domingo, 19 de julho de 2020

Ética e cultura


        Quem acompanha o jornal Estadão há muito tempo tem vivenciado o privilégio do estímulo à reflexão oriundo das crônicas do Sr. Roberto Romano. A impressão arrebanhada nessa travessia dão conta de que se trata de um dos mais cultos e éticos professores doutores da nacionalidade. Seu livro “Razões de Estado e outros estados da razão” é uma confirmação dessa assertiva. Entretanto ao analisar, no artigo “O peso ético do termo ‘leviano’ ” (Espaço Aberto, Estadão de 19 de julho), a nota expedida pelos comandantes militares sobre o Sr. Gilmar Mendes, entre outros aspectos, o Sr. Romano formulou uma severa reprimenda à utilização da expressão leviana no texto oriundo do meio castrense. 
        Será que houve um momento de disrupção cognitiva que levou o Sr. Romano a esquecer e ignorar o emprego criminoso da palavra genocídio pelo ministro Mendes, em relação à ação das Forças Armadas no combate à pandemia do coronavírus? E a ignorar os erros cometido pelo então ministro Mandetta no início de sua atuação (no viés das graves acusações que contra ele pesam na justiça de Mato Grosso do Sul)? E a esquecer que o Governo Bolsonaro decretou os perigos da pandemia no início de fevereiro, portanto antes do Carnaval, o que foi ignorado sobretudo em São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza e Manaus? 
        Será que houve um apagão ético que o levou a esquecer que o ministro J. Barbosa afirmou em sessão plenária do STF que o Sr. Mendes “estava destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro”; e que o ministro R. Barroso asseverou também naquela egrégia Corte que o Sr. Mendes “... é uma pessoa horrível. Uma mistura do mal com atraso e pitadas de psicopatia. ... [Vossa Excelência] é uma desonra para o Tribunal; ... sozinho desmoraliza o Tribunal.”?
        Será que para o Sr. Romano vale a asserção de Brecht de que certos humanos “tem de poder lutar e não lutar; dizer a verdade e não dizer a verdade; prestar serviços e negar serviços; manter a palavra e não cumprir a palavra; enfrentar o perigo e evitar o perigo; identificar-se e não identificar-se”? E acrescento: ser ético e não ser ético; ser culto e empregar a cultura para fins não nobres? 
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[Divulgado nos comentários do Estadão online de 19/Jul/2020]
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[Divulgado no Fórum de Leitores do Estadão online de 21/Jul/2020]
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