O Brasil é um país sério

O GLOBO — 27/Ago/2018

O Brasil não é um país sério

          Em artigo publicado em O Globo, o jornalista Fernando Gabeira analisa a situação eleitoral do Brasil com vistas ao pleito de outubro de 2018, destacando as mazelas de eleitores e de candidatos, alertando para as possibilidades que o evento oferece para a sociedade. E o faz com a citação da detestável frase atribuída a De Gaulle de que "O Brasil não é um país sério" (“Le Brésil n’est pas un pays sérieux!”)

RESPOSTA DESTE (E)LEITOR

O Sr. Fernando Gabeira se inclui no universo dos seres humanos sonhadores. Na juventude, na busca da consecução de seu sonho, fez a opção errada. Na maturidade, acordou e, demonstrando grandeza e lucidez, retificou os rumos das metas colimadas e tem prestado serviços a aqueles que se dispõem a pensar. Guardemos.

O Sr. Pierre Clostermann, aos vinte anos, incorporou-se a De Gaulle em Londres para lutar pela Pátria de seus pais; já na reserva militar, foi voluntário para combater na Guerra da Argélia; foi sete ou oito vezes deputado pela Assembleia Nacional francesa; e escreveu onze livros. Quando De Gaulle morreu, ele asseverou: “De Gaulle morreu ontem. Eu chorei. Por minha perda ou pelo fim de qualquer coisa que ainda me assombra? Como asseverou Roman Gary, amigo e camarada da Ordre da la Libération: ‘Um velho homem se foi, levando consigo nossa juventude.’  — essa juventude que nós lhe entregamos voluntariamente em Londres”. Clostermann nasceu no Brasil, ainda na infância foi para a França; com dezesseis anos voltou ao País e fez pilotagem no Rio de Janeiro. Ao final da Segunda Guerra Mundial, aos vinte e cinco anos, estava consagrado como o maior herói da aviação francesa de todos os tempos. Ela não concorda com o que se atribui a seu inspirador e mito — citado pelo Sr. Gabeira —  sobre a seriedade dos brasileiros.

O Sr. Roman Gary nasceu na Europa Oriental, foi tenente aviador com Clostermann na Segunda Guerra Mundial; foi co-roteirista do filme “O mais longo dos dias”, viveu com a maravilhosa atriz Jean Seberg; tornou-se o único ganhador do Prêmio Goncourt de literatura duas vezes; e suicidou-se ao final da vida.

De um certo prisma, esses três personagens mostram um final de dois a um (De Gaulle, hors concours, fica de fora) — uma vida iniciada na contramão e retomada pela senda da virtude e da busca de um mundo melhor; uma vida e um final excepcionalmente gloriosos; e uma vida exemplar, agradavelmente vivida e ceifada de forma brutal e inexplicável. O placar apertado vale. Qualquer que seja a mazela, sempre há a possibilidade de retificação de rumos. A despeito dos canalhas encarcerados em Curitiba, em face da anomia produzida, o Brasil é um país excepcional. Simples, basta “uma grande virada na educação, não apenas humanística, mas científica e tecnológica, ... — o grande objetivo nacional”, como asseverou o Sr. Gabeira.

Simples toques no botão correto em 7 de outubro serão suficientes para varrer a esquerda e os prejuízos por ela transmitidos para a posteridade. Não é obra impossível, o Brasil tem jeito e as pessoas são sérias — quer dizer, a maioria é.