Incluo neste blog uma mensagem confidencial, enviada para dois amigos, ambos ex-integrantes de alta cúpula institucional. Para esta publicação, o texto inicialmente telegráfico foi revisado e ampliado para que no futuro, o leitor possa ter a devida contextualização (conto com a possibilidade de ter pelo menos um leitor).
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Caros amigos,
Em outubro de 2018, o candidato Jair Bolsonaro conseguiu derrotar a estupidez de forma surpreendente e eleger-se presidente da República. É um animal político extraordinário. Enxerga as coisas anos antes da maioria (incluo-me no universo de quem enxerga depois).
Para governar, precisaria de uma capacidade de comunicação e agregação extraordinária e uma base cultural sólida. Por estilo e teimosia, ele insiste em não utilizá-las ou simplesmente faltam-lhe ambas.
Ainda assim, chegaria facilmente aos 8 anos, com a previsível reeleição em 2022.
Agora, existe AK e DK. Depois do Koronavirus, a incerteza é a única coisa certa. Basta constatar que, em 25/Mar/2020, as estatísticas apontam cerca de 400.000 contaminados e 20.000 mortos no mundo; e cerca de 2.400 contaminados e 57 mortos no Brasil. Um esclarecimento imprescindível: uso K para ser respeitoso com as siglas AC e DC, do maior ser humano da História; e para muitos o filho de Deus.
O que teríamos pela frente (próximos 3 meses)?
De 20.000 a 200.000 mortos no mundo?
De 200 a 2000 mortos no Brasil?
É terrível porém emblemático asseverar que há otimismo nessas previsões trágicas. Em 1957/58, a gripe asiática causou cerca de um milhão de mortos; e em 1968/69, a gripe Hong Kong também causou aproximadamente um milhão de mortos.
No contexto político, no Brasil, de 30 em 30 anos, tivemos mudanças avassaladoras na conjuntura política:
– 1960 – eleição de Jânio Quadros e posterior renúncia antes de completar um ano de investidura na Presidência da República;
– 1989 – eleição de Fernando Collor de Melo e afastamento da Presidência por processo de impeachment;
– 2018 – eleição de Jair Messias Bolsonaro e, até agora, severos traumas na condução da Presidência, resultantes sobretudo da ausência de “toma lá da cá” (oferta de cargos e verbas orçamentárias, em troca de apoio político) e do combate pertinaz às práticas corruptas.
E agora? Há risco. Antes, era impensável afastar o presidente Bolsonaro. Com o Koronavírus, muita gente está enxergando essa possibilidade! Seria o troco a tantos interesses contrariados, atinentes à recusa de aceitar as práticas políticas do passado, baseadas no “toma lá da cá” e na corrupção.
Às mazelas da atual conjuntura, acrescente-se a indigência de uma relevante parcela dos homens públicos brasileiros. Dentre os onze últimos presidentes da Câmara dos Deputados (a terceira autoridade na linha de sucessão presidencial), à exceção de um único, todos os demais estão enleados em processos na Justiça. Pelo menos a metade dos ministros da Suprema Corte apresentam dúvidas (ou dívidas?) relacionadas com as condições de notório saber e ilibada conduta. Dentre os governadores, acusações são frequentes a uma boa parcela deles — o titular da mais importante unidade da Federação é acusado de forma contundente por um colega político do Ceará (conhecido e notório ex-ministro, ex-parlamentar, ex-governador e ex-candidato a Presidência da República).
Por via de consequência, formular os cenários correlatos é primacial. Em nossa cultura, não se admite a surpresa. Eis os cenários prováveis para o presidente da República:
– C1. Ultrapassar a crise e reeeleger-se em 2022;
– C2. Prosseguir até o final deste mandato e transmitir o cargo em 2022;
– C3. Ser afastado depois de completar 2 anos na Presidência; e
– C4. Ser afastado antes de completar 2 anos na Presidência.
C3 seria possível, sem que o Parlamento mexesse na Carta Magna, de tal sorte que o Vice-Presidente governasse até o final do mandato em 2022?
Na atualidade, temos um George S. Patton? Temos um Olímpio Mourão Filho? Alguém com esse perfil seria necessário para um eventual cenário de quebra institucional?
Era para tratar de um pequeno problema. Acabei delineando alguns problemas essenciais da República em 2020, severamente agravados pelo surgimento da pandemia do Koronavírus, que desencadeou a maior crise da humanidade no atual milênio. Os reflexos para o Brasil ainda não foram devidamente clarificados, mas impactarão os campos sociais, econômicos e políticos de forma imprevista, inimaginável e terrível.
Estas reflexões indicam minhas limitações e minha incapacidade de diagnosticar e jogar luz sobre as sendas conturbadas e surpreendentes que se descortinam.
Não perco de vista as extraordinárias dimensões do Brasil: enorme território, grande população, inquestionáveis riquezas naturais. Claro, é imperioso que se dê prioridade máxima, absoluta e incondicional para a Educação — única maneira de desenvolver, formar e motivar lideranças para a gestão das potencialidades mencionadas e para o enfrentamento de quaisquer traumas, sejam eles políticos ou virais.
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