segunda-feira, 21 de julho de 2025

Carta para Eloy

Meu caro amigo,

 

Tive a satisfação de receber seu livro “Exército (Para quê?), Revolução de 1964 (Por quê?), Amazônia (Para quem?)”. Abri o pacote na hora. O título e a capa já falam muito! São instigantes! Li as primeiras páginas e folheei algumas parcelas do conjunto. 

A primeira impressão é que se trata de uma fonte valiosa como, não raro, ocorre com bons livros. Adicionalmente, fiquei com a percepção de que se assemelha a um curso de História, dado que tem uma enorme quantidade de informações e dados concatenados, muito bem referenciados e com lúcidas análises sobre a realidade brasileira, com grande impacto na atual conjuntura.

Para mim, para minha trajetória, o livro é especial, por três razões. Exponho-as.

Passei mais de 40 anos na vida militar ativa, então a resposta à indagação “Para quê?”, relativa ao Exército, é essencial. É imperioso refletir sobre a resposta, confirmar as virtudes de nossa valorosa e inexcedível Instituição — o Exército, conforme Eloy (permita-me o privilégio de citá-lo!), “nascido em 19 de abril de 1648, ... quando, pela primeira vez, lutaram juntos, em defesa da pátria comum, negros (Henrique Dias), brancos mazombos (como eram chamados os portugueses nascidos no Brasil) e índios (Felipe Camarão), na Batalha de Guararapes”.

Em relação ao “Por quê?”, atinente à Revolução de 1964, devo lhe confidenciar parte da evolução de minha família. Papai deixou a roça, na modesta fazenda do sogro, com a família, para viver em Rochedo, com seus 2000 habitantes, no antigo Mato Grosso, agora Mato Grosso do Sul, com o objetivo de possibilitar escola para meus quatro irmãos e irmãs mais novos — antes da mudança, eu morei em pensão nessa cidadezinha, na qual fiz o curso primário.

Papai comprou uma pequena casa comercial, em estado falimentar, e a transformou em um mercado bem-sucedido, que vendia secos e molhados, ferragens, tecidos, confecções e armarinhos; enfim, essa coisa que existe em quase todas as vilas e pequenas cidades de nosso interiorzão. Pois bem, por volta de 1963 para 1964, integrantes de um famigerado “Grupo dos 11” faziam proselitismo comunista, e transmitiam a mensagem de que, com a vitória da revolução, eles iriam tomar o comércio de meu pai, para distribuição dos bens para o povo, e lanhariam as costas do ‘velho’, em público, sob a alegação de que ele explorava os cidadãos. 

Eu morava em pensão em Campo Grande, para prosseguir os estudos. Meu pai mandou me dizer que eu fosse para Rochedo em um final de semana. Aí ele me assegurou que se houvesse o triunfo do “Grupo dos 11”, ele reagiria (era valente, tinha armas e era excelente atirador) e havia a possibilidade de ele ser morto, mas antes ele levaria uma parcela do grupo hediondo. Aí, ele me fez prometer que, em caso de tragédia fatal, em meus 13 anos de idade, eu deveria largar os estudos, voltar para Rochedo, para ajudar mamãe a criar os irmãos e irmãs. Felizmente, houve a Contrarrevolução de 1964; e a modesta estória de minha humilde família e a rica história do País tomaram o rumo alicerçado em valores civilizacionais adequados e que alguns ainda insistem em conspurcar. É imperioso destacar que, de acordo com Eloy, “no dia 31 de março de 1964, as Forças Armadas tiveram de sair às ruas para, apoiada por toda a sociedade brasileira, pôr fim à escalada do Brasil rumo ao comunismo.”

No que concerne ao questionamento “Para quem?”, sobre a Amazônia, ... bom, acho que você sabe que, em 1981, após terminar a graduação em Engenharia elétrica no IME, fui para a Amazônia e servi, durante 4 anos, na Comissão Regional de Obras da 11ª. Região Militar, em Manaus-AM. Naquela época, tive a oportunidade de realizar obras, por administração direta — isto é, na forma presencial — nos Pelotões de Fronteira situados nas seguintes localidades: Marco BV-8, na fronteira com a Venezuela; Japurá e Ipiranga, na fronteira com a Colômbia; e Palmeira e Estirão do Equador (ambos às margens do rio Javari), na fronteira com o Peru. Acrescento uma curiosidade! Em 2022, o jornalista Dom Phillips foi covardemente assassinado nas proximidades do rio Javari, onde trabalhei, há 40 anos. É oportuno registrar minha interação com esse caboclo, dado que, em 2018, fui entrevistado por ele e tive citação em dois de seus artigos no prestigioso jornal britânico The Guardian

De toda sorte, como bem coligido de outrem, “Amazônia é Brasil”; e, segundo Eloy, “temos a obrigação de, quando se tratar da defesa de nosso país, levantar a voz para impedir as decisões impatrióticas (ou que escondam interesses inconfessáveis) prejudiquem nosso país.”

Enfim, meu estimado amigo, sua magistral obra trata de questões que me dizem respeito e me fascinam. É grande a curiosidade sobre as tratativas nela contidas.

Considero-me, pois, privilegiado e honrado por ter acesso à sua visão de uma temática — a rigor, um rico conjunto de três temas palpitantes — não apenas de meu interesse (mercê até de um certo egoísmo), mas de interesse geral para todos os brasileiros.

Permita-me encerrar estes garranchos com os efusivos cumprimentos pela obra-prima e com um muitíssimo obrigado, pela consideração e amizade.

Forte e fraterno abraço,

ARS

 

sexta-feira, 18 de julho de 2025

Combate à pior das ditaduras


Em nova decisão do Supremo Tribunal Federal, o ex-presidente Jair Bolsonaro foi alvo de medidas cautelares propostas pelo ministro Alexandre de Moraes, tais como: uso de tornozeleira eletrônica, veto ao uso de redes sociais e falar com outros investigados.

Ademais, o ex-presidente foi alvo de operação da Polícia Federal, em sua residência e no escritório do Partido Liberal, do qual ele é presidente de honra.

 

Quatro juízes alemães foram condenados em 1946, em Nuremberg, na Alemanha, pela acusação de legalizar atrocidades cometidas pelos nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial. 

Dois juízes iranianos foram assassinados em 2023 por terem condenado à morte e a outras sentenças, milhares de opositores à ditadura islâmica prevalente no Irã. 

Então, para combater a “pior das ditaduras, a do Poder Judiciário”, mencionada por Rui Barbosa, qual dentre as soluções cogitadas a seguir é mais eficaz e razoável para que os cidadãos recobrem a confiança nas instituições:

– o restabelecimento da democracia e a submissão dos magistrados a julgamento, como em Nuremberg; ou

– a adoção da prática constatada no país substituto da antiga Pérsia?

Para que não se considere um questionamento absurdo, jamais deve ser ignorado que a conquista da democracia resultou de traumas com pesadas perdas humanas e materiais, tais como a Revolução Francesa e a Revolução Americana.

 

Um leitor do Estadão decidiu mencionar que minha “comparação é idiota, inoportuna e totalmente desproporcional.”. Trepliquei.

 

Os ‘autraloptecus estrumerius’, apoiam os ‘australoptecus corruptus’, cuja faculdade de pensar não chega ao patamar da relevância. 

Integrantes dessas espécies não são capazes de entender:

– a arte de vencer, de Sun Tzu; 

– os fundamentos da política e ética, de Aristóteles; 

– a interação entre ciência e religião, de Tomás de Aquino; 

– a opção pelo doentio autoritarismo, de Hobbes; 

– as virtudes do liberalismo, de Locke; 

– as luzes da economia moderna de Adam Smith; 

– a vontade livre e autônoma, de Leibnitz; 

– as mazelas do socialismo, de Marx; e 

– a adesão ao autoritarismo, para chegar aos fins, de Heidegger!

 

Sem grosseria ou ofensa, até porque enfrentamento só na forma presencial, frente a frente, olhos nos olhos, de tal sorte a evitar a covardia do anonimato. Apenas com a arte de pensar. 

Com simplicidade – bem fácil mesmo – para permitir a compreensão. Bom, tem gente que demora um pouco; já outros há que jamais entenderão.


A rigor, tive êxito em postar o primeiro comentário nos seguintes destinatários: Facebook da BBC, do Estadão, da Folha de São Paulo e da Gazeta do Povo; bem como em ‘posts’ do Sidnei e do Tadeu. Os testemunhos destas postagens são apresentados nesta matéria.

 

 






 














 

quinta-feira, 17 de julho de 2025

Eu me envergonho José

Uma magistrada determinou o arquivamento do processo que tratava da utilização indevida de aeronave da Força Aérea Brasileira pela primeira-dama e pelos filhos do presidente da República.

Os procedimentos da Justiça não se aplicam a altas autoridades do País e a seus apaniguados. Então, reproduzo antigo texto que evidencia o sentimento de ampla maioria da população brasileira em relação à atuação do Poder Judiciário.

 

Eu me envergonho, José, da cúpula do sistema judicial brasileiro.

Eu me envergonho, José, da opção judicial de quem foi investido na devida responsabilidade em razão dos laços genéticos com o respectivo investidor.

Eu me envergonho, José, do uso do espinho da rosa para a prevalência do mal.

Eu me envergonho, José, do abandono da previsão constitucional, por ocasião de imprescindível ponto de inflexão da República.

Eu me envergonho, José, da decisão judicial de quem não raro é associado com negócios revestidos de polêmica.

Eu me envergonho, José, da consciência de que aqueles que envergonham também envelhecem e permanecem.

Eu me envergonho José, da gestão judicial daquele que não logrou êxito em concurso para a função judicante.

Eu me envergonho José, da distorção da concepção de notável saber jurídico e reputação ilibada.

Eu me envergonho, José, da interpretação da Constituição — diferente do que é praticado em mais de 150 países do mundo, inclusive em todos desenvolvidos e com elevado grau de respeito pelas conquistas civilizacionais — de tal forma a permitir que, no Brasil, a criminalidade institucional prossiga com a sensação de impunidade com a qual historicamente convive.

Eu me envergonho, José, da metáfora admitida por largas parcelas da sociedade para o sistema judicial brasileiro: vergonha.

E agora José?

Eu invejo o poeta porque mesmo tendo ido tarde — e embora tendo sido adepto de ideologia da qual discordo frontalmente —, ele seguiu a tempo de não se envergonhar do atual estado de coisas da justiça.

Eu o invejo, José, meu irmão, porque você se foi tão cedo, tão precocemente, e da mesma forma que o poeta, não precisa se envergonhar.

 



 

 

quarta-feira, 16 de julho de 2025

Mensagem para a empresa Varilux

Varilux

Prezado Sr. ou Sra.,

Estou tentando entrar em contato com a Varilux para obter orientação técnica na compra de lentes Varilux.

Nas várias óticas consultadas, o preço de uma mesma lente varia de forma anormal, para não dizer absurda! Estou tentando contato com um representante da Varilux em Brasília. Já tentei contato umas 10 vezes por intermédio dos telefones 08007272007 e 4000-2925.

Insucesso em todas as ocasiões. Então, o atendimento ao cliente tem se mostrado péssimo!

1] Vocês atendem mal sempre ou é apenas uma exceção?

2] Existe confiabilidade nessa empresa ou não; e o desrespeito com o cliente é a regra?

3] É possível acreditar nos produtos de vocês com esse tipo de desconsideração com o cidadão?

Atenciosamente,

ARS

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Varilux

Dear Sir or Madam,

I'm trying to contact Varilux for technical advice on buying Varilux lenses.

In the several optical shops I've consulted, the price for the same lens varies in an abnormal, not to say absurd, way! I'm trying to contact a Varilux representative in Brasilia-Brazil. I've already tried about 10 times by calling 0800-727-2007 and 4000-2925.

I have been unsuccessful on every occasion. So, customer service has been terrible!

1] Do you always provide poor service, or is it just an exception?

2] Is there trust in this company or not? And is disrespect for the customer the rule?

3] Is it possible to believe in your products with this kind of disregard for the citizen?

Best regards,

ARS

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As possibilidades de Tarcísio em 2026

Com o sugestivo título “O Teorema de Tarcísio”, o Estadão apresentou editorial com análise dos posicionamentos do governador de São Paulo, em relação a suas possibilidades de se candidatar a presidente da República no pleito de 2026. 

Nesse sentido, o jornal tenta apontar a conveniência de Tarcísio se afastar do clã Bolsonaro, com uma ênfase incomum e exagerada, à luz de afirmações tais como: “Trata-se de uma regra lógica: quem se entrega a Bolsonaro se emporcalha de golpismo e não ganha do ex-presidente nada além de desprezo. Mas Tarcísio tem alternativa: esconjurar Bolsonaro”

A matéria conduziu muitos leitores a postarem comentários;  alguns, com um nível de grosseria compatível com a sentença verborrágica ora mencionada.

Destaco, a seguir, aspectos do comentário postado por um leitor, escolhido dentre aqueles com conteúdo razoável.

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O editorial quer conduzir o Tarcísio, por questões higiênicas, a se associar a uma espécie de PSDB da política, para que assim se torne um limpinho com chances, no futuro, de almejar um mandato na presidência.

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1) Tarcísio é o candidato da direita para 2026. Sujeito preparado para o cargo e cercado de políticos experientes para o jogo de Brasília. 

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5) Bolsonaro será preso. 

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10) Ninguém aguenta mais 4 anos de PT no governo e ninguém quer como presidente um cara "limpinho" como o Dória que até carta de desculpas mandou para o Lula.

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Em face de várias incoerências contidas em outras opiniões de leitores, postei minha visão sobre essa questão crucial para o futuro político do país.

 

Uma coisa é certa: a despeito de Bolsonaro ter cometido erros — com certeza os cometeu — a ele deve ser atribuída uma grande virtude: balançou a hedionda estrutura política brasileira, que é responsável por um dos piores sistemas educacionais dos países mais importantes do mundo; e é responsável por 100 milhões de pessoas sem esgoto sanitário. Em contraposição à enorme extensão territorial, à grande população e a inexcedíveis riquezas naturais. 

A citada virtude se alicerça no inequívoco combate à praga da corrupção. 

Isso num país onde faltam traumas, intelectuais e estadistas não é desprezível. 

Que prevaleçam a liberdade, a verdade, a coragem e a ética. É melhor para todos!

 

Ademais, deve ser enfatizado: Tarcísio e outros ex-ministros foram lançados no cenário nacional por Bolsonaro. Trata-se de um enorme ganho, num país com políticos e magistrados que envergonham Rio Branco, Caxias, Rui Barbosa, Jucelino e outros poucos grandes nossa História.

 

Postei um comentário adicional, em resposta a uma leitora que discorda da visão de que Tarcísio seja democrata, apenas “porque ele teria dividido o mesmo palanque, pregando golpe de Estado com o marginal Bolsonaro.”

 

Tem gente que apoia o sistema dos ‘australoptecus corruptus’. São da espécie dos ‘autraloptecus estrumerius’, cuja faculdade de pensar não chegou ao patamar da relevância. 

Integrantes dessas espécies não são capazes de entender os seguintes ensinamentos: 

– a arte de vencer, de Sun Tzu; 

– os fundamentos da política e ética, de Platão e Aristóteles; 

– a interação entre ciência e religião, de Tomás de Aquino; 

– a opção pelo doentio autoritarismo, de Hobbes; 

– as virtudes do liberalismo, de Locke; 

– as luzes da economia moderna de Adam Smith; 

– a vontade livre e autônoma, de Leibnitz;

– as mazelas do socialismo, de Marx; e 

– a adesão ao autoritarismo, para chegar aos fins, de Heidegger!|

 

Aconteça o que acontecer, o governador Tarcísio é candidato a impactar o futuro do Brasil e, especialmente, o futuro das próximas gerações, seja como governador reeleito em São Paulo, em 2026, seja como presidente da República, eleito em 2026 ou 2030.

 

 



 

 

Carta para Amorim

"O lavrador perspicaz conhece o caminho do arado."
Homenagem a Oscar Barboza Souto, antigo lavrador, garimpeiro, comerciante, tabelião e juiz de paz.
In Memoriam.

Estimado amigo Amorim [1],

Li com deleite o belo texto "Os Açores e Gomes de Amorim".

Não basta relatar o término da infância na Amazônia de seu bisavô, por volta de 1839, e depois a passagem pela ilha lusitana; é preciso ter a assinatura Gomes de Amorim. Assim, posso recordar minha recente passagem sobre a magnífica hileia equatorial [2].

Posso também apreciar como, no século XIX, alguém saia de Portugal, venha para o Brasil e possa ser pioneiro nas plagas amazônicas, dos 10 aos 13 anos, transitando por mais de 1000 quilômetros, entre os silvícolas, como afortunadamente procedera seu magistral bisavô. Posso recordar outro relato seu que dá conta da missiva que ele, ainda adolescente, enviara para Almeida Garret e, em face da elegante e oportuna resposta, decidira retornar a Portugal, e sob a inspiração daquele escritor, imiscuíra-se nos ambientes pedagógicos e intelectuais, e se tornara influente escritor.

Entendo que sua história daria um filme monumental, desses que só Akira Kurosawa poderia conceber. Vale lembrar que o mestre japonês tinha cogitado de acabar com a própria vida; mas tinha que encerrar sua já iniciada obra "Dersu Uzala" — sobre um explorador da Sibéria. Ao concluir, o resultado ficou tão bom, que ele inferiu ser a vida valiosa, e decidiu continuar vivendo.

Com muito gosto, ele faria "Gomes de Amorim", à altura da obra memorável que contribuiu para salvar sua vida.

Retornando às sendas da realidade, aqui em Brasília, a rotina segue muito bem, no âmbito de nossa modesta família.

E continua muito mal no contexto da política e das malsinadas questões da justiça. Com certeza, Caxias, Rio Branco, Rui Barbosa, Jucelino e outros poucos grandes de nossa história se envergonhariam das coisas que andam rolando.

Afinal, a hedionda estrutura política brasileira é responsável por um dos piores sistemas educacionais dos países mais importantes do mundo; e é responsável por 100 milhões de pessoas sem esgoto sanitário. Isso num país com enorme extensão territorial, grande população e inexcedíveis riquezas naturais. Entendo que em nosso país faltam traumas, intelectuais e estadistas — que possibilitaram as grandes nações da história. 

Creio que não é aspiração absurda sonhar com a prevalência da liberdade, verdade, coragem e ética no ambiente daqueles que têm a responsabilidade de conduzir nossos destinos. Que esse sonho se torne realidade e que todos vivenciemos a meta fundamental da busca de paz e harmonia sob o manto do sistema democrático.

Afora qualquer outro pensamento, a história dos Gomes de Amorim fomenta a faculdade de pensar e de imaginar coisas sérias, virtuosas e provocantes.

Grande e fraterno abraço,

ARS


 

 

Notas

[1] Conheci o escritor português Francisco Gomes Amorim, na viagem à Antártica, de 5 a 12/11/2009, em meio à programação de viagens patrocinadas pela Marinha do Brasil. Depois de deixar Portugal e viver duas décadas na África, Amorim veio para o Brasil, onde permaneceu nos últimos 40 anos e se tornou mais brasileiro do que muitos dentre os nativos. Como intelectual, ele fora convidado pela Força Naval para participar da aventura no continente gelado, ao lado de oficiais-generais das Forças Armadas e de autoridades dos poderes da República. Após ultrapassar os 70 anos de vida, ele cruzou o oceano Atlântico, do Nordeste brasileiro à Namíbia africana, com seu sobrinho, remando e sendo soprado pelo vento em pequeno veleiro. Na atualidade, ele ultrapassou os 90 anos e continua escrevendo com a lucidez habitual. O texto “Os Açores e Gomes de Amorim” é uma iniciativa para recuperar escritos de seu bisavô, seu homônimo, atinentes à época em que, na adolescência, esse ancestral veio para Belém do Pará e embrenhou-se na Amazônia, acompanhando indígenas.

 

[2] Em 1981, após terminar a graduação em Engenharia elétrica no IME, fui para a Amazônia e servi durante 4 anos na Comissão Regional de Obras da 11ª. Região Militar, em Manaus-AM. Naquela época, tive a oportunidade de realizar obras nos Pelotões de Fronteira situados nas seguintes localidades: Marco BV-8, na fronteira com a Venezuela; Japurá e Ipiranga, na fronteira com a Colômbia; e Palmeira e Estirão do Equador (ambos às margens do rio Javari), na fronteira com o Peru. Vale lembrar que, em 2022, o jornalista Dom Phillips foi covardemente assassinado nas proximidades do rio Javari, onde trabalhei há 40 anos. É oportuno registrar nossa interação, dado que, em 2018, fui entrevistado por ele e tive citação em dois de seus artigos no prestigioso jornal britânico The Guardian.

 

 

sábado, 12 de julho de 2025

Carta para Alessandra

"O lavrador perspicaz conhece o caminho do arado."
Homenagem a Oscar Barboza Souto, antigo lavrador, garimpeiro, comerciante, tabelião e juiz de paz.
In Memoriam.

Querida filha!


Durante a Festa Junina de sua turma de Medicina, em nossa casa, senti vontade de dirigir algumas palavras para você e seus colegas, jovens acadêmicos da rainha das profissões. Desisti de meu intento, diante da possiblidade de causar algum constrangimento a você pela inusitada iniciativa.


Após a saída de todos, resolvi transformar o improviso que teria proferido, nos garranchos apresentados a seguir. 

 

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Caros jovens colegas da querida filha Alessandra!

Como alguns sabem e a maioria percebe, tenho antecedentes remotos no universo indígena. 

Permitam-me lembrar a fábula de uma antiga tribo:

“Os idosos são donos da história. 

 Os adultos são donos da tribo. 

 Os jovens são donos do mundo.”

Então, parodiando essa fábula, na atual quadra da vida, vocês pertencem ao universo dos donos do mundo. E acrescento que, ao deixarem a universidade, na condição de adultos e médicos, vocês continuarão donos do mundo. A razão é simples: ao longo da trajetória, em face da nobre profissão escolhida, cada um de vocês estará  associando trabalho com talento, planejamento com instinto, disciplina com liberdade e impulsão com ética.

É inevitável! Sim, porque, diante do paciente, o clínico faz o diagnóstico, prescreve a receita e pensa:

“Estou tentando contribuir para sua salvação. Contudo, sua morte, eventualmente, poderá ocorrer! Em face de minha ação ou como resultado da condição humana?”

Ao inserir o bisturi no corpo do paciente, o cirurgião descobre que algo não previsto na literatura, não mencionado por professores e sequer imaginado, estava presente. O que fazer? Em poucos segundos, é preciso pensar, decidir e agir sem hesitação. Ele adota o procedimento que sua mente concebeu e pensa: 

“Se estiver certo, eu o salvarei! Do contrário, serei responsável por contribuição para que ele encontre a vida eterna?”

Como soldado, recordo que, às vezes, o comandante precisa determinar que a equipe cumpra uma missão na qual alguns ou vários encontrarão a morte. Nesse sentido, ele está dando a ordem para que eles se sacrifiquem; e ele pensa: 

“Eu sou o responsável ou é uma imposição do cumprimento do dever para com as pessoas a quem sirvo?” 

Qualquer que seja a resposta, é inimaginável que o militar renuncie à transmissão da ordem com a caminhada para a tragédia.

Nesse contexto, encontro similaridades entre as indagações de médicos e soldados. Afinal, quando o poeta John Donne, no século XVII, perguntou: 

“Por quem os sinos dobram?”

Ele próprio respondeu: 

“Eles dobram por todos nós!”

Eu me permito acrescentar: 

“Eles dobram por todos nós, uma vez que quando alguém se vai, um pouco de cada um de nós segue junto.”

 Caríssimos jovens!

Queiram ressalvar minhas alegorias fora de contexto. Minha modesta oração tem os seguintes objetivos:

– transmitir um efusivo agradecimento por nos dar a honra e o privilégio de terem especial consideração com nossa filha Alessandra; 

– transmitir a inexcedível satisfação de permitir que nossa família possa recebê-los em nossa casa em cima do mundo; e

– cumprimentá-los por pertencerem a uma turma que, da observação distante, é fortíssima e incomum — vale lembrar o que todos sabemos: habitualmente, excelentes alunos são a exceção e, no caso da turma de vocês, houve uma inversão, excelentes alunos são a regra.

Enfim, agradeço pela paciente atenção (sem trocadilho!), fazendo votos de que jamais abandonem ou renunciem à possibilidade de construção de um mundo melhor, que está no cerne da opção e vocação de cada um de vocês; que jamais abandonem ou renunciem à alegria, tão bem expressa nesta magnífica Festa Junina, dado que o trabalho e o talento, já mencionados, se potencializam quando explorados em ambiente de alegria.

Muitíssimo obrigado, também, pelos inexcedíveis exemplo e referência de todos.

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Querida filha!

Especial cumprimento para você, por ter feito parte da organização da magnífica Festa Junina que testemunhamos com muita alegria e orgulho.

Beijos,

Pap


 

Turma 115 – Medicina da UnB – Festa Junina na Casa em Cima do Mundo.
Brasília, 12/Jun/2025.

Amostra masculina da turma 115 – Medicina da UnB – Festa Junina na CCM.
Brasília, 12/Jun/2025.

Amostra feminina da turma 115 – Medicina da UnB – Festa Junina na CCM.
Brasília, 12/Jun/2025.