebrate Victory Day on May 9, alongside a host of dictators invited by leader Vladimir Putin. 

From Russia, the Brazilian leader traveled to China, where he discussed economic transactions with leader Xi Jiping, estimated at more than two dozen billion dollars. The submission of the former honest, former corrupt, former convicted and former prisoner to the dictates imposed by the Chinese is shocking and extremely worrying.

Mr. Donald Trump is dealing with Mr. Xi Jiping and he must be careful with the Chinese. He must not allow China to gain relevance in partner countries like Brazil. The corrupt and ex-convicted Brazilian is getting closer to the Chinese.

When the Chinese were weak, they outmaneuvered the Americans and the Soviets. 

The Chinese scientist, who is the father of the 200 intercontinental missiles aimed at Yankee territory, completed his doctorate in the United States, worked on the design of the Jet Propulsion Lab and was commissioned a colonel in the US Army to interrogate Nazi scientists at the end of World War II. He was discovered passing the secrets to China, lost his position and was arrested. At the end of the Korean War, he was included by the Chinese in the list of prisoners, was released and became head of the Missile Research and Development Center and the Chinese space program. 

In 1949, on the occasion of the nuclear agreement signed between Joseph Stalin and Mao Tze Tung, the Chinese carried out a secret parallel nuclear project and arrived at uranium and hydrogen bombs, without the Soviets' knowledge. 

Now, a corrupt ex-convict, accused of the greatest corruption in history, is negotiating with the Chinese. The Chinese laugh a lot but they don't joke. Poor future generations of Brazilians! They will pay the price.

 

 

Brasil, Estados Unidos e China

O Presidente Lula da Silva foi para a Rússia celebrar o Dia da Vitória, no dia 9 de maio, ao lado de uma plêiade de ditadores convidados pelo líder Vladimir Putin.

Em seguida, deslocou-se para a China, onde tratou de interações econômicas com o líder Xiping, estimadas em mais de duas dezenas de bilhões de dólares.

É impactante e sumamente preocupante a implícita submissão do ex-honesto, ex-corrupto, ex-condenado e ex-presidiário aos ditames impostos pelos chineses.

O Sr. Donald Trump está interagindo com o Sr. Xi Jiping e deve ser precavido com os chineses. Ele não deve permitir que a China tenha preponderância nas relações políticas e econômicas com países parceiros como o Brasil, mormente agora que o ex-corrupto e ex-presidiário brasileiro está se aproximando da China.

Quando os chineses eram fracos, eles passaram para trás os americanos e os soviéticos. 

O cientista chinês, pai dos 200 mísseis intercontinentais apontados para o território ianque, fez doutorado nos Estados Unidos, trabalhou na concepção no Propulsion Lab Jet e foi comissionado coronel do Exército americano para interrogar os cientistas nazistas no fim da Segunda Guerra Mundial. Foi descoberto passando os segredos para a China, perdeu o posto e foi preso. No final da Guerra da Coreia, foi incluído pelos chineses na relação de prisioneiros, foi libertado e se tornou chefe do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de mísseis e do programa espacial da China. 

Em 1949, por ocasião do acordo nuclear celebrado entre Stalin e Mao, os chineses fizeram um projeto nuclear paralelo secreto e chegaram às bombas de urânio e de hidrogênio, à revelia dos soviéticos. 

Agora, um caboclo acusado da maior corrupção da história negocia com os chineses. Os chineses riem muito, mas não brincam. Pobres próximas gerações de brasileiros.

 



 

 

 

 

 

 

 

 



 

 




































 



 

domingo, 11 de maio de 2025

Comunicação social favorável ao ex-presidente

Um ministro do governo do ex-corrupto e ex-presidiário, chamou o ex-presidente Jair Bolsonaro de ‘capiroto’, palavra que no norte do Brasil é sinônimo de ‘diabo’. É incompreensível como políticos que apoiam o atual governo gastam uma parcela preciosa de tempo de comunicação social para criar narrativa contra o político que deixou o mandato há mais de 3 anos.

 

Com o apoio da súcia do PT — que não consegue esquecer Bolsonaro, como forma de esquecer a desastrosa gestão que os petistas praticam — o ex-presidente tem se tornado um grande líder da atual conjuntura. Está atingindo uma dimensão que nem ele mesmo imaginava e aspirava. 

Então, ele próprio e todos os cidadãos que prezam a liberdade, a verdade e a ética devem agradecer aos apoiadores e defensores da corrupção e outras formas de criminalidade. Enfim, eis aí uma descoberta: os criminosos podem ser úteis!

Claro, por inexcedível desqualificação e incompetência!

Não pensam, não sabem o que fazem, mas corrompem e praticam crimes com eficácia, às vezes, com consequência surpreendente!

 

 

[Divulgado no Estadão online de 11/Mai/2025]

 

 

sábado, 10 de maio de 2025

Lula e o dia da infâmia

Em relação à viagem do ex-honesto, ex-corrupto, ex-condenado e ex-presidiário Lula a Moscou para celebrar junto aos russos a vitória contra a Alemanha nazista, o jornal Estadão se posicionou, em editorial, de forma adequada, bem como de forma a expressar o pensamento daqueles que se apoiam no bom senso, na razão e na lógica.

Nesse sentido, cabe destacar os pontos mais relevantes da magnífica análise. 

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva selou não um triunfo diplomático ou um gesto de realismo pragmático, mas um vexame moral e um fiasco geopolítico para o Brasil.

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Como em todos os governos petistas, Lula conduz uma política externa pautada não por interesses de Estado, mas por taras ideológicas e por sua ambição de ser festejado como vedete terceiro-mundista.

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Também conspurcou a memória dos combatentes da Força Expedicionária Brasileira que tombaram ombro a ombro com os aliados europeus em nome da liberdade na 2.ª Guerra.

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A imagem de Lula na Praça Vermelha, ladeado por facínoras, assistindo ao desfile de tanques e mísseis que vão massacrar inocentes na Ucrânia e outros povos, marcará na História o dia da infâmia da política externa brasileira

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No campo de comentários de leitores, contíguo ao editorial do Estadão, postei uma mensagem em que expresso, com veemência, meu posicionamento em relação à decisão lamentável daquele que tem nas mãos os destinos do Brasil e constrói as bases para o desastre das próximas gerações.

 

O editorial do Estadão é inexcedível. Corresponde ao que se espera de um grande jornal. Está em consonância com sua origem e alicerce — a luta pela verdade e pela liberdade. 

Em se tratando da figura do malsinado mandatário do Brasil, por óbvio, não se pode esperar nada de quem é líder dos maiores escândalos de corrupção da história do Brasil. É terrível e preocupante pensar que há gente que gosta, defende e apoia alguém tão desqualificado à frente de um país com grandes dimensões territoriais, populacionais e de recursos naturais. 

De qualquer sorte, ficam evidenciadas as razões pelas quais cerca de 100 milhões de pessoas vivem sem esgoto e no patamar da pobreza (ou abaixo dele).

 


[Divulgado no Estadão online em 10/Mai/2025]


 

 

sexta-feira, 9 de maio de 2025

Nível intelectual de opositores

Um defensor do ex-corrupto e ex-presidiário postou comentário na rede social X, com referência inaceitável à oposição. Então, replicar de forma veemente, mas com argumento em linguagem aceitável, é preciso.

Tenho a convicção de que, em relação aos provocadores, há plena ineficácia, porém, essa réplica destina-se a atingir aos demais que leem e refletem, com visão apoiada no bom senso, na razão e na lógica. Adicionalmente, para identificar a diferença entre as duas grandes vertentes de pensamento prevalentes na atual conjuntura.

 

Vejam o nível intelectual dos integrantes da súcia. O Beira Mar é um santo perto deles. Os corruptos e seus correligionários agridem, ofendem e maculam a conjuntura. Claro, está explicado: eles defendem, apoiam e gostam do socialismo que assassinou mais de 100 milhões na história (enfatize-se, o socialismo real e o nacional-socialismo, isto é, o comunismo e seu consanguíneo, o nazismo).

 

 

[Divulgado na plataforma X em 9/Mai/2025]

 

 

Doença perigosa e contagiosa

Em face de corrupção da ordem de grandeza de uma centena de bilhões de reais no INSS, praticada no governo do ex-corrupto e ex-presidiário, um aliado teve a coragem de postar uma mensagem falsa, asseverando que o nefasto mandatário salvou o INSS.

 

Para a súcia, surrupiar 90 bilhões de reais de pobres é salvar o INSS; ser condenado ao xilindró é razão para escolha de candidato; mentir de forma hedionda é virtude; afundar o Correio e outras instituições é gestão correta. Enfim, são profetas do desastre; e portadores de doença perigosa, contagiosa.

 


[Divulgada na plataforma X em 9/Mai/2025]
 

 

 

segunda-feira, 5 de maio de 2025

Melhoria das técnicas corruptivas


Como forma de justificar a corrupção grosseira no âmbito do INSS — em face da constatação de que cerca de 6 bilhões de reais surrupiados de aposentados — um apoiador do ex-presidiário divulgou em rede social que Onix Lorenzoni recebeu repasse de R$ 60.000,00 de empresa que envolvida no esquema de corrupção e que atual governo teria cortado a corrupção pela raiz

 

Com certeza, o cabra cortou a corrupção dos que estão distantes para que ele e os que estão próximos possam praticá-la com liberdade e desembaraço. E uma estratégia lúcida e eficaz. Claro, tem gente que gosta e defende. Em realidade, esses apoiadores são os responsáveis pelo desastre.

 

Por óbvio, mais de 500 dias, comendo, deitando-se, dormindo e recebendo visitas de damas acima de qualquer suspeita no xilindró são suficientes para reflexão e melhoria das técnicas corruptivas.

Com não citei nomes, ninguém sabe a quem estou me referindo. Ou seja, vale para todos corruptos.

 

 

[Divulgado na plataforma X em 5/Mai/2025]

 

 

Amizade de engenheiros e excelsas virtudes do ser humano

"O lavrador perspicaz conhece o caminho do arado."
Homenagem a Oscar Barboza Souto, meu pai, antigo lavrador, garimpeiro, comerciante, tabelião e juiz de paz.
In Memoriam.

Nos idos de 2018, conheci a jornalista Ana Clara Costa. Afora profissional muito qualificada, ela demonstrava ser uma pessoa gentil, elegante e talentosa, o que facilitou sobremaneira nossa interação. Em nossos encontros eventuais, tratávamos preferencialmente de política — ela me contatou, pela primeira vez, por essa razão, pois queria entender a visão dos militares sobre a política brasileira —, porém lidávamos com outros assuntos, sempre de forma agradável.


Certa vez, ao analisarmos as dificuldades de as pessoas interagirem na complexa conjuntura vigente, comentei com ela a convivência fraterna do Dr. Lindolpho Carvalho Dias com o Dr. Saturnino Braga. 

O Dr. Lindolfo é engenheiro, matemático de projeção mundial, agricultor e produtor de café em Poços de Caldas-MG e de soja em Rio Verde-GO; ademais, coloca-se no espectro político-ideológico de direita. 

O Dr. Saturnino é engenheiro, político com robusta relevância e se posiciona no espectro político-ideológico de esquerda, tendo começado sua militância no Partido Socialista. 

A exemplar convivência de ambos se originou, a partir de 1943, no curso ginasial (atual curso secundário, do 5º ao 8º ano), e nos tempos acadêmicos, quando foram colegas na Faculdade de Engenharia; enfatize-se, subsequentemente, a despeito da oposição de ideias e pensamento, sempre estiveram próximos e jamais tiveram qualquer desentendimento.

 

 

Mencionei para a Ana Clara que frequentava a casa do Dr. Lindolpho porque ele é casado com a tia de minha esposa Isabel; e em relação ao Dr. Saturnino, encontrei-o duas vezes: a primeira quando ele, na condição de Senador e presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN), do Senado Federal, decidiu visitar o Centro Tecnológico do Exército (CTEx) que, na época, eu chefiava; a segunda, na casa do Dr. Lindolpho, por ocasião de seu aniversário. Transmiti para ela meu testemunho da grande amizade que perdurava por quase 80 anos.

Aproveito para asseverar que, a despeito de nossas diferenças na visão político-ideológica, recebi o Dr. Saturnino no CTEx com o ritual normativo e, com a deferência devida, isto é: recepção com honras, no Corpo da Guarda; acolhimento no gabinete da Chefia da organização militar, para café e pequeno lanche; palestra no auditório, com a presença de oficiais de mais elevado posto, com informações relativas à pesquisa e desenvolvimento desencadeada pelos 170 engenheiros e necessidades de recursos para novos projetos; visita às instalações para conhecimento dos projetos mais relevantes em curso; e almoço especial para visitantes ilustres. 

Cabe acrescentar, que ao retornar para Brasília — por ter tomado conhecimento das dezenas de projetos desenvolvidos ou em desenvolvimento, na quadra de 2006 a 2009, entre os quais pelo menos 5 artefatos de uso dual, já prontos, jamais pesquisados, desenvolvidos e fabricados no Hemisfério Sul por nacionais, com recursos nacionais e empresas majoritariamente nacionais — o Dr. Saturnino inseriu no orçamento federal em análise a proposta de vultosa quantia de recursos para o Exército, a serem empregados pelo CTEx em novos projetos em consonância com as necessidades que lhe foram apresentadas. Dada a magnitude dos valores, essa proposta não foi aprovada, mas se destinou a caracterizar a visão e aprovação do Senador a respeito do inexcedível trabalho das equipes do CTEx.

 

 

Então, a Ana Clara revelou que tinha o contato do Dr. Saturnino e me pediu o contato do Dr. Lindolpho, pois queria consultá-los sobre a possibilidade de escrever e publicar uma matéria sobre ambos na revista Época.

O tempo passou, a Ana Clara se transferiu para a revista Piauí e com a elegância habitual, enviou-me a cópia da matéria sobre o Dr. Lindolpho e o Dr. Saturnino, que estava sendo publicada naquela revista. Mesmo não dispondo da autorização devida — porém em nome da busca dos ideais de paz e harmonia — apresento a seguir a magnífica cópia do texto que retrata a grandeza desses dois personagens antagônicos, mas representativo das mais excelsas virtudes do ser humano.

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Atualização

 

Estou divulgando novamente este artigo "Amizade de engenheiros e excelsas virtudes do ser humano", para que fique registrado o lamentável falecimento do Dr. Saturnino Braga, ocorrido no dia 3 de outubro de 2024, no Hospital Pró-Cardíaco, no Rio de Janeiro.

Relembro que o poeta britânico John Donne afirmou:

“A morte de cada homem diminui-me, porque faço parte da humanidade; eis porque nunca pergunto por quem os sinos dobram: eles dobram por todos nós.”

Eu o parodiaria asseverando:

“Quando alguém se vai, um pouco de cada um de nós segue junto.”

Por óbvio, minha modesta paródia vale especialmente para os seres humanos decentes — aqueles que respeitam a verdade e a ética.

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Lindolpho e Roberto se conheceram em 1943, quando cursavam o segundo ano ginasial no Colégio Mello e Souza, em Copacabana. Roberto, de 11 anos, era natural do Rio de Janeiro. O mineiro Lindolpho, de 13 anos, se mudara de Poços de Caldas para a casa da irmã em Ipanema havia dois anos, a fim de tratar de um problema nos olhos. Em comum, os amigos tinham o interesse pela matemática e o gosto por aventuras. "Éramos bons alunos, mas não ficávamos mergulhados nos livros", contou Roberto. "A gente queria passear, ir a lugares diferentes, conversar."


No final da década de 1940, os dois alcançaram as primeiras colocações no vestibular para o curso de engenharia da Escola Politécnica da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Poucos meses depois do início das aulas, chegaram à conclusão de que a atividade de construir pontes seria muito enfadonha para quem era fascinado por cálculos.

Além da matemática, Roberto tinha outra paixão: a música. Frequentava o Conservatório Brasileiro de Música e era aluno da professora Hilde Sinnek, uma cantora austríaca famosa no Rio por ter atuado em óperas de Wagner na Alemanha. Quando estava no terceiro ano de engenharia, ele decidiu se tornar cantor profissional. Era encantado pela própria voz, que atingia agudos de tenor, embora tivesse baixos mais sustentáveis, característicos de um barítono.

Ao pedir a autorização do pai para trocar a engenharia pela música, ouviu como resposta que poderia seguir a carreira de cantor, desde que concluísse o curso superior. Como a música lhe tomava tempo, Roberto quase não ia à faculdade. Mas Lindolpho o ajudava: revia as matérias com ele, explicava os pontos mais complexos e, quando possível, passava cola. O amigo também o socorreu na preparação para as provas finais da faculdade, no final de 1954. No início do ano seguinte, Roberto se casou com Eliana Schreiner, baiana de família gaúcha que ele também conhecera no Mello e Souza. Lindolpho foi seu padrinho.

O casal partiu para uma longa lua de mel na Europa. Em Paris, se encontrou com Jorge Amado, que Roberto conhecera em eventos do Partido Comunista Brasileiro (PCB), o qual frequentava desde os tempos de colégio. A convite dele, os recém-casados embarcaram para uma viagem à Finlândia, Polônia, Ucrânia e União Soviética. Ao chegarem a Varsóvia, em setembro de 1955, Roberto foi convidado a exibir seus dotes de cantor num festival promovido pelo Partido Comunista local. A apresentação foi um sucesso, mas a noite quase acabou em divórcio. O barítono brasileiro acabou cercado por um bando de jovens entusiasmadas com seu talento - e Eliana, antevendo cenas semelhantes no futuro, logo acenou com a hipótese de separação. Roberto se reconhecia músico, adorava cantar, mas, apaixonado pela esposa, resolveu encerrar ali a sua carreira artística.

De volta ao Rio de Janeiro e sem nenhuma intenção de construir pontes e prédios, ele prestou concurso em 1956 para o BNDE, hoje BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Lindolpho seguiu carreira acadêmica como professor de matemática e foi um dos primeiros diretores do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), fundado em 1952, onde permaneceu por mais de vinte anos.

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Perto de completarem oito décadas de amizade, Lindolpho de Carvalho Dias, de 91 anos, e Roberto Saturnino Braga, de 89 anos, divergem quanto o tema é política, mas nunca brigaram por isso. As diferenças ideológicas remontam ao passado das famílias de um e outro. Lindolpho Pio da Silva Dias, o pai do amigo mineiro, era proprietário de terras e simpatizante da UDN (União Democrática Nacional) em Poços de Caldas. Francisco Saturnino Braga, o pai de Roberto, vinha de uma família tradicional de Campos dos Goytacazes (RJ), era engenheiro renomado e elegeu-se deputado pelo antigo PSD (Partido Social Democrático), rival da UDN.


O matemático Lindolpho, que nunca se filiou a nenhum partido, é um homem de direita. Apoiou o golpe de 1964 e acha o governo de João Goulart o pior da história do país. Roberto fez carreira na política em legendas da esquerda, desde que se elegeu deputado federal em 1962, pelo PSB (Partido Socialista Brasileiro). Escapou da primeira lista de cassados pela ditadura, mas em 1966 teve sua recandidatura vetada pelo regime militar. Com a redemocratização, aproximou-se de Leonel Brizola e filiou-se ao PDT, pelo qual se elegeu prefeito do Rio de Janeiro em 1985. Na época, tomou a decisão polêmica de decretar a falência da cidade - ato que marcou para sempre sua trajetória política. Foi eleito senador três vezes, a última delas, em 1998, para um mandato que ele cumpriu metade pelo PSB e metade pelo PT.

Apesar de ter ideias políticas antagônicas às do amigo, Roberto já recebeu votos de Lindolpho. "Ele era um bom representante, independentemente do partido. Não era um fanático de esquerda. É um sujeito equilibrado", afirmou o matemático, em sua sala na Fundação Getulio Vargas (FGV), da qual é membro do Conselho Diretor e onde dá expediente todo dia, mesmo com a pandemia, que ele não acha tão grave assim. "A gripe espanhola matou mais gente. A peste negra, então, nem se fala: um terço da Europa morreu. Navios vagavam porque toda a tripulação estava morta."

Lindolpho disse não gostar de Lula, ex-aliado político de Roberto. "É um sujeito muito demagogo, muito sem-vergonha e muito aproveitador. Ele não é burro, saiu do zero, é inteligente. Mas utiliza a inteligência com malícia. Não gosto disso." Fernando Henrique Cardoso, para ele, é de "outro nível": "Um homem culto, acadêmico, com simpatia pela esquerda, o que é comum nos acadêmicos, mas com sentimento democrata." Lindolpho acha Jair Bolsonaro "menos democrata", mas não acredita que o presidente seja capaz de "dar um golpe".

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Na tarde de 9 de abril passado, os dois amigos se encontraram no apartamento de Roberto, no Leblon. Eles se falam sempre por telefone, mas não se viam pessoalmente fazia algum tempo. "Talvez uns quatro meses", Roberto calculou. Lindolpho vestia um terno ao chegar, mas, antevendo que o amigo estaria usando algo mais casual, trouxera dentro de uma sacola plástica uma camisa xadrez azul de mangas curtas, para o caso de serem fotografados juntos. Com 1,80 metro de altura e um pouco curvado pelo peso dos anos, Roberto, nas três vezes que se levantou do sofá, contou com a ajuda do amigo, que é mais magro, mais baixo (1,60 metro) e movimenta-se sem dificuldade.

Sempre que se encontram, eles preferem falar do passado e de temas amenos. De assuntos políticos, nenhum pio. "Quase não falamos de política. Tem tanta coisa mais interessante", disse Roberto. Porém, quando a Piauí perguntou a eles o que achavam de Bolsonaro, Lindolpho não se omitiu e, sorrindo, repetiu os elogios que fizera na FGV. Para ele, o presidente é um "falastrão", mas tem "boa intenção" e conduz a pandemia "como pode", já que o Brasil é um país "muito complexo".

Roberto, que publicamente se refere a Bolsonaro como "incompetente" e "tosco", perto do amigo evitou elevar a fervura. "Sou de um partido de oposição a Bolsonaro, tenho uma posição pública de oposição, votei no PT. Mas essa coisa da política vai e vem. Já passamos por períodos assim", disse. E emendou, dirigindo-se a Lindolpho: "Você viu que o príncipe Philip morreu? Com 99 anos!"