sexta-feira, 9 de junho de 2023

Narrativa e irresponsabilidade — recepção a Maduro

Em face do desmantelamento institucional, das restrições à liberdade e até mesmo das perversidades contra o povo venezuelano, o governo do presidente Nicolás Maduro não é reconhecido por 51 países no mundo. Ademais, por diversos indícios do envolvimento do Sr. Maduro no tráfico internacional de drogas, a justiça dos Estados Unidos oferece a recompensa de 15 milhões de dólares para quem oferecer provas dessa criminalidade que tanto impacta a juventude americana.

O presidente Luís Lula da Silva convidou o Sr. Maduro para participar de cúpula sul-americana em Brasília e o recebeu com honras de Chefe de Estado. No discurso de boas-vindas, o Sr. Lula declarou que as acusações contra o governo do Sr. Maduro não passam de ‘narrativas’. 

Em conversa com jornalistas, o presidente Gabriel Boric, do Chile — esquerdista que apoiou o Sr. Lula durante a campanha presidencial — refutou o presidente brasileiro declarando que "não é uma construção

narrativa [o que ocorre na Venezuela], é uma realidade. É séria, e tive a oportunidade de vê-la nos olhos e na dor de centenas de milhares de venezuelanos que vêm à nossa pátria e que exigem, também, uma posição firme e clara para que os direitos humanos sejam respeitados sempre e em todos os lugares, independentemente da cor política do governante de turno".

Afinal, que narrativas estão sendo asseveradas de forma recorrente?

 

Narrativa contra a Venezuela? 

Cerca de 7 milhões de venezuelanos fugidos para o exterior é narrativa? 

Mais de 70% de pobres num dos países mais ricos do mundo em petróleo é narrativa? 

A falta de liberdade na Venezuela — essa circunstância venerada pelos socialistas — é narrativa? 

As perseguições e mortes de opositores venezuelanos é narrativa? 

A nomeação de juízes da Suprema Corte venezuelana sem notório saber e ilibada conduta é narrativa? 

A desmoralização do Parlamento venezuelano é narrativa? 

A devolução de bilhões de reais para os cofres públicos, em face de corrupção no Brasil, é narrativa? 

A acusação de posse do triplex e do sítio é narrativa? 

A acusação do Palocci sobre a propina de centenas de milhões é narrativa? 

A condenação por corrupção e o encarceramento por mais de 500 dias é narrativa?

Ex-presidiário — como Hitler, Stalin e Fidel Castro — tornar-se mandatário de seu país é narrativa?

Claro, para uma parcela de gente comprometida com a atual realidade brasileira, tudo isso é piada, narrativa, falsidade!


Nesse contexto, seria o Sr. Boric um louco ou  irresponsável?


Uma leitora da Folha de São Paulo incomodou-se com meu comentário relativo à inaceitável recepção que o governo ofereceu ao Sr. Maduro. Ela postou texto pleno de incongruências, contrapondo-se à minha visão, incluindo acusações à família do Bolsonaro “por ter ido mais de 100 vezes à Arábia, ... uma ditadura comunista”.

 

Pensar é a faculdade fundamental do ser humano. Ela foi desenvolvida em cerca de 10 milhões de anos.

Tem gente que regrediu em cerca de 200 anos e passou a apoiar Adolf Hitler e/ou Joseph Stalin — e o que é agravante: não consegue enxergar as diferenças desenvolvidas com o passar dos tempos mencionados; além disso, mistura Venezuela com Arábia, apenas pelo fato de que a Venezuela tem mais petróleo do que a Arábia, sem perceber que mais de 70% dos venezuelanos passam fome e os árabes, igualmente ditadores, alimentam todas as pessoas que ocupam seu território.

É oportuno declarar enfaticamente que a faculdade de pensar impede que eu tenha bandidos favoritos.

Simples com a brisa que alivia e o sorriso de uma criança que enternece.

Isso é diálogo: nenhuma agressão nem ofensa, apenas fatos e argumentos.

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[Divulgado no Facebook da Folha de São Paulo, em 9/Jun/2023]

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