O artigo Sem impeachment, o que vem pela frente é um Bolsonaro sem juízo e sem rumo, do Josias de Souza sinaliza que “será um suplício acompanhar cada manhã do ocaso de um presidente cuja precariedade é ilimitada”. Já o artigo O significado no não, do Denis Lerrer Rosenfeld é anunciado com a asserção de “que não deixa de ser algo indesejado que o não a Bolsonaro volte a ser um sim ao petismo”. Os dois articulistas habitualmente se posicionam em oposição ao espectro político-midiático esquerdista.
As duas análises são contundentes em apontar as falhas do governo Bolsonaro e me fizeram lembrar uma conversa de maio de 2018.
Éramos meia dúzia de pessoas inseridas no recém iniciado processo de campanha. Quaisquer que fossem as limitações de cada um, pensávamos em integridade, comprometimento com a Nação e responsabilidade em relação às futuras gerações.
Preliminarmente, vale mencionar que para comandar um Batalhão de Infantaria ou uma Comissão Militar de Obras — administrações nanicas, se comparadas com o governo de um estado ou do País —, é preciso uma história de aprendizado e experiência, com sólida formação, sobretudo no trabalho de estado-maior (quer dizer, na gestão de pessoal e de processos).
Num momento de questionamentos sobre a qualificação intelectual e gerencial daquele para quem começávamos a nos comprometer, em 2018, o grupo foi desafiado: alguém propôs que identificássemos um candidato alternativo para ganhar a eleição presidencial. Ademais, foi proposto que a análise começasse com os presentes em volta da mesa, e depois se expandisse para políticos, empresários e outros.
Missão impossível! Depois de equilibrados debates, a conclusão foi que não havia ninguém com possibilidade de vitória. Então, o grupo seguiu com o único capaz de quebrar a corrente.
Com essas considerações, asseguro que é possível concordar com alguns dentre os juízos emitidos pelos articulistas Josias S. e Denis L. R.
Contudo, ... avaliemos virtudes e falhas do atual governo, objetivando apontar as possibilidades para 2022.
[1] Aspectos virtuosos do atual governo
Há a avaliar o que se segue (aponto aspectos do jeito que me vem à cabeça; claro, precisaria estruturá-los devidamente):
(i) A esquerda foi varrida do poder em 2018 e deve ser considerado objetivo inarredável derrotá-la sempre; isso significa derrotar a corrupção, a degradação de valores e quaisquer prejuízos para a liberdade, verdade, coragem e ética; por óbvio, para a família e para a propriedade;
Por imperioso e por relevância, o governo atual tem atuado em favor da relevância das Forças Armadas — berço da nacionalidade (em Guararapes, no século XVII); da integridade territorial (pela ação de Caxias, no século XIX, em São Paulo, Bahia, Maranhão, Rio Grande do Sul e Paraguai); da liberdade (na Itália em 1945 e no Brasil, em 1937 e 1964); e ator fundamental em todas as crises nacionais das últimas décadas.
(ii) A pandemia agravou o que era difícil; se não fosse a pandemia, o País estaria crescendo (crescimento real) — agora, curiosamente, há cerca de 50 milhões de brasileiros que estão sendo beneficiados diante da fome trazida ou agravada pela crise sanitária;
(iii) Nessa gestão da pandemia, houve erros e acertos — não pode ser ignorado: a ordem de grandeza das mortes por Covid no Brasil (212 milhões de hab.) se assemelha à ordem de grandeza das mortes nos 4 países mais desenvolvidos do mundo e nos 3 hispano-americanos mais relevantes;
Enfatize-se: o Brasil tem número de mortes por Covid similar ao dos Estados Unidos, com 340 milhões de habitantes; da soma Alemanha + Reino Unido + França, com 240 milhões de habitantes; e da soma México + Colômbia + Argentina, com 222 milhões de habitantes. A vacinação no Brasil está em nível compatível com os países que mais vacinaram no mundo (exceto Estados Unidos e Reino Unido).
(iv) A corrupção institucional foi reduzida a níveis mínimos;
(v) A infraestrutura está caminhando, especialmente, no Nordeste — com ênfase para água, rodovia e ferrovia;
(vi) A Agricultura, por suas próprias pernas, vai muito bem;
(vii) A suprema indigência do poder judiciário, a falsidade potencializada dos políticos e a parcialidade grosseira da mídia e de demais formadores de opinião são fatores adversos — entretanto, quanto mais inverdade e falsidade melhor para o presidente;
(viii) Relembrando as saídas do Jânio, do Collor e da Dilma, as condições que os levaram a sair não se repetem na atualidade;
(ix) As manifestações públicas da oposição são sempre acompanhadas de distúrbios;
(x) A indigente e ínfima Suprema Corte soltou o ex-honesto, ex-corrupto, agora ex-condenado e ex-presidiário, impedindo as tratativas para o surgimento de uma candidatura de consenso para enfrentar o presidente — sou a favor do presidente, mas o surgimento de uma candidatura oposicionista de alto nível é o mínimo que se espera em um país democrático relevante;
(xi) A recorrente falsidade das pesquisas de opinião — fiz o que chamei de meta-análise: quando o Estadão noticiou que o IPEC (ex-IBOPE) dava 49% em favor do Lula e da ordem de 23% em favor do Bolsonaro, 437 leitores opinaram (e uns 4.000 pressionaram “Respeitar” (“Like”); li todos os comentários divulgados pelo jornal e levantei a tendência, concluindo que quase 200 eram em favor do Bolsonaro; e o restante dividindo-se entre o Lula e uma 3ª. via — a falsidade da pesquisa do IPEC ficou cristalina;
(xii) A oposição pura e simples ao presidente configura o abandono e a renúncia aos graves problemas nacionais — quer dizer, só existe o problema Bolsonaro; mas, como efeito colateral, ele jamais sai de cena e ninguém mais entra em cena;
(xiii) A atuação dos hospitais vinculados (associados ou subordinados ou que quer que seja) às universidades foi associada com a correção gerencial sob a égide da EBSERH;
(xiv) O assessoramento da Presidência da República pelos órgãos de informação foi conduzido aos elevados interesses da sociedade e da Nação, com a ressalva que esse assessoramento pode ou não ser aceito, assimilado e aproveitado pelo presidente;
A esse respeito convém lembrar do livro “The Spymasters (How the CIA Directors Shape History and the Future)”, lançado por Chris Whpple em 2020. O livro apresenta a interação entre os Diretores da CIA e todos os presidentes americanos, de Lindon Johnson a Donald Trump, quer dizer de 1963 a 2020. Sob esse viés de Inteligência, o livro trata de política interna e externa dos Estados Unidos.
Essa obra deveria ser objeto de estudo por todos os alunos dos cursos de Inteligência e por todos os políticos aspirantes à Presidência da República.
Convém ressaltar, há presidentes que ouvem e aproveitam o assessoramento de Inteligência; outros há que o ignoram.
(xv) ............
[2] Oportunidades de melhorias no atual governo
Quanto às falhas do governo, aponto-as (reconhecendo minhas próprias falhas, tento não me submeter à imunização cognitiva e assim perder a faculdade de enxergar, ouvir, refletir e pensar):
(i) Comunicação Social — potencializa os demais insucessos e neutraliza os principais êxitos — é a falha mais relevante no curto prazo e médio prazo;
(ii) O problema familiar é um caso à parte. Concordo com o caboclo que, perguntado, se eleito mandatário, o que faria com os filhos; ele respondeu: “Eu os enviaria para Dubai e só chamaria de volta no último dia de governo”;
Ressalva! Os problemas dos filhos do atual presidente são café pequeno perto do barril de sujeira dos filhos do prócer petista que o antecedeu. Algo nesse sentido, vale também em relação aos supostos maus modos do presidente, se comparado com o que o ex-presidiário petista fazia (aparecer publicamente com a roupa com urina à mostra) e falava (como as declarações depreciativas em relação às mulheres, aos negros e aos homossexuais).
Ademais, não dá para comparar o cenário atual com os bons modos do FHC — de que adiantam bons modos se, considerarmos as ações espúrias para a conquista da reeleição, as tratativas para que o sucessor não fosse impedido e a condescendência com a criação do Foro de São Paulo?)
(iii) O descaso com Educação, a falha mais relevante e terrível para o médio e longo prazos e que agrega a possibilidade de manter o país na condição de emergente desorganizado e até mesmo desrespeitado;
(iv) A indigência de gestão ambiental com terríveis consequências para a questão amazônica;
(v) A operância tortuosa em política externa, ...
(vi) .................
[3] Inferências
Há mais coisas a considerar tanto no sentido positivo quanto no negativo, entretanto, o que foi colocado nesta análise já permite passar às seguintes inferências:
(i) Lamentavelmente, a política brasileira foi conduzida para a polarização entre Bolsonaro e Lula, com graves reflexos de divisão dos brasileiros — divisão essa requerida, motivada e potencializada pela maior crise social, política e moral da história, isto é, o grande saldo das administrações esquerdistas;
(ii) Não há possibilidade nem tempo para o surgimento de uma alternativa política com possibilidade de êxito em 2022;
(iii) Para a oposição, com o cenário de hoje, restam três alternativas até 2022: impeachment, fraude ou violência;
(iv) O impeachment é improvável porque as 4 condições não se materializam: um crime político (ou gerencial ou eleitoral), uma grave crise econômica, uma liderança forte para liderar o processo e o povo nas ruas;
(v) A fraude é possível, especialmente, se a publicidade e auditagem do voto não for aprovada — nos Estados Unidos, há grande probabilidade de ter havido fraude;
(vi) A violência tentada em Juiz de Fora, em 2018, não funcionou; porém, agora não pode ser descartada;
(vii) Se a eleição fosse hoje, o Bolsonaro teria grande chance de ser reeleito; e mais, não é tão provável que essa situação mude até 2022;
(viii) Não esqueço que, segundo um mineiro esperto, política é igual a nuvem; você olha para o chão, logo depois, volta a olhar o céu; e aí, o cenário já mudou completamente.
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