sexta-feira, 10 de abril de 2020

O homem e suas circunstâncias



O Sr. Carlos Alberto Di Franco publicou no Estadão o artigo “Dominar as circunstâncias, dilema de Bolsonaro”, onde, sem deixar o tom crítico que caracteriza os analistas que primam pela isenção intelectual, trata das virtudes do presidente que de, certa forma, amparam as razões dos eleitores em elegê-lo mandatário do Brasil.
Em meio a dezenas de matérias enviesadas, parciais e demonstradoras de uma oposição inconsequente da mídia em geral — e também em meio à severidade com que o Sr. Di Franco condena a interação entre o presidente e seus filhos —  destaco os pontos positivos enxergados pelo colunista e tento agregar minha modesta visão ao tema palpitante da atualidade: a conjuntura política brasileira.
Assim, o colunista assevera: 
“Não sou daqueles que enxergam Bolsonaro pelo filtro da crítica corrosiva e de um antagonismo ideológico visceral. Esforço-me para olhar os fatos. Essa deve ser, creio, a atitude dos jornalistas e formadores de opinião. Reconheço que o presidente da República soube montar uma excelente equipe. Muito superior às da era petista.”
E acrescenta: 
“Jair Bolsonaro, com suas virtudes, seus defeitos e seu estilo ‘presidente mesa de bar’, soube captar o pulsar profundo da sociedade. Sua mensagem — na política, na economia, na segurança pública, na defesa dos valores — foi ao encontro de um sentimento latente na alma nacional. Soube falar com o Brasil profundo”.
Entendo que a compreensão do ‘pulsar profundo da sociedade’ e do ‘Brasil profundo’ são referências brilhantes e inequivocamente corretas para o que ocorre em nosso maltratado País.
Nesse contexto, enviei a mensagem apresentada a seguir para o articulista.

Prezado senhor,
O artigo “Dominar as circunstâncias, dilema de Bolsonaro” se constitui em uma das mais equilibradas e realistas análises do que se passa no Palácio do Planalto.
Permita-me acrescentar alguns pontos:
(i) a opinião da maioria dos políticos, intelectuais, jornalistas e artistas (desde antes da eleição de outubro/2018, até o presente) é diferente da que foi expressa pelo ilustre articulista;
(ii) na assertiva anterior, encontramos uma razão primacial por que Bolsonaro foi eleito presidente;
(iii) similarmente, aí está a razão pela qual Bolsonaro vai acabar se saindo bem da crise do coronavírus, o que significa grande possibilidade de renovar seu mandato em 2022;
(iv) esse universo que pensa diferente do colunista não percebe que o mundo mudou e que o Bolsonaro enxerga isso anos antes dos demais;
(v)  há também as pesquisas de opinião — nas quais, não raro, são construídos resultados que não correspondem à realidade, isto é, antes contra o candidato e agora contra o presidente — o que significa que, do ponto de vista dele, o DataFolha, por exemplo, é um aliado, uma vez que tudo o que divulga deve ser lido ao contrário;
(vi) por último e essencial, ele usa as circunstâncias descritas, agindo como age, como estratégia de seguir em frente — muitos não concordam com isso, mas tem funcionado de forma eficaz.
Desculpe pela forma simples, simplória e limitada de interpretar. Porém, a forma complexa e sofisticada dos sábios tem falhado redondamente.
Atenciosamente 
ARS

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Nota 1. A distinção
O Sr. Di Franco acusou o recebimento da mensagem e agradeceu.

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Nota 2. O Restaurante Metropol
O Sr. Di Franco começou o artigo “Dominar as circunstâncias, dilema de Bolsonaro” mencionando o livro “Um cavalheiro em Moscou”, de Amor Towles, no qual com humor e leveza é
“apresentado um elogio aos valores e tradições deixados para trás pelo avanço da História”. 
O personagem principal do livro é o nobre Aleksandr Ilitch Rostov, ‘o Conde’, que é condenado a prisão domiciliar no sótão do hotel Metropol. Nesse contexto:
“Com a personalidade cativante e otimista, aliada à gentileza típica de suas origens, o Conde soube lidar com a sua nova condição — e com sua experiência de vida carregada de sabedoria, comenta com um de seus interlocutores: 
‘Se um homem não dominar suas circunstâncias, ele é dominado por elas’ ”
De passagem, Di Franco comentou que o Hotel Metropol era o destino predileto
“de estrelas de cinema, aristocratas, militares, diplomatas, bon-vivants e jornalistas, além de ser um importante palco de disputas que marcariam a História mundial”. 

Bom, mas essas coisas a respeito do Metropol, eu não sabia. O que eu sei é que em 25 de dezembro de 2001, na boca da noite, Isabel e eu tomamos um avião Ilyushin — ou de outro fabricante, imerso e obscuro na memória; desses um tanto antigos e que sacodem os bancos de forma desconfortável — e fomos de Teerã para Moscou. A ideia era conhecer o inverno que derrotou o General Napoleão e o cabo Adolfo. Não apenas isso, lógico! As passagens, estadias e outras despesas essenciais são bem menores no inverno. 
Em 27 de dezembro, fomos ao Teatro Bolshoi assistir ao balé ‘Quebra Nozes’ [#1]. Para quem — aos sete anos de idade, por estar sem sapato, apenas com uma “alpercata” de pneu fabricada pelo criativo Oscar — foi impedido de entrar na sala de aula, lá em Rochedo, à margem do rio Aquidauana, na fímbria do pantanal sul-mato-grossense, foi vivenciada uma tarde-noite épica. 
Então, combinamos que celebraríamos adequadamente. Ao avistar o Hotel Metropol, decidimos jantar em seu restaurante principal [#2]. Começamos com champanhe e caviar (meio branco, diferente do que conhecêramos em Teerã, originário do Mar Cáspio); e seguimos indiferentes aos valores que despenderíamos. Afinal, tínhamos uns bons dias à frente para passar com sanduíche e água; esta porque era até mais barata do que coca-cola. 
Em seguida, seguimos para São Petersburgo. Era preciso saber porque no século XVIII, um nobre russo, Pedro, deixara de seguir para os salões nobres de Paris, onde a realeza mundial se esfalfava; e fora trabalhar nos estaleiros da Holanda para assimilar as lições de tecnologia e gestão para aplicar na Rússia imperial — e de quebra, construíra a cidade com o seu nome, para as futuras gerações (e também para abrigar o Museu Hermitage, tanto quanto se queira, comparável ao Museu do Louvre). 
Na cidade de Pedro, fomos ao Teatro Philharmonia assistir ao concerto nº 2 de Rachmaninoff, interpretado por Lang Lang e pela Orquestra Filarmônica de São Petersburgo.
E finalmente fomos para Viena passar o Ano Novo em uma das mais belas metrópoles históricas da Europa. A opção do réveillon foi uma taverna nos arredores da cidade — a região de Grinzing [#4], considerada uma velha cidade do vinho; e notabilizada por ter sido destruída pelos turcos no século XVI e por Napoleão no século XIX. Enfim, por causa desse relato, minhas filhas diriam que ‘estou me achando’. Não é bem isso. A lembrança do Metropol foi a motivação e registrá-la não faz mal.
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Nota 3. Um futuro melhor
A propósito da obra de Pedro, o Grande, retiro reminiscências adicionais dos porões da imaginação ... 
Em 2008, estive na Rússia, com o objetivo de comparecer à maior exposição russa de material bélico, a REA – Russian Expo Arms [#5], acompanhado de dois engenheiros do Centro Tecnológico do Exército, CTEx, (Maj Beniamin e Cap Moutinho) e do Adido do Exército em Moscou, coronel Descon. O evento é realizado periodicamente na cidade de Tagil, na fronteira ocidental da Sibéria, a cerca de 200 quilômetros depois de Ecaterimburgo. Passamos cinco dias na região. 
Dessas lembranças, agrada-me começar pelo epílogo. Quando cheguei de volta ao Rio de Janeiro, era indagado se tinha aproveitado o inverno siberiano. Minha efusiva resposta é que chegara da Sibéria para saborear o inverno carioca, com surpreendentes 15º C. Em Tagil, lá por perto de onde andou Dr. Jivago, passei o dia mais quente do verão siberiano, com 31º C — um calor seco, com um conforto tal que jovens e também os mais velhos andavam na rua sem camisa, com a inseparável garrafa de vodca na mão, e o aspecto de que estavam na hora final de uma quarta feira de cinzas.
Mas reiniciando do prólogo, devo mencionar uma curiosidade: na Segunda Guerra Mundial, quando os alemães invadiram Moscou, Stalin determinou a transferência do complexo industrial soviético terrestre, que se localizava na circunvizinhança de Moscou, para Leste, para as proximidades da região de Tagil, fora portanto do alcance das forças armadas germânicas.
A exposição militar REA foi uma das mais interessantes que visitei, no período em que chefiava o Centro Tecnológico do Exército. Tive a oportunidade de conhecer uma parcela significativa de material bélico de última geração, de fabricação russa e de seus vizinhos e parceiros próximos. As únicas presenças ocidentais identificadas no evento era a comitiva brasileira visitante e um escritório italiano de empresa que produzia artefatos de interesse comum. Eu, os dois engenheiros do CTEx e o Adido do Exército em Moscou éramos os únicos latino-americanos presentes na exposição. Dentre os europeus, claro, deveria haver outros, além dos italianos, mas estavam convenientemente discretos, a ponto de não termos cruzado com eles. A grande massa (pessoas e empresas) era composta de russos, ucranianos, demais eslavos e asiáticos das proximidades fronteiriças.
Na volta, optamos por uma noite em Ecaterimburgo. Era imperioso que o fizéssemos. Disso, registro com ênfase os seguintes aspectos marcantes:
(i)  A visita à Igreja de Todos os Santos, concluída em 2005, em homenagem aos Romanov [#6] [#7], que foram sacrificados pelos hediondos comunistas em 1918;
(ii) A visita aos restos históricos da primeira metalúrgica implantada na Rússia [#8] por Pedro I, o Grande, construtor de São Petersburgo. Além da marinha imperial, dos avanços arquitetônicos e culturais, o Pedro deles colocou a Rússia, no século XVIII, no caminho da Revolução Industrial. Está justifica portanto a alcunha de Pedro, o Grande; e
(iii) O encontro que tivemos a sorte de evitar, por uma diferença de 12 horas, na partida do aeroporto de Ecaterimburgo [#9], na volta da viagem, com o então Presidente da República e agora convicto presidiário Lula, cuja comitiva fez escala naquela cidade em direção à China.
Na volta da Rússia, por opção, porque ninguém é de ferro, fizemos escala na França. Entre visita a lugares históricos e a restaurantes [#10], foi possível não perder a noção de que entre Rochedo e Tagil, há Paris. E nessa trajetória, enquanto seres humanos — ante as fronteiras da humildade e da presunção; do enfrentamento da subjetividade e da razão; e da posse da verdade absoluta em oposição à flexibilidade diante da falível condição humana — colocamo-nos diante dos desafios permanentes de fazer o presente melhor do que o passado, e o futuro tão melhor quando permitam  os sonhos que sonhamos.

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[#1] Teatro Bolshoi, Moscou
A fachada deslumbrante do Teatro Bolshoi.


Cena inesquecível do balé Quebra Nozes.


Lustre tão lindo quanto o do cenário do Fantasma da Ópera, que a Cecília tanto gosta.

O Teatro Bolshoi é um edifício histórico da cidade de Moscou, capital da Federação Russa. Foi desenhado pelo arquiteto Joseph Bové  para abrigar espetáculos de ópera e balé. É sede da Academia Estatal de Coreografia de Moscou, também conhecida simplesmente como Balé Bolshoi, sendo uma das mais antigas e prestigiosas companhias de dança do mundo.

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[#2] Restaurante Metropol, Moscou
Sala lateral do Restaurante Metropol.

Ter nascido em Rochedo e chegado até aqui é uma trajetória digna de ser trilhada.

Isabel e ma lembrança tão marcante quanto se queira imaginar.
  
Salão principal do Restaurante Metropol, situado no hotel homônimo, na rua Teatral'nyy Proyezd, quase em frente ao Teatro Bolshoi.
O prédio do hotel foi construído entre 1899 e1907, em estilo Art Nouveau, com a colaboração dos arquitetos William Walcot, Lev Kekushev, Vladimir Shukhov e dos artistas Mikhail Vrubel, Alexander Golovin e Nikolai Andreev.

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[#3] Teatro Philharmonia, São Petersburgo
Apresentação do Concerto nº 2 de Rachmaninoff, com Lang Lang e a orquestra Filarmônica de São Petersburgo, no Grand Hall do Teatro Philharmonia.

Muito tempo depois, foi surpreendente saber que o Concerto nº 2 do Rachmaninoff é um dos mais difíceis de ser tocado e que Lang Lang o fazia nas fronteiras da perfeição. Sendo chinês e no alvorecer de seus 19 anos, após uma performance épica, foi aplaudido por russos durante cerca de 5 minutos — um indicador inexcedível.


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[#4] Grinzing, Viena
Um taberna típica de Grinzing.  
Simplicidade e elegância em Grinzing.
Celebração de Ano Novo de 2001, em taberna, no bairro Grinzing, local histórico nos arredores de Viena, na companhia de turistas britânicos, canadentes e de outros origens.

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[#5] Tagil, oeste da Sibéria
          (a ≈200 Km de Ecaterimburgo)
Russian Expo Arms (REA)
  
Russian Expo Arms – Tanque blindado T-74
Russian Expo Arms – Helicóptero Não Tripulado
                                               
Tagil – Teatro de Drama

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[#6] Família imperial russa Romanov 

O Imperador Nichollas II, a esposa Imperadora Alexandra e seus cinco filhos, Olga, Tatiana, Maria, Anastasia e Alexei, foram fuzilados e atravessados por baioneta pelos revolucionários comunistas sob o comando de Yakov Yurovsky em Ecaterimburgo na noite de 16 para 17 de Julho de 1918. F
oram também mortos naquela noite os acompanhantes da família: Eugene Botkin, Anna Demidova, Alexei Trupp e Ivan Kharitonov.
Todos os corpos foram levados para a floresta Koptyaki, onde foram despidos e mutilados.

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[#7] Igreja de Todos os Santos, Ecaterimburgo
A Igreja de Sangue em Honra de Todos os Santos Resplandescentes na Terra Russa é uma igreja ortodoxa russa construída no pátio da Casa Ipatiev, em Ecaterimburgo, onde Nichollas II, sua família e acompanhantes foram assassinados pelos bolcheviques na Revolução Comunista de 1917.
A igreja foi construída e inaugurada em 2004 para homenagear a família imperial Romanov. Trata-se de uma obra arquitetônica e artística para não deixar dúvida da 
perene dívida dos russos com os Romanov.

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[#8] Primeira metalúrgica russa, Ecaterimburgo

Esta metalúrgica foi implantada em Ecaterimburgo por Pedro I, o Grande, que reinou na Rússia de 1682 a 1721, e passou para a história como empreendedor da ocidentalização e modernização da Rússia.
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 [#9] Aeroporto de Ecaterimburgo
Aeroporto Internacional de Ecaterimburgo-Koltsovo

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[#10] Paris, a cidade Luz


Aeroporto Charles De Gaulle 
Catedral de Notre Dame, 1163 a 1345 – Jean de Chefes, Pierre de Montruil et al.
Estilo gótico — Île de la Cité, rodeada pelo rio Sena.  

[Esclarecimento posterior: em 15 de abril de 2019, a catedral foi atingida por um violento incêndio, que causou danos ao teto, pináculo e rosáceas. Com tristeza e consternação, durante algumas horas, pela TV, assistimos a essa tragédia bem como o insano trabalho do Corpo de Bombeiros de Paris para debelar o fogo].

Túmulo de Napoleão
Subsolo do Hôtel Invalides – Monumento parisiense, cuja construção foi ordenada por Luís XIV, em 1670, para dar abrigo aos inválidos dos seus exércitos. Hoje em dia, continua acolhendo os inválidos, mas é também uma necrópole militar e sede de vários museus.
Restaurante Le Bistro Marbeuf
21 rue Clement Marbeuf, a 400 m da Av. Champs Élysées.

Restaurante Brasserie Le Fourquet
99 avenue des Champs Élysées.

    
Restaurante La Terrasse (Maj Beniamin e Cap Moutinho)
2 place de l'École Militaire.

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