sexta-feira, 22 de março de 2024

2º. Encontro de Escritores - 1

"O lavrador perspicaz conhece o caminho do arado".
Homenagem a Oscar Barboza Souto, antigo lavrador, garimpeiro e comerciante.
In Memoriam.

A boa repercussão do primeiro encontro fictício de escritores no Mosteiro de Alcobaça, em Portugal, concebido pelo amigo Francisco Gomes de Amorim, estimulou-o a criar uma nova reunião, desta feita, realizada no Brasil, num local maravilhosamente adequado: o incomparável Real Gabinete de Leitura, na rua Luís de Camões, no Rio de Janeiro — uma das mais belas bibliotecas do mundo ou até mesmo a mais bela de todas.

Dentre os escritores convidados, devem ser enfatizados Gonçalves Dias, Machado de Assis, Zélia Gatai, bem como três bisavôs do arguto Amorim: o homônimo Francisco Gomes de Amorim, João Fick e Antonio José Arroyo. Ademais, foi incluído Alberto da Costa e Silva, diplomata e especialista em assuntos da África, que recentemente se foi para o além, e é o pai da Elza, amiga desde os tempos de infância, de minha querida esposa Isabel.

Fui honrado com a honra e o privilégio de ser convidado para compor a equipe de "testemunhas" e apresentar minha visão sobre o evento, a ser incluída no livreto “Novo Encontro de Escritores”.

Além da resposta atinente à condição de testemunha, à guisa de provocação, resolvi enviar um texto adicional em que incluí na reunião fictícia três escritores estrangeiro. Minha escolha recaiu sobre Alexander Soljenitsen, Hannah Arendt e Jung Chang. Como  Chang, a co-biógrafa de Mao Tse Tung, ainda esta viva, utilizei o artifício de começar meus garranchos com um sonho; e nele a Chang faleceu — isso terá consequências futuras que exporei no futuro.

A seguir, é apresentada a mensagem enviada para o Amorim, na condição “testemunha”. O texto redigido como provocação, sobre a inclusão na amostra de escritores de língua portuguesa de três estrangeiros será motivo de outra matéria a ser inserida neste Blog.

 

 

Nobre amigo Francisco Gomes de Amorim,

 

Seu magnífico “Novo Encontro de Escritores” é a completa demonstração de sua vasta cultura. Pinçar em meio milênio, um número relativamente reduzido de escritores que constituem uma amostra verdadeiramente representativa do que esse universo de pessoas geniais lançou para a posteridade é obra de paciência, resiliência e sobretudo conhecimento.

Pelo sim pelo não, sinto-me imerso em baita confusão. Eu que ando com a tendência de só ler texto com, no máximo duas linhas curtas, e que se caracterizem como legenda de vídeo que não pode ter mais de três minutos, agora tenho que me defrontar com os diálogos de vinte e um notáveis escritores que são oriundos de até quase meio milênio!

Eu que, conquanto idoso, faço parte da juventude que recebeu como herança o celular e a enorme agressão à cultura que ele representa; e por via de consequência, a renúncia ao prazer da leitura longa, agradável, criativa e motivadora de sonhos!

Mas o que é mesmo cultura? O que importa? Ajuda a operar a “cultura” da tela de meu equipamento favorito? Ora, ora, cultura pode ser saber buscar qualquer coisa, todas as coisas, com um simples movimento dos dedos? Isso basta para acompanhar o ritmo, a velocidade do que se passa no mundo, em qualquer tempo, no exato momento imediatamente posterior a que tudo ocorre? 

Bom, mas como é mesmo que faço para transportar o texto do computador para o celular? É neste que eu vejo, assisto, leio, passo os olhos no conhecimento. E tem que ser com rapidez para que não caia no esquecimento e no desconhecimento aterrorizante.

Pensando bem, um primeiro contato com o texto, bem rápido, pulando uma boa parcela de palavras deu para perceber que os velhinhos eleitos são bons na arte da palavra. Não importa o lugar onde viveram, o que andava correndo em suas voltas, as modas e os modismos. Será que eles escreveram para a eternidade? Será que essa é a razão pela qual o amigo Amorim planejou esse memorável encontro? 

Uma primeira consequência é a ampliação da faculdade essencial do ser humano: pensar. São diálogos ditadores; eles nos obrigam a pensar. A segunda consequência é a confirmação do sentido universal da faculdade de comunicação do ente humano, por meio da palavra; e, nesse sentido, há como que uma conjunção de gente de várias plagas, objetivando vivenciar virtudes, valores e crenças; e encaminhá-las para uma mesma direção; e aí salta aos olhos o objetivo fundamental do ser humano: a busca de paz e harmonia, somente possível por intermédio de um sistema, regime ou conjunto de procedimentos que podemos sintetizar como democracia (em estado puro, é lógico; não essa tão maltratada, agredida, conspurcada, ...); e que, por seu turno, se alicerça nas noções de liberdade, verdade, coragem e ética.

Que os encontros prossigam caro amigo Amorim. Talvez dessa maneira nós nos desvinculamos, ao menos momentaneamente, dessa praga da modernidade que impactou tanto a nós todos — o celular; e potencialize a motivação e a satisfação da boa leitura. Os velhinhos geniais merecem e nós merecemos receber a herança eterna pela qual eles pelejaram para nos deixar.

Um forte e fraterno abraço,

ARS

1ª. Testemunha

Brasília, 6 de março de 2024

 

  

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