Valho-me do texto de um coronel de Cavalaria, portador da vocação pela amizade e pelo agradecimento — divulgado com justiça pelo amigo Nestor [*] —, para prestar esta homenagem ao bravo Lacerda.
O então Tenente Lacerda foi meu instrutor no Curso de Paraquedismo, em 1975, e no Curso de Mestre de Salto, em 1976, ambos realizados no Centro de Instrução Paraquedista General Penha Brasil, no Rio de Janeiro.
Como formador de combatentes de escol, ele navegava sempre no patamar da excelência e era um dos mais rigorosos dentre seus pares, sem jamais abdicar da polidez no trato e nas exigências requeridas para levar os instruendos ao limite de suas possibilidades físicas e psicológicas.
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Cap Lacerda
Cel Cav Carlos Alberto Bastos Moreira
Era uma pessoa simples, afetuosa e forte.
Foi 3° sargento no 6o. Regimento de Infantaria (6o. RI), em Caçapava-SP. Entrou na AMAN pelo “aviso" — uma portaria que permitia aos primeiros colocados nos cursos colegiais da época, solicitarem matrícula na AMAN.
O sargento Lacerda fazia curso médio em Minas Gerais e seu Capitão, comandante de companhia, que o tinha em alto conceito, o estimulou a requerer matrícula na AMAN. Ele o fez.
A Academia tinha, na época, o chamado "carro de fogo". O cadete que obtivesse média inferior a 5, no exame de meio de ano, no ensino universitário, seria desligado e não receberia o espadim. Muitos o foram.
Lacerda estudava noite e dia, até que conseguiu se equiparar aos bem preparados cadetes egressos da Escola Preparatória de Cadetes, dos Colégios Militares e os civis que tiveram êxito no difícil e concorrido concurso para a emblemátia AMAN.
Lacerda sobreviveu ao “carro de fogo" e recebeu seu espadim. Conseguiu tudo que conquistou graças a seu valor.
Como oficial, fez parte do universo daqueles que combateram silenciosamente nas Selvas, enquanto o restante do país dormia ingenuamente em paz.
Meu tributo aquele de quem fui amigo em reciprocidade leal. Amizade essa que nem mesmo seguindo por Armas diferentes, na AMAN, se enfraqueceu.
Parece que eu sempre tinha percebido que raros momentos estariam destinados a esse cadete e, mais tarde, valoroso oficial de Infantaria.
O cadete de Infantaria 996, Lacerda, da turma de 1970, da AMAN. O Tenente de Infantaria Lacerda, paraquedista e Comandos, que em 72/73, no Araguaia, com sua patrulha, finalmente topou de frente com toda cúpula da insidiosa guerrilha comunista.
Era dia de 25 de dezembro. Dia de Natal.
Ja faziam mais de dois dias que o "comando" de Lacerda seguia as pistas.
Finalmente ele se deparou com a comunalha reunida. Dois grupos de guerrilha maoísta do PC do B, em torno de 20 elementos. Lacerda cerrou sobre eles, em profundo silêncio, com sua tropa finissimamente adestrada por ele. Nem pássaros espantavam....
Colocou a patrulha na posição "martelo-bigorna", e ... como todo chefe de "comandos" no caso de emboscar, determinou:
“— O primeiro tiro é meu". Foi.
“— Feliz Natal, filhos da putas", foi o brado que acompanhou esse seu primeiro disparo.
Depois desse, o inferno de fogo desabou sobre a comunalha que brincava de Guevara. A "debacle" da guerrilha do Araguaia estava consolidada, após essa vigorosa ação de Lacerda. Ele detonou os cpf de toda cúpula.
Ainda tentaram combater mais um tempo, mas aí era só mesmo Genoino, entregando os companheiros, para salvar a pele.
O Brasil dormia. Mas os cães de guerra, não!
Esses comunas pretendiam criar uma área liberada, à qual já seria reconhecida pela China e pela Albânia, como República Independente do Araguaia.
Parece que o Exército Brasileiro não concordou com a ideia.
Lacerda já morreu. Foi anos depois, num acidente de instrução, como capitão, instrutor de cadetes. Morreu jovem!
Até hoje eu sempre penso nesse meu amigo. Creio que um dos poucos galardões que tive nessa vida foi o de sempre escolher boas amizades.
A área de instrução da Siesp, a AIEsp, leva seu nome: Cap LACERDA. Uma justa homenagem da Academia Militar das Agulhas Negras ao Capitão Lacerda.
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Acrescentaria ao texto — oriundo da camaradagem e amizade do Cel Bastos Moreira pelo homenageado — alguns aspectos atinentes à hercúlea missão cumprida pelo Lacerda.
Os chineses riem muito, mas não brincam. Por essa razão, eles foram uma das fontes de técnicas e metodologias que uma minoria de brasileiros utilizaram para tentar implantar no Brasil, a partir de Chambioá, o socialismo real. Quais eram os riscos e que inflexão a história pátria deve ao Lacerda, a seus comandados e a seus superiores?
Os chineses não brincam, agem e passam a perna nos desavisados. Os anais da História registram que Mao Tse Tung implantou o socialismo real (ou marxismo-leninismo ou simplesmente comunismo) na China, ao custo do assassinato de mais 60 milhões de chineses, sendo que cerca de 30 milhões de mortes foram decorrentes da fome, para que os alimentos produzidos fossem exportados para a União Soviética e Europa Oriental em pagamento de dívidas resultantes de acordos que permitiriam ao ditador Mao satisfazer seus sonhos delirantes e criminosos de grandeza.
É imperioso relembrar que ocidentais ingênuos, acólitos de má fé ou portadores de doença infectocontagiosa ideológica apoiaram e até defenderam os chineses, negando que tenha havido as mortes, em especial pela fome.
É razoável inferir os riscos que o Brasil esteve submetido se a guerrilha iniciada no sul do Estado do Pará tivesse triunfado: a possível divisão do País e submissão de pelo menos uma metade do povo brasileiro a uma ditadura que se mostrou sangrenta, nefasta e hedionda, em todos os países onde teve êxito.
A História não é construída por condicionais. “Se ocorresse isso ou aquilo” não confere relevância ou sentido à evolução de qualquer País ou comunidade. Entretanto, dar crédito e reconhecimento, e conferir gratidão aos responsáveis por impedir tragédias criminosas é imperioso dever de justiça. Nesse contexto, o Capitão Lacerda tem assegurado seu lugar na história pátria por sua bravura, ao contribuir para que os guerrilheiros comunistas fossem neutralizados e o País prosseguisse em sua opção e vocação por integridade, liberdade e democracia.
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[*] Indaguei ao amigo Nestor se o texto do Cel Bastos Moreira era público, ou seja, se não havia impedimento para a divulgação neste blog.
Transcrevo a resposta do Nestor: “Sem problema, os textos do Bastos Moreira são públicos e ele aprova a divulgação pelos amigos de farda”.
Portanto, cabe-me o agradecimento a ambos por permitir que eu me valha do texto para prestar minha modesta homenagem ao herói Lacerda.
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Em 2012, transcrevi um bom texto do Cel Lício, contando o episódio do Natal de 1974. Também relata o trágico acidente que provocou as mortes do Major Hallier e do Cap Lacerda.
ResponderExcluirhttps://mujahdincucaracha.blogspot.com/2012/02/para-nao-cair-no-esquecimento-o-combate.html