quarta-feira, 17 de junho de 2020

A banalidade do mal no âmbito dos autoritarismos


No artigo “Tiranias só sobrevivem porque pessoas aceitam o aberrante como normal” (Folha de São Paulo de 17/Jun/2020),  o escritor João Pereira Coutinho, sempre lúcido e perspicaz, chama a atenção para a banalidade do mal como propugnou filósofa Hanna Arendt ao escrever o livro inspirado no julgamento do Eichmann. 

Nesse sentido, o Sr Coutinho abre seu texto asseverando que “quando estava em Jerusalém, cobrindo para a New Yorker o julgamento de Adolf Eichmann, Arendt concluiu que aquele homem não era o monstro amoral que se poderia imaginar. Era apenas um funcionário que cumprira ordens sem pensar seriamente no que fazia.” Mesmo discordando desse aspecto da citada obra, ele atribui correção às teses de sua inspiradora.

Na explicitação de sua bem concebida apreciação, os ensinamentos do Sr. Coutinho são razoáveis e estimulantes, pela robusta condenação da supressão da liberdade, porém ecoam a ideia da citada banalização, apenas com a citação da tirania nazista e omitindo o igualmente nefasto e hediondo autoritarismo comunista. 

Por falar em neutralidade e problema cognitivo, por que quando mencionam a banalidade do mal, os sábios só mencionam o nacional-socialismo e deixam de lado o socialismo real? Seria pela eficácia do último na arte de eliminar seres humanos (placar de dez para um União Soviética e China versus Alemanha)? A dissonância é de caráter ou de tendência atávica?

Um leitor do jornal postou uma observação sarcástica — associando aberrante com berrante — indicando que a defesa da imparcialidade da opinião contrária a qualquer tipo e origem de autoritarismo resulta da possibilidade de imitação da atitude do gado. De forma subliminar, ele sugere que aí está a razão que move os apoiadores do atual governo brasileiro. Embora repetindo recorrente argumentação constante de outros garranchos de minha lavra, minha resposta chegou à fronteira da contundência.

Estás acostumado a ouvir o som do berrante? Tem gente que gosta do som; outros apreciam olhar-se no espelho? Em tempos de pandemia, convém ter calma e paciência. É a receita para a paz e para a harmonia. Estas, em qualquer tempo devem ser a meta primacial do ser humano. Só a democracia as permitem. Mas aí é primacial levar em conta a liberdade, a verdade, a coragem e a ética. Viu como é fácil lidar com o gado? Bom, mas não se deve esquecer que tem muito boi bravo por aí. E perigosos e contagiosos.
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[Comentários postados na Folha de São Paulo online de 17/Jun/2020]
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