sexta-feira, 7 de abril de 2017

Bombardeio da Síria pelos Estados Unidos

A imagem de um pai portando nos braços os filhos gêmeos de nove meses, mortos por causa do lançamento de gás venenoso, provavelmente desencadeado pelo governo sírio de Bashar Al Assad, surpreendeu e horrorizou o mundo.

Em menos de 48 horas, Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, ordenou um ataque de retaliação contra o território sírio. Foram lançados mais de 50 mísseis Tomahawk de alto poder destrutivo. Dessa forma, Trump lançou um recado multifacetado para o mundo. 

A mensagem seguramente atinge a União Europeia — o PSDB das confederações de países —, e sugere que os europeus não devem permanecer indefinidamente no muro. A Rússia de Vladimir Putin, aliada dos sírios — e que ao lado da China vetou a tentativa do Conselho de Segurança da ONU de expedir uma resolução condenando de forma veemente a atitude criminosa — recebeu um eloquente aviso para exercer seu poder e influência de forma adequada e ponderada. Curiosamente, Xi Jiping, chefe de Estado chinês, está nos Estados Unidos para conferenciar com o presidente americano, e em consequência terá a agenda comercial, estratégica e política impactada pelo ataque americano — as condições de debate se alteraram significativamente. A  Coreia do Norte e o Irã, que têm projetos nucleares que contrariam as normas internacionais, receberam um alerta sobre o atual modus operandi ianque. Os aliados dos Estados Unidos no Oriente Médio, notadamente a Turquia, Arábia Saudita e Israel, receberam efusivos indícios de que seus interesses poderão ser suportados de forma decisiva pelos americanos. 

No âmbito interno, os eleitores de Trump seguramente estão se regozijando pela iniciativa de seu presidente. Os eleitores contrários a Trump entraram em estado de dúvida. Os defensores dos direitos humanos estão zonzos e em dificuldade de se posicionar. Os industriais do setor de defesa estão sorrindo diante da perspectiva de ampliação de seus negócios.

Mas não seria necessário combinar com os russos? E como o jogo internacional é simultâneo, não seria conveniente combinar com os demais atores. Enfim, Trump demonstrou ser qualificado ou irresponsável, visionário ou oportunista, estadista ou canalha? “E agora José”, que consequências advirão do empreendimento americano? Dado que só “a mudança é permanente”, como será o mundo em 5 ou 10 anos? Quem viver verá!

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sexta-feira, 31 de março de 2017

O Contragolpe de 1964 e o AI-5


É papel inalienável do historiador relatar os fatos históricos e interpretá-los na forma devida para que na posteridade todos — e em especial os jovens — recebam herança adequada. Muito se tem escrito sobre a adoção do Ato Institucional nº 5 (AI-5), de 13 de dezembro de 1968. É oportuno pois rever causas determinantes, remotas ou próximas, sobretudo com foco naquelas patrocinadas pelos comunistas brasileiros, objetivando a implantação do País da ditadura do proletariado; e, frequentemente, justificadas com a alegação de combate à ditadura militar. Ei-las: 
üa preparação para a guerrilha de Xambioá, entre 1964 e 1968, quando vários dentre os dezoito militantes comunistas que haviam passado por treinamento militar na China, se estabeleceram no Araguaia, para iniciar um movimento guerrilheiro; 
üo surgimento em 1964, no meio universitário da cidade de Niterói, do “Movimento Revolucionário Oito de Outubro” (MR-8), em memória da captura e assassinato na Bolívia, em 8 de outubro de 1967, de Che Guevara;
üa formação em 1966, da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), a partir da união de dissidentes da “Política Operária” (POLOP) com remanescentes do “Movimento Nacionalista Revolucionário”(MNR), com a finalidade de empreender ações de guerrilha; 
üo atentado de 25 de julho de 1966, no aeroporto de Guararapes em Recife, perpetrado pelos comunistas, com o objetivo de assassinar o General Costa e Silva, que se encontrava em campanha pela eleição à Presidência da República, e que ceifou a vida do jornalista Edson Registou de Carvalho e do Vice Almirante Nelson Gomes Fernandes; 
üa divulgação do texto “Algumas Questões Sobre as Guerrilhas no Brasil”, elaborado em outubro de 1967, em Havana, Cuba, por Carlos Marighella, no qual afirma que “Esta contribuição teórica e prática da revolução cubana ao marxismo-leninismo elevou a um plano inteiramente novo a guerrilha, colocando-a na ordem-do-dia por toda a parte, em especial na América Latina”;
üo surgimento, em 1967, da Ação Libertadora Nacional (ALN), organização estruturada para a prática da guerrilha urbana; e
üo ataque terrorista desencadeado em 26 de junho de 1968, contra o Quartel General do IIº Exército, no Ibirapuera, em São Paulo, e que matou o soldado Mário Kozel Filho.
Por evidente, os fatos históricos ora citados são ignorados, omitidos e apagados da memória por aqueles que tratam do dramático período de 1968. Os livros adotados nas escolas — para mais de 6 milhões de alunos no ensino médio, dentre as 46 milhões de matrículas no ensino básico — deixam de transmitir aspectos essenciais, como as causas que geraram o AI-5, mencionadas neste texto. Por que?
Para desempenhar seu papel, os historiadores devem estar fora do universo dos analfabetos funcionais, dos doentes ideológicos ou dos que prezam a má fé como paradigma existencial. Do contrário, jamais transmitirão a ideia ontológica de que o “objetivo fundamental do ser humano é a paz e a harmonia, tendo como instrumento a democracia, que por seu turno é alicerçada na liberdade, na verdade, na coragem e na ética”.
E por último e fundamental: a sociedade brasileira clama por mudança. A fraude, a falsidade e a corrupção receberam um duro golpe em 2018. A esperança, a fé e o otimismo entraram na agenda social e política. Todos precisam se conscientizar desses novos tempos em que cidadãos, contribuintes e eleitores estão imergindo.

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terça-feira, 28 de março de 2017

Equívocos em série do Sr. FHC



Mesmo sendo o único intelectual da História do Brasil a exercer a Presidência da República, o sr. Fernando Henrique Cardoso não desencadeou uma solução definitiva para os problemas da educação brasileira. 
Em consequência, o País continua um dos últimos colocados na consagrada classificação do Pisa. O sr. Fernando Henrique permitiu ou contribuiu para que o sr. Lula da Silva se elegesse para suceder-lhe. Ademais, não usou sua liderança para propor o impeachment do sr. Lula em 2006. 
As consequências das gestões petistas no Brasil são uma catástrofe histórica sem precedentes. E o que é mais grave: puseram a sociedade em estado de descrença, desesperança e desatino. Não é novidade que o sr. Fernando Henrique tenha previsto o insucesso da candidatura e eleição do sr. João Doria, em São Paulo – que fique claro: não conheço o prefeito paulistano nem tenho procuração, vocação e interesse em defendê-lo. Não é novidade, pois, que o sr. FHC cometa equívocos. Melhor faria se nos poupasse de conhecê-los. 
Afinal, estamos fartos de líderes que não cumpriram seu papel quando abraçaram o maior cargo da República e teimam em continuar exercendo papel para o qual não foram investidos.
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[Divulgado no Estadão impresso e online de 28/Mar2017]
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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Coragem, honestidade e verdade


CORREIO BRAZILIENSE — 20/Fev/2017


Em artigo publicado no Correio Braziliense, o Sr. Lenoardo Cavalcanti propõe debate sobre o provável candidato Bolsonaro, mas induz o leitor a pensar que os oponentes do candidato são certos e os demais errados.


RESPOSTA DESTE (E)LEITOR

[Mensagem divulgada na coluna Sr. Redator do Correio Braziliense impresso de 21/2/2017]

O artigo “Precisamos falar sobre Bolsonaro”, do senhor Leonardo Cavalcanti (Correio Braziliense de 20 de fevereiro) analisa os possíveis candidatos da eleição presidencial de 2018. Nesse sentido, é oportuno asseverar que o texto contém uma virtude: a proposição de debate sobre o provável candidato Bolsonaro; e um vício: a assertiva de que os oponentes do Bolsonaro são sábios e os demais são idiotas. 
De um lado, o senhor Cavalcanti se despoja dos erros dos adversários do senhor Trump — a mídia, os intelectuais e os democratas americanos asseveravam que ele perderia inapelavelmente; de outro, ele abraça-os com inexplicável inconformismo — de forma similar ao que ocorreu no vizinho do norte, atribuindo a outros todos os defeitos possíveis. 
Por oportuno, é razoável asseverar que constitui engano fatal alguém pensar que está sempre certo e os oponentes inequivocamente errados. Ademais, repetir erro já cometido não é prova de lucidez
Por último e fundamentalmente importante, é fácil inferir que, no deserto de ética e honestidade da política brasileira, basta a um político ter coragem, não se deixar corromper e falar a verdade, para ganhar a eleição presidencial de 2018. É essa a práxis do Bolsonaro?

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sábado, 8 de outubro de 2016

Brazil violence [New York Times]


The New York Times has given extensive coverage to the problem of American swimmers who lied to justify their absence from the Rio de Janeiro Olympic event. 
The October 8th, 2016 article strongly condemns the attitude of the athletes, but overly highlights some of Brazilians problems, especially poverty and crime. 
More than 2,700 readers wrote for the newspaper, most condemning the four, but not infrequently putting something negative against Brazil.
The newspaper welcomed and posted the messages I posted on its website.
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[1st message]
I must say this: firstly, the thugs of Rio de Janeiro are enough for us, so it’s not necessary to enhance their amount and actions as Mr. Lochte did; secondly, we don’t have M. Chapman, L. H. Oswald, J. E. Ray, J. W. Both et al [*]; thirdly, we are in South America, not in Middle East and we don’t hate you. So, let’s interact fairly.
[*] The gringos mentioned are the executioners of Lincoln, Kennedy, Luther King and Lennon.

[2nd message]
Yes, you are right! We have all kinds of problems with violence and corruption, and we are sensitized to the criticism you mentioned. Aren’t Americans sensitized with critics about the unhappy end of Mr. Abraham Lincoln, Mr. John Fitzgerald Kennedy, Mr. Martin Luther King, Mr. John Lennon et al?
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O New York Times deu ampla cobertura ao problema dos nadadores americanos que mentiram para justificar sua ausência na prova olímpica no Rio de Janeiro. 
O artigo de 8 de outubro de 2016 do jornalista Lochte condena veementemente a atitude dos atletas, mas destaca com excesso algumas de nossas mazelas, especialmente a pobreza e a criminalidade.
Mais de 2.700 leitores escreveram para o jornal, a maioria condenando os quatro atletas, mas não raro mencionando algo negativo contra o Brasil.
O jornal acolheu e divulgou as mensagens que postei em seu site.
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1a. mensagem
Devo dizer o seguinte: primeiro, os bandidos do Rio de Janeiro são suficientes para nós, por isso não é necessário aumentar sua quantidade e ações como fez  o Sr. Lochte; segundo, não temos M. Chapman, L.H. Oswald, J.E. Ray, J.W. Ambos et al [*]; terceiro, estamos na América do Sul, não no Oriente Médio e não te odeio. Então, vamos interagir de maneira justa.
[*] Os gringos mencionados são os assassinos de Lincoln, Kennedy, Luther King e Lennon.

[2a. Mensagem]
Sim vocês estão certos! Temos todos os tipos de problemas com violência e corrupção e somos sensibilizados com as críticas mencionadas. Os americanos não estão sensibilizados com as críticas sobre o final infeliz de Abraham Lincoln, John Fitzgerald Kennedy, Martin Luther King, John Lennon e outros?
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domingo, 8 de maio de 2016

Entrevista para Sabrina Vilela

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[Clique sobre a próxima expressão]


A acadêmica de Psicologia Sabrina Chada Vicq Vilela e o esposo Delaorzinho formam um casal magnífico — são nossos compadres, porque padrinhos da nossa filha Laura. Sabrina solicitou-me uma entrevista atinente a minha evolução profissional, como parte de um trabalho didático que ela apresentaria na faculdade. Não sei se o resultado foi satisfatório, mas respondi a seus questionamentos com muita satisfação.

 

 

SV.      O que te motivou a escolher a sua profissão?

ARS.     O fator inicial para minha escolha foi o incentivo de meu pai, na infância, para que eu estudasse e fizesse uma faculdade e garantisse uma vida confortável e digna; e que permitisse uma satisfatória evolução social e cultural. Essa motivação — amparada em uma família modesta, com um pai lavrador e garimpeiro, e depois comerciante — me conduziu a pensar em uma profissão com características produtivas e transformadoras. Dessa maneira, desde o início da adolescência, tornei-me aficionado das lides de engenharia. Por outro lado, a ideia do desafio e da aventura também faziam parte de minhas reflexões. 

Então, a carreira militar na Aeronáutica atendia a duas condicionantes: poderia, em uma primeira fase, tornar-me oficial aviador e vivenciar o dinamismo dessa condição; e subsequentemente poderia cursar o Instituto Tecnológico da Aeronáutica e tornar-me engenheiro. A ideia fulcral em meu pensamento era trabalhar em uma profissão agradável e baseada na possibilidade de transformação da realidade e do ambiente de meus contemporâneos. 

Em 1965, fiz um concurso dificílimo — mais de 5.000 candidatos para 300 vagas — e ingressei no primeiro ano da Escola Preparatória de Cadetes da Aeronáutica.

Entretanto, ao final do ensino médio naquela escola militar, estava com miopia e fui reprovado no exame médico, não podendo pois continuar aspirando à carreira na aviação. Meu desempenho escolar, bem como os resultados de exames físico, médico e psicológico credenciaram-me para, em 1969, ingressar na Academia Militar das Agulhas Negras. Dessa forma, poderia tornar-me oficial do Exército, fazer o curso de paraquedismo — já que não podendo ser piloto, poderia interagir com o avião, saltando de paraquedas —  e depois ingressar no Instituto Militar de Engenharia e materializar o acalentado sonho juvenil. Os sonhos foram concretizados.

SV.      Conte-me um pouco sobre sua trajetória profissional desde a graduação (escolhas, oportunidades, estágios, dificuldades e inserção no mercado de trabalho)

ARS.                   Após a vivência como oficial paraquedista e a subsequente graduação em engenharia elétrica no Instituto Militar de Engenharia, em 1981, fui trabalhar na Comissão Regional de Obras do Exército, em Manaus. Foi um período extraordinário, dado que pude praticar intensamente o que aprendi na graduação — tanto na elaboração de projetos quanto na execução de obras civis e na gestão financeira correlata. Participei da construção, manutenção e reforma de casas, prédios e aquartelamentos em Manaus e Boa Vista; em Marco BV-8 e Cucuí, na fronteira do Brasil com a Venezuela; em Tabatinga, Ipiranga e Japurá, na fronteira com a Colômbia; em Palmeira e Estirão do Equador, na fronteira com o Peru.

No atinente a dificuldades da região amazônica — melhor seria caracterizá-las como desafios — podem ser citadas: longas distâncias, exiguidade de meios de transporte (às vezes, apenas aéreo), ausência de meios de comunicação (telefone, rádio e televisão) e pouca disponibilidade local de alimentos (que eram levados uma vez por mês de avião). 

Após o período amazônico, resolvi cursar, mestrado em Engenharia de Sistemas e Informática, no Instituto Militar de Engenharia. Em 1987, conclui o curso e fui transferido para Brasília. Na capital do planalto central, trabalhei no acompanhamento e controle de obras do Exército. Assim, participei da equipe que realizava a gestão de centenas de obras da Força Terrestre, espalhadas por todos os estados da federação. Ademais, o curso de mestrado possibilitou-me uma experiência inigualável: durante quase 10 anos, ministrei aula em faculdade de processamento de dados, nas seguintes disciplinas: análise e projeto de sistemas, lógica matemática e tópicos avançados de programação. A transmissão de experiência para os mais jovens e de motivação para a atitude de refletir e pensar são fascinantes e gratificantes.

No que concerne aos desafios encontradas no magistério, poderia asseverar que uma parcela dos alunos de escolas particulares pertencem ao universo daqueles que não tiveram possibilidade de cursar boas escolas nos ensinos fundamental e médio. Ademais, a maioria trabalha e, por essa razão, estuda à noite. Fica caracterizada uma distorção tipicamente brasileira. Uma parcela expressiva dos alunos cujas famílias dispõem de recursos financeiros suficientes ingressam nas universidades públicas e gratuitas; e aqueles que não podem pagar ensino de qualidade ingressam nas faculdades privadas.

Em 1999, depois de passar um ano no Rio de Janeiro, no Curso de Política, Estratégia e Alta Administração do Exército, fui nomeado Adido de Defesa, Aeronáutico, Naval e do Exército junto à Embaixada do Brasil no Irã. Em consequência, passei dois anos no Oriente Médio. É forçoso ressaltar que a experiência em uma das mais conflagradas regiões da Terra — em contato com militares e diplomatas europeus, latino-americanos, africanos e asiáticos acreditados em Teerã — ampliou e enriqueceu minha modesta bagagem de conhecimento histórico, cultural, político e estratégico. Ademais, nos períodos livres, foi possível visitar a maioria dos países da Europa Ocidental, bem como China e Rússia. 

Dentre os desafios enfrentados, poderia mencionar que o Irã é uma ditadura religiosa que impõe restrições ao cotidiano de qualquer pessoa do Ocidente e abriga enorme preconceito em relação às mulheres. Nesse sentido, as mulheres iranianas e estrangeiras vestem-se de tal sorte que só podem mostrar, em público, o rosto e as mãos. 

Após a volta ao Brasil, passei dois anos em Brasília e, em 2003, fui designado para chefiar sucessivamente o Campo de Provas da Marambaia, o Centro de Avaliações do Exército e o Centro Tecnológico do Exército, organizações militares do ramo de ciência & tecnologia e pesquisa & desenvolvimento da Força Terrestre, localizadas no Rio de Janeiro. Essa experiência profissional foi valiosa já que, no CTEx, a equipe de profissionais era multidisciplinar, com mais de 150 engenheiros das especialidades de eletrônica, telecomunicações, computação, metalurgia, mecânica, química, aeronáutica e nuclear. Assim, foi possível participar de projeto, pesquisa e produção de algumas dezenas de equipamentos de uso dual, militar e civil. Dentre eles podem ser citados pelo menos cinco que jamais foram pesquisados, projetados e produzidos no hemisfério Sul: VANT militar, simulador para treinamento de piloto de helicópteros, sistema de comando & controle, sistema de monitoramento eletrônico e dispositivo para execução automatizada de tiro de metralhadora para carro de combate.

No que diz respeito aos desafios do trabalho em ciência & tecnologia e pesquisa & desenvolvimento, o que mais impacta — de forma similar ao que ocorre com educação — é a falta de prioridade atribuída pelo governo federal a esse ramo de atividade. Pode-se afirmar que essa é uma característica dos países não desenvolvidos. Então, chega a ser frustrante constatar a dependência do Brasil de conhecimento e bens importados.

SV.      Suas expectativas corresponderam à realidade?

ARS.     A resposta pode ser afirmativa. Nas várias fases profissionais, consegui sempre atuar em atividades que requeriam o que foi ministrado nas instituições acadêmicas. Após a graduação em engenharia, trabalhei em planejamento, projeto e execução de obras de construção civil. Após a conquista do título de mestrado em engenharia de sistemas e informática, atuei no acompanhamento e controle de obras, com foco na informatização de processos; bem como no magistério superior, com disciplinas relacionadas com o currículo de mestrado. Após a pós-graduação em política e estratégia, fui designado para o cargo de Adido Militar, o qual está plenamente inserido no contexto do curso realizado. E, finalmente, no encerramento da carreira, trabalhei no que posso caracterizar como uma síntese e coroamento dos períodos de formação, aperfeiçoamento e vivência profissionais: a gestão e execução de pesquisa & desenvolvimento, com o objetivo de reduzir a enorme dependência científico-tecnológica de nosso país em relação aos centros desenvolvidos estrangeiros.

SV.      Quais os aspectos que mais te desagradaram no seu trabalho? Como lidou com eles?

ARS.     No período em que dei aula em faculdade e quando trabalhei em pesquisa & desenvolvimento, confirmei e consolidei a visão de que, historicamente, no Brasil, jamais se atribuiu prioridade elevada para educação e para ciência & tecnologia. Isso é lamentável, pois em todos os períodos da evolução humana venceram e prevaleceram os povos cujos governantes atribuíram prioridade estratégica para esses dois aspectos fundamentais. 

O que um profissional não integrante das instâncias governamentais decisórias e com responsabilidade na gestão governamental de educação, ciência & tecnologia poderia fazer? As possibilidades eram e são reduzidas, entretanto, se cada cidadão fizesse a sua parte, o conjunto poderia evoluir satisfatoriamente. Assim, na sala de aula ou nos demais ambientes de trabalho, considerei imperioso incentivar, motivar e premiar os seres humanos, conscientizando-lhes sobre a essência dessas questões, apontando-lhes as direções adequadas em cada caso. Restou também ter atitude, coerência e firmeza e, nesse sentido, agir, ousar e desafiar as preconcepções contrárias, derrubar os muros da intolerância e indigência; e construir pontes de entendimento, de solidariedade e compreensão para que cada aluno, cada profissional subordinado, afim ou superior pudesse ser agente da transformação tão necessária em nosso País.

SV.      Atualmente, quais são seus planos profissionais? O que te motiva hoje? Cite pelo menos três aspectos.

ARS.     Depois de quarenta e cinco anos de atividades profissionais, atualmente, encontro-me vivenciando o descanso da aposentadoria. Por essa razão, não tenho planos profissionais. 

Entretanto, um aspecto que me permite a sensação de utilidade é a manifestação em um blog experimental, onde registro um pouco de minhas memórias, mensagens para a família e também opiniões atinentes à atual conjuntura política e social — sendo que, nesse aspecto, não raro, expresso uma boa dose de indignação relacionada com os desatinos que as lideranças políticas diuturnamente têm a desfaçatez de impor à cidadania. 

Ademais, tenho aproveitado o tempo disponível para leitura. Estou lendo mais e melhor. Assim, sinto-me instrumentalizado para interagir com os integrantes da família, especialmente com os que estão na alvorada de sua existência.

E por último e igualmente importante, encontro motivação na possibilidade de retornar para a sala de aula. Não raro, vejo-me pensando e sonhando com a formação de jovens. Afora o fascínio do desafio, há a questão fundamental de manter-me lúcido, pensante e opositor pertinaz da desagregação natural imposta pela condição humana. Para tanto, basta-me transformar esse discurso em ação, em realidade.

 

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sábado, 30 de abril de 2016

Editorial estarrecedor



O Estadão chegou bem próximo à fronteira do precipício ao analisar, em editorial, as ações em curso na Presidência da República e asseverar que “na iminência de ser desalojada do Palácio do Planalto, a petista Dilma Rousseff parece disposta a reafirmar, até o último minuto de sua estada no gabinete presidencial, a sesquipedal irresponsabilidade que marcou toda a sua triste trajetória como chefe de governo.”

Na conclusão do texto, a severidade da análise chega quase ao paroxismo: “Eis o tamanho da desfaçatez de Dilma e de Lula. Inimigos da democracia, eles consideram legítimo aprofundar a crise no Brasil se isso contribuir para a aniquilação de seus adversários. Isso não é política. É coisa de moleques.”

Nesse contexto, são tonitruantes os termos utilizados no editorial “Molecagem”, publicado hoje no Estadão, na análise das últimas ações da senhora Dilma Vana Roussef. E que fique bem claro, não há de minha parte qualquer crítica ao autor do texto. 
O que é inequivocamente estarrecedor é a presidente do Brasil — fundamentando-se em sua desqualificação, ideologia barata, inconsequente ausência de pudor, desrespeito aos brasileiros, bem como desapreço pela democracia, pela verdade e pela ética — agir de forma tão irresponsável e rasteira, a ponto de merecer de mentes lúcidas a avaliação tão apropriada contida na matéria desse jornal.

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