A propósito da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais 33 integrantes de seu antigo governo, valho-me do ensejo, para reproduzir trechos do texto “1º. Encontro de Escritores”, publicado neste blog em 25/12/2022, quando o desastre da eleição presidencial brasileira estava configurado e inapelável.
O Brasil tem solução ...
Conforme indica a conclusão das considerações subsequentes, solução há para as distopias brasileiras.
O amigo e infatigável escritor Francisco Gomes Amorim — a quem conheci na épica viagem à Antártida, em 2009 — concebeu reunião fictícia de uma plêiade de escritores portugueses e brasileiros já falecidos, idealizada para se realizar no Mosteiro de Alcobaça, em Portugal. Dentre os convidados, convém destacar Camões, Alexandre Herculano, Machado de Assis, Gilberto Freyre, Ariano Suassuna e Guimarães Rosa.
Essa reunião deu origem ao livreto “Encontro de Escritores – Uma Reunião Inesquecível”, publicado pela editora Sítio Livro.pt. São autores o Francisco Gomes Amorim e Herique Salles da Fonseca (outro escritor português, amigo do Amorim). É oportuno antecipar que este encontro foi seguido por outros três, todos com a maestria habitual com que a obra pioneira foi concebida.
Valendo-se da elegância habitual, o Amorim presenteou-me com uma versão desse magistral opúsculo. Da contracapa, extraio uma indicação de seu conteúdo:
“Para além da fama como escritores o que levam os literatos desta vida? E do que falam entre eles?
Eis o que ensaiam os autores deste pequeno livro.
Tratando-se de gente culta e educada, uma coisa é certa: nenhum fala da sua própria obra, mas apenas do que aprendeu com os outros.”
Foram deixados de fora do “Encontro de Escritores – Uma Reunião Inesquecível”, os autores que, por infelizes opção e vocação, abrigam em suas mentes o ideário socialista.
Cabe então cogitar como seria a participação de três integrantes dessa grei — o brasileiro Jorge Amado, o português José Saramago e Jean-Paul Sartre, este, francês, para confirmar que toda regra pode ter exceção. Tentar é desafiador.
A seguir, é apresentada uma modesta provocação que formulei e encaminhei para o Amorim, atinente a esses personagens não incluídos em sua magnífica obra.
A trindade socialista finalmente deu as caras. Conquanto aparentemente tranquilos, José Saramago, Jorge Amado e Jean-Paul Sartre arrastavam-se sem ocultar o peso da consciência dilapidada. Dirigiram-se para uma mesa em que as taças de vinho ainda estavam intocadas. O diálogo entre Saramago e Amado é surpreendente e esclarecedor.
[Saramago] — Estimado Jorge, no passado, no livro “Entre Quatro Paredes” (“Huis Clos”), o Jean-Paul colocou no inferno três personagens para purgarem os vícios cometidos na trajetória terrena, quando cada um achava que “o inferno são os outros” (l’enfer c’est les autres”). Similarmente, deixamos nossa eternidade e, aqui retornamos, para purgar as contradições, os desvios político-ideológicos e a mácula da moralidade e da ética, contidos em nossa forma de pensar e agir.
[Amado] — É bem verdade, José. E nesse sentido, foi estabelecido que o Jean-Paul deve permanecer calado por ter declarado que “somos condenados a ser livres”, mas venera o sistema onde as pessoas são condenadas a viver sem liberdade; e por não se ter sensibilizado com a divulgação dos crimes de Stalin, por Kruschev, no XXº. Congresso do PCUS. Ademais, a despeito de sua expectativa por uma taça de vinho, ele está impedido dessa facilidade francesa; ele só pode ingerir vodca, que pode ser servida agora, ... ou não!
[Saramago] — E você meu caro Jorge, vai ter que renunciar àquela mulata baiana que está lhe esperando na recepção deste conclave. Em nosso purgatório particular, você está impedido de seguir para a Bahia acompanhado pelo espécimen de imprescindível seio desnudo — por seus próprios vícios e também porque o povo baiano está sujeito ao desastre de uma administração socialista. Só lhe resta uma vantagem: você está impedido de confirmar, in loco, o desastre de quem se propõe a abraçar o socialismo.
[Amado] — É bem verdade, José! Consolo-me em saber que não estou sozinho nessa expiação. Você, por seu turno, não poderá encontrar-se com sua filha Violante e sua última esposa Pilar del Rio (presentes na recepção deste conclave), e seguir para a vila de Azinhaga, onde você nasceu, e onde seria homenageado pela gente da província Golegã, das queridas plagas lusitanas. É uma pena, dado que não poderá constatar que, de fato, “o ideal de vida é ser uma árvore”, como você bem afirmara, porém se o socialismo prevalecesse em suas plagas de origem, ele desertificaria o ambiente e assim o ideal de vida passaria a ser um deserto.
[Saramago] — Sim. Mas pelo menos não vivenciamos a tragédia do Jean-Paul, que produziu “A Idade da Razão” (“L’Age de Raison”), porém em sua trajetória, tendo abraçado o socialismo, abdicou sistematicamente do uso da razão. Mas mudando de assunto, mestre Amado, considerando que sou um ganhador do prêmio Nobel de Literatura, você não acha que eu deveria pleitear um alívio nas medidas que esses irreconhecíveis patrícios lusitanos estão nos impondo?
[Amado] — Veja bem, José, os cidadãos do mundo estão vivenciando uma questão paradoxal. Eles devem fazer a opção pelo supostamente grande José Saramago ou pelo inequivocamente grande Boris Pasternak? Como assim? Você me perguntaria. Você ganhou o prêmio Nobel por sua obra literária “Ensaio sobre a Cegueira”, relato de uma epidemia torturante que aflige os seres humanos; à qual tem semelhança com a tortura resultante da atuação dos adeptos do socialismo que você venera cegamente. Já o Boris Pasternak também foi premiado com o Nobel de Literatura, exatamente porque, com sua monumental obra “Dr. Jivago”, ele realizou robusta e contundente denúncia contra os absurdos do socialismo.
Nesse instante, achegam-se integrantes da comissão organizadora do conclave para entregar o roteiro das próximas etapas do processo. A segunda etapa da purgação que começaria em breve, consistia na terrível sina de que os três malsinados passariam a ficar eternamente mudos. Um dos portadores da informação aduziu que a terceira e última etapa estava ainda em discussão. As opiniões estavam divididas; havia gente pró e outros contra. A proposta inicial era cortar as mãos dos três socialistas para que não pudessem mais escrever e, subsequentemente, eliminar do cérebro a faculdade de pensar, de tal sorte que a moléstia intelectual e moral que portavam deixasse de ser contagiosa; e não mais se espalhasse por mentes desavisadas.
Passada a surpresa das perspectivas subsequentes, os interlocutores retomaram o diálogo.
[Saramago] — Afável Jorge, é imperioso que arquitetemos uma solução para impedir essa tragédia. Por acaso, não lhe ocorre alguma ideia. Por pior que sejam as nossas, não custa tentar algo. Afinal, sonhos e milagres existem. Basta que os procuremos.
[Amado] — José, José Saramago! Talvez o Brasil tenha a solução milagrosa. E se nós renunciarmos a nossos ideários, denunciarmos o assassinato de cem milhões de cidadãos no mundo pelo socialismo e ... — embora não haja cadeiras, a gente precisaria se sentar para não ter um AVC! — e se nós propusermos a eliminação, antes de 1º. de janeiro de 2023, das faculdades de pensar e agir dos lulo-petistas brasileiros, com a renúncia automática a qualquer cargo público eletivo ou não?
[Saramago] — Brilhante solução, Jorge (tão Amado)! Mas falta apenas resolver a questão daquele careca. Bom, é fácil! Um tiro na testa contraria os direitos humanos, sendo, pois, inaceitável; contudo, foi concebido um raio laser com o diâmetro tão diminuto que, se destinado à parte central do cérebro, não tem consequência vital, o paciente sobrevive normalmente, porém se torna tão útil quanto qualquer vegetal. Então, chamemos os integrantes da comissão organizadora.
Demonstrar que ‘o inferno é o socialismo’ (‘l’enfer c’est le socialisme) pode ser objeto de outras obras.
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