Meu caro amigo,
Tive a satisfação de receber seu livro “Exército (Para quê?), Revolução de 1964 (Por quê?), Amazônia (Para quem?)”. Abri o pacote na hora. O título e a capa já falam muito! São instigantes! Li as primeiras páginas e folheei algumas parcelas do conjunto.
A primeira impressão é que se trata de uma fonte valiosa como, não raro, ocorre com bons livros. Adicionalmente, fiquei com a percepção de que se assemelha a um curso de História, dado que tem uma enorme quantidade de informações e dados concatenados, muito bem referenciados e com lúcidas análises sobre a realidade brasileira, com grande impacto na atual conjuntura.
Para mim, para minha trajetória, o livro é especial, por três razões. Exponho-as.
Passei mais de 40 anos na vida militar ativa, então a resposta à indagação “Para quê?”, relativa ao Exército, é essencial. É imperioso refletir sobre a resposta, confirmar as virtudes de nossa valorosa e inexcedível Instituição — o Exército, conforme Eloy (permita-me o privilégio de citá-lo!), “nascido em 19 de abril de 1648, ... quando, pela primeira vez, lutaram juntos, em defesa da pátria comum, negros (Henrique Dias), brancos mazombos (como eram chamados os portugueses nascidos no Brasil) e índios (Felipe Camarão), na Batalha de Guararapes”.
Em relação ao “Por quê?”, atinente à Revolução de 1964, devo lhe confidenciar parte da evolução de minha família. Papai deixou a roça, na modesta fazenda do sogro, com a família, para viver em Rochedo, com seus 2000 habitantes, no antigo Mato Grosso, agora Mato Grosso do Sul, com o objetivo de possibilitar escola para meus quatro irmãos e irmãs mais novos — antes da mudança, eu morei em pensão nessa cidadezinha, na qual fiz o curso primário.
Papai comprou uma pequena casa comercial, em estado falimentar, e a transformou em um mercado bem-sucedido, que vendia secos e molhados, ferragens, tecidos, confecções e armarinhos; enfim, essa coisa que existe em quase todas as vilas e pequenas cidades de nosso interiorzão. Pois bem, por volta de 1963 para 1964, integrantes de um famigerado “Grupo dos 11” faziam proselitismo comunista, e transmitiam a mensagem de que, com a vitória da revolução, eles iriam tomar o comércio de meu pai, para distribuição dos bens para o povo, e lanhariam as costas do ‘velho’, em público, sob a alegação de que ele explorava os cidadãos.
Eu morava em pensão em Campo Grande, para prosseguir os estudos. Meu pai mandou me dizer que eu fosse para Rochedo em um final de semana. Aí ele me assegurou que se houvesse o triunfo do “Grupo dos 11”, ele reagiria (era valente, tinha armas e era excelente atirador) e havia a possibilidade de ele ser morto, mas antes ele levaria uma parcela do grupo hediondo. Aí, ele me fez prometer que, em caso de tragédia fatal, em meus 13 anos de idade, eu deveria largar os estudos, voltar para Rochedo, para ajudar mamãe a criar os irmãos e irmãs. Felizmente, houve a Contrarrevolução de 1964; e a modesta estória de minha humilde família e a rica história do País tomaram o rumo alicerçado em valores civilizacionais adequados e que alguns ainda insistem em conspurcar. É imperioso destacar que, de acordo com Eloy, “no dia 31 de março de 1964, as Forças Armadas tiveram de sair às ruas para, apoiada por toda a sociedade brasileira, pôr fim à escalada do Brasil rumo ao comunismo.”
No que concerne ao questionamento “Para quem?”, sobre a Amazônia, ... bom, acho que você sabe que, em 1981, após terminar a graduação em Engenharia elétrica no IME, fui para a Amazônia e servi, durante 4 anos, na Comissão Regional de Obras da 11ª. Região Militar, em Manaus-AM. Naquela época, tive a oportunidade de realizar obras, por administração direta — isto é, na forma presencial — nos Pelotões de Fronteira situados nas seguintes localidades: Marco BV-8, na fronteira com a Venezuela; Japurá e Ipiranga, na fronteira com a Colômbia; e Palmeira e Estirão do Equador (ambos às margens do rio Javari), na fronteira com o Peru. Acrescento uma curiosidade! Em 2022, o jornalista Dom Phillips foi covardemente assassinado nas proximidades do rio Javari, onde trabalhei, há 40 anos. É oportuno registrar minha interação com esse caboclo, dado que, em 2018, fui entrevistado por ele e tive citação em dois de seus artigos no prestigioso jornal britânico The Guardian.
De toda sorte, como bem coligido de outrem, “Amazônia é Brasil”; e, segundo Eloy, “temos a obrigação de, quando se tratar da defesa de nosso país, levantar a voz para impedir as decisões impatrióticas (ou que escondam interesses inconfessáveis) prejudiquem nosso país.”
Enfim, meu estimado amigo, sua magistral obra trata de questões que me dizem respeito e me fascinam. É grande a curiosidade sobre as tratativas nela contidas.
Considero-me, pois, privilegiado e honrado por ter acesso à sua visão de uma temática — a rigor, um rico conjunto de três temas palpitantes — não apenas de meu interesse (mercê até de um certo egoísmo), mas de interesse geral para todos os brasileiros.
Permita-me encerrar estes garranchos com os efusivos cumprimentos pela obra-prima e com um muitíssimo obrigado, pela consideração e amizade.
Forte e fraterno abraço,
ARS