No sertão agreste, dois caboclos que estavam grudados no cabo do guatambu, puxando a enxada, interromperam o trabalho, dirigiram-se para a sombra de uma árvore frondosa, para aliviar a fadiga do esforço físico, bem como para enxugar o suor da face e fumar um palheiro. Como de hábito, trocaram ideias sobre a conjuntura.
— Cumpadi, acho que a bibliografia da escolinha está muito desatualizada. Pois não é de ver que não encontrei explicação para a descontinuidade da evolução humana. Se houve antepassados como o australoptecus, o homo habilis, o homo erectus e o homo sapiens, e se a transformação fosse contínua, hoje existiriam exemplares desses ancestrais em sucessiva evolução.
— Cumpadi, é aí que você se engana! Na atualidade, existem indivíduos nesses estágios de mutações históricas.
— Como assim Cumpadi? Você está com o pensamento meio enviesado!
— Veja bem, existe uma espécie ancestral que a maior parte da literatura ignora. Trata-se da espécie dos corruPTus. Os políticos petistas são australoPTecus corruPTus, os psolistas são australoPSOLtecus corruPTus e os pecebistas são australoPCBistas corruPTus.
— Que interessante! A gente sabe que existem corruptos, mas eu não imaginava que eles pertencessem ao universo da ancestralidade.
— Dúvidas não há, gente na espécie corruPTus há! Ocorre que cada ente humano tem cerca de 86 bilhões de neurônios no cérebro. Já o cérebro dos integrantes da espécie dos corruPTus evoluiu para 80 bilhões de neurônios — esse lapso, embora menor que 8%, é dramático e crítico.
— O que é isso Cumpadi? Como é mesmo?
— Eh!... E com um agravante, no ente humano há 12.000 neurônios com especificidades cruciais: 6.000 são associados com a memória do passado e os outros 6.000 são associados com a concepção do futuro. Nos corruPTus, esses neurônios se conectaram às avessas, de tal sorte que eles se lembram de um passado conspurcado, agem no presente de forma pervertida e só são capazes de construir um futuro vilipendiado.
— Que coisa fantástica, Cumpadi. Sua identificação da realidade surpreende e seduz!
— Ah Cumpadi, isso não é tudo! Nenhum intelectual se apercebeu da existência de uma espécie ancestral anterior aos australoPTecus. A rigor, existiu a espécie dos estrumerius, integrada por 6 subespécies: a naziPTecus estrumerius, a fasciPTecus estrumerius, a komunoPTecus estrumerius, a lulantaPTecus estrumerius, a dilmantaPTecus estrumerius e a janjantaPTecus estrumerius.
— Tudo bem Cumpadi, já deu para perceber que você ingressou de cabeça no mundo antropológico. Fiquemos em nossa conjuntura desastrosa. Como se explica que tem gente que vota em candidato integrante de subespécie ancestral?
— É simples! Basta comunicação social plena de mentiras, promessas fictícias, acusações falsas contra os oponentes e nefasta capacidade de se valer da boa vontade e demais virtudes dos cidadãos para enganá-los de forma inexcedível. Os integrantes da espécie corruPTus são incapazes, incompetentes e desonestos; ademais, houve uma transformação que lhes permite pensar e agir de forma hedionda e inexplicável.
— Será que isso é mesmo possível?
— Claro, Cumpadi! Porém, fica um alerta! Os três primeiros tipos de estrumerius são extremamente perigosos. Eles costumam prender quem se vale da liberdade de expressão para tratar da história, da verdade e da ética. Cuidado, portanto!
— Sim, Cumpadi, mas, pensando bem, nós não fizemos qualquer acusação nem mencionamos qualquer ser humano, não importando a qual subespécie pertença. Tratamos apenas de fatos ancestrais, bem como de teses e conceitos consentâneos.
— Você tem plena razão. Se alguém quiser nos acusar de qualquer delito, trata-se de estuPTdez inequívoca e plena. E, nesse caso, o estúPTdo se denunciará voluntariamente. É provável que o cabra tenha um átimo de lucidez e se negue à ‘autoincriminação’.
05/05/2025
Antropologus Convictus
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