segunda-feira, 19 de junho de 2023

Rondon – Um Herói Lendário

A propósito do lançamento no Brasil e nos Estados Unidos da biografia do mato-grossense Cândido Mariano da Silva Rondon, pelo escritor Larry Rohter, convém relembrar e prantear a figura do insigne cidadão, soldado e herói brasileiro. 

Rondon integra o imprescindível e reduzido universo daqueles que colocaram sua vida em prol da construção da nacionalidade e da valorização do ser humano — universo em que se destacam, dentre outros, Caxias, Ricardo Franco, Rio Branco, Rui Barbosa, Castelo Branco e Nestor Silva (este, especialmente, por honrar o supremo juramento de colocar a própria vida em risco, para o cumprimento da missão; e por via de consequência, conquistar a difícil e rara promoção ao oficialato por bravura, no campo de batalha, quando integrante da FEB, na Segunda Guerra Mundial, na Itália.)

Rondon tem sido homenageado de forma ampla e merecedora. Ele é considerado o Pai das Telecomunicações Brasileiras e o dia 5 de maio, em que se celebra seu nascimento, é o Dia Nacional das Telecomunicações.

Ele teve seu nome escrito em letras de ouro no maciço Livro da Sociedade Geográfica de Nova Iorque. Em 1918, recebeu a Medalha Centenário de David Livingstone da Sociedade Geográfica Americana. Em 1957, o The Explorer Club, de Nova Iorque, o indicou para o prêmio Nobel da Paz.

Em 1918, o povoado de Rio Vermelho, do estado de Mato Grosso, foi renomeado para Rondonópolis em sua homenagem. Em 1956, o Território Federal do Guaporé passou a se chamar Território Federal de Rondônia. Em 1981, esse território foi transformado em estado com o nome de Rondônia.

Em 5 de maio de 1955, ao completar 90 anos, recebeu o título de Marechal Honorário do Exército Brasileiro, concedido pelo Congresso Nacional. Em 1963, o Exército Brasileiro o designou Patrono da Arma de Comunicações.

Em 1968, foi iniciado o Projeto Rondon, com o objetivo de proporcionar aos alunos de universidades o conhecimento da realidade brasileira e a participação no processo de desenvolvimento.

Em 2015, o Governo Federal determinou a inscrição de Rondon no Livro de Heróis da Pátria, depositado no Panteão da Pátria, em Brasília.

Em 2019, o escritor Larry Rohter, correspondente do jornal New York Times no Brasil, lançou o livro “Rondon – Uma Biografia”, a mais completa obra escrita sobre esse insigne brasileiro.

Em 2023, com o título “A Biography Sheds Light on na Unknown Brazilian Hero” (“Uma Biografia Lança Luzes em um Herói Brasileiro Desconhecido”), o jornal New York Times noticiou o lançamento, nos Estados Unidos, da versão em inglês da biografia escrita por Rohter, com o título “Into the Amazon – The Life of Candido Rondon”

Como sugestão motivadora, destaco dois parágrafos do livro de Rohter. O primeiro, constante da apresentação da obra na orelha da capa: 

“Seja qual for o parâmetro — quantidade de expedições, distâncias vencidas, grau de dificuldade, informações coletadas —, Cândido Mariano da Silva Rondon é um dos maiores exploradores da história mundial, com uma lista de realizações que iguala ou supera a de figuras como Ernest Shackleton, David Livingstone, Robert Peary e Sir Richard Francis Burton.” [1]  [2]  [3]  [4]

O outro parágrafo, atinente à expedição de 1908, na qual Rondon teve febre alta intermitente — resultante de malária — ao longo de mais de um mês: 

“E assim foram eles. Mas Tanajura [o médico da comitiva], que provinha de uma tradicional família da Bahia e viria a ser um político de sucesso no Amazonas e um dos melhores amigos de Rondon, percebeu que o colega continuava doente. Ele insistiu que Rondon viajasse montado em um boi, em vez de caminhar, de modo a poupar energia e dar uma chance à recuperação. No início, relutante, Rondon aquiesceu, mas como todos seguiam a pé — ‘a cada metro, meu amor-próprio diminuía mais’ [registrou o herói em seu diário] —, após alguns quilômetros, Rondon apeou, ignorando as objeções do médico e dizendo que ‘é meu dever dar o exemplo’ mesmo que, reconhecia ele, ‘eu fique doente como o inferno’.” 

Do artigo do New York Times, atinente ao lançamento do livro nos Estados Unidos, convém destacar:

“Quando Rondon tinha 91 anos, formou-se uma coalizão para indicá-lo ao Prêmio Nobel da Paz de 1957. Um argumento poderia facilmente ser feito: a defesa incansável de Rondon lhe renderia o apelido de ‘o Gandhi do Brasil’. Décadas antes, ninguém menos que Albert Einstein o havia recomendado ao comitê do Nobel. Porém, o comitê de indicação priorizou o trabalho exploratório de Rondon em detrimento de seus esforços humanitários, ocasionando dessa forma a concessão do prêmio para o estadista canadense Lester Bowles Pearson.”


A obra de Rohter traz para a atual conjuntura mundial o monumental e épico trabalho de Rondon, podendo-se inferir que se trata de lembrança e alerta no sentido de que um país com as dimensões do Brasil jamais pode prescindir de personagens com vocação para empreendimento, dimensão de estadista e estatura moral que o conduzam para a vanguarda, sob a égide dos objetivos fundamentais do ser humano, que são atingíveis por intermédio da democracia, alicerçada na liberdade, na verdade, na coragem e na ética e condutora da conquista da paz e da harmonia.

 


Testemunho do Coronel SAINT-CLAIR (Neto)

 

Incluo, a posteriori, o valioso testemunho do Coronel SAINT-CLAIR Peixoto Paes Leme Neto, atinente a seu avô, o bravo Coronel SAINT-CLAIR Peixoto Paes Leme, expedicionário da FEB, na Segunda Guerra Mundial, e integrante de equipe do Rondon, no lançamento de rede telegráfica. 

De forma espontânea e despretensiosa, o fraterno amigo SAINT-CLAIR (integrante da Turma Marechal Mascarenhas de Moraes, AMAN, 1972) enviou-me um áudio com a seguinte mensagem:

Meu caro amigo!

Apesar de ser artilheiro, o meu avô teve a oportunidade de participar, durante três anos, de um dos grupos de construção de linhas telegráficas com o Marechal Rondon. Para ele, Rondon sempre foi uma pessoa acima de tudo, de tal sorte que ele se referia à trindade “Deus, Pátria e o Marechal Rondon”, como forma de expressar a admiração e o respeito por esse valoroso cidadão do mundo.

Por conta disso, passado o tempo — não me lembro se meu avô era Tenente-Coronel ou Coronel; é certo que ele já tinha voltado da Itália, onde integrara a FEB, na Segunda Guerra Mundial —, ocorreu um enorme problema envolvendo o insigne Rondon. 

O meu avô estava servindo no Palácio Duque de Caxias — ele serviu lá por pouco tempo — e num daqueles dias, ele passou pela Seção de Inativos e Pensionistas (SIP), que ficava no interior do Palácio. Aí, ele viu o Marechal Rondon sentado lá no fundo, esperando. 

Por causa da desconsideração com Rondon — o Marechal lá sentado, esperando e o pessoal conversando, ‘batendo papo’ e pouco ligando para o velhinho —, ele quase pirou, armou uma confusão e jogou areia no ventilador, o que teve grave consequência, pois resultou na prisão do Chefe da SIP. Assim, a inaceitável desconsideração com um herói no crepúsculo de sua exemplar existência foi remediada.

É rapaz, realmente, o Marechal Rondon foi uma figura absolutamente lendária. Ele devia ser realmente uma pessoa fora de todas as curvas. Apesar de não o ter conhecido, pelas declarações de meu avô — que teve a honra de trabalhar com ele — eu ratifico sua homenagem! Meus parabéns! Forte abraço! 



Proposta para o Prêmio Nobel da Paz 


Alertado pelo Dr. Anderson Correia, via WhatsApp, acrescento também cópia da carta de Albert Einstein propondo Rondon para o Prêmio Nobel da Paz.


 

  

Livro lançado no Brasil, em 2019, por Larry Rohter,
correspondente do jornal New York Times em nosso País.


Livro lançado nos Estados Unidos em 2023, por Larry Rohter,
correspondente do New York Times no Brasil.
 

 

Grandes exploradores da história, com os quais Rondon foi comparado pelo escritor Larry Rohter

[1] Ernest Henry Shackleton (Kilkeacondado de Kildare, 15/02/1874 — Geórgia do Sul, 15/01/1922) foi um explorador polar que liderou três expedições britânicas à Antártida, e uma das principais figuras do período conhecido como Idade Heroica da Exploração da Antártida.

[2] David Livingstone (Blantyre, Escócia,19/03/1813 – Aldeia do Chefe Chitambo, Rodésia do Nordeste, 01/03/1873) foi um missionário e explorador britânico que se tornou famoso por ter sido um dos primeiros europeus a terem explorado o interior da África. Ao longo de sua vida, David Livingstone empreendeu diversas expedições missionárias pelo interior do continente africano, sendo que em muitas delas, Livingstone foi o primeiro homem branco a ter visitado determinadas regiões da África.

[3] Robert Edwin Peary (Cresson, 06/05/1856 – Washington, DC, 20/02/1920) foi um explorador polar norte-americano conhecido pela alegação de ter sido o primeiro homem a atingir o Polo Norte geográfico em 1909.

[4] Richard Francis Burton foi escritor, geógrafo, antropólogo, explorador, agente secreto e diplomata britânico. Participou de explorações e aventuras como agente e estudioso na Ásia e África. É uma das personalidades mais extraordinárias e fascinantes do século XIX. Falava 29 idiomas e vários dialetos e estudou os usos e costumes de povos asiáticos e africanos, sendo pioneiro em estudos etnológicos.

 

 

Fontes

-> Rondon – Uma Biografia – De Larry Rohter, Rio de Janeiro, 2019.

-> A Biography Sheds Light on an Unknown Brazilian Hero – By Rachel Slade – New Yok Times – June 2nd, 2023.

-* https://pt.wikipedia.org/wiki/Cândido_Rondon, consulta em 18/06/2023, às 11:00 h.

-* https://pt.wikipedia.org/wiki/Ernest_Henry_Shackleton, consulta em 19/06/2023, às 15:03 h.

-* https://pt.wikipedia.org/wiki/África, consulta em 19/03/2023, às 15:40 h.

-* https://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_Peary, consulta em 19/03/2023, às 15:43 h.

-* https://pt.wikipedia.org/wiki/Richard_Francis_Burton, consulta em 19/03/2023, às 15:50 h.

 

 

 

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