O Sr. Carlos Alberto Di Franco publicou no Estadão o artigo “Dominar as circunstâncias, dilema de Bolsonaro”, onde, sem deixar o tom crítico que caracteriza os analistas que primam pela isenção intelectual, trata das virtudes do presidente que de, certa forma, amparam as razões dos eleitores em elegê-lo mandatário do Brasil.
Em meio a dezenas de matérias enviesadas, parciais e demonstradoras de uma oposição inconsequente da mídia em geral — e também em meio à severidade com que o Sr. Di Franco condena a interação entre o presidente e seus filhos — destaco os pontos positivos enxergados pelo colunista e tento agregar minha modesta visão ao tema palpitante da atualidade: a conjuntura política brasileira.
Assim, o colunista assevera:
“Não sou daqueles que enxergam Bolsonaro pelo filtro da crítica corrosiva e de um antagonismo ideológico visceral. Esforço-me para olhar os fatos. Essa deve ser, creio, a atitude dos jornalistas e formadores de opinião. Reconheço que o presidente da República soube montar uma excelente equipe. Muito superior às da era petista.”
E acrescenta:
“Jair Bolsonaro, com suas virtudes, seus defeitos e seu estilo ‘presidente mesa de bar’, soube captar o pulsar profundo da sociedade. Sua mensagem — na política, na economia, na segurança pública, na defesa dos valores — foi ao encontro de um sentimento latente na alma nacional. Soube falar com o Brasil profundo”.
Entendo que a compreensão do ‘pulsar profundo da sociedade’ e do ‘Brasil profundo’ são referências brilhantes e inequivocamente corretas para o que ocorre em nosso maltratado País.
Nesse contexto, enviei a mensagem apresentada a seguir para o articulista.
Prezado senhor,
O artigo “Dominar as circunstâncias, dilema de Bolsonaro” se constitui em uma das mais equilibradas e realistas análises do que se passa no Palácio do Planalto.
Permita-me acrescentar alguns pontos:
(i) a opinião da maioria dos políticos, intelectuais, jornalistas e artistas (desde antes da eleição de outubro/2018, até o presente) é diferente da que foi expressa pelo ilustre articulista;
(ii) na assertiva anterior, encontramos uma razão primacial por que Bolsonaro foi eleito presidente;
(iii) similarmente, aí está a razão pela qual Bolsonaro vai acabar se saindo bem da crise do coronavírus, o que significa grande possibilidade de renovar seu mandato em 2022;
(iv) esse universo que pensa diferente do colunista não percebe que o mundo mudou e que o Bolsonaro enxerga isso anos antes dos demais;
(v) há também as pesquisas de opinião — nas quais, não raro, são construídos resultados que não correspondem à realidade, isto é, antes contra o candidato e agora contra o presidente — o que significa que, do ponto de vista dele, o DataFolha, por exemplo, é um aliado, uma vez que tudo o que divulga deve ser lido ao contrário;
(vi) por último e essencial, ele usa as circunstâncias descritas, agindo como age, como estratégia de seguir em frente — muitos não concordam com isso, mas tem funcionado de forma eficaz.
Desculpe pela forma simples, simplória e limitada de interpretar. Porém, a forma complexa e sofisticada dos sábios tem falhado redondamente.
Atenciosamente
ARS
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Nota 1. A distinção
Nota 1. A distinção
O Sr. Di Franco acusou o recebimento da mensagem e agradeceu.
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Nota 2. O Restaurante Metropol
O Sr. Di Franco começou o artigo “Dominar as circunstâncias, dilema de Bolsonaro” mencionando o livro “Um cavalheiro em Moscou”, de Amor Towles, no qual com humor e leveza é
“apresentado um elogio aos valores e tradições deixados para trás pelo avanço da História”.
O personagem principal do livro é o nobre Aleksandr Ilitch Rostov, ‘o Conde’, que é condenado a prisão domiciliar no sótão do hotel Metropol. Nesse contexto:
“Com a personalidade cativante e otimista, aliada à gentileza típica de suas origens, o Conde soube lidar com a sua nova condição — e com sua experiência de vida carregada de sabedoria, comenta com um de seus interlocutores:
‘Se um homem não dominar suas circunstâncias, ele é dominado por elas’ ”.
De passagem, Di Franco comentou que o Hotel Metropol era o destino predileto
“de estrelas de cinema, aristocratas, militares, diplomatas, bon-vivants e jornalistas, além de ser um importante palco de disputas que marcariam a História mundial”.
Bom, mas essas coisas a respeito do Metropol, eu não sabia. O que eu sei é que em 25 de dezembro de 2001, na boca da noite, Isabel e eu tomamos um avião Ilyushin — ou de outro fabricante, imerso e obscuro na memória; desses um tanto antigos e que sacodem os bancos de forma desconfortável — e fomos de Teerã para Moscou. A ideia era conhecer o inverno que derrotou o General Napoleão e o cabo Adolfo. Não apenas isso, lógico! As passagens, estadias e outras despesas essenciais são bem menores no inverno.
Em 27 de dezembro, fomos ao Teatro Bolshoi assistir ao balé ‘Quebra Nozes’ [#1]. Para quem — aos sete anos de idade, por estar sem sapato, apenas com uma “alpercata” de pneu fabricada pelo criativo Oscar — foi impedido de entrar na sala de aula, lá em Rochedo, à margem do rio Aquidauana, na fímbria do pantanal sul-mato-grossense, foi vivenciada uma tarde-noite épica.
Então, combinamos que celebraríamos adequadamente. Ao avistar o Hotel Metropol, decidimos jantar em seu restaurante principal [#2]. Começamos com champanhe e caviar (meio branco, diferente do que conhecêramos em Teerã, originário do Mar Cáspio); e seguimos indiferentes aos valores que despenderíamos. Afinal, tínhamos uns bons dias à frente para passar com sanduíche e água; esta porque era até mais barata do que coca-cola.
Em seguida, seguimos para São Petersburgo. Era preciso saber porque no século XVIII, um nobre russo, Pedro, deixara de seguir para os salões nobres de Paris, onde a realeza mundial se esfalfava; e fora trabalhar nos estaleiros da Holanda para assimilar as lições de tecnologia e gestão para aplicar na Rússia imperial — e de quebra, construíra a cidade com o seu nome, para as futuras gerações (e também para abrigar o Museu Hermitage, tanto quanto se queira, comparável ao Museu do Louvre).
Na cidade de Pedro, fomos ao Teatro Philharmonia assistir ao concerto nº 2 de Rachmaninoff, interpretado por Lang Lang e pela Orquestra Filarmônica de São Petersburgo.
Na cidade de Pedro, fomos ao Teatro Philharmonia assistir ao concerto nº 2 de Rachmaninoff, interpretado por Lang Lang e pela Orquestra Filarmônica de São Petersburgo.
E finalmente fomos para Viena passar o Ano Novo em uma das mais belas metrópoles históricas da Europa. A opção do réveillon foi uma taverna nos arredores da cidade — a região de Grinzing [#4], considerada uma velha cidade do vinho; e notabilizada por ter sido destruída pelos turcos no século XVI e por Napoleão no século XIX. Enfim, por causa desse relato, minhas filhas diriam que ‘estou me achando’. Não é bem isso. A lembrança do Metropol foi a motivação e registrá-la não faz mal.
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Nota 3. Um futuro melhor
A propósito da obra de Pedro, o Grande, retiro reminiscências adicionais dos porões da imaginação ...
Em 2008, estive na Rússia, com o objetivo de comparecer à maior exposição russa de material bélico, a REA – Russian Expo Arms [#5], acompanhado de dois engenheiros do Centro Tecnológico do Exército, CTEx, (Maj Beniamin e Cap Moutinho) e do Adido do Exército em Moscou, coronel Descon. O evento é realizado periodicamente na cidade de Tagil, na fronteira ocidental da Sibéria, a cerca de 200 quilômetros depois de Ecaterimburgo. Passamos cinco dias na região.
Dessas lembranças, agrada-me começar pelo epílogo. Quando cheguei de volta ao Rio de Janeiro, era indagado se tinha aproveitado o inverno siberiano. Minha efusiva resposta é que chegara da Sibéria para saborear o inverno carioca, com surpreendentes 15º C. Em Tagil, lá por perto de onde andou Dr. Jivago, passei o dia mais quente do verão siberiano, com 31º C — um calor seco, com um conforto tal que jovens e também os mais velhos andavam na rua sem camisa, com a inseparável garrafa de vodca na mão, e o aspecto de que estavam na hora final de uma quarta feira de cinzas.
Mas reiniciando do prólogo, devo mencionar uma curiosidade: na Segunda Guerra Mundial, quando os alemães invadiram Moscou, Stalin determinou a transferência do complexo industrial soviético terrestre, que se localizava na circunvizinhança de Moscou, para Leste, para as proximidades da região de Tagil, fora portanto do alcance das forças armadas germânicas.
A exposição militar REA foi uma das mais interessantes que visitei, no período em que chefiava o Centro Tecnológico do Exército. Tive a oportunidade de conhecer uma parcela significativa de material bélico de última geração, de fabricação russa e de seus vizinhos e parceiros próximos. As únicas presenças ocidentais identificadas no evento era a comitiva brasileira visitante e um escritório italiano de empresa que produzia artefatos de interesse comum. Eu, os dois engenheiros do CTEx e o Adido do Exército em Moscou éramos os únicos latino-americanos presentes na exposição. Dentre os europeus, claro, deveria haver outros, além dos italianos, mas estavam convenientemente discretos, a ponto de não termos cruzado com eles. A grande massa (pessoas e empresas) era composta de russos, ucranianos, demais eslavos e asiáticos das proximidades fronteiriças.
Na volta, optamos por uma noite em Ecaterimburgo. Era imperioso que o fizéssemos. Disso, registro com ênfase os seguintes aspectos marcantes:
(i) A visita à Igreja de Todos os Santos, concluída em 2005, em homenagem aos Romanov [#6] [#7], que foram sacrificados pelos hediondos comunistas em 1918;
(ii) A visita aos restos históricos da primeira metalúrgica implantada na Rússia [#8] por Pedro I, o Grande, construtor de São Petersburgo. Além da marinha imperial, dos avanços arquitetônicos e culturais, o Pedro deles colocou a Rússia, no século XVIII, no caminho da Revolução Industrial. Está justifica portanto a alcunha de Pedro, o Grande; e
(iii) O encontro que tivemos a sorte de evitar, por uma diferença de 12 horas, na partida do aeroporto de Ecaterimburgo [#9], na volta da viagem, com o então Presidente da República e agora convicto presidiário Lula, cuja comitiva fez escala naquela cidade em direção à China.
Na volta da Rússia, por opção, porque ninguém é de ferro, fizemos escala na França. Entre visita a lugares históricos e a restaurantes [#10], foi possível não perder a noção de que entre Rochedo e Tagil, há Paris. E nessa trajetória, enquanto seres humanos — ante as fronteiras da humildade e da presunção; do enfrentamento da subjetividade e da razão; e da posse da verdade absoluta em oposição à flexibilidade diante da falível condição humana — colocamo-nos diante dos desafios permanentes de fazer o presente melhor do que o passado, e o futuro tão melhor quando permitam os sonhos que sonhamos.
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[#1] Teatro Bolshoi, Moscou
A fachada deslumbrante do Teatro Bolshoi. |
Cena inesquecível do balé Quebra Nozes. |
Lustre tão lindo quanto o do cenário do Fantasma da Ópera, que a Cecília tanto gosta. |
O Teatro Bolshoi é um edifício histórico da cidade de Moscou, capital da Federação Russa. Foi desenhado pelo arquiteto Joseph Bové para abrigar espetáculos de ópera e balé. É sede da Academia Estatal de Coreografia de Moscou, também conhecida simplesmente como Balé Bolshoi, sendo uma das mais antigas e prestigiosas companhias de dança do mundo.
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[#2] Restaurante Metropol, Moscou
Sala lateral do Restaurante Metropol. |
Ter nascido em Rochedo e chegado até aqui é uma trajetória digna de ser trilhada. |
Isabel e ma lembrança tão marcante quanto se queira imaginar. |
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[#3] Teatro Philharmonia, São PetersburgoApresentação do Concerto nº 2 de Rachmaninoff, com Lang Lang e a orquestra Filarmônica de São Petersburgo, no Grand Hall do Teatro Philharmonia. |
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[#5] Tagil, oeste da Sibéria
(a ≈200 Km de Ecaterimburgo)
Russian Expo Arms (REA) |
Russian Expo Arms – Tanque blindado T-74 |
Russian Expo Arms – Helicóptero Não Tripulado |
Tagil – Teatro de Drama |
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[#6] Família imperial russa Romanov
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[#7] Igreja de Todos os Santos, Ecaterimburgo
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[#8] Primeira metalúrgica russa, EcaterimburgoEsta metalúrgica foi implantada em Ecaterimburgo por Pedro I, o Grande, que reinou na Rússia de 1682 a 1721, e passou para a história como empreendedor da ocidentalização e modernização da Rússia. |
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[#9] Aeroporto de Ecaterimburgo
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[#10] Paris, a cidade LuzAeroporto Charles De Gaulle |
Túmulo de Napoleão
Subsolo do Hôtel Invalides – Monumento parisiense, cuja construção foi ordenada por Luís XIV, em 1670, para dar abrigo aos inválidos dos seus exércitos. Hoje em dia, continua acolhendo os inválidos, mas é também uma necrópole militar e sede de vários museus. |
Restaurante Le Bistro Marbeuf 21 rue Clement Marbeuf, a 400 m da Av. Champs Élysées. |
Restaurante Brasserie Le Fourquet 99 avenue des Champs Élysées. |
Restaurante La Terrasse (Maj Beniamin e Cap Moutinho) 2 place de l'École Militaire. |
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