sexta-feira, 27 de setembro de 2019

A mídia e as sendas para a felicidade


Na pré-história, o ser bípede aprendeu a transformar sons em ideias, então surgiu a fala e a comunicação. Na era pós-transistor, com o advento da rede global, o ser bípede pensante aprendeu a transformar fatos em ideias, independentemente de quem os transmite e (ou) analisa, então surgiram as redes sociais e o dramático embate entre a falsidade e a verdade. Na era pós-rede global, os integrantes da mídia precisam interpretar a transformação e conviver com a significância da realidade. 
Não são exatamente governantes que tentam “desacreditar a imprensa”, como está expresso no editorial A garantia da liberdade (Estadão, de 27 de setembro); com a ênfase contida na entrevista do Sr. Arthur G. Sulzberger, publisher do New York Times (Estadão, de 26 de setembro). Os oponentes e os analistas dos governantes precisam ser similarmente responsabilizados. Nesse sentido, a imprensa precisa aderir à era do pós-conhecimento. Minha condição de assinante do New York Times, Estadão, Folha de São Paulo, Globo e Correio Braziliense é irrelevante e a citação deveria ser evitada; basta ler as distorções que o jornal do Sr. Sulzberger publica sobre o Brasil atual — em sintonia com seus parceiros brasileiros —, para inferir que o blá-blá-blá do ‘patrão da verdade’ ianque não consegue mais convencer quem pensa. 
Talvez seja conveniente o Sr. Sulzberger ler “Carta aos Meneceus”, de Epicuro, em que ele estabelece as sendas para a felicidade — ele não precisa ser feliz, precisa apenas encarar o mundo com a simplicidade que o filósofo sugere; nem precisa ler a interpretação dada aos ensinamentos do grego por Karl Marx. Enfim, a escolha é livre: quem quiser adere às transformações, os demais se contentem com a auto-desmoralização resultante e inevitável — é o exercício da liberdade conspirando contra a democracia. Parece que o New York Times, o Estadão, a Folha e o Globo já fizeram a opção. De qualquer sorte, era um time de peso.

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