Um cidadão condenado a 12 anos de prisão por malfeitos na gestão pública afirmou que ele poderia ser preso mas suas ideias não eram encarceráveis. Ele foi colocado em estado de reclusão. Então, fiquemos no campo das ideias, isto é, sem a citação, mesmo episódica e irrelevante, de qualquer nome.
Os correligionários do sentenciado estão buscando de forma pertinaz, em todas as instâncias judiciais possíveis, sua libertação. Essa busca é secundada por ameaças, desmandos e arruaças e de toda ordem e em todas as latitudes brasileiras. Quais as razões de tamanha exasperação?
Evidentemente, que não é pela prisão em si mesma. Afinal, as dimensões das dependências do cárcere são compatíveis com a estatura física e intelectual do paciente (paciente ou meliante? Há a conveniência de usar a terminologia preferencial da Corte Última!). Similarmente, deve ser considerado que nenhum carcereiro se dispôs a alfabetizar o paciente. Por essa razão, não há argumentos para lhe recomendar livros para que o tempo se escoe de forma suportável e útil.
A lógica indica que os motivos relevantes são a impossibilidade de o paciente ter os seguidores intoxicados habituais para quem possa dirigir sua indigesta verve e a inexistência da garrafinha de água potável — seu consolo é valer-se de simulação com a torneira do lavatório, que requer uma força mental avassaladora para o êxito dessa prática. Resta-lhe a opção de falar com os colchões, com o vaso sanitário e com o vento, quando a meteorologia aceder. Ele não pode nem mesmo falar para si próprio diante do espelho — seria aterrorizante dialogar com um meliante contumaz. Enfim, esgotou-se o tempo da ingenuidade, da utopia, da falsidade e do engano.
Formulo essas provocações pensando e refletindo de forma otimista e grandiosa. Pela primeira vez, na história do Brasil, vivenciamos a universalidade do sistema judicial. Nessa extraordinária inflexão, a realidade se associa à retórica e todos passam a ser iguais perante a lei. Os poderosos e os despossuídos são considerados, avaliados, julgados e, se for o caso, condenados, em conformidade com os mesmos paradigmas. O País, a Nação, as instituições e a sociedade deixam o estágio hesitante do pós-nascedouro para ingressar na juventude, que marca o início da maturidade. O primeiro passo é essencial e obrigatório em qualquer jornada evolutiva e constitui-se em indicador inequívoco do acerto do rumo a ser seguido. Adicionalmente, é lamentável ter um paciente nessas circunstâncias, mas já que ele não pode ser eliminado ou esquecido, assimilemos a auspiciosa lição de sua existência.
2 e 30 Out 2022 — Eleições presidenciais de 1º. e 2º. turnos
Tudo o que escrevi em 2018 caiu no esquecimento. O povo brasileiro elegeu presidente da República um ex-honesto, ex-corrupto, ex-condenado e ex-presidiário.
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