domingo, 29 de março de 2020

F. A. Hayek e a Ingenuidade da Mente ...


Nesses tempos do atemorizador coronavírus, o isolamento social impõe a permanência em casa, de tal sorte que de 11 de março até hoje, passados 18 dias, só deixei minha residência —a que me refiro emotivamente como Casa em Cima do Mundo — uma única vez para vacinar contra a gripe. Assim, houve uma intensificação da leitura e cinema pela TV. 
Um dos livros que estou lendo com grande interesse é “F. A. Hayek e a Ingenuidade da Mente Socialista”, coletânea organizada e transformada em livro por Dennys Garcia Xavier. Algumas informações e ideias contidas no livro são agora transcritas.
Hayek advogou a luta pelo liberalismo, a luta contra o avanço dos poderes estatais e a defesa do livre mercado.
Hayek participou da Escola Austríaca de Economia, muito voltada para o liberalismo, para o conservadorismo e para a luta contra o autoritarismo nazista e comunista.
Hayek e seu mestre von Mises atribuíram importância à antiga tradição liberal e a seu resgate para desafiar a evolução dos estatismo e do socialismo no século XX. Para ambos, “essa restauração se daria com o esforço de:
     valorização de instituições como o Estado de Direito, com regras previsíveis e em vigência da mesma forma para todos os cidadãos, membros do corpo político;
– consequente combate aos privilégios conferidos pelos Estado;
– autonomia dos empreendedores, para seguir multiplicando a riqueza; e
– respeito à propriedade privada.”
Hayek esteve no Brasil na década de 1980. Em entrevista aqui concedida, ele classificou uma lista considerável de pensadores de todo o mundo em três categorias: os construtivistas, os libertários e os muddleheads
Pensadores construtivistas – aqueles que desvalorizam a tese dos desenvolvimentos e movimentos espontâneos na sociedade como forças essenciais de fabricação das instituições e realizações mais valorosos. Trata-se daqueles que formulam os fundamentos básicos do autoritarismo, cujos emblemas mais representativos são o nazismo e o comunismo.
Pensadores libertários – aqueles que apostam na necessidade de uma postura mais humilde acerca dos poderes da razão e reconhecendo que muito do que a humanidade construiu de útil não deriva dela [da razão] e de seus esquemas, mas do agregado de ações individuais e interações espontâneas. Trata-se daqueles que formulam os fundamentos básicos do liberalismo, palavra síntese que deve ser traduzida por democracia, estado de direito e liberalismo econômico.
Pensadores muddleheads – aqueles que, de maneira considerada inconsistente, permanecessem em posição intermediária e manifestassem ideias conflitantes.

### Libertários, não raro, são chamados de liberais. Nos Estados Unidos, a palavra “liberal” foi adotado por políticos e intelectuais economicamente intervencionistas — adeptos do programa econômico keynesiano do New Deal do governo de Franklin Roosevelt e integrantes do Partido Democrata. “Liberal" é, até hoje, nos EUA, sinônimo de “esquerda”.
### No Reino Unido, a Sociedade Fabiana é uma organização socialista britânica cujo objetivo é promover os princípios do socialismo democrático através de esforços gradualistas e reformistas nas democracias, em vez de derrubá-las revolucionariamente.

Na mencionada entrevista concedida no Brasil nos anos 1980, Hayek apresentou uma identificação de scholars integrantes das três categorias de pensadores. Conquanto, em minha visão, haja uma interseção entre as categorias, de tal sorte que alguém possa advogar conceitos e teses que pertençam a mais de uma delas, trata-se de um ponto de partida adequado para se analisar os sistemas políticos, econômicos e sociais prevalentes no mundo.

Construtivistas
Muddlehead
Libertários
Platão (428-348 a. C.)
Thomas Hobbes (1588-1679)
Francis Bacon (1561-1626)
François-Marie Voltaire(1694-1778)
René Descartes
Jean Jacques Rousseau (1712-1778)
Georg Friedrich Hegel (1770-1831)
Augusto Comte (1798-1857)
Karl Marx (1818-1883)
John Dewey (1859-1952)
Sidney Webb (1859-1947)
Max Weber (1864-1920)
John Maynard Keynes (1883-1946)

Aristóteles (384-322 a. C.)
São Tomás de Aquino (1225-1274)
Alexander Hamilton (1775-1804)
Thomas Malthus (1766-1834)
John Stuart Mill (1806-1873)
Joseph Schumpeter (1883-1950)
Péricles (495-429 a. C.)
Sócrates (469-399 a. C.)
John Milton (1608-1674)
John Locke (1632-1704)
Montesquieu (1689-1755)
David Hume (1711-1776)
Adam Smith (1723-1790)
Immanuel Kant (1724-1804)
Edmundo Burke (1729-1797)
Whilhelm von Humboldt (1767-1835)
Friedrich von Schiller (1759-1805)
David Ricardo (1772-1823
Tomas B. Macaulay (1800-1859)
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
Charles Darwin (1809-1882)
Abraham Lincoln (1809-1865)
William E. Gladstone (1809-1898)
Ludwig von Mises (1881-1973)
José Ortega y Gasset (1883-1955)
Eugênio Gudin (1886-1986)
Friedrich August von Hayek (1899-1992)
Karl Popper (1902-1994)
Roberto Campos (1917-2001)

Para alguns, com familiaridade com os pensadores elencados, o livro é a confirmação do que tiver sido lido, analisado e transformado em conhecimento. Para outros, é a oportunidade de iniciar imediatamente a leitura de uma expressiva amostra do universo e agregar valor à faculdade de pensar — e, à luz do mérito e demérito do que tiver sido assimilado, não reclamar, não produzir incoerências e, sobretudo, condicionar as próprias opções, decisões e ações ao bom senso, ao equilíbrio e à busca da paz e da harmonia.

Da leitura de um livro complexo mas instigante, cabe uma asserção que bem caracteriza o livro. O parágrafo apresentado a seguir, constante do capítulo de autoria de Lucas Berlanza Corrêa é ilustrativo e emblemático.

“Em retrospectiva, uma observação cuidadosa da obra de Hayek situada no tempo e comparada, pela sua própria perspectiva, com grandes pensadores da História, atesta que ele estava especialmente interessado em defender a liberdade e a ampliação das prerrogativas dos indivíduos como algo que seria mais facilmente alcançado se a condução dos rumos da política não se sustentasse na confiança cega em ideólogos ou filósofos, mas no respeito pelo trabalho dos séculos, apostando-se menos na racionalidade humano como uma ferramenta infalível, supostamente investida da missão de destruir a cultura e as instituições tal como estão estabelecidas para criar algo novo. 
Para avaliar qualquer autor e emitir qualquer posicionamento,
Hayek usava esse critério como régua, apontando méritos e deméritos a partir do alinhamento à visão dita construtivista ou à visão dita libertária.” 

Por fim, devo mencionar os embates nacionais a respeito do enfrentamento da pandemia do coronavírus — que foi a motivação de que resultou a leitura do magnífico livro sobre o Hayek. 
As disputas pela busca de proeminência, pelo aproveitamento da crise como cacife para ingressar no inconsciente coletivo e em eventual futura preferência eleitoral têm levado autoridades de grande responsabilidade, ao destempero, à grosseria e ao ridículo. Nesse contexto, a calma, a paciência e a elegância requeridas para as avaliações e tomada de decisão são maculadas de forma absolutamente inaceitável.
Enfim, riscos existem. Cenários favoráveis, intermediários e catastróficos não podem ser desprezados. Mas a coerência na análise dos efeitos da crise — mortes causadas pelo terrível vírus, medidas para a mitigação das consequências, impactos no campo social e econômico no pós-pandemia (podendo até ocorrer óbitos em demasia) — têm sido abandonados em favor de disputas mesquinhas e tentativas de desmoralização de possíveis oponentes.
Há indicações de que governadores, parlamentares e organizações de mídia (Omerta Globo e Omerta CNN) estão radicalizando, não no combate à pandemia, mas na tentativa de desestabilizar e mudar o governo federal.
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