Assisti ontem a uma palestra do cientista político Dr. Antônio Frederico Ferreira Pontes. O evento foi "on-line" e contou com a participação do Dr. Marcus Vinicius, Dr. Antonio Testa bem como quatro Oficiais Generais com reconhecimento nacional.
A palestra versou sobre os seguintes assuntos:
– O Brasil, as eleições e a crise;
– A conjuntura de 2020;
– A realidade sócio-econômica; e
– A realidade partidária.
Dentre os dados apresentados, alguns são pessimistas e assombrosos.
A população desocupada em dezembro de 2020 reflete um quadro desolador. Senão vejamos:
– População desocupada: 13,76 milhões;
– População desocupada ou subutilizada: 33,2 milhões;
– População fora da força de trabalho: 80 milhões.
No que se refere ao desemprego, o Brasil chegou ao final do corrente ano com cerca de 14 milhões de desempregados, assim distribuídos pelas regiões:
– Sudeste: 6,3 milhões;
– Nordeste: 4 milhões;
– Sul: 1,5 milhões;
– Norte: 1,3 milhões;
– Centro-Oeste: 1 milhão.
No atinente ao tipo de ocupação, o cenário apresenta a seguinte caracterização:
– Empregados com carteira assinada: 38,6 milhões;
– Empregados sem carteira assinada: 41,54 milhões.
Aqui cabe uma primeira observação crítica. A soma de pessoas fora da força de trabalho com aqueles que detêm emprego chega a 160 milhões de pessoas. Então, a soma de crianças, idosos e pessoas que detêm emprego ultrapassa a população brasileira.
A queda de renda apresenta o seguinte perfil:
– Indígenas: (–) 28,6%;
– Analfabetos: (–) 27,4%;
– Jovens 20/24 anos: (–) 26%.
Após a apresentação desses dados — inegavelmente indicadores de uma conjuntura permeada de crise, que já existia no Brasil, antes da investidura do atual Governo Federal em janeiro de 2019, e que foi expressivamente agravada pela pandemia do coronavírus em 2020 — o palestrante passou para a avaliação da situação partidária, com foco nas eleições municipais de 2020. Foram apresentadas algumas inferências. Não as reproduzo com fidelidade, mas tento interpretá-las:
– A crise social e econômica é aterrorizante;
– O presidente Bolsonaro é o responsável pela crise e o grande perdedor das eleições municipais;
– O presidente tem poucas chances de reeleição em 2022;
– Há a possibilidade de impeachment do presidente; e
– O Sérgio Moro é um dos candidatos com chance de ganhar as eleições presidenciais de 2022.
Do meio para o final da palestra, houve várias perguntas e o debate foi até certo ponto acirrado. Um dos temas mais intensamente tratado no debate foi a configuração partidária, especialmente os partidos perdedores e ganhadores nas eleições municipais. Outro tema foi a eleição para presidente da Câmara dos Deputados no início de 2021.
Um aspecto que chamou a atenção foi o fato de que os principais partidos que tiveram redução expressiva de prefeitos no País são: PMDB, PSDB, PSD e PT. Nessa questão, o palestrante fez uma afirmação paradoxal: o presidente Bolsonaro é o grande perdedor nas eleições municipais. Porém, constata-se aí uma incoerência: os eleitores que votaram nele em 2018, votaram também contra o establishment e contra os partidos citados — esses que perderam as eleições municipais.
Muito poderia ser afirmado sobre os dados e inferências da palestra. Mas prefiro apresentar uma sequência de aspectos a ponderar, que constituem um bom ponto de partida para debates e avaliação da conjuntura política brasileira nos próximos dois anos com provável impacto e repercussão nos próximos 12 anos.
[1] Afastamento de presidentes (João Goulart, Collor e Dilma)
- Ausência de governabilidade;
- Crise econômica;
- Presença de catalisador (uma ou mais personalidade ou instituição); e
- Povo nas ruas.
à Esses aspectos não estão suficientemente presentes no caso do Bolsonaro.
[2] Candidato com grande probabilidade de oferecer um ponto de inflexão (exemplos: Jânio, Collor, Bolsonaro)
- Entre dois e quatro anos, antes da eleição, deve haver a percepção pública de que é candidato;
- Os três citados tinham um bordão chave para a campanha, centrado no combate à corrupção — a vassoura da limpeza, o caçador de marajás, o combate à corrupção.
à Ao ser provocado a citar cinco possíveis candidatos, o palestrante só citou o Moro.
à Em realidade, a mídia e os políticos falam no Moro, Ciro, Hulk, Doria, ACM Neto, Mourão, ..., mas a menos de dois anos da eleição, nenhum se firmou na condição de candidato.
à O Moro ficou com a pecha de traidor (inaceitável para a população) e agora está advogando para a turma da corrupção.
à Não há corrupção no Governo Bolsonaro (ou se há, é irrelevante).
[3] Palestrante versus presidente
- Na palestra, há evidências de que o palestrante colocou-se na oposição ao presidente.
à Passa a ideia de que os males dos últimos 30 anos são devidos aos 2 anos da atual presidência.
à Não compara os dados atuais com, por exemplo, os dados de 2000 e 2010.
à Ignorou o papel do Congresso e no STF e respectivos prejuízos para o atual Governo.
[4] Perfil do palestrante
- Cientista político com enorme conhecimento.
- Invejável experiência em política.
à Surpreendentemente, não ofereceu perspectivas para o desenlace de 2022.
à A grande curiosidade não foi cogitada nem proposta: uma possível aliança factível, viável e eficaz (ou o nome de um outsider, mesmo com a mencionada falta de tempo) que possa derrotar o atual presidente.
[5] Uma vitória de Bolsonaro em 2022 — o que acho provável (probabilidade: maior do que 55%).
- Pode levar a uma candidatura do atual ministro da Infraestrutura em 2026 (para isso, ele deve continuar ministro a partir de 2022).
- Aí serão mais 8 anos (até 2034), com a perspectiva de afastamento definitivo do socialismo-petismo (ou similar), parente do socialismo real ou do nacional-socialismo.
- Efeito colateral: alteração dos costumes políticos e redução expressiva da corrupção.
[6] Conceito do mineiro Benedito Valadares
- “Política é que nem nuvem: muda de cor, forma ou localização enquanto você toma um cafezinho!”
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