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"O lavrador perspicaz conhece o caminho do arado." Homenagem a Oscar Barboza Souto, antigo lavrador, garimpeiro, comerciante, tabelião e juiz de paz. In Memoriam. |
A propósito do conflito entre Israel e Irã, neste início de 2025, é imperioso relatar que, na véspera do novo milênio, fui para o Irã e lá permaneci, durante 1999 e 2000, na condição de Adido de Defesa, Naval, do Exército e da Aeronáutica, junto à Embaixada do Brasil em Teerã. Foi um período extraordinário de minha vida pessoal e profissional. Afinal, viver no Oriente Médio — no local que sediou a antiga Pérsia, onde o dinamismo histórico se faz presente, até hoje, e impacta enormemente o ser humano — deixa lembranças que jamais se apagam.
Antes da partida para o Irã, os antigos adidos militares em Teerã, a quem visitei para obter informações sobre a missão, orientaram que, em face das características do Irã — regime fechado, autoritarismo religioso e policialesco e, também, autoritarismo no campo dos costumes e procedimentos que impactam a vida cotidiana — era conveniente aproveitar os feriados e finais de semana prolongados, bem como as férias, para viajar, sair do país, objetivando uma espécie de arejamento mental.
No lado profissional, a aventura iraniana foi uma experiência magnífica. A embaixada é um ambiente completamente diferente da caserna. Felizmente, desde os primeiros dias, fui muito bem acolhido pelo embaixador Cláudio Luiz dos Santos Rocha e sua exemplar esposa Maria Helena.
Embora, não houvesse uma relação de subordinação, entre o adido e o embaixador, eu lhe conferia o tratamento de comandante e, em face da elegância e gentileza com que ele sempre me tratou, diariamente, após chegar ao escritório, denominado Aditância, eu me dirigia a seu gabinete para cumprimentá-lo. Essa atitude gerou uma espécie de reunião matinal, em que dialogávamos sobre assuntos amenos do cotidiano e assuntos institucionais de interesse mútuo.
Nesse contexto, o Cláudio Luiz demonstrava interesse pelas questões militares, resultantes de meus contatos, reuniões e jantares, muito frequentes, no âmbito da comunidade de Adidos militares. Esses eventos permitiam a obtenção de dados e a superação das dificuldades de diálogo com o setor militar iraniano — algo típico de um regime ditatorial religioso — que impedia as visitas habituais às organizações militares locais, como ocorre no Brasil e na maioria dos países democráticos; nesse sentido, o contato com as instituições militares iranianas se restringia às reuniões pouco frequentes com um militar do ministério da Defesa, em um escritório chamado “protocolo”.
De outro turno, agindo com consideração profissional rigorosa, o Cláudio Luiz transmitia sua rica vivência e incomum capacidade de observação e interpretação das realidades locais, regionais e até mesmo mundiais. Ele se valia desses contatos para, com sabedoria, transmitir aconselhamento e orientação.
Tratar da figura do embaixador Cláudio Luiz e do ser humano calmo, modesto, culto — enfatizo: de uma vasta cultura geral e específica — é algo motivador e consentâneo com senso de justiça. Ele nos deixou recentemente, mas sua imagem fica preservada para referência virtuosa de comportamento humano.
Ademais, aproveitei ao máximo as possibilidades de estar presente nos locais que, habitualmente, só existem nos livros.
Assim, na companhia de Adidos Militares de vários países, estive em Susa, cidade histórica, hoje situada na região sudoeste do Irã, a leste do atual Iraque; e que fez parte dos impérios babilônio, persa e parsa. Susa foi fundada por volta de 4000 a. C. A cidade abrigou, sucessivamente, os sumérios, acádios, elamitas, babilônicos, persas, entre outros povos antigos. Fazem parte de sua evolução personagens como Nabucodonosor, Xerxes, Ciro II e Alexandre — sendo que os dois últimos a invadiram e conquistaram no devido tempo.
De Susa, a comitiva foi levada para as margens do rio Tigre, próximo de seu encontro com o rio Eufrates, ao norte do Golfo Pérsico. Então, olhei com os olhos a Mesopotâmia, tão cara aos apreciadores de história antiga.
Em outra oportunidade, segui para a região que abriga as cidades de Tabriz, Ardebili e Orumieh — sendo Tabriz a mais importante cidade do noroeste do país — e chegando até as proximidades da fronteira com o Iraque. Em seguida, segui para a fronteira tríplice com o Azerbaijão e Armênia, bem próxima da região objeto de disputa entre esses dois países. Enfim, dessa forma, estive no sudoeste, oeste e noroeste do Irã. Deixei de comparecer a localidades da região leste, na fronteira com o Turcomenistão, Afeganistão e Paquistão, porque essa região é a mais conflagrada do país e que, por essa razão apresenta riscos enormes — foram divulgadas notícias de sequestro de visitantes para serem usados pelos opositores ao regime, em interação com o governo do país, como meio de troca para a libertação de prisioneiros.
Merecem ser citadas também as visitas, em ocasiões distintas, às cidades de Qom, principal centro religioso islâmico xiita; às localidades de Kashan, Abianeh, Nathanz, Yazd e Ardestan, com ruínas históricas e religiosas, sendo Nathanz relevante centro de pesquisa & desenvolvimento nuclear; Isfahan e Xiraz, ambas com relevância militar e, também, centros de pesquisa & desenvolvimento nuclear; Bushehr, sede de organização militar no litoral do Golfo Pérsico; Kermansharh, sede de quartel-general do Corpo de Exército do Sul; Persépolis, com ruínas de fantástica antiga capital, alicerçada em notável arquitetura e que fora destruída por Alexandre; e a planície de Pasárgada, com o singular e distinto túmulo de Ciro e o pleito deste imperador para que ninguém o destruísse, expresso na frase:
“Oh homem! Seja você quem for, venha de onde vier! Pois sei que virá. Eu sou Ciro, que fundou o império dos persas. Não tenha rancor de mim por causa deste pequeno abrigo que protege meu corpo.” (Ciro, 520 a. C.)
Convém ainda mencionar as idas a cada mês ou a cada dois meses, a Dubai — a mais importante dentre as capitais dos 7 Emirados que compõem o país chamado Emirados Árabes Unidos — para receber os recursos financeiros destinados à Aditância, bem como meu próprio vencimento. Como alguns anos antes, o governo iraniano congelou os ativos bancários de todos os clientes em Teerã, os diplomatas e adidos militares ficaram mais de seis meses sem poder movimentar a conta corrente. Então, eles passaram a receber os recursos financeiros através de banco em cidade europeia ou em Dubai. Dessa forma, todos os recursos a mim destinados eram depositados pelo Exército na conta do Banco do Brasil de Nova Iorque e depois transferidos para a conta de um banco árabe em Dubai.
Risco e surpresa
De resto, é oportuno mencionar a estadia de quase uma semana no Círculo Militar do Exército Iraniano, na praia Challous, no Mar Cáspio. Ressalto que esse evento foi oferta do “protocolo” militar iraniano aos adidos militares acreditados no país. Estes deveriam permanecer no interior da ampla dependência social-esportiva do Círculo Militar.
No terceiro dia, contrariando as recomendações, resolvi fazer uma corrida externa; o auxiliar do adido chinês, um tenente de 26 anos, resolveu me acompanhar. Então, fizemos um percurso de cerca de 28 km, ida e volta. Meu objetivo era conhecer uma dependência prisional que ficava nas imediações — algo proibitivo naquela circunstância. Por óbvio, corri risco de até mesmo ser expulso do país; felizmente, nada foi observado pelos anfitriões.
O oficial chinês ficou surpreso e alquebrado. Ele não imaginava que a trajetória seria longa e que eu vinha de três maratonas realizadas no Brasil. Em consequência, antes da metade do percurso, ele não suportou a batida, passou a caminhar e ficou para trás. Passados dois dias, o adido chinês me interpelou para saber o que havia ocorrido, dado que seu auxiliar estava prostrado na cama.
No atinente ao lado pessoal, inicialmente, morar no Irã solteiro — e viver sob uma ditadura islâmica, onde as mulheres só podem mostrar a face e as mãos em público, afora outras restrições — era um grande problema. Curiosamente, no primeiro semestre de 1999, conheci a brasileira Isabel, filha do embaixador Cláudio Luiz e de Maria Helena. Nossa presença frequente em eventos nas embaixadas do Brasil e de países amigos, contribuiu para nossa aproximação. Então, passamos a namorar; viajamos para Dubai e cidades europeias; e retornamos juntos para o Brasil. Nós nos casamos e, em 2003, tivemos as queridas filhas Alessandra, Laura e Cecília. Hoje, passados mais de 20 anos, nossas herdeiras chegaram ao final da adolescência e ingressaram na Universidade — Alessandra e Cecília, na UnB; e Laura, no CEUB.
Essa ambientação com o tempo enriquecedor passado no Irã — aí incluídas viagens para o exterior — resulta do fato de que, a despeito de ser uma ditadura islâmica repressora em todos os sentidos, o país tem história e cultura memoráveis e, portanto, deixou marcas inesquecíveis nas lembranças, no conhecimento e na experiência. Então, o gostar do país, do povo e da cultura é um sentimento que ainda hoje permanece em meu pensamento.
Ora, assistir aos ataques militares entre Israel e o Irã é muito impactante — eu enfatizaria: chega a ser arrasador. Muito poderia ser dito a respeito das causas distantes e próximas desse terrível conflito, porém vale mencionar algumas questões essenciais. Após a vitória da Revolução Islâmica, em 1979, com a ascensão do aiatolá Ruhollah Khomeini à condição de Supremo Líder e depois da morte, sua substituição pelo aiatolá Ali Khamenei, que até hoje exerce a condição de ditador supremo, há alguns objetivos fundamentais do Irã:
- a permanência da ditadura religiosa;
- a tentativa de prevalência do Irã como potência regional;
- a disposição manifesta de destruir Israel; e
- a aceleração das medidas para concretizar a produção de bombas atômicas, um objetivo nacional permanente do Irã.
Pois bem, o Irã fomentou os chamados proxies, minorias terroristas que se posicionavam a favor do objetivo do Irã de destruir Israel. São elas: os palestinos radicais, na Cisjordânia; o Hezbollah, no Líbano; os fundamentalistas, na Síria; o Hamas, na faixa de Gaza; e os Houthis, no Iêmen. Com o ataque do Hamas ao território de Israel, em 7 de outubro de 2023, causando a morte de mais de 1000 jovens israelenses e a prisão de cerca de 200 reféns, Israel desencadeou um processo de tentativa de destruição do Hamas, causando a morte de mais de 40.000 dentre seus integrantes. Em seguida, Israel atacou os terroristas do Hezbollah. Depois, contribuiu para a queda do regime de Bashar al-Assad, na Síria, o qual era bancado pelo Irã. Até agora, está exercendo um duro combate contra os Houthis. Por conta dessa sucessão de eventos, em 2024, o Irã atacou Israel com mísseis e drones; Israel respondeu de forma parcial, bombardeando as defesas aéreas e as bases de lançamento de mísseis do Irã. Essas ações podem ser consideradas escaramuças de pequena monta.
Na passagem para essa nova conjuntura, além de perder bilhões de recursos empregados no financiamento de seus proxies, o Irã se tornou muito enfraquecido; daí, resultando a provável necessidade de acelerar a produção de um artefato atômico. Ao ser eleito, o presidente Donald Trump tentou um acordo no sentido de impedir o progresso iraniano na obtenção da bomba atômica. As reuniões programadas não chegaram a bom termo. Por essa razão, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu — que é mandatário que mais tempo ficou na condição de primeiro-ministro de Israel; e tem o objetivo inarredável de permanecer ainda mais tempo no poder, bem como de inscrever seu nome na história — tomou a decisão de realizar ataques aéreos ao Irã. Nesse primeiro dia de conflito, foram contabilizadas as seguintes consequências para o Irã:
- bombardeio, pela aviação israelense, de dezenas de organizações militares e de pesquisa & desenvolvimento nuclear;
- bombardeio das seguintes cidades iranianas: Teerã, Tabriz, Isfahan, Hamedan, Ahvaz, Khorramabad, Kermanshah e Qasr-e Shirin;
- morte de 6 cientistas nucleares: Abdolhamid Minouchehr, Ahmadreza Zolfaghari, Seyed Amirhossein Feqhi, Motlabizadeh Mohammad, Mehdi Tehranchi e Fereydoun Abbasi; e
- morte, dentre outros, de 4 comandantes militares de alto escalão: major-general Mohammad Bagheri (Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas do Irã, maior autoridade militar do país), major-general Hossein Salami (Comandante do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica), major-general Gholamali Rashid (Comandante do Quartel-General Khatam al-Anbiya) e almirante Ali Shamkhani, principal assessor do Supremo Líder, Ali Khamenei.
Enfim, o conflito tende a se agravar nos dias subsequentes. Quaisquer que sejam os resultados, a crise é mundial, afetando, por exemplo, a economia do petróleo que, no primeiro dia, subiu mais de 5% no mercado internacional.
O que importa nesses despretensiosos garranchos? Eu os escrevo para deixá-los como testemunho para familiares e amigos. Mais do que tudo, quero asseverar meu inexcedível lamento, minha grande tristeza, pelo terrível conflito enfrentado pela região que está inserta em minha modesta evolução pessoal e profissional ou — quem sabe, com um certo atrevimento e (ou) egoísmo — em minha incomum história de vida, que, a despeito das falhas e vícios resultantes da condição humana, engloba o nascimento na roça; a saída da casa dos pais aos sete anos de idade; o estudo apenas em escolas públicas; a graduação na admirável Academia Militar das Agulhas Negras, a graduação e mestrado na melhor escola de Engenharia do País; e a oportunidade de ter vivido, durante dois anos esplendorosos, no país resultante da antiga Pérsia, que acolheu, como conquistador, Alexandre, o Grande, o mais ousado comandante e líder humano.
Importa sobretudo, estar vivenciando o privilégio de ter, com Isabel — que conheci quando tive a ventura de morar no Irã — conquistado a concepção de três criaturas adoráveis: Alessandra, Cecília e Laura. Para elas, registro a passagem pelas sendas iranianas e conexas, para que fique evidenciado o lamento pelos traumas humanos resultantes do atual conflito entre Israel e Irã, que se correlacionam com a felicidade resultante de suas existências.
O Anexo 1 apresenta uma descrição sucinta das viagens para o exterior que realizei durante o período passado naquele país.
O Anexo 2 apresenta a terrível evolução do conflito entre Israel e Irã, que foi a motivação para o registro destas memórias, formuladas no dia seguinte ao ataque de Israel ao Irã, enriquecedoras da modesta trajetória de quem veio ao mundo na fímbria do pantanal sul-mato-grossense.
O Anexo 3 contém os mapas das viagens realizadas no Irã e aquelas realizadas para o exterior no período em que vivi naquele país.
O Anexo 4 contém a mensagem com que respondi para o amigo SCPL seus generosos comentários sobre as gravações em áudio do texto "Vivências no Irã – lamento e felicidade", destinadas à facilidade de conhecimento por esse dileto amigo.
Anexo 1 – Viagens para o exterior
Durante a missão no Irã, aproveitei os feriados e finais de semana prolongados, bem como os períodos parcelados de férias, para viajar a outros países, com a meta de ampliar as vivências históricas, geográficas e culturais, bem como para aliviar as tensões experimentadas no ambiente ditatorial iraniano.
A seguir são apresentados relatos sucintos das viagens que realizei no período de março de 1999 a março de 2001.
Ressalto que na viagem à França e Holanda, iniciada em 27/Dez/1999 e nas demais, ora relatadas, segui acompanhado de minha namorada Isabel, com quem me casei ao voltar para o Brasil.
Emirados Árabes Unidos (16 a 21/Mar/1999)
No primeiro mês da missão em Teerã, tomei conhecimento de que em Abu Dhabi, capital de um dos 7 Emirados que compõem o país chamado Emirados Árabes Unidos, haveria a exposição e conferência de material militar chamada IDEX/99(International Defence Exhibition and Conference/1999).
Devidamente autorizado pelo Estado-Maior do Exército, fiz a inscrição e compareci ao evento. De fato, valeu a pena! Não se tratava apenas da maior exposição de material militar do Oriente Médio, ocorrida a cada dois anos, como também uma das maiores do mundo; o que é natural, dado que essa região é a mais conflagrada do planeta e com um padrão econômico elevadíssimo, graças às receitas oriundas do petróleo.
No início da prestigiosa missão no Irã, consegui enviar para o Estado-Maior do Exército um robusto relatório relativo aos mais recentes armamentos, a maioria resultante de tecnologia de ponta e, portanto, inéditos para grande parcela de forças armadas do mundo.
Suíça e Áustria (23 a 30/Jul/1999)
No meio do ano, a temperatura em Dubai não raro ultrapassa o patamar de 50º C. Então, fiz o que meus antecessores fizeram no passado: em julho, fui apanhar recursos financeiros na Suíça. O embaixador Cláudio Luiz me solicitou que eu aproveitasse e recebesse o dinheiro da embaixada, pois, dessa maneira, ele economizaria a viagem de um diplomata. Não foi exatamente uma boa solução.
A volta, planejei-a para sair de Zurich, passar em Genebra excursionar em Lausanne, Vevey e Montreux e receber os recursos financeiros; ir para Viena, excursionar ao longo do rio Danúbio, até Melk, cidade da Baixa Áustria, à margem do rio, famosa por sua abadia beneditina de 1089; e, finalmente, retornar para Teerã.
Depois de passar por Zurich, cheguei em Genebra ao anoitecer. Fui para o modesto hotel que tinha previamente reservado. A recepcionista era uma portuguesa jovem e bem-falante; perguntei-lhe se tinha algum bom programa cultural que ela pudesse indicar; ela respondeu que no Grand Théatre de Genève, estava sendo apresentada a ópera Norma de Bellini. Pedi-lhe que solicitasse um táxi para me levar ao teatro e ela afirmou que era necessário adquirir, com antecedência o ingresso. Insisti que ela chamasse o táxi.
No hall do teatro, entrei na fila extensa para a compra de ingresso. À minha retaguarda, entraram um rapaz e duas moças israelenses que chegaram na cidade no dia anterior, e com os quais entabulei conversa. Passados quase 10 minutos, a fila não andou, pedi que guardassem meu lugar e fui à bilheteria; estava fechada e não tinha mais ingressos à venda. Voltei e alertei os jovens e vizinhos de que estávamos na fila dos turistas desavisados, isto é, na “fila dos bobos”.
Eu e os jovens fomos saindo devagar, paramos no portal de entrada do teatro e ficamos conversando. Então, em dado momento, chegou uma senhora dizendo que suas sobrinhas não poderiam assistir ao programa e, por isso, ela estava vendendo 4 ingressos. Não vacilamos, compramo-los e, dessa forma, conseguimos assistir à fantástica obra-prima de Bellini.
Norma é uma ópera trágica em dois atos, de Vincenzo Bellini, com libreto de Felice Romani, cuja estreia ocorreu no Teatro alla Scala, de Milão, no dia 26 de dezembro de 1831. Essa ópera é considerada o ponto alto da tradição do bel canto. O papel principal (Norma) é geralmente avaliado como um dos mais difíceis do repertório de soprano. O papel foi criado para Giuditta Pasta, que também encarnou, pela primeira vez, o personagem Amina na ópera La sonnambula. Durante o século XX, somente um pequeno número de cantoras foi capaz de desempenhar o papel de Norma com sucesso: Rosa Ponselle, no início da década dos anos 1920, depois Joan Sutherland, a partir da década de 1960, e, mais recentemente, Montserrat Caballé. Maria Callas é considerada a intérprete suprema do papel-título de Norma. Ela representou-o inúmeras vezes e gravou-o, em estúdio.
Legado político e diplomático
Dentre os jovens israelenses, as duas moças eram irmãs e o rapaz namorava uma delas. Tive uma longa conversa com a irmã acompanhante. Ela era mestranda em história e declarou que estava fazendo a dissertação requerida sobre o tema da formação do estado de Israel. Ao tomar conhecimento de que eu era brasileiro, ela mencionou o trabalho meritório do brasileiro Oswaldo Aranha na presidência da Assembleia da ONU que criou seu pais.
Asseverei-lhe que, no Brasil, os políticos e os diplomatas — e, especialmente, Oswaldo Aranha — herdaram o legado de dois dentre os estadistas presentes em nossa história, os quais são responsáveis pela grandeza territorial de nosso valioso pais.
O primeiro, o Duque de Caxias, por ter, como comandante militar, enfrentado alguns movimentos revoltosos no Brasil, por tê-los vencido com enorme qualificação militar e, mercê de sua condição de soldado e estadista sintese de nossa nacionalidade, ter oferecido a paz com dignidade para todos.
O outro, o Barão do Rio Branco, por ter utilizado suas virtudes de negociador em excelsas ações diplomáticas para consolidar trechos de fronteira com vários países vizinhos, tendo evitado conflitos que, não raro, ocorre em circunstâncias similares.
Na viagem aérea de Genebra a Viena, segui ao lado de uma moça bonita de cerca de 30 anos. Pensei em dialogar com ela, mas a timidez falou mais alto. Ela tomou a iniciativa, pois queria superar o medo de avião. Então, conversamos durante quase toda a viagem. Chamava-se Edna Meyer; era professora, mãe e cantora lírica. Estava se dirigindo para Baden, situada cerca de 30 km ao sul de Viena, onde participaria da apresentação da 9ª. sinfonia de Beethoven, no auditório do Casino Baden-Baden. Ela sugeriu que eu fosse.
Ao chegar ao hotel, em Viena, indaguei sobre o evento de Baden e recebi a informação de que era preciso obter ingresso no próprio local do concerto. Não quis arriscar e preferi um concerto no Palácio de Schönbrunn, com músicas de Strauss e Mozart, cujo ingresso era vendido no próprio hotel. No auditório do Palácio, sentei-me ao lado de uma iugoslava de uns 40 anos. Conversamos antes e após o concerto. Era violonista amadora, mãe e estava em Viena em face de exigência de seu trabalho.
É curioso revelar que os encontros, nessa viagem, com duas mães contribuíram para ampliar minhas percepções das complexidades do universo feminino, diante dos dilemas da condição de mãe e do exercício profissional.
Ampliando a reflexão para a conjuntura atual, a faculdade de pensar é estimulada por uma questão crucial: se a fertilidade mundial da mulher se tornar inferior a 2,1 filhos, ocorre um decréscimo progressivo da população, de tal sorte que em menos de 5000 anos, a humanidade se extingue. Daí resultam problemas existenciais, filosóficos e antropológicos! Como será o mundo sem seres humanos? Como será o mundo sem seres pensantes capazes de enxergá-lo?Existirá mundo?
Fazer o percurso englobado por Genebra, Viena e Teerã, praticando turismo, submetendo-me aos trâmites burocráticos ao longo das trajetórias terrestres e aéreas, com uma pasta na mão, contendo cerca de 260.000 dólares, não foi uma decisão razoável. Por óbvio, na atualidade, seria impossível.
Cheguei em Teerã de madrugada e o motorista da embaixada confundiu o horário e não foi me apanhar. Não quis telefonar para o embaixador e incomodá-lo; a solução foi pegar um táxi. Aí, ocorreu o inesperado: o taxista começou a circular em Teerã, fora do roteiro habitual; e, mercê da dificuldade de comunicação (ele não falava inglês, só farsi, o idioma oficial do Irã — também, praticado no Afeganistão — que eu tinha desistido de aprender), comecei a imaginar que seria assaltado. Com uma hora de circulação à deriva, consegui que ele parasse perto de transeuntes e aí houve a descoberta: o caboclo era refugiado afegão e não conhecia Teerã. Já quase amanhecendo o dia, os notívagos conseguiram transmitir para o afegão como chegar ao endereço de minha residência, que ficava perto da embaixada do Brasil.
Itália (17 a 26/Out/1999)
O Chefe do Estado-Maior do Exército, general de Exército Hermes, aproveitou sua missão em Roma para agendar uma reunião de coordenação de adidos militares brasileiros na Europa, Ásia e África. Dessa forma, foram convocados os adidos de Teerã, Cairo, Varsóvia, Moscou, Pequim, Roma e Londres (o adido de Paris, coronel Lúcio, estava previsto, mas foi impedido de fazer parte do evento, porque teve que apoiar o Ministro do Exército, general Zenildo, que enfrentou um sério problema de saúde no avião, ao aterrissar em Paris).
Então, compareci e participei, na embaixada do Brasil em Roma, ao lado dos demais companheiros, de excelente programação, que abrangeu contatos com o embaixador Flecha de Lima e outros diplomatas, reuniões com o general Hermes e palestras de todos os adidos. A embaixada fica no Palácio Pamphilj, na histórica Piazza Navona. Esse Palácio foi reformado pela esposa do embaixador, senhora Lúcia Flecha de Lima, de tal sorte que uma maravilha arquitetônica antiga foi renovada, com ênfase para a extraordinária decoração, que inclui obras-primas de artistas famosos.
O adido do Exército em Roma ofereceu uma magnífica recepção em sua residência. Compareceram, além do general Hermes e todos os adidos participantes do evento, quatro embaixadores acreditados em Roma, incluindo o embaixador Flecha de Lima e o embaixador Júlio Cesar.
Essa passagem pela capital italiana foi enriquecida por outros eventos singulares, tais como a visita às ruínas históricas de Roma, com destaque para o Coliseu, Fórum Romano e Largo da Torre Argentina (associado com o assassinato do imperador Júlio César, por Brutus); a presença numa opereta no Teatro Flaiano; o comparecimento a uma casa noturna, para verificar como a juventude se divertia; e uma corrida no Orto Botanico di Roma.
A virtude da criatividade
No evento na casa noturna, eu tinha a expectativa de me comunicar com alguma moça italiana, porém as tentativas foram rechaçadas. Conheci uma mexicana, que se declarou artista plástica e, ao saber que eu era brasileiro, afirmou que apreciava a cultura e a história do Brasil. Mencionou obras de Di Cavalcanti e de Djanira, e fez comentário crítico sobre o regime militar brasileiro, sob a alegação de que muitos cidadãos foram assassinados. Concordei com sua assertiva, mas acrescentei fatos que ela desconhecia.
Na Amazônia, os brasileiros integrantes de um foco de guerrilha contrário ao regime militar de 1964 prenderam e esquartejaram um adolescente por ter ajudado os militares que eles combatiam.
{Esses militares prenderam 2 guerrilheiros e os obrigaram, com violência, a revelar onde estavam os autores do assassinato. Dessa forma, os militares conseguiram chegar a uma reunião e, no embate resultante, cerca de 20 guerrilheiros morreram. Dentre eles, encontravam-se os responsáveis pelo assassinato do adolescente. [Nota – Esta narrativa sobre a retaliação contra o assassinato hediondo do adolescente eu a inventei para me contrapor à narrativa nefasta daqueles que apoiam e defendem os socialistas responsáveis pelo assassinato de cerca de 100 milhões de pessoas no mundo]}.
Adicionalmente, fontes oficiosas deram conta de que quase 100 guerrilheiros foram mortos pelos militares na Amazônia.
Prossegui, declarando à cidadã mexicana que o embaixador Ramiro, então titular da representação diplomática da Colômbia no Irã, um intelectual também apreciador de história do Brasil, asseverou-me que, se os militares colombianos tivessem destruído, naquele país, o foco inicial de guerrilha de cerca de duas centenas de militantes, da mesma forma como os militares fizeram no Brasil, a Colômbia teria impedido o prosseguimento do movimento de sedição e teria evitado a catástrofe de mais de 50.000 colombianos mortos pelas FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Enfim, asseverei a ela que, por intermédio das artes plásticas, ela tinha a virtude de recriar o mundo, independentemente da verdade ou da falsidade — o que não é possível em relação a fatos históricos.
Ademais, fui recepcionado pelo Izaías dos Anjos Souza, aquidauanense, com quem, na adolescência, segui de Campo Grande para Barbacena, após termos sido aprovados no concurso para a Escola Preparatória de Cadetes da Aeronáutica (EPCAr). O Izaías prosseguiu na Força Aérea, chegou ao posto de coronel aviador e estava exercendo a função de adido da Aeronáutica, junto à embaixada do Brasil em Roma. Ele me convidou para jantar em um restaurante contíguo à Piazza Navona, no lado oposto ao Palácio Pamphilj. Ao perceber que éramos brasileiros, o gerente determinou que fosse colocada música de fundo brasileira, dirigiu-se à nossa mesa e nos relatou que, quando estavam em Roma, o Vinicius de Moraes e o Toquinho costumavam comparecer ao restaurante.
Complementando essa vivência relevante, dei uma passada em Florença, considerada o berço do Renascimento italiano. Florença é célebre por ser a cidade natal de Dante Alighieri, autor da Divina Comédia; por ser cenário de obras de Michelangelo, Leonardo da Vinci, Sandro Boticelli, Rafael e Donatelo; e por abrigar belíssimas catedrais e a Grande Sinagoga de Florença, chamada Tempio Maggiore (Templo Principal).
França e Holanda (27/Dez/1999 a 6/Jan/2000)
O Réveillon do Milênio foi parte de narrativa divulgada pelos meios de comunicação do mundo inteiro. Por isso, eu e Isabel planejamos o ingresso no novo milênio, em Paris.
Seguimos para a capital francesa em 27 de dezembro. Rever a bela metrópole e sua história e arte ao vivo e em cores é inexcedível, especialmente em uma data tão especial. Usufruímos todas as possibilidades culturais, no curto tempo disponível.
Em 29 de dezembro, fomos convidados pelo coronel Lúcio, adido do Exército em Paris, e esposa, para jantar no restaurante L’Alsace, na companhia de outro casal, o novo adido de Defesa no Cairo e esposa, que estavam se dirigindo para a capital egípcia. À guisa de atualização, relembro que o Lúcio foi comandante do Batalhão da Guarda Presidencial quando exerci a Chefia a Comissão Regional de Obras da 11ª. Região Militar, em Brasília. Posteriormente, após completar o tempo na caserna, no posto de general de Exército, o Lúcio foi nomeado ministro do Superior Tribunal Militar.
Em face do pedido de Isabel, passamos de 2 a 6 de janeiro em Amsterdã, Holanda. Conquanto seja uma cidade média, com cerca de um milhão de habitantes, como grande parte das cidades europeias, Amsterdã se notabiliza pela história, cultura e arquitetura — dentre seus antigos residentes podem ser citados: Anne Frank, os artistas Rembrandt e Vincent van Gogh, e o filósofo Spinoza; ademais, a cidade abriga os seguintes museus: o Museu Rijks, o Museu van Gogh, o Museu Stedelijk, o Hermitage Amsterdã, a Casa Anne Frank e o Museu de Amsterdã.
Grécia e Turquia (17 a 28/Mar/2000)
Em 17 de março, eu e Isabel fomos para a Grécia e depois para a Turquia. Em Atenas, na Grécia, visitamos as ruínas da Acrópole, e nos familiarizamos com o Partenon e outras maravilhas da antiguidade. Depois, fizemos questão de passar pela planície de Maratona, um imperativo resultante de eu ter corrido 3 maratonas no Brasil.
Continuando em direção ao oeste grego, seguimos para o templo de Apolo, no santuário de Delfos, onde, na antiguidade, as pitonisas homônimas, sacerdotisas daquele templo, se notabilizaram por suas profecias — e, nesse caso, eu recordei que o tema de minha monografia no CPEAEx, o curso de política e estratégia, realizado na ECEME, em 1998, foi prospectiva, com estudos preliminares que fizeram referência à previsão do futuro, realizada pelas citadas pitonisas.
Em 24 de março, fomos para Istambul, na Turquia. Ficamos no hotel Citadel, com vista para o estreito de Bósforo, que liga o mar Negro ao mar de Mármara e separa a Europa da Ásia. Os principais eventos na cidade turca foram as visitas às grandiosas Catedral de Santa Sofia e Mesquita Azul.
A Catedral de Santa Sofia foi construída a partir de 537, pelo Império Bizantino, para ser a Catedral de Constantinopla, da religião ortodoxa; em 1453, ela foi transformada em mesquita, quando Maomé procedeu o cerco de Constantinopla, com o objetivo de convertê-la ao islamismo; em 1931, deixou de ser islâmica e foi secularizada; de 1935 a 2020, serviu como museu; e, de 2020 até o presente, voltou a funcionar como mesquita.
A Mesquita Azul foi construída a partir de 1609, em um estilo clássico otomano; é considerada “um triunfo em harmonia, proporção e elegância”; e o arrojo de seu magnífico exterior é condizente com seu suntuoso interior.
Inglaterra e Alemanha (21 a 27/Jul/2000)
Em 21 de julho, fomos para Londres e depois para Berlim. Além dos eventos turísticos habituais que a capital inglesa possibilita, essa visita permitiu que Isabel reencontrasse duas amigas britânicas dos tempos de adolescência, vividos em Santiago do Chile. Então, fomos recebidos na residência de Susan, por ela própria e por Sally Ann, que mora no litoral sudoeste, a uns 200 km de Londres.
Seguimos para Berlim em 24 de julho. Pelas razões já expostas, um dos objetivos dessa viagem foi o recebimento de recursos financeiros; para tal, solicitei ao Banco do Brasil de Nova Iorque que transferisse os montantes do mês de julho para a agência de Berlim, onde eu os recebi.
Ficamos em um hotel simples na região oriental da cidade, anteriormente, comunista — hotel Luisenhof. Chamou nossa atenção o elevado padrão socioeconômico do lado capitalista, em comparação com o antigo lado comunista, cujo padrão se mostrava inequivocamente inferior. É difícil compreender a razão da preferência de uma expressiva parcela de cidadãos do mundo pelas mazelas comunistas.
China (6 a 13/Set/2000)
A embaixada chinesa em Teerã, organizou uma visita para diplomatas e adidos militares à China. Conquanto tivesse também caráter turístico, a viagem foi organizada com ênfase para a apresentação de aspectos políticos, econômicos, culturais e históricos do país. Houve a confirmação de que os chineses riem muito, mas não brincam — o objetivo não declarado, foi projetar poder. Nesse contexto, em setembro, a comitiva se deslocou para a China. Na companhia de quase duas dezenas de diplomatas, fui com Isabel e, também, com a futura sogra Maria Helena.
Em Pequim, fomos recepcionados em organizações públicas do governo; visitamos museus, conjuntos arquitetônicos e outras atrações turísticas; e desfrutamos da incomum gastronomia chinesa.
O aspecto mais expressivo da programação foi a visita à histórica cidade de Xian, bem como o conhecimento do acervo de escultura em terracota (argila cozida no forno), de figuras de militares, englobando organizações militares inteiras, que foram descobertas intactas, passados mais de mil anos de sua elaboração.
Rússia e Áustria (25/Dez/2000 a 4/Jan/2001)
O Réveillon de 2001 foi precedido de aventura incomum. No dia 25 de dezembro, à tarde, eu e Isabel pegamos uma aeronave de fabricação russa, da companhia aérea estatal iraniana e fomos para Moscou. Houve alguma preocupação porque o avião era velho e malcuidado. A aterrisagem causou um grande alívio.
Hospedamo-nos no hotel Intourist, na rua Teverskaia, bem próximo do Kremlim e da Praça Vermelha. O hotel Intourist foi construído em 1970, era destinado para hóspedes estrangeiros; ele foi demolido em 2002 e em seu espaço foi construído o hotel Carlton.
Das várias atrações moscovitas, convém mencionar a ida, em 27 de dezembro, ao teatro Bolshoi, para assistir ao balé Quebra-nozes. Comemoramos o evento com jantar no refinado restaurante do hotel Metropol, que fica próximo ao Teatro. Vale mencionar também a ida à galeria Tretyakova, que abriga artes plásticas apenas de autores russos.
Subsequentemente, fomos para São Petersburgo. Dois eventos devem ser citados nessa bela cidade. Em primeiro lugar, fomos assistir ao concerto nº. 2, de Rachmaninoff, no Great Hall do Teatro Sociedade Acadêmica Filarmônica de São Petersburgo, com a Orquestra Filarmônica de São Petersburgo e tendo como pianista encarregado do solo, o chinês Lang Lang, com apenas 19 anos — ocorreu algo incomum: um chinês ser aplaudido pelos russos durante quase 5 minutos. O outro evento foi a visita ao Museu Hermitage, que tem porte histórico e cultural que se aproxima do Museu do Louvre.
Finalmente, nos dirigimos para Viena, onde ressalta a passagem do réveillon no histórico café Grinzinger Stüberl, uma tradicional taberna operando desde o século XVIII, no bairro vienense de Grinzing.
França e Espanha (26/Fev a 5/Mar/2001)
No retorno para o Brasil, no final de fevereiro, aproveitamos para passar alguns dias em Paris, outros em Madri e, também, em Toledo. Em Paris, ficamos no hotel do Cercle National des Armées, muito bem localizado, com típica arquitetura parisiense e com instalações sóbrias e confortáveis.
Na capital francesa, demos prioridade para a visita aos locais turísticos relevantes e para o aproveitamento da gastronomia, com um almoço no restaurante La Coupole.
Em 26 de fevereiro, seguimos para Madrid. Isabel já conhecia a capital espanhola e eu estava indo pela primeira vez. Além de apreciarmos a arquitetura, especialmente nas várias praças, fomos ao Museu do Prado — dúvida não resta, ele tem um acervo de obras imperdível, tais como: “Maja desnuda” e “Maja vestida”, de Goya; “As três graças” e “O julgamento de Paris”, de Rubens; e “A anunciação”, de Fra Angelico.
Demos uma passada no celebrado shopping El Corte Ingles e aproveitei para comprar um relógio de parede mecânico de pêndulo, com que iniciei uma modesta coleção.
A passagem por Toledo foi rápida. A cidade tem quase 100 mil habitantes e foi capital da Hispânia visigótica, até a conquista moura da península ibérica, no século VIII. Foi possível incluir no rol das lembranças magníficas, a Catedral de Toledo, do século XIII, uma das três catedrais góticas da Espanha, sendo considerada umas das obras magnas desse estilo; e o Museu do Exército, dedicado à história do Exército Espanhol.
Anexo 2 – Evolução do conflito
16/Jun/2025 (2ª. f)
Passados 4 dias do início das ações, a situação se agravou, a partir dos ataques com mísseis balísticos realizados pelo Irã contra Telaviv, Haifa e outras cidades israelenses. Israel prosseguiu com os ataques com aeronaves de caça da Força Aérea, com foco em instalações militares no território iraniano e sedes de organizações do governo em Teerã, aí incluída a TV estatal iraniana, que estaria sendo utilizada para fins militares.
A rigor, o ataque israelense ocorreu na noite de 12 de março, quinta-feira, pelo horário de Brasília (madrugada do dia 13 de março, sexta-feira, pelo horário de Israel).
Portanto, a noite de 15 de junho, domingo, pelo horário de Brasília (referência de datas utilizadas neste texto), é o quarto dia das hostilidades entre os dois países.
Hoje, dia 16 de junho, segunda-feira, foi noticiado que os ataques israelenses já mataram mais de 200 iranianos e feriram cerca de 1.400 cidadãos daquele país. Do lado contrário, os ataques do Irã causaram, aos israelenses, a morte de 20 pessoas e da ordem de 350 feridos.
Constata-se que há uma desproporção numérica dentre as vítimas dos dois países, contudo uma ou dezenas de vítimas são igualmente deplorável e aterrorizante, dado que causadas por desavenças entes semelhantes.
19/Jun/2025 (5ª. f)
O conflito entre Israel e o Irã prossegue, com as duas partes ampliando a intensidade e a letalidade das ações.
Hoje, Israel bombardeou alvos estratégicos do Irã. Nas primeiras horas desta quinta-feira, 40 caças israelenses lançaram cerca de 100 bombas sobre alvos que inclui organizações militares, complexos de produção e de lançamentos de mísseis e instalações nucleares. Foram atingidos o reator de Arak, as instalações de Natanz e o complexo nuclear de Isfahan.
Por sua vez, o Irã retaliou a ação lançando novos mísseis balísticos contra o território israelense e destruiu o hospital Soroka, em Beersheba, no sul do país, deixando 76 feridos, sendo 6 em estado grave.
Dessa forma, desde o início da ofensiva, o Irã já contabiliza o lançamento contra Israel de mais de 400 mísseis, inclusive mísseis com bombas de fragmentação, difíceis de serem interceptados, e cujos efeitos são mais dilacerantes; e cerca de 1.000 drones.
21/Jun/2025 (Sáb.)
Hoje, o mundo foi pego de surpresa. O presidente Donald Trump anunciou que os Estados Unidos bombardearam o Irã e causaram extensos danos às instalações nucleares de Fordow, Nathanz e Isfahan.
Posteriormente, fontes oficiais americanas divulgaram alguns detalhes sobre as operações. Seis aeronaves B-2 Stealth, da Força Aérea americana, bombardearam o complexo nuclear de Fordow com bombas “bunker-busters” de 30.000 libras [*] e submarinos da Marinha lançaram 30 mísseis de cruzeiro sobre as instalações nucleares de Nathanz e Isfahan. O porta-voz americano acrescentou que um B-2 bombardeou Nathanz com duas bombas “bunker-busters”.
[*] Bomba “bunkers-busters” (ou bomba “destruidora de bunkers”) — é a bomba denominada GBU-57 ou MOP (Massive Ordnance Penetrator) de 30.000 libras, equivalentes a 13.600 kg, cujas dimensões são 6 metros de comprimento e 80 centímetros de largura.
Adicionalmente, fontes militares israelenses informaram que 20 aeronaves da Força Aérea de Israel conduziram ataques a alvos militares em Teerã e na região oeste do Irã.
23/Jun/2025 (2ª. f)
O presidente Donald Trump anunciou um cessar-fogo entre Israel e Irã. Horas depois autoridade do Irã negou que haja compromisso dos iranianos com o cessar-fogo.
Os iranianos mantêm o posicionamento contrário ao cessar-fogo. Em consequência, o Irã lançou ataque com mísseis à base americana no Qatar. Tudo indica que não houve vítimas. Essa é a maior instalação militar dos EUA no Oriente Médio, com cera de 40.000 militares.
28/Jun/2025 (Sáb.)
Passados 15 dias do ataque de Israel ao Irã, o cessar-fogo anunciado na última segunda-feira pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está em vigor, sendo que as autoridades de Teerã não declararam a aceitação oficial da proposta, porém — após a retaliação contra os Estados Unidos com o ataque ao maior aquartelamento americano no Oriente Médio — reduziram gradativamente os ataques de mísseis contra Israel, a tal ponto que, na prática, o cessar-fogo está em vigor.
A imprensa israelense divulgou hoje uma espécie de contabilização dos danos do conflito. Com os ataques aéreos a 900 alvos no Irã, as ações de Israel danificaram severamente as organizações de defesa aérea, as indústrias de produção de mísseis e as instalações nucleares do Irã. Teriam sido assassinados cerca de 30 altos chefes militares e 11 cientistas nucleares. Nesse sentido, a capacidade de enriquecimento de urânio do Irã, até 90%, foi neutralizada por um longo período e a possibilidade de produzir uma arma nuclear foi neutralizada.
As autoridades do Irã declararam que 672 iranianos foram mortos nos ataques aéreos; e as autoridades de Israel afirmaram que 28 israelenses foram mortos nos ataques de mísseis.
O objetivo inicial de Israel era neutralizar o programa nuclear do Irã, com ênfase para impedir a produção de arma atômica.
As autoridades iranianas continuam com a retórica de que eles não têm o objetivo de construir arma atômica e que eles não renunciam ao direito de prosseguir com o programa de desenvolvimento nuclear para fins pacíficos.
2/Jul/2025 (4ª. f)
Em princípio, o relato atinente ao conflito Israel e Irã, iniciado no dia 13 de junho, está concluído.
O cessar-fogo proposto aos governantes dos dois países pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está em vigor e há a possibilidade de encerramento dos ataques de parte a parte.
Então, cabe neste momento uma avaliação dos danos causados nas infraestruturas estratégicas iranianas pelas Força Aérea de Israel; e dos estragos causados por mísseis e drones em instalações israelenses.
Os ataques de Israel foram direcionados para as instalações nucleares e militares, para os depósitos de petróleo e de gás e para a emissora estatal de radiodifusão. Foram atingidas as instalações nucleares de Teerã, de Natanz e de Isfahan; as instalações de lançamento e produção de mísseis de Isfahan, Shiraz, Kermanshah e Tabriz e as instalações petrolíferas de Busherh.
De acordo com autoridades iranianas, mais de 600 cidadãos iranianos foram mortos e várias centenas foram feridos.
Por seu turno, a retaliação do Irã contra Israel consistiu no lançamento, em 12 dias, de cerca de 500 mísseis balísticos e 1.100 drones. O impacto de 36 mísseis e alguns drones não interceptados causaram a morte de 28 cidadãos israelenses e ferimento em cerca de 3.000. Ademais, houve danos em 2.305 casas e 240 prédios, englobando duas universidades e um hospital. Cerca de 13.000 israelenses foram desalojados.
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[Localização do Irã no Oriente Médio e respectivas fronteiras com os países vizinhos] |
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[Viagens realizadas no Irã, por Aléssio Ribeiro Souto, no período de 1999 a 2000, na condição de Adido Militar de Defesa, Naval, do Exército e da Aeronáutica, junto à Embaixada do Brasil em Teerã] |
Anexo 4 – Mensagem para o amigo SCPL
Caro amigo SCPL,
De fato, o Irã não é um país árabe, como alguns imaginam. Contudo, dentre as 31 províncias iranianas, há uma chamada Khuzestão, que é árabe. Ela se situa na fronteira com o Iraque, às margens do rio Tigre e ao norte do Golfo Pérsico. Curiosamente, é a mais rica das províncias do país, devido à abundância de petróleo.
Ademais, os iranianos não falam árabe, falam farsi, um idioma alicerçado no alfabeto árabe, que é falado também no Afeganistão.
Em relação ao governo do Xá Reza Pahlevi, afora o aspecto da corrupção que você bem acentuou, o serviço de inteligência do governo de Pahlevi (ou polícia política), chamado Savak, era odiado pelos iranianos, por ser violento, maltratar os cidadãos de forma hedionda e manter milhares de políticos oposicionistas no cárcere.
Agora, um esclarecimento sobre minha nomeação para servir no Irã. Por volta de 1997, o então ministro Zenildo Zoroastro de Lucena alterou as normas de tal sorte a permitir que os oficiais engenheiros militares concorressem junto aos oficiais combatentes ao cargo de adido militar. Destarte, como oficial engenheiro militar, passei a concorrer a essa missão no exterior.
Em 1998, eu estava cursando o CPEAEx (Curso de Política e Estratégia da Alta Administração do Exército) na ECEME, no Rio de Janeiro, e chegou do DGP (Departamento Geral de Pessoal), em Brasília, um expediente com a relação de 16 coronéis do curso que estavam concorrendo às 8 vagas de adidos, para o período de 1999 e 2000.
Como eu não estava incluído, imaginei que deveria haver alguma restrição profissional a meu nome, isto é, minha carreira tinha chegado ao limite final. Em minhas reflexões, cheguei à conclusão que deveria solicitar o desligamento do curso e o subsequente pedido de transferência para a reserva.
Pensei nisso durante uns 4 dias e resolvi dar um telefonema para a Diretoria do DGP que tratava do assunto e buscar a razão desse tropeço. Felizmente, o telefone não foi atendido por soldado, cabo ou sargento, conforme o habitual; foi atendido por um tenente-coronel que, por feliz coincidência, era o encarregado de preparar toda a documentação com as propostas de oficiais para concorrerem ao cargo de adido. Quando eu lhe perguntei as razões pelas quais meu nome não fora incluído na relação enviada para a ECEME, ele ficou surpreso e pediu tempo para verificar. Uma hora depois, ele me ligou e disse que fizeram de acordo com o que sempre ocorrera no passado; e não levaram em conta que uma nova norma incluía os oficiais engenheiros militares. Ele solicitou que eu enviasse por fac-símile, a documentação requerida e depois encaminhasse por Sedex, os documentos originais, incluindo o parecer do comandante da ECEME.
Dessa forma, meu nome chegou na proposta encaminhada para o ministro Zenildo. Ele me designou para ser adido no Irã, e justificou oficiosamente que sendo solteiro, eu aliviaria alguma esposa de conviver dois anos num país islâmico e severamente restritivo em relação às mulheres. E assim, o saudoso general Zenildo contribuiu para que encontrasse uma brasileira na antiga Pérsia para se tornar mãe de minhas queridas filhas e, naturalmente, minha esposa até hoje.
Atenciosamente,
ARS
[Nota esclarecedora]
ResponderExcluirTranscreverei neste espaço as mensagens que recebi de amigos generosos, sobre o texto “Vivência no Irã – lamento e felicidade”. Deixo de identificá-los porque alguns enviaram a mensagem para o endereço pessoal. Sendo assim, optei pela abordagem de não tornar público os remetentes.
Aléssio RIBEIRO SOUTO
[Amigo A1]
ResponderExcluirSe inveja tivesse, eu agora estaria careca!
Que bem aproveitou todas as suas estadias e viagens, tão bem e tão detalhadamente descritas.
Gostei de ler e penetrei um pouco mais no desconhecido mundo persa, se bem que me lembro sempre do Manoel Bandeira — que mencionou ir para Pasárgada — de quem já imitei e invejei essa cidade!
Obrigado.
Abraço grande,
FGA
[Amigo A2]
ResponderExcluirQuerido amigo ARS,
Espetacular seu relatório de missão e viagens inesquecíveis.
Impressionante sua capacidade de detalhar fatos que provavelmente você tenha se utilizado de um diário.
Fica mesmo para amigos e familiares uma memória que sem dúvida enriquecerá a história de suas origens.
Importante constatar que você fez para o EME um relato de missão que muitas vezes não são exigidos dos adidos militares.
Realmente, o Irã faz parte de sua vida e impossível esquecer que foi o começo de tudo…
Vejo o MRE com muita dificuldade para se posicionar, mas ainda que contrariando a tendência dos nossos, hipotecar simpatia a Israel na busca de solução pacífica é razoável.
Sempre achei que a ONU deva ser prestigiada para a discussão das questões de conflito entre os povos.
Ao desprestigiar esse importante Foro de decisões internacionais conflituosas, as grandes nações perdem oportunidade de criar uma paz possível…
Agradeço-lhe a atenção e fidalguia em relatar-me parte tão pessoal é importante de sua vida.
Grande abraço!
HJS
[Amigo A3]
ResponderExcluirLi e reli seu relato vivido no Irã. Impressionante!
OAA
[Amigo A4]
ResponderExcluirLi com especial atenção, os seus relatos, prezado mestre e amigo AR Souto.
DAV
[Amigo A5]
ResponderExcluirQue história maravilhosa!
O fato de o coroamento desta experiência ter sido a aparição da senhora sua esposa, faz ainda mais extraordinária todo o relato.
Não é arquitetura, é uma obra de arte, todo este planejamento divino.
O conflito com Israel é lastimável, como toda guerra.
Tenho mais um motivo para continuar crendo que guerra não tem lado certo. O certo é a paz.
Parabéns pela história de vida.
PR
[Amigo A6]
ResponderExcluirFantástica história de vida. O senhor, General, de fato "olhou com os olhos"... Impressionante e denso relato. Quem teve a honra de servir sob seu comando pode reconhecer, com entusiasmo e boas lembranças, cada traço dessa vivência espetacular.
Forte abraço, com respeito e admiração.
GG
[Amigo A7]
ResponderExcluirMais uma vez fico impressionado com a capacidade de síntese e precisão ao relatar fatos. Obrigado pela oportunidade de conhecer um pouco mais sobre sua trajetória de vida e por fomentar a esperança de, um dia, ler suas histórias em um livro.
Sim, General, é uma provocação e conhecendo seu estilo, sei que isso fará parte de uma boa reflexão de sua parte.
Obrigado pela oportunidade.
Fraterno abraço!
HP
[Amigo A8]
ResponderExcluirHumildemente parabenizo pela história, pelo excelente texto e pelo carinho pelos ...
RKSR.
[Amigo A9]
ResponderExcluirAmigo, parabéns pelo texto, longo, mas rico de relatos de uma vivência de muito valor. Forte abraço.
AC
[Amiga A10]
ResponderExcluirAcabei de ler o seu relato sobre a sua vida no Irã e suas viagem a partir dele.
Que memória!!! Parabéns!!!
Junte muitos outros fatos de sua vida, que me relatou e terá uma bela história de vida para publicar como livro.
Um abraço.
ISR
[Nota esclarecedora 2]
ResponderExcluirEnviei para o SCPL (Amigo A11) o endereço, no blog ‘arsacloz.blogspot.com’, do artigo “Vivência no Irã – lamento e felicidade”. Porém, desavisadamente, esqueci que ele não está podendo ler por causa de severa restrição na visão. Então, gravei 6 áudios, contendo o texto principal e os compartilhei com ele, via WhatsApp. Ele os ouviu e enviou um áudio com suas observações. O texto apresentado a seguir é a transcrição do áudio, gravado de improviso, sem qualquer preparação e, portanto, sem os formalismos habituais dos textos escritos.
Aléssio RIBEIRO SOUTO
[Amigo A11]
ResponderExcluirMeu querido e ilustre amigo Ribeiro Souto!
Olha, eu gostei muito, muito do seu relato, viu!
Muito bacana! A Pérsia né. A antiga Pérsia né. Eu já li muito sobre ela... Xerxes, Nabucodonosor,... quem é que nunca ouviu falar dessas figuras? E também Dario, ... né. É um país que tem uma história riquíssima. O problema, meu amigo, é que o Xá Reza Pahlevi — que eu me lembro na época em que era garoto, meu avô falava dele, porque, naquela época, Teerã era considerada a Paris do Oriente Médio — as mulheres iam para a praia de maiô, quiçá até biquini. Enfim, era uma cidade bastante europeia. Então, chegou essa teocracia terrível do aiatolá Khomeini e o negócio todo virou de pernas para o ar. Esses xiitas enlouquecidos conseguiram acabar com tudo isso.
Mas que bom, rapaz, que você pegou um embaixador do nível do Cláudio Luiz. Que bom também que você conheceu a Isabel, dado que você foi um dos últimos da turma a se casar; depois de você, só o Marquinho, da Infantaria de nossa turma.
Muito interessante, rapaz. É o tipo de assunto que a gente conversaria horas sobre ele. Mas eu não vou entediá-lo, até porque você é PhD em Irã. Aliás, você até falou da cidade de Tabriz e eu me lembro que quando servi em Manaus, meu pai foi na Zona Franca; meu pai, naquela época, tinha uma situação financeira muito boa e ele foi numa loja, que atendia somente clientes endinheirados, fez amizade com a dona da loja e ela o levou a uma sala especial para clientes especiais. Ele comprou um tapete persa Tabriz Royal, que era a menina dos olhos do meu pai. Não era um tapete grande, sabe; era um tapete relativamente pequeno, mas muito, muito bonito, e que está em minha posse no momento.
É isso rapaz! Essas coisas são muito complicadas. Agora convenhamos, apesar de sua estima e admiração pelo Irã, convenhamos que o Irã, na atual conjuntura, ... é impensável que o Irã tenha um artefato nuclear. Porque todo regime... Hamas e outros... todos são financiados pelo Irã. É engraçado que o Irã nem sequer é um país árabe mesmo; haja vista que eles nem sequer falam árabe; eles falam farsi. Então, realmente é um negócio muito complicado. Não sei dizer, ... haja vista que, no programa nuclear, parece que eles estão trabalhando lá a 60 metros de profundidade, ... alguma coisa assim. Essas bombas perfuradoras lançadas pela aeronave B-2, ... será que conseguiram chegar até lá? Eu sinceramente espero que sim. Não dá para imaginar que o Irã, com o atual governo, tenha um artefato nuclear.
SCPL
[Amigo A11] – Continuação
ResponderExcluirA estratégia do presidente Trump é que o povo — dizem que o povo já está farto desses aiatolás — retire-os do poder. Eu acho muito pouco provável, haja vista que, ao que me consta, os chefes militares todos estão alinhados com os aiatolás. E você fazer uma revolução para derrubar o governo sem arma é muito difícil. É, por exemplo, o caso brasileiro atual.
Então é isso. Gostei muito do seu relato; achei muito enriquecedor. E só nos resta, meu amigo, lastimar que um país, com essa história belíssima e com uma cultura antiquíssima, esteja reduzido a isso no momento. As mulheres são consideradas artigo de terceira categoria. Qualquer coisa é traição ao islamismo, ... essas coisas todas e tal. Enfim, realmente, é muito triste.
É isso, meu amigo, muito obrigado pelo “banho de cultura” que você me enviou. Eu realmente ignorava que você tinha sido adido militar em Teerã. E creio que, com certeza, você representou muito bem o nosso País, apesar de ter quase matado o chinês. Ele foi se meter de pato a ganso, com o desafio de um paraquedista magrinho, sarado e corredor de maratona. Bom, ainda bem que o chinês sobreviveu.
Está bom, meu amigo, muito obrigado pelo relato. Eu fiquei, mais uma vez, eu ratifico, ... eu fiquei muito sensibilizado por você ter a consideração de enviar o seu brilhante texto para mim, de viva voz.
Um forte abraço, fica com Deus. E que o Grande Arquiteto Do Universo (GADU) continue estendendo seu manto sobre você e sobre a sua família. Deu te abençoe!
SCPL
Um adendo
Só falando um pouco mais sobre o Xá Reza Pahlevi. Eu me lembro que o pessoal o citava como alguém muito avançado para a cultura de seu país, ... e tinha a Soraya, que era a esposa dele, da qual depois ele se separou porque ela não podia ter filho e ficou com a Farah Diba. Mas a Soraya era o ícone da moda e da elegância e era uma mulher que tinha voz ativa. Realmente, foi uma pena, infelizmente, ... mas o Xá Reza Pahlevi era muito corrupto. Muito corrupto! Então, isso deu motivos para que acontecesse o que aconteceu. Pena que aqui no Brasil não ocorra o mesmo. É isso aí meu amigo, foi só um adendo. Forte abraço.
SCPL
Estimado amigo Saint-Clair,
ExcluirSeu comentário, em áudio, sobre o texto “Vivência no Irã — lamento e felicidade”, denota seu elevado nível de informação e sua enorme cultura geral, especialmente, sobre a antiga Pérsia. Permita-me acrescentar uns poucos detalhes.
De fato, o Irã não é um país árabe, como alguns imaginam. Contudo, dentre as 31 províncias iranianas, há uma chamada Khuzestão, que é árabe; ela se situa na fronteira com o Iraque, às margens do rio Tigre e ao norte do Golfo Pérsico. Curiosamente, é a mais rica das províncias do país, devido à abundância de petróleo.
Os iranianos não falam árabe, porém, o farsi é um idioma alicerçado no alfabeto árabe.
Em relação ao Xá Reza Pahlevi, afora o aspecto da corrupção que você bem acentuou, o serviço de inteligência de seu governo (ou polícia política), chamado Savak, era odiado pelos iranianos, por ser violento, maltratar os cidadãos de forma hedionda e manter milhares de políticos oposicionistas no cárcere.
Presciente amigo Saint-Clair,
Agora um esclarecimento sobre minha nomeação para servir no Irã. Por volta de 1997, o então ministro Zenildo alterou as normas de tal sorte a permitir que os oficiais engenheiros militares concorressem junto aos oficiais combatentes ao cargo de adido militar. Em 1998, eu estava cursando o CPEAEx (Curso de Política e Estratégia da Alta Administração do Exército) na ECEME, no Rio de Janeiro, e chegou do DGP (Departamento Geral de Pessoal), em Brasília, um expediente com a relação de 16 coronéis do curso que estavam concorrendo às 8 vagas de adidos, para o período de 1999 e 2000. Como eu não estava incluído, imaginei que deveria haver alguma restrição profissional a meu nome, isto é, minha carreira tinha chegado ao limite final. Em minhas reflexões, cheguei à conclusão que deveria solicitar o desligamento do curso e o subsequente pedido de transferência para a reserva. Pensei nisso durante uns 4 dias e resolvi dar um telefonema para a Diretoria do DGP que tratava do assunto e buscar a razão desse tropeço. Oportunamente, o telefone não foi atendido por soldado, cabo ou sargento, conforme o habitual; foi atendido por um tenente-coronel — e veja a curiosidade — exatamente o encarregado de preparar toda a documentação com as propostas de oficiais para concorrerem ao cargo de adido. Quando eu lhe perguntei as razões pelas quais meu nome não fora incluído na relação enviada para a ECEME, ele ficou surpreso e pediu tempo para verificar. Uma hora depois ele me ligou e disse que fizeram de acordo com o que sempre ocorrera no passado; e não levaram em conta que uma nova norma incluía os oficiais engenheiros militares. Ele solicitou que eu enviasse por fax, a documentação requerida e depois encaminhasse por Sedex, os documentos originais, incluindo o parecer do comandante da ECEME. Dessa forma, meu nome chegou na proposta encaminhada para o ministro Zenildo. Ele me designou para ser adido no Irã, com a justificativa de que sendo solteiro, eu aliviaria alguma esposa de conviver dois anos num país islâmico e severamente restritivo em relação às mulheres. E assim, o saudoso general Zenildo contribuiu para que encontrasse uma brasileira na antiga Pérsia para se tornar mãe de minhas queridas filhas e, naturalmente, minha esposa até hoje.
Meu amigo Saint-Clair,
Enviei para você os áudios do texto “Vivência no Irã — lamento e felicidade”, que você com extrema consideração, teve a paciência de ouvi-los. Agora, estou enviando os áudios do Anexo 1, referente às viagens à Europa e Ásia, realizadas no período em que estive na antiga Pérsia.
Muitíssimo obrigado por sua avaliação generosa e plena de amizade e camaradagem, a respeito do relato sobre o período passado no Oriente Médio.
Um forte e fraterno abraço
Aléssio RIBEIRO SOUTO