quinta-feira, 17 de julho de 2025

Eu me envergonho José

Uma magistrada determinou o arquivamento do processo que tratava da utilização indevida de aeronave da Força Aérea Brasileira pela primeira-dama e pelos filhos do presidente da República.

Os procedimentos da Justiça não se aplicam a altas autoridades do País e a seus apaniguados. Então, reproduzo antigo texto que evidencia o sentimento de ampla maioria da população brasileira em relação à atuação do Poder Judiciário.

 

Eu me envergonho, José, da cúpula do sistema judicial brasileiro.

Eu me envergonho, José, da opção judicial de quem foi investido na devida responsabilidade em razão dos laços genéticos com o respectivo investidor.

Eu me envergonho, José, do uso do espinho da rosa para a prevalência do mal.

Eu me envergonho, José, do abandono da previsão constitucional, por ocasião de imprescindível ponto de inflexão da República.

Eu me envergonho, José, da decisão judicial de quem não raro é associado com negócios revestidos de polêmica.

Eu me envergonho, José, da consciência de que aqueles que envergonham também envelhecem e permanecem.

Eu me envergonho José, da gestão judicial daquele que não logrou êxito em concurso para a função judicante.

Eu me envergonho José, da distorção da concepção de notável saber jurídico e reputação ilibada.

Eu me envergonho, José, da interpretação da Constituição — diferente do que é praticado em mais de 150 países do mundo, inclusive em todos desenvolvidos e com elevado grau de respeito pelas conquistas civilizacionais — de tal forma a permitir que, no Brasil, a criminalidade institucional prossiga com a sensação de impunidade com a qual historicamente convive.

Eu me envergonho, José, da metáfora admitida por largas parcelas da sociedade para o sistema judicial brasileiro: vergonha.

E agora José?

Eu invejo o poeta porque mesmo tendo ido tarde — e embora tendo sido adepto de ideologia da qual discordo frontalmente —, ele seguiu a tempo de não se envergonhar do atual estado de coisas da justiça.

Eu o invejo, José, meu irmão, porque você se foi tão cedo, tão precocemente, e da mesma forma que o poeta, não precisa se envergonhar.

 



 

 

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