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De forma didática, em magnífico artigo com o título “Uma conspiração de estúpidos” (FSP, 27/Ago/2019), o escritor português João Pereira Coutinho apresenta a visão do italiano Carlo M. Cipolla, divulgada em 1976 por intermédio do ensaio “The Basic Laws of Human Stupidity”, a respeito do tema. Esforço-me para elaborar uma síntese do artigo do doutor Coutinho.
O texto começa asseverando que contra a estupidez, até os deuses lutam em vão — conforme falava Schiller. Subsequentemente, é mostrada a estruturação de Cipolla para a estupidez, o que ocorre por intermédio de quatro leis.
Primeira lei. Parece razoavelmente consensual: todos subestimamos o número de estúpidos em circulação.
Segunda lei. A estupidez não é determinada pela educação e pela cultura; é determinada pela natureza, como por exemplo a cor dos olhos ou ondulação do cabelo.
Terceira lei. Os seres humanos se distribuem em quatro categorias fundamentais: os inaptos, os bandidos, os inteligentes e os estúpidos.
Quarta lei. A irracionalidade do estúpido o torna a criatura mais perigosa do mundo.
Destaco agora a interrelação entre estupidez e política formulada pelos dois scholars. Afinal, ambas impactam de forma inexcedível o cotidiano dos cidadãos.
Para tal, impõe verificar a conceituação de Cipolla, transmitida por Coutinho para as categorias fundamentais de ser humano, constantes da Terceira Lei. Nesse sentido, o inapto, quando age, beneficia os outros e prejudica a si próprio. O bandido, pelo contrário, prejudica os outros para se beneficiar pessoalmente. O inteligente, quando age, consegue beneficiar todos (por isso é inteligente).
O que distingue o estúpido é a capacidade que ele tem para provocar dano a terceiros sem retirar daí nenhuma vantagem própria. Pelo contrário: ele pode incorrer em danos também.
Aplicando os tipos ideais de Cipolla à política, Coutinho afirma que políticos inteligentes são raros; e que políticos inaptos, daqueles que beneficiam os outros pelo sacrifício dos seus interesses, são mais raros ainda.
A maioria se distribui entre a bandidagem e a estupidez, e ele não sabe qual delas será pior.
A questão essencial e que representa uma divergência entre os intelectuais Coutinho e Cipolla: a quantidade de pessoas inteligentes é capaz de manter os estúpidos em seu lugar? O italiano acha que sim; o português acha que não.
Pela quantidade de políticos brasileiros que aderiram aos europeus e assinaram um documento coletivo pleiteando que não seja aprovado o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, acho que o doutor Coutinho tem razão. Não raro, a estupidez leva vantagem e, portanto, os lúcidos precisam potencializar a determinação e a vontade para mitigar a sanha prejudicial dos estúpidos.
Os dois intelectuais formularam uma análise inequivocamente associada com o patamar da excelência. Ademais, os conceitos elaborados valem para qualquer origem da estupidez: o comunismo, o nazismo, a psicopatia, a anencefalia e outras. Pode-se acrescentar que ambos deixaram de enfatizar o caráter doentio encontrado no ponto de partida do desencadeamento de qualquer atitude estúpida.
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