terça-feira, 17 de março de 2020

Macaco não faz literatura


A Justiça do Rio de Janeiro determinou o recolhimento dos livros do escritor Ricardo Lisias por ter adotado, como autor, o pseudônimo Eduardo Cunha. 
Há indicações (implícitas no campo subjetivo) de que esse procedimento tinha o objetivo de navegar na publicidade gratuita que o ex-deputado federal — que ficou famoso por perder o mandato na condição de poderoso presidente da Câmara de Deputados — possibilitaria ao autor.
Bandido deve estar na cadeia. Escritor tem que ter a coragem de assinar sua obra. Se quer usar pseudônimo deve ter a liberdade e a ética de não usar o nome de pessoa pública, acusada de delito, para garantir publicidade gratuita. 
Para dúvida não pairar, a todo ser humano deve ser garantia a liberdade de ser honesto e decente. E sobretudo a liberdade de respeitar os outros, não importando suas virtudes ou vícios. 
Em se tratando de bandidos, eles devem ter a liberdade de viver como querem; e a absoluta certeza de que prestarão contas dos crimes que cometerem. A liberdade de não fingir, também.
Um leitor desavisado achou que poderia replicar. Fê-lo de forma não razoável. Por isso, tripliquei.
Seria interessante você ler Epicuro, Sócrates (por Platão), Aristóteles, Hobbes, Locke, Marx, Sartre, Proust, Dostoievski, para começar. Aí correria o risco de saber o que é liberdade, verdade, coragem e ética. E adicionalmente de aprender o que é literatura, para não envergonhar Machado de Assis, Guimarães Rosa e Gilberto Freyre. 
Na roça, de onde venho costuma-se dizer que “bater em cachorro amarrado ou morto é a suprema glória dos covardes”. 
Para evitar pânico, comece com “Carta aos Meneceus”. E não se iluda, macaco não faz literatura. Ele ainda não tem inconsciente para projetar a covardia.
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[Divulgado no Estadão online de 17/Mar/2020]
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