segunda-feira, 8 de junho de 2020

Valentia e indignação pela metade


O cientista Rogério Cezar de Cerqueira Leite divulgou o tonitruante artigo “Decência” (Folha de São Paulo de 8/Jun/2020), em que faz uma severa crítica ao atual governo. Ele manifesta-se com indignação foram do comum, atribuindo ao governo Federal uma soma de despautérios pouco habitual para alguém com sua relevância. 
O Sr. Leite confessa-se estupefato. Assevera que “garbosos generais [são] rebaixados à condição de mercenários; homens públicos [são] reduzidos à posição de serviçais”.
Atribui a evento do governo a condição de “espetáculo ignóbil, para dizer o menos”.
Menciona “o mercado de votos" e aduz que “o presidente compra o Congresso e o Exército; a moeda é a mesma: cargos, cargos e cargos”.
Por esquecimento, má fé, doença ideológica ou a soma dessas razões, o ilustre articulista ignora que o Brasil ultrapassou 500 dias sem corrupção. Nesse sentido, ele mente e trapaceia no mesmo diapasão.

É terrível ler o artigo de quem [supostamente] seria uma das vozes críveis de nosso maltratado País. Supondo que tudo o que o notável cientista asseverou seja verdade, por que chegamos a essa situação? Por que ele não se declarou pertencente a um universo em que faltam intelectuais e estadistas? Intelectuais para ditar os rumos e estadistas para agirem em direção aos rumos indicados. Se ele fosse o intelectual requerido, o País não chegava onde chegou. Não teria as Dilmas, os Lulas, os Cabrais, os Cunha et al.

Supondo que o diagnóstico do Dr. Leite esteja correto, e tivesse ele, humildade e consciência, diria: “como intelectual, sou um anão, não contribuí para que houvesse uma saída decente para o povo brasileiro; em realidade, sou uma nulidade completa e plena.” As crianças esperam mais de brasileiros que supostamente têm talento e brilhantismo; e encaram com comprometimento suas responsabilidades. Que as universidades — uma delas a que pertence o colunista — melhorem e cumpram o seu papel.

Acrescento ainda ao cientista decente e honesto. Quando o FHC ganhou a reeleição; quando o Lula molhava as calças, acompanhava-se da moça nas viagens internacionais, aparecia alcoolizado em público, gerenciava o Mensalão, arquitetava o Petrolão, adquiria o triplex, acertava com os amigos o sítio em Atibaia, mencionava coisas feias sobre mulheres, gays e negros; quando a Dilma comprou Pasadena, manteve os negócios na Petrobrás, pousou em Lisboa, o sábio reagiu com valentia e indignação?
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[Comentários postados na Folha de São Paulo online de 8/Jun/2020]
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