"O lavrador perspicaz conhece o caminho do arado." Homenagem a Oscar Barboza Souto, antigo lavrador, garimpeiro e comerciante. In Memoriam. |
Nos diálogos telefônicos com o amigo Francisco Gomes de Amorim, ele revelou que havia decidido continuar com a saga de realizar encontros fictícios de escritores que já passaram para o outro mundo. Então aos dois primeiros encontros, ele acrescentaria outros dois, um deles com a versão inicial já finalizada.
Ele asseverou que eu seria uma das “testemunhas” e por isso deveria pensar sobre o assunto, pois estava me enviando o novo texto (terceiro encontro), que só continha escritores de língua portuguesa.
Sentindo-me honrado e privilegiado por interagir com um idoso que, após nove décadas de uma existência plena de realizações em três continentes, continua trabalhando com afinco na arte de pesquisar fontes literárias de muito alto nível e reproduzir com criatividade os ensinamentos colhidos.
Com satisfação, apresentei-lhe a interpretação requerida.
Ilustre amigo Francisco Gomes de Amorim,
Como nos relatos dos Encontros de Escritores anteriores, sua saga inexcedível de busca do saber para a fictícia reunião de uma pequena e expressiva parcela de escritores continua com a sabedoria habitual. O que você chama de “brincadeira” se constitui em exercício fantástico de argúcia e curiosidade intelectual.
Desta feita, com a pesquisa ao longo de 26 séculos, você atingiu o objetivo de nos imergir nos meandros da política, da estratégia, da educação, do direito e da filosofia, basilares alicerces intelectuais de todas as culturas. E adicionalmente conseguiu estimular e motivar a faculdade essencial do ente humano: a arte de pensar, tão necessária e imperiosa nesses dias atuais, em que a complexidade conjuntural tem levado muitos a renunciar à utilização do bom senso, da razão e da lógica, esses fundamentos da citada arte.
Reunir esses personagens e fazê-los dialogar e transmitir aspectos relevantes do que edificaram em suas obras é a “brincadeira” mais séria que alguém possa imaginar.
Inicialmente, é oportuno louvar a feliz escolha do Mosteiro de Suso, localizado na histórica San Millan de Cogolla, em La Rioja, na Espanha, para o encontro dos velhinhos. Afinal, esse conjunto monumental se distingue não apenas pela importância artística e religiosa, mas também e sobretudo pelas virtudes linguísticas e literárias, dado que monges escreveram romances em pré-castelhano e em basco, que se constituíram em berço de algumas obras hispânicas e do próprio basco.
De fato, instigar Sun Tzu e, dentre outros, Hanna Arendt, Vitor Hugo, Schopenhauer, Tolstoi e Shakespeare a desafiarem-se no sentido de proferir, em tão poucas palavras, verdades que impactaram a história é meta descomunal, que de forma apaixonada e brilhante, você está deixando como herança para a posteridade.
Meu caro amigo Amorim, creio que todos aqueles que tiverem a ventura de ler esse seu magistral texto, vivenciarão a oportunidade de perceber quão coerente seu “brincar” é com o que levou para o encontro Rudiard Kipling, isto é, já que “fostes capaz de pensar, sem que a isso só te atirastes, de sonhar, sem fazer dos sonhos teus senhores”, você provou que “tua é a terra com tudo que existe no mundo; e o que é mais, tu és um homem, ó meu filho”.
Kipling saiu do encontro sorrindo pela certeza da inexcedível riqueza que esse contato possibilita; e torcendo para ser escolhido para o próximo –– ele tinha certeza de que seu poema é consagrado entre os leitores habituais, porém sequer imaginava que seus congêneres iriam manifestar tamanha satisfação em relê-lo e apreciá-lo de forma efusiva.
Um fraterno abraço,
ARS
1ª. Testemunha
Brasília, 31 de março de 2024 –– data da celebração da liberdade, da verdade e da ética.
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