Sobre a Venezuela, há algumas questões a considerar.
Com território e população de proporções pequenas para médias, e com riquezas petrolíferas abundantes, se bem administrado, o país poderia atingir o nível do Chile em cerca de dez anos; e de uma Espanha em vinte anos. Seria o primeiro país desenvolvido da América Latina. Com o surgimento do chavismo, o país mergulhou numa crise sem precedentes e jogou por água abaixo qualquer possibilidade de evolução razoável.
Nos últimos meses, alguns fatos são indicadores relevantes de que um ponto de inflexão para o deplorável quadro atual está se aproximando. A eleição do Bolsonaro alterou completamente a balança política e estratégica da América do Sul, que foi posicionada contra o Governo do presidente Maduro. A posição do governo americano — inequivocamente contra Maduro e os herdeiros de Chaves — carregou junto importantes países europeus, notadamente, a França, a Alemanha, a Espanha e o Reino Unido.
Recentemente, a auto declaração de Guaidó como presidente interino pode se constituir na gota d’água que mudará o quadro deplorável em que os venezuelanos mergulharam. O apoio incondicional já expresso pela política de relações exteriores brasileiras para o eventual presidente venezuelano favorece a hipótese salvadora da Venezuela. A União Europeia concedeu um prazo reduzido para que Maduro convoque novas eleições presidenciais. Nas últimas 48 horas, houve o telefonema do presidente Trump para Guaidó, reconhecendo-lhe a investidura no cargo; algo sem precedentes nas relações internacionais. O vice-presidente americano agendou uma reunião em Miami, com os refugiados venezuelanos que se opõe a Maduro. Ademais, os americanos receberam o representante diplomático do novo presidente em Washington.
No âmbito da imprensa, Maduro contabiliza as piores falhas. Seu governo prendeu jornalistas do Chile, da Espanha, da França e da Colômbia. Essas ações potencializaram as pressões dos países de origem dos jornalistas. Até agora, apenas os chilenos foram expulsos. Sobre os demais, notícia não há.
E a questão econômica? A China tem mais de 50 bilhões de dólares investidos na Venezuela. A Rússia deve ter crédito de cerca de 15 bilhões relativos a venda de armamentos modernos. Como a Venezuela se encontra em severa crise, com os preços do petróleo em patamar baixo e com o agravamento da redução da produção, os pagamentos acordados não têm sido realizados regularmente. Em consequência, há pressões chinesas e russas, não se sabendo até quando esses dois países suportarão a falta de pagamento venezuelana. Não pode ser ignorado que o governo Putin está submetido a crise econômica; e o governo de Xi Jiping enfrenta queda de produção industrial.
Há a questão militar. Os altos escalões venezuelanos foram cooptados desde o governo Chaves com a gestão de corporações industriais ou similares, de tal sorte a garantir o apoio da caserna, algo que tem prevalecido até agora. Com o agravamento da crise econômica, a razão primacial do apoio militar pode ser reduzida ou terminada. Existe pois a possibilidade de os militares aceitarem os acenos do auto declarado presidente Guaidó e abandonarem Chaves.
A indagação essencial: será necessária uma intervenção militar externa? Não está no momento aprazado para apertar o torniquete político-diplomático e econômico? Quaisquer que sejam as reflexões resultantes, é imperioso que os Estados Unidos compensem os naufrágios externos, ocorridos a partir da era Obama, na Síria e na Ucrânia; e faça frente aos desafios chineses no sudeste asiático. É inadiável que o Brasil assuma o abandonado papel na gestão das questões político-estratégicas no âmbito da América do Sul — não é preciso anunciar que vai fazer isso; basta fazer com calma e elegância. Para o bem do povo venezuelano, do povo brasileiro e de todos os demais vizinhos.
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