Vacinas se prestam a estimular o sistema imunológico de uma pessoa para enfrentar as consequências da invasão do corpo por um vírus.
Quando a vacina é injetada e funciona, o sistema imunológico da pessoa vacinada produz anticorpos que repelem qualquer infecção caso o vírus ataque.
As vacinações tiveram início na década de 1790, quando um médico inglês chamado Edward Jenner percebeu que muitas mulheres que faziam a ordenha de vacas eram imunes à varíola.
Todas tinham sido infectadas por uma forma da doença que afeta as vacas e é inofensiva para os humanos, e Jenner presumiu que a doença das vacas havia dado às leiteiras imunidade contra a varíola.
Por isso, ele pegou um pouco de pus de uma bolha de uma vaca doente, esfregou em pequenos cortes que fez no braço do filho de 8 anos de seu jardineiro e depois expôs o menino à varíola. Ele não ficou doente. (Conf. Walter Isaacson)
As vacinas podem ser produzidas por métodos tradicionais ou por edição genética. Esta é resultado de processos de engenharia genética e bioengenharia, que têm a perspectiva de causar uma transformação mais extraordinária do que a revolução digital desencadeada em meados do século passado.
1. Vacinas tradicionais
– versão atenuada e enfraquecida do vírus — exemplos: vacina oral da pólio, desenvolvida por Sabin; e vacinas contra sarampo, caxumba, rubéola e varicela;
– subunidade do vírus (proteína que fica na membrana da superfície do vírus) — exemplo: vacina contra a hepatite B.
– vírus morto — exemplo: vacina Coronavac, desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac e produzida no Brasil pelo Butantan;
2. Vacinas genéticas
– compreendem instruções genéticas para fabricar o fragmento seguro de um vírus;
– em vez de injetar uma versão atenuada ou morta do vírus, é injetado um gene ou um pedaço de código genético (adenovírus do chimpanzé editado, RNA ou DNA) que orienta as células humanas a produzir, por conta própria, componentes do vírus;
– então esses componentes estimulam o sistema imunológico do paciente a produzir os anticorpos requeridos.
– dentre as vacinas genéticas podem ser citadas: vacina tipo Jenner, vacina de RNA e vacina de DNA.
2.1. Vacina tipo Jenner
§ É resultante da reengenharia genética de um vírus seguro (um adenovírus de chimpanzé).
§ A reengenharia (preparo) compreende a edição genética desse adenovírus para acrescentar-lhe o gene que produz a proteína da espícula que fica sobre a superfície do coronavírus.
§ O adenovírus editado geneticamente é injetado no corpo humano e chega às células.
§ As células produzem proteínas das espículas do coronavírus, que, por seu turno, estimulam o sistema imunológico do paciente a produzir anticorpos contra o coronavírus.
§ Exemplos: vacina Oxford-AstraZeneca (desenvolvida em Oxford, Inglaterra e produzida no Brasil pela Fiocruz) e vacina Johnson & Johnson.
Uma curiosidade relevante. A principal pesquisador de Oxford era Sarah Gilbert. Em 1998, quando os trigêmeos dela nasceram prematuros, o marido tirou uma licença do emprego para que ela pudesse voltar ao laboratório.
Em 2014, ela trabalhou no desenvolvimento de uma vacina para o coronavírus MERS, por meio de um adenovírus do chimpanzé, editado para conter o gene de uma proteína da espícula do MERS.
Em 2020, com o sequenciamento genético do coronavírus SarsCov2, ela começou o trabalho de engenharia genética para produzir uma nova vacina com adenovírus de chipanzé contra o esse coronavírus.
Seus trigêmeos já estavam com 21 anos de idade, estudavam bioquímica e se voluntariaram para estar entre os primeiros a fazer os testes. A vacina mostrou-se satisfatória e produziu anticorpos nos filhos da pesquisadora. (Id, ib)
2.2. Vacina de RNA
§ É resultante da inserção do código genético (RNA mensageiro), não em um adenovírus, mas diretamente no corpo humano pela vacinação.
§ Numa operação extremamente complexa, no ambiente da célula humana, o RNA mensageiro supervisiona a produção das proteínas das espículas do vírus.
§ Essas proteínas estimulam o sistema imunológico do paciente a produzir anticorpos contra vírus como o SarsCov2.
§ Exemplos: vacina Moderna e vacina BioNTech/Pfizer (importada pelo Brasil da Alemanha).
2.3. Vacina de DNA
§ É resultante da inserção do código genético (DNA), não em um adenovírus, mas diretamente nas células humanas.
§ Em 2020, os pesquisadores criaram um pequeno círculo de DNA que continha o código de partes da proteína da espícula do SarsCov2.
§ A ideia extremamente complexa é que essa porção de DNA chegue à célula, produza fragmentos de RNA mensageiro.
§ O RNA mensageiro, por seu turno, supervisiona a produção das proteínas das espículas do SarsCov2, que estimula o sistema imunológico do paciente a produzir anticorpos contra o vírus.
§ Esse tipo de vacina ainda não chegou à fase de produção, mas a abordagem é brilhante e promissora porque pode ter uso em muitos tratamentos no futuro.
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Fonte: The Code Breaker: Jennifer Doudna, Gene Editing and the Future of the Human Race. Walter Isaacson. Simon & Schuster, New York. 2021, March 21st.
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