Em face da grandeza, da decência, do senso ético, da resiliência e da coragem do General de Exército Herzi Halevi, comandante das Forças de Defesa de Israel, ao assumir a responsabilidade nas falhas de segurança por ocasião do ataque do Hamas ao território israelense, no dia 7 de outubro de 2023 — com o assassinato de quase dois mil cidadãos; caracterizando a maior operação militar ocorrida contra o país num único dia — e renunciar ao mais alto cargo das forças armadas de seu país, reproduzo neste blog o artigo sobre o tema, publicado no jornal Jerusalem Post, em 22 de janeiro de 2025.
Adeus de Herzi Halevi, personificação uniformizada da tragédia nacional israelense
Um homem resiliente e decente, ele sabe que nada jamais obscurecerá a consequência catastrófica do fracasso das FDI (Forças de Defesa de Israel), sob seu comando, em não dar crédito à evidência de que o Hamas estava se preparando para invadir.
O comandante das FDI, General de Exército Herzi Halevi participa de uma cerimônia de estado que marca o aniversário do ataque do Hamas, no calendário hebraico, em 7 de outubro de 2023, no cemitério militar do Monte Herzl, em Jerusalém, em 27 de outubro de 2024. (Crédito: Chaim Goldberg/Flash90).
Por DAVID HOROVITZ – 22 de janeiro de 2025, 16h34 — Tradução: ARS
O General de Exército Herzi Halevi, comandante das Forças de Defesa de Israel [*] anuncia seu pedido de demissão. Está se afastando o superior em cujo período de comando, o Hamas irrompeu pela fronteira obscenamente desprotegida de Israel para realizar, em um dia, o ataque mais mortal na história moderna do nosso país.
"A missão principal das Forças de Defesa é proteger os cidadãos do país. Nós falhamos nisso", disse Halevi, de forma direta e com simplicidade, a esta nação traumatizada, em uma declaração de renúncia filmada na terça-feira à noite.
O triste comandante demonstrou aparentar uma figura trágica na partida — dúvida não resta. Um homem decente, resiliente e tenaz, ele é também a personificação ambulante, exausta e uniformizada da incomparável tragédia israelense que ele, seus colegas militares e seus mestres políticos falharam em evitar.
Halevi argumentou legitimamente que estava partindo em um momento "quando as FDI [atingiram] a vantagem em todos os teatros de combate" que eclodiram após 7 de outubro de 2023. Sua capacidade — e a do comandante do Comando Sul, Yaron Finkelman, outro militar do alto comando, que se demitiu das FDI, na terça-feira — de clarear suas mentes em meio aos horrores daquele dia e rapidamente tomar a ofensiva contra o Hamas, ao mesmo tempo em que se moviam para deter uma invasão potencialmente ainda mais devastadora do Hezbollah no Norte, foi uma prova de seu patriotismo, determinação e obrigação vitalícia com a defesa desta terra.
Mas como Halevi sabe muito bem, nada pode obscurecer, no presente ou no futuro, a extensão e a consequência catastrófica do fracasso inexplicável das FDI, sob seu comando, em dar ao menos o mínimo de credibilidade às evidências que se desenrolavam à vista de todos de que o Hamas estava preparando a invasão e, portanto, tomar até mesmo as medidas mínimas necessárias para se defender contra ela. “Eu suportei as consequências daquele dia terrível desde então e as carregarei comigo pelo resto da minha vida”, disse ele, e não há dúvidas sobre isso.
É uma medida da permanente condição inexplicável do fracasso e sua exploração por teóricos da conspiração — muitos deles buscando desculpar o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de sua inequívoca responsabilidade governamental — de tal sorte que Halevi também sentiu que era necessário abordar 15 meses de mentiras e desinformação insidiosa sobre a vulnerabilidade e impotência de Israel naquele dia.
"Ninguém escondeu informações", disse o comandante, que suportou repetidos ataques verbais do primeiro-ministro e de maliciosos ministros do gabinete, enquanto tentavam colocar quase toda a culpa de 7 de outubro em seus ombros, (i) alegando que ele e os outros chefes de aparatos de segurança mantiveram Netanyahu no escuro, (ii) marginalizando as políticas de responsabilidade do primeiro-ministro, que por anos permitiram o financiamento do Hamas, (iii) desviando a atenção dos avisos até 2023 de que as divisões fomentadas pela coalizão de Israel estavam encorajando nossos inimigos (iv) e reclamando em poucas semanas que a guerra ainda não estava vencida. "Ninguém sabia o que estava prestes a acontecer", acrescentou Halevi. “Ninguém ajudou o inimigo a realizar sua brutalidade.”
Comandante das FDI, General de Exército Herzi Halevi (à esquerda) com o comandante do Comando Sul, General de Divisão Yaron Finkelman, no norte de Gaza, 6 de fevereiro de 2024. (Crédito: Forças de Defesa de Israel).
Halevi deixou claro desde o início da guerra que reconhecia sua culpabilidade e que partiria assim que o ministro da defesa o solicitasse, ou, se não o solicitasse, assim que achasse que era o momento certo. No evento, com um ministro da defesa que ele considerava um parceiro, Yoav Gallant, demitido do cargo, e um com quem ele não interagia bem, Israel Katz, deixando claro que seria pressionado se não pedisse demissão, Halevi agendou a data de sua partida, 6 de março, para coincidir com o fim da primeira fase do acordo de cessar-fogo com reféns que ele vinha pedindo há meses.
Isso sinaliza sua confiança de que a segunda e a terceira fases do acordo serão negociadas com sucesso, e que é pouco provável que haja o retorno aos combates intensivos em Gaza? Ou, alternativamente, que estamos agora em um período de relativa calma, e que essas poucas semanas seriam mais bem aproveitadas, primeiro, para Netanyahu e Katz escolherem seu sucessor, e, então, como Halevi disse na terça-feira, para ele "transferir o comando das FDI de forma completa e eficaz para meu substituto"?
Como ele fez durante todo seu terrível mandato — que começou apenas uma semana depois que o Ministro da Justiça Yariv Levin revelou sua tentativa ultracontroversa de destruir o judiciário independente de Israel, o que por sua vez impactou o Exército Israelense fortemente dependente de seus reservistas civis — Halevi, em sua carta de renúncia e declaração na TV, tentou ficar fora da política partidária.
Tendo dito repetidamente ao escalão político que as FDI precisam desesperadamente de todos os combatentes que podem ser convocados e está se preparando para absorver todos os homens Haredi [judeus ultraortodoxos] alistáveis até o verão de 2026, ele não mencionou os esforços de Katz para promover uma legislação que garantiria, na melhor das hipóteses, que não mais do que 50% dos homens Haredi alistáveis seriam recrutados... até 2032.
Ele também enquadrou a necessidade de uma comissão de inquérito independente eficaz sobre 7 de outubro — um imperativo óbvio para estabelecer o que deu errado e garantir que não se repita — em um contexto construtivo, em vez de conflituoso.
"Ao concluir as investigações da FDI, entenderemos melhor o que aconteceu conosco, por que aconteceu e como consertar", disse Halevi, prometendo que essas investigações internas serão concluídas antes que ele deixe o cargo. Mas, ele observou, "a investigação militar se concentra apenas nas FDI e não pode abranger todas as causas e áreas que poderiam evitar eventos semelhantes no futuro". Portanto, "um comitê investigativo ou qualquer outro órgão externo poderá investigar e examinar, e terá a total transparência das FDI".
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o ministro da Defesa Yoav Gallant premiam o novo chefe das FDI, Herzi Halevi, com o posto de General de Exército, no Gabinete do Primeiro-Ministro em Jerusalém, em 16 de janeiro de 2023. (Crédito: Forças de Defesa de Israel).
A requerida comissão de inquérito federal poderosa — o aparato jurídico que goza dos mais amplos poderes sob a lei israelense, incluindo o direito de intimar testemunhas — foi duramente contestada por Netanyahu, que sabe que suas conclusões e recomendações provavelmente seriam devastadoras para ele pessoalmente.
O primeiro-ministro não está disposto a atender ao apelo efetuado por Halevi para sua instauração.
Ademais, ele não seguirá o exemplo de Halevi em assumir a responsabilidade pelo desastre de 7 de outubro — atitude que deveria ser adotada por aqueles que estavam em altos escalões da gestão governamental e, portanto, falharam absolutamente, em impedir a catástrofe.
________________________
[*] Nota. Lieutenant General Herzi Halevi, Israel Defense Forces (IDF) Chief of Staff está sendo traduzido para General de Exército Herzi Halevi, Comandante das Forças de Defesa de Israel (FDI).
Ademais, o posto Lieutenant General é o maior posto das Forças de Defesa de Israel. Nestas, há apenas um oficial general com esse posto, o próprio comandante.
Farewell Herzi Halevi, uniformed embodiment of our national tragedy, leader of the fightback
A resilient and decent man, he knows nothing will ever obscure the catastrophic consequence of the IDF’s failure, under his command, to give even minimal credence to the evidence that Hamas was preparing to invade
By DAVID HOROVITZ FOLLOW – 22 Jan 2025, 4:34 pm
IDF Chief of Staff Herzi Halevi attends a state ceremony marking the Hebrew calendar anniversary of the Hamas onslaught on October 7, 2023, at the Mount Herzl military cemetery in Jerusalem, October 27, 2024. (Chaim Goldberg/Flash90)
So farewell, then, to Herzi Halevi, the IDF chief of staff on whose watch Hamas burst through Israel’s obscenely unprotected border to carry out the deadliest one-day attack in our country’s modern history.
“The IDF’s primary mission is to protect the country’s citizens. We failed in that,” Halevi told this traumatized nation, straight and simple, in a filmed resignation statement on Tuesday night.
The lugubrious chief of staff cut a tragic figure in departure. Of course he did. A decent, resilient and tenacious man, he is also the walking, exhausted, uniformed embodiment of the unparalleled Israeli tragedy that he, his military colleagues and his political masters failed to avert.
Halevi legitimately argued that he was departing at a time “when the IDF has [attained] the upper hand in all the combat theaters” that erupted after October 7, 2023. His capacity, and that of Tuesday’s other high-ranking IDF resigner, Southern Command chief Yaron Finkelman, to clear their heads amid the horrors of that day and rapidly take the offensive against Hamas, while also moving to deter a potentially still more devastating invasion by Hezbollah in the north, was a testament to their patriotism, determination and lifelong obligation to the defense of this land.
But as Halevi knows full well, nothing can or ever will obscure the extent and catastrophic consequence of the IDF’s ultimately inexplicable failure, under Halevi’s command, to give even minimal credence to the evidence unfolding in plain sight that Hamas was preparing the invasion, and thus to take even the minimal steps necessary to defend against it. “I have borne the consequences of that terrible day ever since and will carry them with me for the rest of my life,” he said, and there can be no doubting it.
It is a measure of the abiding unfathomability of the failure, and its exploitation by conspiracy theorists — many of them seeking to exculpate Prime Minister Benjamin Netanyahu from his unsurpassable overall responsibility — that Halevi also felt it necessary to address 15 months of lies and insidious disinformation regarding Israel’s vulnerability and impotence that day.
“No one hid information,” said the chief of staff, who endured repeated verbal assaults from the prime minister and malicious cabinet ministers as they sought to place almost all October 7 blame on his shoulders, to claim that he and the other security chiefs kept Netanyahu in the dark, to marginalize the policies overseen by the prime minister that for years enabled the financing of Hamas, to deflect attention from the warnings through 2023 that Israel’s coalition-fostered divides were emboldening our enemies, and to complain within weeks that the war wasn’t yet won. “No one knew what was about to happen,” Halevi added. “No one helped the enemy carry out its brutality.”
IDF Chief of Staff Lt. Gen. Herzi Halevi (left) with the chief of the Southern Command, Maj. Gen. Yaron Finkelman, in northern Gaza, February 6, 2024. (Israel Defense Forces)
Halevi had made clear from the start of the war that he recognized his culpability and would go as soon as he was asked to by the defense minister, or, if not asked, as soon as he thought the moment was right. In the event, with a defense minister who he regarded as a partner, Yoav Gallant, dismissed from office, and one who he did not, Israel Katz, making plain that he would be pushed if he didn’t jump, Halevi scheduled the date of his departure, March 6, to coincide with the end of the first phase of the hostage-ceasefire deal he had been urging for months.
Does this signal his confidence that the second and third phases of the deal will be successfully negotiated, and that a return to intensive fighting in Gaza is not in the offing? Or, the reverse — that we are now in a period of relative calm, and that these few weeks would be best used, first, for Netanyahu and Katz to choose his successor, and, then, as Halevi put it Tuesday, for him to “transfer command of the IDF in a high-quality and thorough manner to my replacement”?
As he did throughout his hellish tenure — which began barely a week after Justice Minister Yariv Levin had unveiled his ultra-contentious bid to destroy Israel’s independent judiciary, which in turn sent shockwaves through an Israeli military heavily dependent on its civilian reservists — Halevi, in his resignation letter and TV statement, attempted to stay out of partisan politics.
Having repeatedly told the political echelon that the IDF desperately needs all the manpower that can be mustered, and is gearing up to absorb all eligible Haredi men by the summer of 2026, he made no mention of Katz’s efforts to advance legislation that would ensure, at improbable best, that no more than 50 percent of eligible Haredi males will be conscripted… by 2032.
He also framed the need for an effective independent commission of inquiry into October 7 — an obvious imperative to establish what went wrong and ensure no repeat — in a constructive, rather than confrontational, context.
“Upon completing the IDF’s investigations, we will better understand what happened to us, why it happened, and how to fix it,” Halevi said, promising that those internal probes will be completed before he steps down. But, he noted, “The military investigation focuses solely on the IDF, and cannot encompass all the causes and areas that could prevent similar events in the future.” Therefore, “an investigative committee or any other external body will be able to investigate and examine, and will have the IDF’s full transparency.”
Prime Minister Benjamin Netanyahu and Defense Minister Yoav Gallant award incoming IDF chief Herzi Halevi with the rank of lieutenant general at the Prime Minister’s Office in Jerusalem, January 16, 2023. (Israel Defense Forces)
The required powerhouse state commission of inquiry — the body that enjoys the broadest powers under Israeli law, including the right to subpoena witnesses — has been bitterly resisted by Netanyahu, who knows its conclusions and recommendations would likely be devastating for him personally.
The prime minister is not about to heed the departing Halevi’s low-key call for its establishment.
Nor, indeed, will he follow Halevi’s lead in demonstrating what responsibility for the October 7 disaster requires of those who were best placed, and thus failed most absolutely, to prevent it.