Vai ser lançado ainda no primeiro semestre, o filme “Radioativo” (“Radioactive”), que estreou como a Gala da Noite de Encerramento no Festival Internacional de Cinema de Toronto de 2019.
A protagonista do filme, cientista polonesa naturalizada francesa, Marie Curie, é o único ser humano que ganhou dois prêmios Nobel em categorias distintas da Ciência [1]: o primeiro de Física, em 1903, em parceria com seu marido Pierre Curie e com Henri Becquerel, "em reconhecimento aos extraordinários resultados obtidos por suas investigações conjuntas sobre os fenômenos da radiação"; e o segundo de Química, em 1911, “em reconhecimento pelos seus serviços para o avanço da química, com o descobrimento dos elementos rádio e polônio, o isolamento do rádio e o estudo da natureza dos compostos deste elemento”.
A família Curie é detentora de cinco prêmios Nobel: de Física e Química, dela própria, Marie Curie; de Física, do esposo Pierre Curie, em parceria com ela; e ainda de Química, de sua filha, Irène Joliot-Curie, em parceria com o marido, Frédéric Joliot-Curie.
Nesse sentido, pode-se asseverar que houve contribuição de Marie Curie para o desenvolvimento nuclear do século XX e particularmente da bomba atômica, já que a descoberta da radioatividade permitiu que, em 1938, Lisa Meitner, Otto Hahn e Fritz Strasmann descobrissem o processo de fissão nuclear [2] a partir do qual alemães, americanos, soviéticos, franceses, britânicos e até chineses empreenderam uma intensa corrida para chegar ao artefato atômico [3].
É significativo que Marie Curie tenha morrido de leucemia, em 1934, aos 66 anos, em um sanatório na França. Sua doença foi causada pela exposição radioativa porque ela portava, nos bolsos, substâncias de rádio utilizadas em seus trabalhos de laboratório bem como nas unidades móveis de raio-X que ela montou, em apoio ao Exército Francês, na Primeira Guerra.
O filme é oriundo dos mesmos produtores do renomado “O destino de uma Nação” (“The darkest hour”), película sobre a atuação de Winston Churchill na Segunda Guerra Mundial [4] A diretora do filme é a renomada escritora iraniana Marjane Satrapi — que escreveu, entre outros, o livro “Persépolis”, narrativa da história de sua família, a qual, por conta da Revolução de Khomeini, em 1979, a enviou para estudar em Viena.
Marie Curie foi precursora de atividade que impactou o mundo no século XX nos campos político, econômico, científico e militar. As razões expostas podem indicar que o filme é imperdível!
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Notas.
[1] Em realidade, Linus Pauling também ganhou dois prêmios Nobel, mas apenas um na categoria científica. Em 1954, Pauling ganhou o Nobel de Química; e, em 1962, o Nobel da Paz.
[2] No final da década de 1930, por ser judia, Lisa Meitner deixou a Alemanha. Seus colegas prosseguiram as pesquisas conjuntas, obtiveram bário, a partir do bombardeamento do átomo de urânio por nêutron, mas não conseguiram explicar os resultados. A incomparável Meitner deu a solução por carta: eles tinham conseguido a fissão do urânio em dois outros elementos. Otto Hahn e Levi Strassmann publicaram os resultados da pesquisa e da conclusão oferecida por Meitner. Como eram extraordinários cientistas, mas cidadãos “ordinários”, omitiram o nome de Meitner. Após o término da guerra, os dois ganharam o prêmio Nobel pela revolucionária contribuição para a Ciência.
[3] O chinês Qian Sanqiang, “pai da bomba A chinesa” foi doutorando de Frédéric Joliot-Curie, em Paris; trabalhou em pesquisa nuclear na Europa; retornou para a China; e assumiu a gestão da pesquisa nuclear em seu país. Quando houve a decisão do governo chinês para desenvolver a bomba atômica, Sanqiang foi à França e obteve dados relevantes de seu antigo orientador de doutorado para poder cumprir o objetivo colimado. Foi também à Alemanha Oriental, onde se encontrou com Klaus Fuchs, cientista britânico de origem alemã, que trabalhou com Openheimer, em Los Alamos, no projeto das bombas atômicas americanas que foram lançadas em Hiroshima e Nagazaki. O cientista espião Fuchs já tinha cumprido 12 anos de prisão no Reino Unido por ter passado o projeto da bomba atômica de plutônio para os soviéticos. Desta feita, ele passou o mesmo projeto para Sanqiang.
[4] Na juventude, na terceira tentativa, Winston Churchill conseguiu ingressar na Real Academia Militar de Sandhurst e se tornar oficial de Cavalaria. Na Primeira Guerra Mundial, como político e Primeiro Lorde do Almirantado, Churchill foi o responsável pela desastrosa derrota na Campanha de Galipoli. Na alvorada da Segunda Guerra Mundial, Churchill tornou-se Primeiro Ministro britânico, contribuiu decisivamente para a vitória dos Aliados e conquistou a condição de um dos maiores estadistas do século XX. Após o término da guerra, Churchill foi derrotado nas eleições britânicas, deixou o cargo de Primeiro Ministro, refugiou-se em seu escritório residencial e escreveu o livro “A Segunda Guerra Mundial” (“The Second World War”), em 6 volumes, e ganhou o Prêmio Nobel de Literatura.
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Fontes
- Radioactive – Official Trailer
(Acesso: 22/Jan/2020)
- The Nuclear Express – A Political History of the Bomb and its Proliferation, Thomas C. Reed and Danny B. Stillman. Zenith Press, 2009.
- Robert Oppenheimer – A Life Inside the Center, Ray Monk. Doubleday, 2012.
- Spying on the Bomb – American Nuclear Intelligence from Nazi Germany to Iran and North Korea, Jeffrey T. Richelson. Norton, 2007.
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