sábado, 26 de maio de 2018

Educação e C&T


CORREIO BRAZILIENSE — 26/Mai/2018


O intelectual Demétrio Magnolli trata da candidatura Bolsonaro de forma a ignorar a realidade brasileira dos últimos 20 anos. Ao participar de programa da Globo News e ao publicar artigo no jornal Correio Braziliense, o articulista ignora particularmente a tendência dos eleitores de agir e reagir em relação aos novos tempos que se desenham no horizonte. As razões são analisadas na mensagem apresentada a seguir.


RESPOSTA DESTE (E)LEITOR


[Mensagem e-mail enviada para o Correio Braziliense, em 26/Mai/2018]

Ontem, num programa da Globo News, o senhor Demétrio Magnolli asseverou que “o ‘outsider’ de hoje, Bolsonaro, é incapaz de vencer em uma reta final. Então, ele é o adversário ideal para todos os outros candidatos. Quem foi para o segundo turno com Bolsonaro será presidente do Brasil”
Hoje, em no artigo ‘O nome do candidato de Lula’, no Corrreio Braziliense, o senhor Magnoli afirma que “o ‘outsider’ de hoje (Bolsonaro) é um extremista sombrio, incapaz de triunfar na reta de chegada.”
Deixemos de lado a primeira constatação, na Globo News. Fiquemos com a indigência subsequente, a questão sombria, definindo seu significado.
Acho-me sombrio; sombrio, eu sou. Olho-me no espelho e vejo o rosto resultante da origem nordestina, fertilizado que fui com nutriente de mandacaru. Então, sou tentado a atribuir minha característica sombria a outrem. Não o faço. Envergonho-me, constranjo-me. Minha integridade não permite. A minha vontade dá e passa. Comigo sim, não, sim; com o senhor Magnoli, não, sim, não, respectivamente. Ordenar as proposições de forma adequada retira a satisfação de pensar.
Sombria pode ser a sociedade brasileira caso se deixe influenciar por formadores de opinião que preferem analisar a eleição presidencial brasileira vindoura à luz do pseudo candidato que está enjaulado na planície fria do sul do país por liderá-lo (sic) na maior roubalheira que se tem notícia desde os tempos bíblicos. No citado artigo, mais da metade do espaço é ocupado por asserções atinentes aos pacientes que foram convidados a refletir no cárcere de Curitiba.
Sombrios são os cidadãos tupiniquins que podem se submeter às formulações intelectuais de quem está com o retrovisor embaçado e dirigido para a retaguarda (até porque quem adota o retrovisor como metáfora da possibilidade de pensar não tem alternativa) e envolvido na cegueira que impede a visualização do planalto que se descortina na vanguarda, impactado pelas evoluções decorrentes das revoluções científico-tecnológicas.
Sombrios são os telespectadores e leitores que assistem e lêem a tentativa incoerente, ineficaz e destituída de lógica, razão e ética de emplacar alguém para se contrapor ao candidato que percebeu com maior argúcia as demandas maiores da população. Por oportuno, duas indagações triviais impõem-se. Não é veraz o balão de ensaio de fazer de político do nordeste, terra de magníficos e bravos, um herdeiro que seja capaz de mudar tudo para deixar tudo como dantes, à semelhança do que ocorrera em “O Leopardo” concebido por quem vem das planuras de Lampedusa, um século e meio atrás? Não seria o caso de dizer-lhe que pelo menos tente um líder à altura do que os valorosos nordestinos merecem?
O senhor Magnoli não é sombrio nessa história. Afinal, ele deve ter a língua e os neurônios submetidos a polimento que os deixaram iluminados, cristalinos e maravilhosos. Platão em suas andanças à procura de jovens — e ele não pode ser condenado por isso —, ao encontrá-los dizia-lhes que Sócrates alertara que para estar na dianteira do universo, para ver, observar, constatar, interpretar e inferir sobre suas essências, é imperioso polir a língua e os neurônios; mas que ficasse bem entendido que apenas uns poucos poderiam fazê-lo. Só os melhores poderiam se submeter ao processo sem correr o risco de danificar as funções orgânicas e prejudicar as faculdades vitais de metabolizar as fontes de energia e potencializar as fontes de ideias. As coisas gregas ora citadas, eu as invento; não são encontradas na literatura; mas invento porque são razoáveis. Será que o senhor Magnoli analisou o risco?
A única vantagem da existência de intelectuais como o senhor Magnoli é a certeza de que assistindo-o e ouvindo-o, o eleitor pode fazer sua opção com garantia e segurança. É só escolher quem ele condena. 
“O essencial é invisível aos olhos”, asseverara Antoine de Saint-Exupéry, a quem Pierre Clostermann considerava um traidor.

Pierre Clostermann nascera no Brasil e, aos 24 anos, tornara-se o maior herói da Força Aérea Francesa de todos os tempos, com 400 missões aéreas de guerra e 33 aeronaves nazistas abatidas. Ademais, foi eleito e reeleito sucessivamente por seis vezes para o Parlamento francês. Deixou-nos como herança suas memórias e seu pensamento, em onze livros.

Recordando os ensinamentos de Platão, vê-se que o essencial plenamente visível, sem qualquer infidelidade, é a demanda dos cidadãos, contribuintes e eleitores em busca de harmonia e equilíbrio que lhe foram conspurcados pela quebra de paradigmas essenciais —  verdade, liberdade, ética e coragem, como atributos fundamentais da democracia — e que podem ser resgatados com a eleição de Bolsonaro.
Afinal, Bolsonaro sabe que basta dar prioridade total para Educação e Ciência & Tecnologia — as ações nesses dois campos são urgentes e emergenciais, ou seja, se estiver pegando fogo no prédio de uma reunião presidencial, ainda assim, o primeiro assunto será Educação e C&T, o segundo será prosseguir a reunião em outro prédio —  para que seu governo ocasione não apenas a mudança e a transformação requeridas, mas a revolução que colocará o povo brasileiro entre os povos com melhor qualidade de vida dentro de 60 anos. Claro, as medidas em Educação e C&T devem ser prioritárias, duráveis, sustentáveis, colimadas e geridas pelos melhores talentos disponíveis e devem, no governo dele, conquistar um ponto de não retorno.

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terça-feira, 8 de maio de 2018

Sem favorito


ESTADÃO— 8/MAI/2018


A Sra. Eliane Catanhêde publicou no Estadão o artigo “Sem favorito(s)”, em que assevera com ênfase que “Bolsonaro bateu no teto. O resto é o resto e cada um tenta fechar alianças, ganhar uns minutos na TV, montar equipe, articular um esquema de financiamento sólido ...”.


RESPOSTA DESTE (E)LEITOR


 [Divulgada no campo ‘Comentários’, contíguo ao artigo, no site do Estadão, em 8/Dez/2018]

Quanto à assertiva “Bolsonaro bateu no teto”, de forma simples e objetiva: ele não mente; ignora os que querem conchavos, à moda do PSDB, PT e PMDB et caterva; não corrompe e não se deixa corromper; não promete o que não pode fazer; contraria aqueles que, para se beneficiar, usam os negros, os gays e a forma não razoável de tratar a mulher; e denuncia o absurdo da impunidade descabida dos sistemas responsáveis pela justiça e segurança do Brasil. Então, claramente, ele não bateu no teto, apenas chegou no ponto da trajetória onde os brasileiros sonham em chegar e depois ultrapassar. Simples!


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sábado, 5 de maio de 2018

Resposta ao Sr. Reale Júnior


ESTADÃO — 05/Mai/18


Volta à ditadura pelo voto

Em artigo com esse título, publicado no Estadão, o Sr. Miguel Reale Júnior faz severa e desarrazoada crítica ao regime vigente de 1964 a 1985 no Brasil e assevera que “a nefasta combinação de depressão econômica com a descoberta da corrupção que lavrou no País, atingindo as principais lideranças políticas, provoca, por desinformação, manifestações em favor da volta aos militares ao poder, dando apoio ao pré-candidato Jair Bolsonaro, entusiasta dos métodos da ditadura, com discurso agressivo em prol da repressão violenta.”
O Sr. Reale Júnior chega à peroração ressaltando que “em face desse quadro, qual democrata pode aceitar candidatura presidencial alimentada por tais ideias? Seria a volta piorada da ditadura por via do voto.”


RESPOSTA DESTE (E)LEITOR

Usei-o [o Poder], sim, para salvar as instituições, defender  
o princípio da autoridade, extinguir privilégios, corrigir as
 vacilações do passado e plantar com paciência as sementes
 que farão a grandeza do futuro [...].
(Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco)

Em relação ao artigo “Volta à ditadura pelo voto” (Estadão, 5 de maio, A2), do professor Miguel Reale Júnior, da USP (talvez fosse melhor mencionar professor doutor), praticante de taramelas na Associação Paulista de Letras e ex-Ministro da Justiça, é imperioso que se submeta o texto à possibilidade do contraditório. Afinal, uma autoridade desse naipe falando a verdade ou a falsidade, testemunhando a justiça ou a injustiça, propalando a ética ou a safadeza, nada impactaria em uma sociedade minimamente organizada, mas tem um estratosférico efeito no universo das pessoas que herdaram o país do PSDB e do PT, com índices de corrupção, desemprego, fome e encarceramento de autoridades jamais vistos na História da Humanidade. Ou seja, submerso em uma crise fatídica, genética e originariamente moral. ‘Ah não! A culpa é dos militares’— diria o iluminado professor doutor. Acho que não! Eu diria. Vejamos as razões.
Comecemos pelo início — eu disse começar pelo início, senhor professor doutor! O título sugere que podemos asseverar ‘volta à democracia pelo voto’. Não foi isso que ocorreu no governo ao qual o professor doutor serviu como Ministro? Sim, mas esse governo liderado por quem é considerado um dos maiores intelectuais da história do Brasil, legou para a posteridade um sistema educacional que coloca nosso país entre os piores em que faz sentido realizar essa avaliação (PISA) — os países membros e os países parceiros da OCDE. Sim, mas esse governo permitiu sua continuidade na democracia pelo voto, deixando-se substituir pelos titulares do maior escândalo de corrupção da história da humanidade — ou os próceres dessa façanha estão encarceradas de brincadeirinha no período da democracia pelo voto? Sim, mas o professor doutor sabe, mais do que todos,  que o aprendizado se propaga e o governo a que serviu deu início a um período em que se ‘conquistou’ a reeleição presidencial por processos virtuosos que teve continuidade no Mensalão e no Petrolão. Ou não? Ou tudo é virtude no cérebro face da Lua do professor doutor? ‘Cérebro face da Lua’ é um neologismo para designar aqueles que têm a faculdade de praticar a verdade apenas com os impulsos de um lado da massa cinzenta. Do outro lado, a massa é cinzenta porém desprovida de conexões sinápticas.
Agora vamos pro meio — assim fica fácil; não é senhor professor doutor? Há várias considerações econômicas no exulcerante texto (não omitam ou substituam a palavra adjetivante, ela existe; adjetivante é que não existe), atinentes ao período militar, tais como: “manifestação em favor das eleições diretas e contra a desastrosa política econômica”, “trágica situação econômica”, “profunda carestia, com inflação galopante e redução drástica do PIB”, “inflação maior do que 10% e PIB negativo”. 
O eminente professor doutor se esqueceu de mencionar, em sua titulação, a especialidade em economia. Engano fatal. Até porque se não tivesse essa omissão — no currículo ou na mente — teria mencionado que o período militar tirou a economia brasileira da 48a. para a 8a. posição; criou a EMBRATEL, a TELEBRAS, o INSS, o PIS, o PASEP, a regulamentação do 13o. salário, o BNDES, o Banco Central, o PRO-ÁLCOOL, a EMBRAPA, o FUNRURAL, a Secretaria do Meio Ambiente (origem do Ministério correlato); instituiu o programa merenda escolar, o CNPq, a FINEP; implantou 15 universidades; asfaltou mais de 40.000 quilômetros de estradas; construiu mais de 10 hidrelétricas (inclusive Tucuruí e Itaipu) e 2 polos petroquímicos; elevou a produção petrolífera brasileira de 75.000 para 750.000 barris diários (sim, é isso mesmo; por intermédio da Petrobras, que os governos face da Lua das últimas décadas conspurcaram, enlamearam e tornaram-na vergonha do caráter nacional — corrijo-me: o caráter nacional não é moldado pelos petistas e peemedebistas que estão na jaula e pelos que acrescidos dos peessedebistas ainda serão devidamente encarcerados); multiplicou por uma dezena o número de alunos nas escolas fundamentais e médias e universidades (‘a mais a qualidade do ensino...!’, diria o professor doutor. Ah não! Digo eu. Essa deturpação é responsabilidade da trindade santa, PMDB, PT e PMDB — o senhor participou da criação de quase todos, não é professor doutor?).
Já dá para começar a ir para o fim — por favor, professor doutor (‘prodou’ para ficar mais digerível), não estou asseverando começar do fim! Em realidade, vou começar indagando. O ‘prodou’ sabe o que aconteceu na Rússia nas décadas de 1910 a 1950? Sabe, claro que sabe. O ‘prodou’ sabe o que aconteceu na Alemanha nas décadas de 1930 e 1940? Similarmente, sabe; só não vai admitir que os militares brasileiros ajudaram a extirpar o nazismo do cenário global e impediram a implantação do comunismo no Brasil. O ‘prodou’ sabe o que aconteceu na Colômbia nas décadas de 1970 a 2000? Dúvidas não há; o ‘prodou’ é sabido, mas alguns não. 
Com erro estimado em 10 a 20%, pra mais ou pra menos, o que para a hipótese é razoável, poderíamos estimar em 10 milhões de torturados e mortos na União Soviética (aí incluídos os milhões de assassinatos por fome na Ucrânia), 6 milhões de torturados e mortos na Alemanha (restringindo-se apenas a judeus e assemelhados), 100 mil torturados e mortos na Colômbia (parte da imprensa brasileira divulgou 220 mil sacrificados). Incluir a turma com quem o Mao (que era mau não apenas no nome, mas também na retórica e na ação), Pol Pot e Fidel Castro não prejudicaria a compreensão do demógrafo economista ‘prodou’, mas entediaria os demais leitores.
Tá vendo, já não sei mais onde estou ...! Sim, lembrei! As barbaridades do regime militar brasileiro existiram? Sim. Muitas? Depende. Se levar em conta o que, no século XVII, o que o poeta britânico John Mayra Donne asseverou, é irrelevante se muitas ou poucas. Afinal, “quando alguém se vai, os sinos dobram por todos” (Hemingway apenas copiou Donne, sabiamente!). Que me desculpe o poeta, mas entre os que se foram e os que não foram idos, eu fico com estes. Os russos, os alemães e os colombianos fizeram a opção de lutar continuadamente. 
Os militares brasileiros fizeram a opção de, em pouco tempo, sacrificar uns poucos para que muitos não fossem sacrificados. Fala-se em 450 mortos da parte que queria implantar o comunismo no Brasil. Fico sempre na dúvida se entre estes estão incluídos os que foram justiçados pelos próprios comunistas, isto é, pelos próprios companheiros. É! Eles se mataram também! Fala-se em 120 mortos da parte dos vencedores — quer dizer, os perdedores jamais falam das perdas dos oponentes, não é professor doutor? Retorno à denominação original porque minhas herdeiras, todas menores de 15 anos, afirmaram que a forma neologística desvaloriza o argumento. Fala-se em uns 900 a 1200 torturados, porém mais de 20.000 requereram indenização e tiveram apoio da Comissão que o notável professor doutor se orgulha de ter presidido. Por que o senhor professor doutor não aceitou avaliar também as mortes covardes que o outro lado perpetrou?
Vamos lembrar Bertold Brecht, professor doutor? Ele disse: 
“Quem luta pelo comunismo tem que poder lutar e não lutar; dizer a verdade e não dizer a verdade; prestar serviços e negar serviços; manter a palavra e não cumprir a palavra; .... Quem luta pelo comunismo tem de todas as virtudes apenas uma: a de lutar pelo comunismo”(deixo de citar no original, que li, porque minhas herdeiras lerão e elas ainda não estão habilitadas no idioma). 
Gostou, não é professor doutor! Eu sabia! Pode gostar, mas convém substituir a palavra comunismo por fanatismo, indigência de caráter, etc. Nem precisa ser exaustivo.
Tamos começando a chegar ao fim. Pegar frases soltas do Bolsonaro e construir uma narrativa, como fez o professor doutor, valendo-se da força do meio, o respeitável Estadão, será que é razoável? É, pode ser! Desde que, em conjunto com as frases, fossem colocados, de forma lógica, racional e proba, o contexto e as demais informações essenciais que permitissem (ou não!) que a partir da integridade, da sabedoria e do caráter do formador de opinião, os leitores de boa fé — dentre os quais, ressalvadas as imperfeições da condição humana, me incluo — pudessem certificar e comprovar a assertiva de Brecht; e pudessem continuar aspirando e sonhando com uma Nação e uma sociedade fraterna, solidária e justa, bem como continuar lutando pertinazmente para conquistar esse objetivo; fundamentando a luta na retórica e na prática da verdade, da liberdade e da ética, que são os mais importantes valores para a construção da democracia. Sócrates se contorceria onde se encontra e diria: 
‘Valeu a pena entornar a taça de cicuta sem fazer concessões! Seria uma epopeia edificante para os brasileiros, se fosse em Curitiba. Bom, em Atenas foi uma forma de criar uma civilização e lá seria uma forma de tentar a salvação, sem absorver o conteúdo de outra taça!’, apud apologia concebida por Platão e agora manipulada em Rochedo.
Atenciosamente,
ARS
[Identidade, endereço, e-mail e telefone]

PS. Considero pouco provável que o Estadão divulgará esta mensagem no Fórum de Leitores, como já fizera com uma parcela (menos de 50%) das mais de cem mensagens que enviamos. Porém, tenho a expectativa de que o texto chegue ao autor do artigo que provocou estes comentários.
É preciso que o autor saiba quem sou. Sou nada. Aos 5 anos, meu pai, lavrador semianalfabeto me ensinou uns garranchos. Reclamei que não conseguia fazer as contas no papel, e ele disse que era para fazer de cabeça como ele, pois com o lápis ele não sabia. Aos 5 anos e meio, ele comprou uma enxada pequena e disse que a partir de então eu iria ajudá-lo na roça, nas tarefas da lavoura. Aos 6 anos, ele disse que teríamos uma conversa séria. Eu precisava decidir se queria ter uma vida meio tranquila, ou queria ficar no cabo do guatambu igual a ele, a vida toda. Respondi que queria uma vida tranquila.
Então, ele disse que eu teria que estudar, mas aí teria dois problemas. O primeiro: eu me mudaria para uma pensão na cidade de Rochedo, com seus 900 habitantes, e só veria os pais e os irmãos de uns dois em dois meses. O segundo: ele não podia pagar o valor da mensalidade, então eu deixaria de dormir na cama com colchão que ele fizera com suas próprias mãos, e passaria a dormir na rede, em um corredor da pensão. Nessa condição, a proprietária poderia cobrar a metade do preço, e aí ele poderia pagar. Minha resposta: disse que queria estudar.
Aos sete anos, saí de casa em direção a meu destino, carregando comigo os alicerces de meu caráter e de meus valores — que me permitem olhar com enorme encantamento a atitude de Sócrates, Donne e Brecht (pela integridade deste, a despeito de seu comunismo; a rigor, não tenho detalhes de sua vida, mas nem é necessário, pois haveria o risco de ter que mudar de opinião); e que me possibilitam olhar com enorme tristeza o que os políticos, intelectuais e outros formadores de opinião fazem em nosso maltratado país. Meu posto militar, as graduações e pós-graduações, e várias outras coisas mais, são irrelevantes. 
Para mostrar como um pai e o Exército mudaram a vocação inicial de uma criança — que era passar a vida no cabo do guatambu, trabalhando a terra — e para que não exerça a covardia de me esconder nas mazelas de minha infância, das quais sinto muito orgulho, menciono que sou oficial general da reserva das invictas e imorredouras Forças Armadas brasileiras.

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