sexta-feira, 31 de março de 2023

A Revolução de 1964

 

Palavras alusivas à Revolução de 1964 proferidas em 31/Mar/2023, na reunião mensal da Turma Marechal Mascarenhas de Moraes, em Brasília


Meus amigos da Turma Marechal Mascarenhas de Moraes!

Inicialmente, gostaria de dizer que há aspectos delicados e sensíveis nesse tema, que impõem cuidado com as palavras. Por essa razão, resolvi valer-me de garranchos previamente preparados, para dirigir-me a vocês.

Gostaria de expressar o agradecimento ao Simões Junior que, com argúcia e iniciativa, colocou o tema da Revolução Democrática de 1964 na agenda de nossa Turma. 

Para mim, é um pouco complexo tratar desse assunto, uma vez que muitos, talvez a maioria aqui presente, tem maior conhecimento do que eu. Então, o que falar? Minha intenção não é transmitir fatos históricos para os ilustres companheiros que, sem qualquer dúvida, são conhecedores do assunto, mas modestamente dar dois depoimentos pessoais. Um que remonta aos idos de 1964, e outro, recente, do corrente ano.

 

 

O primeiro testemunho vem de minha adolescência.

Minha família é originária da roça, de uma ponta da fazenda de meu avô, onde nasci e morávamos. Dos 6 para os 7 anos, com o objetivo de estudar, fui morar em uma pensão em Rochedo, lugarejo próximo da fazenda, que na época tinha cerca de 2000 habitantes, a 80 Km de Campo Grande, atual capital de Mato Grosso do Sul.

Quase dois anos depois, meu pai decidiu vender os poucos bens que amealhou e mudou-se com a família para Rochedo. Comprou um pequeno comércio em estado falimentar e fê-lo prosperar a tal ponto que se tornou um dos dois maiores estabelecimentos comerciais rochedenses, com a venda de secos e molhados, ferragens, tecidos, roupas, calçados — essas coisas que qualquer vilarejo do interior costuma ter e que, agora, às vezes, recebe o nome de “Mercadinho”. 

Em meados de 1963, formou-se em Rochedo um famigerado “Grupo dos 11” — que desafortunadamente medrou em quase todo o país. De ações privadas na casa de um e de outro dentre seus integrantes, o grupo evoluiu para o proselitismo público em favor da adoção do comunismo, através de um alto-falante que alcançava a maioria da população. Meu pai que exercera a função de Tabelião, depois Juiz de Paz e depois presidente do partido PSD, era adversário desse grupo. 

Pois bem, no início de 1964, a atuação do “Grupo dos Onze” tornou-se mais escancarada e ousada. Em relação ao comércio de meu pai, eles passaram a divulgar que com a vitória da revolução socialista, os bens de nosso estabelecimento comercial seriam distribuídos na praça da cidade e papai seria surrado em público para aprender a se comportar de forma adequada.

Meu pai era exímio atirador, tinha algumas armas e passou a se preparar para algum contratempo. Ele avisou a um dos integrantes do “Grupo dos Onze” que a qualquer ameaça ou risco para ele ou para os bens da família, ele reagiria e meteria bala nos agressores. Se ele tivesse que morrer, isso não era problema, mas ele levaria junto uma meia dúzia.

Retornando a 1960, nesse ano, eu terminei o curso primário em Rochedo e fui para Campo Grande, onde morava num hotel de um amigo de papai, curiosamente, chamado Hotel Liberdade, e estudava no Colégio Estadual Campo-grandense.

Em 1964 — aí pelos primeiros dias de março — papai mandou que eu fosse para Rochedo para ter uma conversa com ele e me afirmou que, diante da hipótese de vitória do comunismo, havia chance de a família perdê-lo, pois ele cumpriria a declaração que tornara pública de enfrentar os integrantes do “Grupo dos Onze”. E nesse caso, ele me fez prometer que, se ele fosse sacrificado, eu deveria largar os estudos e trabalhar para ajudar mamãe a criar os meus irmãos.

O Contragolpe de 1964 impediu o desastre e em meados de abril eu tive a oportunidade de assistir à primeira festa organizada por meu pai — uma festa pública para comemorar os novos tempos que representaram o advento do Regime Militar capitaneado pelo Marechal Humberto Castelo Branco.

Por oportuno, destaco dois trechos de seu discurso de posse, de cunho político, estratégico, épico e até literário, perante o Congresso Nacional:

“... Farei quanto em minhas mãos estiver para que se consolidem os ideais do movimento cívico da nação brasileira ...., para restaurar a democracia e libertá-la de quantas fraudes e distorções a tornavam irreconhecível. ...” 

— Parece que o insigne estadista está falando dos dias atuais.

“... Meu governo será o das leis, o das tradições e princípios morais e políticos que refletem a alma brasileira. O que vale dizer que será um governo firmemente voltado para o futuro. ...”

— A visão do Marechal Castelo Branco nos motiva a não desanimar, perseverar e alterar o atual estado de coisas em futuro próximo para o êxito de todos em futuro médio e distante.

 

 

Agora, o segundo testemunho.

No início de março deste ano, fui procurado por uma jornalista com quem tenho interagido desde 2018. De lá para cá, tivemos uma meia dúzia de contatos presenciais ou telefônicos. Essa jornalista alega que quer saber e entender a visão do nosso lado.

Dessa feita, ela queria saber minha opinião sobre os acontecimentos da atual conjuntura pós-eleitoral. Minha percepção é que o objetivo principal dela — não explicitado — era que eu tratasse das decisões do Alto Comando do Exército.

A conversa girou sobre os acontecimentos políticos e quando ela tentou cuidadosamente direcionar a interação para questões militares, eu fui um pouco taxativo e disse que o meu Exército era o Exército nascido em Guararapes, que mandou de volta os holandeses; o Exército de Caxias, que garantiu a integridade territorial brasileira, em face de conflitos internos, e assegurou a inviolabilidade de nosso território na guerra contra o Paraguai; o Exército de Mascarenhas de Moraes que contribuiu para varrer da Europa o nazismo; e o Exército Redentor que impediu o comunismo de se instalar no Brasil em 1935 e 1964. Enfim, o Exército que se apoia num pentágono: a verdade, a liberdade, a coragem, a ética e a democracia, esta resultante dos quatro aspectos primordiais que a precedem.

Nesse ponto, de forma inesperada para mim, a jornalista mencionou que a Guerrilha do Araguaia era uma exceção na evolução que mencionei.

Retirei das entranhas alguns argumentos históricos para replicar a ela. Afirmei-lhe que Mao Tse Tung assumiu o poder em 1949 e, dando vazão a seus instintos hediondos de grandeza, sacrificou mais de 60 milhões de chineses — aí incluídos o Marechal Ho Lung, um estreito colaborador do ditador, que morreu no cárcere em condições degradantes; o General Xu Guang-da, vice-ministro da Defesa, que foi interrogado mais de 400 vezes e foi brutalmente torturado ao longo de 18 meses; Liu Shao-chi, presidente da China até 1966, que com a família, foi submetido a um tribunal e depois de prisão degradante, com sofrimento físico e mental, veio a falecer; o marechal Peng De-huai, Ministro da Defesa, foi submetido a denúncia e prisão degradante, e a família considerada pária; o Marechal Lin Biao, comandante do Exército e nomeado oficialmente sucessor de Mao na direção do Partido Comunista Chinês (PCC), que negou-se a submeter à humilhação da autocrítica, tentou fugir de avião para Moscou, com a família e encontrou a morte em acidente aéreo inexplicado; e finalmente, o caso mais emblemático e brutal: Chou En-lai, o segundo mais poderoso da China, estava com câncer, os médicos deram a informação primeiramente a Mao, e este, inicialmente, negou que ele fosse submetido a tratamento — o tratamento tardio ocorreu por decisão secreta e corajosa do chefe da equipe médica, porém Chou En-lai morreu precocemente, deixando de ser ameaça ao ditador. 

Ademais, Mao Tse Tung queria espalhar o maoísmo pelo mundo e mandou instalar campos secretos de treinamento nas circunvizinhanças de Pequim para receber militares comunistas do Terceiro Mundo para treinamento, “domesticagem” e agravamento da doença ideológica, aí incluída a instrução para guerra de guerrilha.

O Partido Comunista Brasileiro era alinhado de Moscou de Kruschev e de seu processo de “desestalinização”. Uma dissidência do PCB, liderado por Maurício de Grabois, João Amazonas e outros adotou a linha de Mao Tse Tung, fundou em 1962 o Partido Comunista do Brasil (PC do B) e, a par de participação, inclusive nos campos de treinamento na China, desencadeou o movimento da Guerrilha do Araguaia, no Sul do Pará.

Para caracterizar para a jornalista o acerto do Exército Brasileiro e do regime resultante do Contragolpe de 1964, em relação a esse movimento sedicioso, com a eliminação de quase uma centena daqueles que queriam implantar o comunismo no Brasil, eu me vali do testemunho do Embaixador Colombiano, com quem interagi no Irã. O Embaixador Ramiro — que era historiador e conhecia até fatos da história do Brasil que eu desconhecia — declarou que se as Forças Armadas colombianas tivessem agido como as brasileiras e tivessem eliminado o foco de guerrilha inicial (que começou como em Xambioá, com uma centena de insurgentes) a Colômbia não teria chegado ao desastre de mais de 100.000 cidadãos sacrificados pelas FARC.

Enfatizei para a jornalista que a origem do movimento insurreto instaurado no Araguaia (fundamentado no regime maoísta, de caráter brutal, hediondo e contrário aos valores essenciais da civilização) e a ação cirúrgica do regime militar foram a solução mais adequada para a posteridade brasileira.

Dito isso, a jornalista deixou qualquer hesitação e foi direta a outro assunto que lhe estimulava em nossa interação: perguntou como eu via a ordem emanada do Comando do Exército no sentido de cancelar as celebrações de 31 de março. Respondi-lhe com firmeza que não faria comentários desse tema para ela; e aduzi que, no Exército de onde eu vinha, na maioria das vezes, a concordância é desnecessária; e a discordância é manifestada prioritariamente para a autoridade da qual a gente discorda.

Bom, caros amigos e irmãos, essa opinião — isso de crítica e discordância — vale para esse momento que estamos vivendo agora, nessa reunião de confraternização. Creio que não nos cabe exercer a crítica e manifestar eventuais discordâncias atinentes à atual conjuntura militar. Não devemos jamais renunciar à condição de soldado.

 


Hoje, estou cumprindo a indicação do amigo Simões Junior para dirigir a palavra aos integrantes da Turma Marechal Mascarenhas de Moraes. Meu coração e minha mente estão plenos de alegria e emoção. Ressalto a vitória do Contragolpe de 1964 para vocês, meus companheiros de turma, meus irmãos de fé e de valores que pertencem a toda a humanidade — os valores daqueles que prezam e defendem a liberdade, a verdade, a coragem e a ética e entendem que a vitória da democracia e a existência de um mundo melhor prevalecerão para nossos filhos e netos.

Por último e fundamentalmente relevante, entendo que relembrar e impedir que a verdade seja conspurcada, no que se refere ao Contragolpe de 31 de março de 1964 é nosso dever inalienável.

Então, minhas palavras se inserem e se contextualizam na caracterização ora exposta que não nos tolhe a iniciativa nem nos mergulha na covardia. Os heróis de 1964 não podem e não devem ser esquecidos — sejam aqueles que colocaram a vida em risco, sejam aqueles que pereceram na luta terrível que objetivou impedir o sucesso do comunismo em nosso País.

Hoje, estamos aqui para homenageá-los e o fazemos com muito orgulho, à luz da inspiração do Marechal Mascarenhas de Moraes — e dos seus comandados dentre os quais podemos enfatizar o Ten Cel Nestor, o Asp Of Raul, o Cap Sabino, o 2º Sgt Barbosa, o 2º Sgt Magno, o 2º Ten Torres, o 3º Sgt Oliveira, os dois Sd Dal Bello e o 1ª Classe MO Felix (digníssimos heróis que combateram na Itália, e pais de colegas de nossa turma) — enfatizo: à luz da inspiração do Marechal Mascarenhas de Moraes, bem como da fraternidade da turma que temos a honra de pertencer e que carrega o ínclito nome do herói inspirador.

Muito obrigado, meus irmãos!

Brasília, 31/Mar/2023

Aléssio Ribeiro Souto

 




Reação dos amigos






























 


 


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